1. "Outrora,
Deus foi homem: hoje, Deus é
Deus", assevera Léon Denis.
O Ser Supremo, criado à imagem do
homem, hoje vê apagar-se pouco a
pouco essa imagem, substituída
por uma realidade sem forma. A
forma, a definição, o tempo, a
duração, a medida, o grau de
potência ou atividade não mais
se aplicam a Deus. O próprio nome
Deus oculta uma idéia incompleta.
Outrora, Júpiter empunhava o
raio, Apolo conduzia o Sol e
Netuno senhoreava os mares. No
Tibete, ainda hoje, adoram
Maitreya, que refreia as ondas do
mar, abençoa o exército,
amaldiçoa o rival e dirige as
chuvas.
2. A história
da idéia de Deus mostra-nos que
ela sempre foi relativa ao grau
intelectual dos povos e de seus
legisladores, correspondendo aos
movimentos civilizadores, à
poesia dos climas, às raças, à
florescência de diferentes povos,
enfim aos progressos espirituais
da Humanidade. Com o passar dos
tempos, assistimos sucessivamente
aos desfalecimentos e
tergiversações dessa idéia
imperecível que, às vezes
fulgurante e outras vezes
eclipsada, pode, todavia, ser
identificada sempre nos fastos da
Humanidade.
3. Nosso Deus
é um Deus ainda desconhecido,
qual o era para os Vedas e para os
sábios do Areópago de Atenas. No
entanto, no estado evolutivo em
que nos encontramos podemos sentir
que Deus não é uma abstração
metafísica, um ideal que não
existe. Não; Deus é um ser vivo,
sensível, consciente. Deus é uma
realidade ativa. Deus é nosso
Pai, nosso guia, nosso condutor,
nosso melhor amigo.
4. Kardec
perguntou aos Espíritos:
"Que é Deus? " e não
quem é Deus? Os Espíritos
responderam: "Deus é a
Inteligência suprema, causa
primária de todas as coisas"
(L.E., item 1).
5. Dizer que
Deus é infinito é um erro,
conseqüência da pobreza da nossa
linguagem, que é insuficiente
para definir as coisas que estão
acima da nossa inteligência.
6. Deus –
ensina Kardec - é infinito em
suas perfeições, mas o infinito
é uma abstração. Dizer que Deus
é infinito é tomar o
atributo pela própria coisa, e
definir uma coisa que não é
conhecida por outra que também
não o é.
A existência
de Deus e suas provas
7. Em "O
Livro dos Espíritos" os
imortais nos dizem que podemos
encontrar a prova da existência
de Deus num axioma bastante
conhecido dos homens, segundo o
qual "não há efeito sem
causa". Basta que procuremos
a causa de tudo o que não
constitui obra do homem e a nossa
razão responderá.
8. Todos os
homens carregam em si o sentimento
intuitivo de Deus, uma prova de
que a crença em um Ser superior
não é produto da educação ou
de idéias adquiridas, visto que
até os selvagens o possuem. Ora,
se fosse a idéia de Deus produto
da educação, não seria
universal, mas restrita a certos
lugares.
A causa primária da formação
das coisas
9. Atribuir a
formação primeira das coisas às
propriedades íntimas da matéria
– afirmam os Espíritos –
equivale a tomar o efeito pela
causa, porque essas propriedades
são elas mesmas um efeito que
deve ter também uma causa.
10. A harmonia
que regula as atividades do
Universo revela combinações e
fins determinados e, por isso
mesmo, mostra-nos a ação de uma
força inteligente. Atribuir essa
formação primeira ao acaso
seria, de igual modo, um
contra-senso, porque o acaso é
cego e não pode produzir coisas
inteligentes. Um acaso inteligente
não seria mais acaso.
11. Pela obra
se reconhece o artífice. Nenhum
ser humano pode criar o que a
Natureza produz por si mesma. A
causa primeira é, portanto, uma
inteligência superior à
Humanidade. Quanto maior o
prodígio realizado pela
inteligência humana, essa
inteligência tem, ela mesma, uma
causa, e quanto mais o que ela
realiza é grande, mais a causa
primeira deve ser grande.
12. Essa inteligência superior
é a causa primeira de todas as
coisas, qualquer que seja o nome
sob o qual o homem a designe -
Deus, Allah, Jeová. O nome é, no
caso, o que menos importa.