Tormentos da
Obsessão
Manoel Philomeno
de Miranda
(Parte 23)
Damos
prosseguimento
ao
estudo metódico
e sequencial do
livro Tormentos
da Obsessão, obra de
autoria de
Manoel Philomeno
de Miranda,
psicografada por
Divaldo P.
Franco
e publicada em 2001.
Questões
preliminares
A. Segundo
Licínio,
Ambrósio-orador
era, na tribuna,
bem diferente do
Ambrósio-homem.
Por que a
diferença?
Realmente,
Ambrósio-homem
era indiferente
ao público que
ali se
encontrava
ansioso para
ouvi-lo. Já
Ambrósio-orador
se apresentava
feliz, quase
meigo, rico de
conhecimentos e
produzia viva
empatia no
auditório
superlotado.
Licínio observou
então que,
durante a
conferência,
Ambrósio
conseguiu romper
a carapaça
infeliz que o
envolvia,
entrando em
sintonia com o
Mundo espiritual
que passou a
inspirá-lo por
intermédio de
venerando
Mensageiro de
Esfera mais
elevada. O verbo
fluía pelos seus
lábios em
catadupas
sonoras e
agradáveis,
enquanto dele se
irradiava a
energia do
Benfeitor que
produzia
incomparável
bem-estar em
todo o público.
Eis o porquê da
diferença.
(Tormentos da
Obsessão, cap.
13 – A
experiência de
Licínio.)
B. Qual o perigo
que cerca os
médiuns que
buscam adquirir
status de
santidade,
tornando-se
praticamente
intocáveis?
Esse
comportamento,
cultivado por
alguns que se
inebriam da
própria prosápia(1),
termina por
afogá-los na
insensatez e no
despautério. Foi
o que acabou
acontecendo com
Ambrósio e
certamente se
verifica com
muitos médiuns e
oradores que são
endeusados pelas
pessoas, como se
fossem
celebridades
carentes do
aplauso público.
(Tormentos da
Obsessão, cap.
13 – A
experiência de
Licínio.)
C. Pode-se
afirmar que a
prática da
mediunidade
requer dignidade
e seriedade de
todos os que
nela se
encontram
envolvidos?
Sim. A
mediunidade, por
mais vigor de
que se revista,
jamais produzirá
com dignidade
sob o açoite
interno dos
conflitos
humanos, gerando
a conduta
reprochável do
seu possuidor.
Compromisso de
gravidade, não
se pode
converter em
instrumento de
mercantilismo
danoso, nem de
diversão para
frívolos sem
consequências de
alta
periculosidade.
(Tormentos da
Obsessão, cap.
13 – A
experiência de
Licínio.)
Texto para
leitura
119.
Ninguém consegue
fugir de si
mesmo –
Segundo Manoel
P. de Miranda, é
de surpreender
que muitas
pessoas tomem
conhecimento dos
mecanismos
libertadores da
vida e, não
obstante, optem
pela escuridão
da conduta,
derrapando em
compromissos
insanos, que as
levam a derrapar
nas terríveis
alucinações que
se prolongam por
largo período.
Sucede que as
Leis de Deus
estão escritas
na consciência,
e, por essa
razão, ninguém
consegue fugir
de si mesmo,
porquanto, para
onde for, sempre
se conduzirá
conforme a
estrutura moral
e espiritual
interior. Essa
realidade se
exterioriza em
ondas de
vibração
compatível. Os
Espíritos nobres
como os
inferiores as
identificam,
acercando-se dos
seus agentes
conforme a sua
constituição.
(Tormentos da
Obsessão, cap.
13 – A
experiência de
Licínio.)
120.
Licínio fala do
médium e orador
Ambrósio
– No Sanatório o
autor desta obra
foi apresentado
a Licínio, que
também fora
médium na Terra
e conhecera de
perto o médium
Ambrósio. O
primeiro
encontro entre
eles ocorrera em
um Clube
Recreativo onde
Ambrósio falou
ao público e
fora vivamente
aclamado, embora
já se
encontrasse em
franca
decadência
espiritual,
porquanto se
embriagara dos
vapores da
vaidade e da
presunção e
vivia cercado
por um grupo de
admiradores que
não cessavam de
o elogiar, como
se ele estivesse
a soldo do
mundanismo. Já
lhe faltava,
então, a
gentileza no
trato com as
pessoas e a
arrogância se
expressava na
sua forma de
conduzir-se.
Apesar disso, ao
levantar a voz e
expor o tema que
lhe houvera sido
proposto, foi
com surpresa que
Licínio lhe
acompanhou os
profundos
conceitos éticos
e filosóficos,
bem como as
conclusões
espíritas que
imprimia às
frases muito bem
elaboradas. Com
uma linguagem
clássica mas sem
pedantismo,
Ambrósio passeou
literariamente
pela cultura da
imortalidade do
Espírito desde
priscas Eras,
chegando à
atualidade com
verdadeira
ênfase e lógica
que a todos
sensibilizou.
