O que significa
amar a Deus
Tradicionalmente
identificamos o
conceito amar
a Deus com o
conceito amar
ao próximo,
e afirmamos
comumente que
amamos a Deus
quando amamos o
nosso próximo.
Esse tipo de
conclusão não é
tão simples como
parece. Um dos
maiores
estudiosos
judeus de todos
os tempos, o
rabino Akiba,
que viveu na
Palestina, no
primeiro século
da era cristã,
disse, em seu
leito de morte,
que nunca
entendeu como se
podia cumprir o
mandamento
“Amarás o Senhor
teu Deus com
todo o teu
coração, com
todas as tuas
forças, com todo
o teu ser”.
A leitura atenta
do texto
evangélico onde
Jesus reporta-se
a esses
pensamentos
parece mostrar
que o amor a
Deus e o amor ao
próximo são
coisas
diferentes.
Vejamos o relato
de Mateus 22: 34
a 40:
“Os fariseus,
tendo sabido que
Ele fechara a
boca dos
saduceus,
reuniram-se; e
um deles, que
era doutor da
lei, propôs-lhe
esta questão,
para o tentar:
Mestre, qual é o
maior mandamento
da lei? – Jesus
respondeu:
Amarás o Senhor
teu Deus de todo
o teu coração,
de toda a tua
alma e de todo o
teu espírito;
este é o maior e
o primeiro
mandamento. E
aqui tendes o
segundo,
semelhante a
esse: Amarás o
teu próximo,
como a ti mesmo.
Toda lei e os
profetas se
acham nesses
dois
mandamentos”.
Devemos observar
que Jesus
explicitou que
os dois
mandamentos
são diferentes,
embora se
pareçam: o
primeiro, maior,
ou seja, o mais
importante é
amar a Deus,
e o segundo,
amar o próximo.
O sentido da
expressão
amar o próximo
parece bem claro
na proposta de
Jesus: fazer ao
outro todo o bem
possível,
ser-lhe útil no
limite de nossas
forças,
respeitar seus
direitos,
perdoar sempre
que preciso,
compreender,
tolerar etc. Mas
como compreender
o pensamento
amar a Deus,
desvinculando-o
do amor ao
próximo? Como
poderia Jesus
pedir que
amássemos “algo”
que nos é
incompreendido,
inabordável pela
nossa mente
obtusa?
Uma possível
alternativa para
compreensão
dessa ideia
podemos
encontrar na
conhecida obra
Vida feliz,
que Joanna de
Ângelis ditou,
através de
Divaldo Franco,
especificamente
em seu último
texto, de nº
200, quando a
benfeitora
escreve:
“Agradece a Deus
a tua
existência.
Louva-o mediante
uma vivência
sadia.
Exalta-lhe o
amor por meio
dos deveres
retamente
cumpridos”.
Chamamos a
atenção que a
autora relaciona
o amor a Deus
aos deveres
retamente
cumpridos.
Outro texto
digno de nota
está em O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
cap. XVII, Sede
perfeitos,
Instruções dos
Espíritos, na
mensagem
assinada por
Lázaro,
intitulada O
Dever:
“O homem que
cumpre o seu
dever ama a Deus
mais do que às
criaturas e ama
as criaturas
mais do que a si
mesmo”.
Lázaro
estabelece no
texto, de forma
inequívoca, que
o amor a Deus
(primeiro
mandamento na
proposta de
Jesus) se
estabelece no
cumprimento do
dever, tal
qual a citação
anterior de
Joanna.
Entendendo-se o
dever como a
“obrigação de
fazer ou deixar
de fazer alguma
coisa”, ou seja,
“o conjunto das
obrigações”
(Michaelis), o
amor a Deus
deveria estar
condicionado ao
respeito e
devoção a
algumas
obrigações
pessoais.
Segundo
estabelece
Emmanuel, no
livro
Pensamento e
vida, “o
dever define a
submissão que
nos cabe a
certos
princípios
estabelecidos
como leis pela
Sabedoria
Divina, para o
desenvolvimento
de nossas
faculdades”.
Acrescenta o
benfeitor que
“dessa forma,
pode-se
simbolizar o
dever como sendo
a faixa de ação
no bem que o
Supremo Senhor
nos traça à
responsabilidade,
para a
sustentação da
ordem e da
evolução em Sua
Obra Divina, no
encalço de nosso
próprio
aperfeiçoamento”.
Concluindo,
podemos sugerir
como proposta de
reflexão que o
amor a Deus se
identifica com o
culto ao dever,
o compromisso
com a retidão de
caráter, a
atitude
responsável e a
priorização dos
princípios
éticos.
Tais condutas,
aplicáveis em
nossa vida no
atual estágio
evolutivo, não
dependem da
compreensão da
natureza de
Deus, por ora,
para nós,
inalcançável.