LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Parábola do joio
Que cada
um de nós seja o exemplo
vivo da prática do
evangelho
"O joio está para o
trigo, assim como o
juízo humano está para
as manifestações
superiores." - Cairbar
Schutel.
Menos popular que
algumas das parábolas
narradas por Jesus, esta
é de uma riqueza
incalculável quando
podemos, à luz da
doutrina Espírita,
buscar a essência do que
Ele propôs de
ensinamento, por trás
das palavras. E foi isso
que nos moveu e nos
levou a encontrar em
três obras os subsídios
para entendê-la.
Três autores que não
deixam qualquer dúvida
sobre a clareza, o
entendimento e a
coerência que precisamos
encontrar quando,
independentemente do
estudo que realizamos de
qualquer passagem
evangélica, buscamos
entender Jesus. São eles
Cairbar Schutel, Huberto
Rohden e o benfeitor
espiritual Emmanuel.
A parábola do joio é bem
interessante, porque do
ponto de vista material
ela parece paradoxal,
como muitas parábolas o
são e, por isso mesmo,
algumas questões podem
ser levantadas: que
lavrador deixaria a
plantação cheia de ervas
daninhas? Quantos
proibiriam de colher o
mato? Ainda que do ponto
de vista material essas
questões possam ser
levantadas, do ponto de
vista espiritual ela é
muito mais ampla.
Todas as vezes que nos
propomos a estudar para
compreender o que o
Mestre quis dizer em
qualquer um dos Seus
ensinos, precisamos
buscar o objetivo que O
moveu. Conseguimos
compreender com nossos
estudos que o objetivo
em questão é o
estabelecimento do
espírito de fraternidade
que, nas palavras de
Cairbar Schutel, está
contido no amor a Deus e
ao próximo, no
merecimento pelo
trabalho, pela
abnegação, pelas
virtudes ativas. Afirma
ainda que a fraternidade
é o único sentimento
capaz de resolver as
questões sociais e
estabelecer a paz no
mundo.
Entretanto, como em
qualquer convite ou
orientação vindas de
Jesus, não é possível
permanecer no
significado literal, na
letra, mas buscar também
a essência contida
nessas palavras. E qual
é, pois, a essência da
parábola do joio, objeto
de nossa reflexão?
Pela mistura das
palavras do Cristo e
pelas alterações que o
homem viria fazer,
atendendo desejos e
interesses pessoais e de
grupos, era necessário
que a Verdade - o trigo
- e as deturpações - o
joio - amadurecessem
juntas para, então,
separá-las de suas
exterioridades.
Voltemos à análise: como
toda história que Jesus
contava estava repleta
de alegorias necessárias
ao entendimento do povo
de Sua época, esta
também apresenta
elementos que precisam
ser traduzidos, por
assim dizer. Senão,
vejamos: o feixe é
representado pelos
débitos individuais e
coletivos; o campo, o
mundo da humanidade; o
trigo sugere os homens
bons ou os ensinamentos
benditos, enquanto que o
joio significa os homens
maus ou a deturpação dos
ensinos divinos. Mas
aparecem também os
homens dormindo,
representando o
desinteresse em relação
às palavras do Excelso
Amigo, a inconsciência
do Espírito que dorme
diante da vida
espiritual. Jesus fala
ainda da queima do feixe
que significa a imensa
paciência do Criador na
espera que os homens
amadureçam, acordem para
a verdadeira vida: a
vida do Espírito.
Deus não fez o homem nem
bom nem mal. Criou-o
simples e ignorante de
Suas leis, mas depositou
na sua consciência a
"semente" da evolução
para que na "estação"
propícia ela germinasse.
Foram necessários
milênios incontáveis
para que de posse do
livre-arbítrio esse
homem tivesse a
possibilidade de
escolher entre o fazer o
bem ou o mal, o certo ou
o errado, de fazer
alguma coisa ou
simplesmente não fazer
nada. Por tudo isso ele
é o único ser na
Natureza que possui essa
bipolaridade: o direito
de escolher entre o Céu
e o Inferno, que ele
mesmo constrói para
viver.
Sob o enfoque de Huberto
Rohden, o homem pode
tornar-se bom
espontaneamente e não
compulsoriamente.
Tornar-se bom por
escolha. Esse homem bom,
esse ser-bom deve ser o
resultado voluntário do
QUERER e não o
compulsório do DEVER.
Tem todas as condições
de ser mau e escolhe ser
bom.
A parábola não diz que
Deus extermina o joio,
porque, em verdade, ele
extermina-se a si mesmo
pelo não cumprimento das
leis divinas. O estimado
benfeitor espiritual,
através da bendita
psicografia de Francisco
Cândido Xavier, diz que
Jesus não retirou do
homem as oportunidades
de crescimento e
santificação possíveis.
Insiste o amigo
espiritual que o joio
não cresce por
relaxamento do Divino
Lavrador, mas sim,
porque o Celeste
Semeador nunca perde a
esperança na vitória
final do bem. Por essa
razão, a colheita não é
igual para todas as
sementes lançadas no
chão. Há que se esperar,
porque cada espécie tem
seu dia e sua estação.
O mesmo acontece
conosco. Surgindo o
tempo certo de cada um e
de cada coletividade,
exige-se a extinção do
joio, através de
processos
transformadores. Jesus
saberá se Seus
ensinamentos foram
recebidos em vão. Essa é
pedagogia do Cristo:
respeito de realizar
cada um, a seu tempo, o
seu "destino".
Mestre dos mestres,
educador por excelência,
facilitou nosso caminho
para sermos criaturas
melhores. Mostrou como
fazê-lo, oferecendo
inumeráveis exemplos,
ajudando-nos a remover
os obstáculos
existentes.
Para o educador
encarnado, para todo
aquele que tem
responsabilidade de
transmitir
conhecimentos, valores,
não importando sua área
de atuação, ou sua
tarefa nesta encarnação,
a única coisa certa a
fazer é autoeducar-se
para não se deixar
contaminar pela vaidade
do sucesso positivo ou
pela frustração do
insucesso.
Necessário se faz que
cada um de nós seja o
exemplo vivo da prática
do evangelho, deixando
luzes nos nossos passos,
como tantos outros já o
fizeram, indicando o
caminho que hoje
trilhamos com mais
leveza.
Bibliografia:
SCHUTEL, Cairbar.
Parábolas e Ensinos de
Jesus - 14ª edição -
Casa Editora O Clarim-
MATÃO/SP - 1ª Parte, p.
5 - 1997.
ROHDEN, Huberto.
Sabedoria das Parábolas
- 12ª edição - Editora
Martin Claret - SÃO
PAULO/SP - p. 41 - 1997.
XAVIER, F. C. Vinha de
Luz - 14ª edição - FEB -
RIO DE JANEIRO/RJ -
Lição 107.