ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Atitudes
deploráveis
É inegável que o
Brasil abriga na
atualidade – em
função de vários
fatores – uma
quantidade
considerável de
almas
profundamente
agressivas e
violentas.
Refiro-me aqui
não apenas aos
Espíritos
identificados
com o
comportamento
selvagem – por
exemplo, certos
membros de
torcidas
organizadas,
uxoricidas ou os
denominados de
serial
killers – ou
com o crime como
meio de vida.
Nossas leis
excessivamente
brandas
cooperam, a
propósito, para
que tais
criaturas se
sintam – é
igualmente fato
– à vontade em
sua sanha
delinquente.
Quantas pessoas
têm sido vítimas
fatais dessas
criaturas
desajustadas às
leis de Deus?
Com certeza não
são poucas.
Mas nos causa
muita apreensão
saber que crimes
hediondos também
são cometidos
por pessoas
aparentemente
acima de
qualquer
suspeita.
Deixa-nos ainda
mais perplexos o
fato de que a
violência
dormita na alma
de muitos
cidadãos desse
país a tal ponto
que chega a
levá-las a atos
extremos – e
certamente
comprometedores
para o futuro
espiritual
delas. Para ser
mais específico,
uma matéria
jornalística
publicada pela
revista Veja,
na edição de 10
de fevereiro,
trouxe a gênese
de um crime
terrível de
linchamento
ocorrido há
poucos meses na
cidade litorânea
do Guarujá, em
São Paulo, que
culminou na
morte terrível
de uma pessoa
inocente.
Com muita
competência o
jornalista André
Petry relata os
pormenores dessa
ação coletiva
nefanda que
levou a jovem
Fabiane Maria de
Jesus, de 33
anos, a ser
confundida com
uma
sequestradora de
crianças. O
terrível engano
cometido pela
turbamulta
desvairada,
obviamente
sedentas de
praticar justiça
com as próprias
mãos, atingiu
imerecidamente
uma mãe de dois
filhos pequenos.
Confiando
cegamente nas
“aparências que
enganam” –
conforme sugere
o axioma popular
– não tiveram
paciência e
sabedoria para
entregar a
suspeita à
polícia para que
as averiguações
necessárias
fossem
conduzidas.
O Espiritismo
nos ensina que
uma tragédia
dessa natureza
não acontece por
acaso. Outros
imperativos
cármicos moldam
completamente
uma situação
dessas. Seja
como for, os
autores de um
ato errático
como o ora
relatado ferem
duplamente: (i)
a débil justiça
humana e (ii) a
divina, da qual
ninguém escapa.
No bojo da
reportagem somos
informados que
casos horrendos
assim são –
pasmem –
corriqueiros. Ou
seja, “No
Brasil, a cada
dia ocorrem
quatro
linchamentos, ou
tentativas de
linchamento,
numa rotina de
brutalidade que
só rivaliza com
os pontos mais
infernais do
planeta
[...]”. Tal
revelação é
absolutamente
espantosa e, de
certo modo,
coloca sob
suspeita a
famosa índole
pacífica do
nosso povo.
É verdade que
muitas coisas
estão
conspirando
contra a
preservação da
saúde ética,
moral e
espiritual do
nosso povo: a
começar pela
crônica
ineficiência da
justiça, os
desmandos de
policiais que
não honram o
distintivo, a
proficiente ação
de advogados
pagos a peso de
ouro pelos seus
clientes
infensos à lei e
assim por
diante. É também
verdade que o
povo brasileiro
tem sido
duramente
testado em
muitos aspectos
vitais ao seu
desenvolvimento
espiritual, isto
é, na sua fé,
paciência,
resistência e
confiança no
bem, sem falar
dos relativos à
sua própria
sobrevivência,
que dispensam
comentários.
De modo geral,
os fatos e a
situação geral
no país têm
exigido muito
esforço de todos
nós para
mantermos o
equilíbrio e a
calma no
presente. Mas
visto pelo lado
mais positivo,
no entanto, os
acontecimentos
hodiernos nos
conclamam ao
avanço da alma.
São acicates ao
nosso progresso
espiritual e
vencê-los
significa
vitória sobre
nós mesmos. Por
isso,
lembremo-nos dos
ensinos de
Jesus: “Quem
estiver livre de
pecado que atire
a primeira pedra”.
Desse modo, cabe
indagar: já
conseguimos ser
corretos em tudo
que nos propomos
realizar? Será
que já atingimos
o patamar de
perfeição no
comportamento e
atitudes? Quem
nos deu o
direito de tirar
a vida de
alguém, por pior
que ele(a) seja?
Lembremos ainda
que Jesus se
referiu, com
muita clareza,
aos brandos e
pacíficos.
Afirmou Jesus
com convicção
que serão eles
que “possuirão a
Terra”, bem como
“serão chamados
filhos de Deus”.
A Terra precisa,
aliás, mais do
que nunca, de
criaturas com
tal perfil. Só
elas possuem
capacidade
espiritual e
serenidade para
realizar as
transformações
positivas e
construtivas que
esse orbe tanto
necessita.
Condenar de
maneira veemente
atitudes
deploráveis
como, por
exemplo,
linchamentos, é
um dever moral.
Aliás,
linchamento é
algo inaceitável
nessa altura da
evolução humana.
Os seus
perpetradores
carregarão
nódoas em suas
almas que
deverão ser
dolorosamente
expiadas, mais
cedo ou mais
tarde.
Comportemo-nos,
então, como
seres
civilizados.