Relatou Licínio:
“Enquanto o
ouvíamos, eu
meditava
analisando a
pessoa que
chegara,
indiferente ao
público que ali
se encontrava
ansioso, e o
expositor feliz,
quase meigo e
rico de
conhecimentos,
que produzia
viva empatia no
auditório
superlotado.
Pude observar
então que,
durante a sua
conferência,
face ao
significado do
assunto,
conseguiu romper
a carapaça
infeliz que o
envolvia,
entrando em
sintonia com o
Mundo espiritual
que passou a
inspirá-lo por
intermédio de
venerando
Mensageiro de
Esfera mais
elevada. O verbo
fluía pelos seus
lábios em
catadupas
sonoras e
agradáveis,
enquanto dele se
irradiava a
energia do
Benfeitor que
produzia
incomparável
bem-estar em
todo o público.
Concomitantemente,
eu podia
perceber que
outros Espíritos
dedicados ao
socorro pela
fluidoterapia
aproveitavam-se
da concentração
natural que se
fizera no
auditório
interessado,
passando a
descarregar
energias
saudáveis nas
pessoas, que as
assimilavam,
enriquecendo-se
de forças para o
prosseguimento
da luta”. Em
face do
ocorrido,
Licínio se
perguntava: -
Por que o
esclarecido
orador se
permitia
derrapar nos
equívocos do
mundanismo,
sabendo-se
amparado por
elevados Guias
da Humanidade,
aos quais
deveria
submeter-se em
clima de
humildade e
serviço?
(Tormentos da
Obsessão, cap.
13 – A
experiência de
Licínio.)
121. O
lamentável cerco
que se faz aos
médiuns
– Na sequência,
Licínio relatou:
“Terminada a
alocução,
ruidoso aplauso
explodiu
natural,
resultado do
entusiasmo que a
todos dominava.
Encerrada a
solenidade,
fez-se um
círculo de
simpatizantes a
sua volta,
enquanto os
zeladores da sua
pessoa
procuravam
impedir o
acercamento dos
interessados em
travar um
contato, manter
um diálogo
complementar ao
tema
apresentado, em
total
desconsideração
às palavras que
haviam sido
pronunciadas.
Foi com
dificuldade que
se rompeu o
cerco defensor,
como se o
médium-orador
fosse uma
estrela dos
entretenimentos
terrestres e
devesse ficar
distante dos
seus fãs
ardorosos.
Infelizmente,
ainda não se
entendeu que
Jesus jamais se
escusava. Nunca
necessitou de
defensores da
Sua integridade
física, moral ou
psíquica. Mesmo
na multidão mais
compacta,
vagamente
protegido pelo
Apóstolo Pedro
que O seguia à
retaguarda,
quando tocado
pela mulher
enferma,
percebeu-o e
ajudou-a no seu
apelo mudo...
Lentamente, os
médiuns vão
adquirindo
status de
santidade,
tornando-se
intocáveis, de
personalidades
extraterrestres,
ou de
missionários
especiais que
devem evitar o
contato com as
massas, com os
necessitados,
exatamente
aqueles para os
quais veio em
serviço. Essa
onda modernista
cultivada por
alguns que se
inebriam da
própria prosápia(1),
termina por
afogá-los na
insensatez e no
despautério.
Convém nunca
esquecermos que
o Senhor é o
nosso Pastor...
e nos defende,
desde que nos
não permitamos a
leviandade de
buscar os
enredamentos com
o mal, a
perversidade, a
vulgaridade.
Mantendo-se
atitude de
equilíbrio e
nobreza,
coloca-se uma
invisível tela
transparente de
fluidos entre as
pessoas e os
instrumentos do
Bem,
dificultando
atravessar essa
delicada mas
poderosa
barreira
vibratória, e
franqueando o
acesso de todos
àqueles que
podem, de alguma
forma,
contribuir
espiritualmente
a benefício do
seu próximo”.
(Tormentos da
Obsessão, cap.
13 – A
experiência de
Licínio.)
122.
Primeiro
encontro com
Ambrósio
– Após breve
silêncio,
Licínio
informou,
reportando-se ao
seu encontro com
Ambrósio: “Com a
mente fixa no
expositor, ele
captou-me a onda
psíquica e
percebeu que se
tratava de uma
emissão de
simpatia,
sorrindo
jovialmente e
distendendo-me a
mão fraterna,
que
cumprimentei,
para surpresa
dos seus
corifeus
levianos... A
sua mão puxou-me
como se tivesse
necessidade de
um amigo, e
quando estávamos
próximos, com um
sorriso
espontâneo,
perguntou-me,
jovialmente: — É
a primeira vez
que nos
encontramos? Por
minha vez, sorri
afavelmente, e
retruquei: — Na
atual
reencarnação,
creio que sim.
Porém, acredito
que já nos
conhecemos...
Ele anuiu com
satisfação, e
propôs: — Que
não seja, pois,
a última.
Gostaria muito
de privar da sua
amizade, que me
pode enriquecer
na trajetória
que ambos
estamos
realizando. Ante
a surpresa dos
seus acólitos,
justificou-se
com a informação
de que outro
compromisso o
aguardava e
saiu, deixando
algo frustrados
aqueles que o
houveram buscado
para um convívio
fraterno mais
próximo.
Voltamos a
ver-nos e a
estreitar
relações nas
semanas
seguintes,
quando tive
oportunidade de
conviver melhor
com as suas
aflições e
lutas,
compreendendo
quanto se
encontrava
amargurado e
inquieto,
inseguro ante os
acontecimentos
e, ao mesmo
tempo,
paradoxalmente
entusiasmado com
os êxitos
sociais e
econômicos.”
(Tormentos da
Obsessão, cap.
13 – A
experiência de
Licínio.)
123. O que
pode resultar da
presunção
– As observações
de Licínio
calaram
profundamente no
coração de
Manoel P. de
Miranda,
facultando-lhe
melhor
compreender o
médium que
naufragara no
mar tormentoso
de ondas
encapeladas dos
compromissos
espirituais, e
aquele outro
que, sob o
coercitivo das
aflições,
alcançara o
porto de
segurança. O
primeiro
intoxicara os
centros do
discernimento
com os vapores
da presunção que
se transformara
em loucura
destrutiva,
enquanto o
segundo
mantivera
irretocável o
compromisso,
fitando o
futuro, mas
tendo como
bússola o dever
e como leme as
lições sábias da
Doutrina
Espírita que
introjetara para
melhor
vivenciá-las no
presente.
Licínio, então,
aduziu: “A
partir daquele
contato passei a
nutrir imensa
simpatia pelo
expositor e
médium, dando-me
conta do perigo
que o sitiava,
graças ao
envolvimento
emocional
produzido pelos
auxiliares e
fascinados que
constituíam o
seu grupo de
adoradores. No
primeiro
encontro,
terminada a
alocução e
recuperada a
consciência
lúcida, o hábito
mental doentio a
que se entregava
na volúpia dos
prazeres dos
sentidos voltou
a predominar-lhe
na consciência,
e logo se lhe
acercaram os
comensais
infelizes da
convivência
psíquica,
adversários de
ontem que lhe
urdiam
cuidadosamente o
fracasso, e
outros
desordeiros de
ocasião se lhes
associavam,
locupletando-se
no banquete da
vampirização das
suas forças e
energias
morais”.
(Tormentos da
Obsessão, cap.
13 – A
experiência de
Licínio.)
124.
Mediunidade e
responsabilidade
– Em seguida,
Licínio falou
sobre a
responsabilidade
de quem exerce o
mandato
mediúnico: “A
mediunidade, por
mais vigor de
que se revista,
jamais produzirá
com dignidade
sob o açoite
interno dos
conflitos
humanos, gerando
a conduta
reprochável do
seu possuidor.
Compromisso de
gravidade, não
se pode
converter em
instrumento de
mercantilismo
danoso, nem de
diversão para
frívolos sem
consequências de
alta
periculosidade.
Face às leis de
afinidade e de
sintonia que
vigoram em toda
parte, logo a
instrumentalidade
mediúnica passa
a emitir
vibrações de
baixo teor,
torna-se campo
de extenuantes
combates com
predominância de
viciações
crescentes. Não
poucas vezes são
os Espíritos
perversos que
promovem a
situação
afugente,
inspirando os
médiuns às
defecções morais
em razão da sua
fragilidade em
relação aos
valores éticos.
No entanto,
tornando-se
presunçosos,
recusam-se a
meditar em torno
das advertências
que lhes chegam
de ambos os
planos da vida,
negando-se ao
autoexame do
comportamento a
que se afeiçoam,
expulsando do
convívio os
amigos legítimos
que os passam a
considerar como
inimigos,
enquanto se
deixam arrastar
pelos demais
telementalizados
dos referidos
cruéis
adversários que
também os
utilizam para a
grande
derrocada.
Perdem os
paradigmas da
conduta, os
parâmetros do
equilíbrio,
tornam-se
irresponsáveis,
alteram a
linguagem para a
compatibilidade
com o chulo e o
atrevido,
enquanto se
exaltam pensando
erguer-se ao
Olimpo da
alucinação.
Nessa fase,
encontram-se
instaladas as
matrizes das
obsessões de
longo curso, e a
queda ruidosa no
abismo é somente
questão de
tempo”.
(Tormentos da
Obsessão, cap.
13 – A
experiência de
Licínio.)
(Continua no
próximo número.)
(1)
Prosápia:
altivez,
orgulho,
soberba,
fanfarrice.