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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 459 - 3 de Abril de 2016

VLADIMIR POLÍZIO
polizio@terra.com.br
Jundiaí, SP (Brasil)

 


Ser bom não é ser tolo


Não são raras de se ver interpretações errôneas que acabam levando pessoas às raias do desespero.

São ofendidas e exploradas em todos os sentidos, muito especialmente pelos próximos, aqueles com os quais convivem sob o mesmo teto.

Essas pessoas, sabedoras de que devem fazer tudo, ou quase tudo ao próximo, empenham-se em muitas ocasiões em vários compromissos, inclusive os de ordem financeira, por apresentarem-se acima de sua capacidade. Mas, mesmo assim a ajuda é feita, pois o objetivo é fazer o bem ao próximo. O que se pede a esse coração bondoso é alcançado. Durante alguns meses ou pelo ano todo, os problemas econômicos se instalam, sem que sejam sequer notados pelo beneficiado, que uma vez alcançado o objeto de sua pretensão, passa a pensar em alguma outra coisa que o agrade no futuro, pois alguém estará à sua espera, para fazer a sua vontade.

Tomamos aqui apenas um singelo exemplo desse universo que é extenso e abrange muitos tipos e modalidades de "favores" que existem. Dentre eles, muitos podem e devem ser executados, enquanto que outros, que imaginamos estarem ao abrigo de atos fraternos, apenas exploram o tamanho da bondade de quem quer ajudar.

A verdade é que cada um deve avaliar em profundidade o que lhe é pedido.

Para ilustrar o limite dessa situação muitas vezes incômoda, quando a pessoa tem o receio de dizer "não" com medo de estar sendo omissa ou negligente diante de uma "falsa necessidade", com base nos ensinamentos de Jesus, lembramo-nos dessa inteligente advertência.      

Esta fábula interessante fala da extremada bondade que se deve ao próximo, mas, também, que se tenha a cautela necessária, a mansidão dos pombos e a esperteza da serpente.

Vamos encontrá-la no capítulo XX ‒ Defesas contra o mal ‒ do livro Os Mensageiros, de André Luiz, por Chico Xavier. Traduz uma realidade clara, é verdade, mas não é compreendida por muitos: A serpente e o Santo:

"Contam as tradições populares da Índia que existia uma serpente venenosa em certo campo. Ninguém se aventurava a passar por lá, receando-lhe o assalto. Mas um santo homem, a serviço de Deus, buscou a região, mais confiante no Senhor que em si mesmo. A serpente o atacou, desrespeitosa. Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou:

‒ Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém.

A víbora recolheu-se, envergonhada.

Continuou o sábio o seu caminho e a serpente modificou-se completamente. Procurou os lugares habitados pelo homem, como desejosa de reparar os antigos crimes. Mostrou-se integralmente pacífica, mas, desde então, começaram a abusar dela.

Quando lhe identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças davam-lhe pedradas. A infeliz recolheu-se à toca, desalentada. Vivia aflita, medrosa, desanimada.

Eis, porém, que o santo voltou pelo mesmo caminho e deliberou visitá-la. Espantou-se, observando tamanha ruína. A serpente contou-lhe, então, a história amargurada. Desejava ser boa, afável e carinhosa, mas as criaturas perseguiam-na e apedrejavam-na. O sábio pensou, pensou e respondeu após ouvi-la:

‒ Mas, minha irmã, houve engano de tua parte. Aconselhei-te a não morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te disse que evitasses assustar os maus. Não ataques as criaturas de Deus, nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na obra do Senhor. Não mordas, nem firas, mas é preciso manter o perverso a distância, mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos”.


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita