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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 456 - 13 de Março de 2016

RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)

 

  
O culpado está no espelho


Título estranho? Também concordo, mas espero demonstrar que o culpado está realmente no espelho.

Em Efésios, 5:20, Paulo nos orienta que devemos sempre dar graças a Deus por tudo. Tudo é tudo, mesmo com a desculpa pela redundância. Tudo inclui as coisas boas e as ruins da mesma forma.

Esse mesmo Paulo, já preso em Roma para ser decapitado em um cemitério da via Apia, dizia ser feliz com o que tinha. E o que tinha ele na verdade? Nada sob o ponto de vista material. Estava reduzido a uma indigência total. Perdera o conceito elevado entre o próprio povo judeu. A condição de cidadão romano também havia sido praticamente esquecida. A família o rejeitava. Perdera sua noiva e era o responsável pelo primeiro mártir do cristianismo. Era perseguido, açoitado, apedrejado, enxotado, feito prisioneiro, mas dizia-se feliz!

Voltando a afirmação dele em Efésios, perguntamos: você dá graças a Deus por tudo, mas tudo mesmo?

Por exemplo, é muito fácil agradecer quando entra aquele dinheiro a mais. Quando a saúde está boa. Quando os filhos não estão nos dando grandes problemas. Quando os trâmites conjugais caminham dentro da normalidade. Nessas condições estamos prontos para agradecer (isso quando não nos esquecemos) por tudo, tudo mesmo!

Ah! Mas quando as coisas saem um pouquinho dos trilhos é um Deus nos acuda! Ou será que com você é diferente?!

Por exemplo, seguindo o conselho de Paulo em Efésios, você agradece a doença que visita o seu corpo ou de um familiar querido como uma espécie de “cerca” de Deus para não nos envolvermos em comprometimentos morais maiores de posse da saúde física?

Você agradece quando o dinheiro escasseia ou quando o emprego está ameaçado para aprendermos a administrar melhor o que temos?

E quando os filhos nos dão aquela dor de cabeça que nos leva a exclamar: “Vou entregá-los para Deus porque não aguento mais!”. Deus agradece, mas tome lá que o filho é seu! Você agradece por estar tentando orientar esse filho que nada mais é do que um Espírito necessitado de novos conselhos?

E quando o relacionamento conjugal não vai muito bem e você pensa assim: “Por que fui casar com esse homem ou com essa mulher? Tinha tantos outros candidatos ou candidatas e fui escolher logo esse ou essa?”. Sempre aquele com quem não convivemos é melhor do que aquele ou aquela que conosco veio viver debaixo do mesmo teto por nossa livre e espontânea escolha. O marido ideal ou a esposa perfeita está naquele ou naquela com quem não nos casamos! Você agradece por ter um cônjuge que lecione as lições de que necessita?

Mas, e então? Você agradece a tudo, como aconselha Paulo em Efésios? E por que não?

O culpado está no espelho. Não no objeto material coitado que nada mais faz do que cumprir o seu papel refletindo nossa imagem incansavelmente toda santa manhã e ouvindo, pacientemente, nossos resmungos!

Acostumados a olhar no espelho desde pequenos, acabamos por confundir aquilo que vemos com aquilo que realmente somos! E o que vemos? O ser físico portador de um nome, uma cédula de identidade, um título de eleitor, um CPF, um endereço, uma profissão etc. E tudo o que incomoda essa figura que acostumamos ver todo santo dia no espelho nos tira a fé, a paciência, a resignação, a aceitação, a confiança em Deus. É exatamente por isso que não conseguimos agradecer ao Criador por tudo como aconselha Paulo. E é pela mesma razão também que dissemos que o culpado está no espelho, no homem físico que aprendemos a confundir com o Espírito imortal que somos.

Ameaçou aquele ser do espelho? Protestamos, reclamamos, blasfemamos, resmungamos, nos rebelamos contra a Providência Divina que só pode estar enganada e desembolsamos todo o rosário de queixas que nos acostumamos a sacar de nossa rebeldia contra os acontecimentos da existência que ameaçam “o homem do espelho”!

É por isso também que não conseguimos dizer que estamos felizes com o que temos, como afirmou Paulo. Se o ser físico não está como achamos que deveria estar, tendo todos os seus desejos atendidos, coitado do Criador! Que feche os ouvidos para não ouvir tantas injustiças que saem da boca do ser mortal que teve um começo e terá fatalmente um fim.

Mas ainda existe uma esperança: desencarnado não tem imagem no espelho, de tal modo que, do lado de lá, não reclamaremos.

Entretanto, que ninguém nos leia, você acredita nisso?

Nem eu...

 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita