Transcorria a
terceira década
da Era Cristã, e
a cidade de
Jerusalém
envolvia-se em
trevas,
debatia-se entre
a dor e a
tristeza, com a
consumação da
nefanda execução
do Senhor.
No Gólgota,
crucificado
entre dois
homens de má
conduta, Jesus
sofria a
execração
pública
padecendo uma
infinita e
asfixiante dor
moral por ver
ovelhas do seu
rebanho
transviadas do
bom caminho que
Ele,
amorosamente,
pregou e
exemplificou.
Decorrido algum
tempo do imenso
suplício, no
calvário
restavam
soldados da
guarda romana e
alguns curiosos
que insistiam em
permanecer no
local.
Eis que surge,
de repente, um
cego a indagar
sobre o
condenado.
Informado
tratar-se do
Nazareno – o
Excelso
divulgador do
Reino de Deus –,
excede-se em
imprecações
acusando o
Cristo de
revolucionário,
impostor,
corruptor de
homens,
conquistador de
mulheres,
elemento de
alta
periculosidade.
No auge de sua
revolta, o tal
cego – cego do
corpo e da alma
– pede a um
soldado que
encoste a ponta
de sua lança no
peito de Jesus
para que ele
mesmo possa
sangrá-lo. Da
ferida aberta,
aos borbotões,
jorra o sangue
de um Justo, por
incúria,
imolado, com pés
e mãos cravados
na cruz e na
fronte uma coroa
de espinhos
encimada pela
inscrição:
JESUS NAZARENO,
REI DOS JUDEUS.
Um jato de
sangue banha o
rosto do cego
cobrindo-lhe os
olhos. Ainda
mais açulado em
sua ira,
bradando
impropérios,
limpa as faces
com suas
próprias vestes.
Surpreso,
todavia,
distingue uma
tênue
luminosidade
varando-lhe os
olhos até então
opacos para logo
depois divisar
com nitidez a
paisagem local,
avistar as
testemunhas da
dolorosa cena.
Vê a lança ainda
tinta de sangue,
e, ao levantar o
rosto, por um
instante, seu
olhar cruza e
funde-se com o
sereno olhar de
Jesus.
Uma suave e
envolvente luz
penetra nos mais
recônditos
sentimentos do
ex-cego.
Atônito, sem bem
compreender o
que se passa, vê
o Cristo preso
ao madeiro
infamante, mas
seus braços se
alongam e o
envolvem
afetuosamente.
Não obstante a
distância física
que os separa,
registra,
enlevado, um
leve sussurro:
“Eu te perdoo,
meu filho”.
Naquele
instante, tocado
no imo do seu
ser, o ex-cego
dobra os
joelhos, verte
uma torrente de
lágrimas,
arrepende-se
sinceramente dos
seus erros e
desenganos,
suplica o perdão
e a oportunidade
de uma nova vida
de amor, de
trabalho, de
regeneração. Daí
em diante
sente-se um
homem novo:
foram sepultados
o homem velho e
suas mazelas.
A prece é o elo
luminoso que nos
liga ao Criador
Hoje, passados
quase 2.000 anos
da memorável
ocorrência,
ainda ferimos o
nosso Mestre de
amor e bondade
com o aço frio
do punhal da
ingratidão que,
teimosamente,
abrigamos em
nossos corações;
golpeamos o
Cristo com a
aguçada lança do
egoísmo que nos
avassala;
fustigamos Jesus
com o venenoso
estilete da
vaidade que nos
corrompe;
retalhamos
impiedosamente o
peito do
Cordeiro de Deus
com a afiada
lâmina da
indiferença que
nos anestesia;
diariamente
alfinetamos o
coração do
Senhor dando
guarida aos maus
pensamentos,
guardando
mágoas,
promovendo a
discórdia,
disseminando a
dúvida.
E qual a razão
de tantos
desatinos?
Falta de
vigilância e de
oração.
A prece é o elo
luminoso que
liga a criatura
ao Criador,
quando proferida
com pureza d’alma.
Falando aos que
O ouviam, assim
se expressou
Jesus a respeito
das qualidades
da prece:
“Quando orardes,
não vos
assemelheis aos
hipócritas que,
afetadamente,
oram em pé nas
sinagogas e nos
cantos das ruas
para serem
vistos pelos
homens.
Digo-vos, em
verdade, que
eles já
receberam sua
recompensa.
Quando quiserdes
orar, entrai
para o vosso
quarto e,
fechada a porta,
orai ao vosso
Pai em secreto;
e vosso Pai, que
vê o que se
passa em
secreto, vos
dará a
recompensa. Não
cuideis de pedir
muito nas vossas
preces, como
fazem os pagãos,
os quais
imaginam que,
pela
multiplicidade
das palavras, é
que serão
atendidos. Não
vos torneis
semelhantes a
eles, porque
vosso Pai sabe
do que é que
tendes
necessidade
antes que lho
peçais.”
(Mateus,
capítulo VI.)
E disse mais
Jesus:
“Quando vos
aprestardes para
orar, se
tiverdes
qualquer coisa
contra alguém,
perdoai-lhe a
fim de que vosso
Pai, que está
nos céus, também
vos perdoe os
vossos pecados.
Se não
perdoardes,
vosso Pai, que
está nos céus,
também não vos
perdoará os
pecados.”
(Marcos,
capítulo XI.)
É
imprescindível,
na vida,
cultivar a
oração e a
vigilância
Oração não é
simplesmente um
amontoado de
palavras
decoradas,
acompanhadas de
ritos e
recitadas sem um
profundo
sentimento de
fé. E, quase
sempre, é assim
que rezamos
todos os dias
quando dizemos:
“Pai nosso que
estás nos céus”
- e o nosso
pensamento
irremediavelmente
preso às coisas
e interesses
materiais sem
que possa alçar
voo em busca dos
bens celestiais;
“Santificado
seja o teu nome”
- e procedemos
de modo
desrespeitoso
para com o nome
do Senhor;
“Venha a nós o
teu reino” - e
nada de nós
mesmos
oferecemos ao
reino de Deus;
“Seja feita a
tua vontade” - e
nos rebelamos
contra os
desígnios do
alto;
“O pão nosso de
cada dia dá-nos
hoje” - e
relegamos
egoisticamente o
nosso próximo
que padece de
fome;
“Perdoa as
nossas dívidas
assim como nós
perdoamos aos
nossos
devedores” -
perdoamos da
boca para fora
porque, no
peito, guardamos
o fel do rancor;
“Não nos deixes
cair em
tentação” - e
estamos
constantemente a
buscar
frivolidades e
emoções impuras;
“Mas livra-nos
do mal” - mal
com que nos
comprazemos em
completa
afinidade e
teimamos em
guardá-lo em
nossos corações,
no transcorrer
de tantos
séculos.
Imperioso é
vigiarmos os
nossos atos,
quer seja no
trabalho, quer
seja em
sociedade, quer
no ambiente
doméstico.
Nossos atos são
exemplos vivos
para os que
conosco
convivem. Vigiar
também os nossos
pensamentos –
matrizes das
nossas ações –,
pois pelo
pensamento
atraímos as
companhias
espirituais:
Espíritos
malsãos se a
mente abriga
pensamentos
impudicos; bons
Espíritos se a
faixa vibratória
é elevada.
Faz-se
imprescindível
cultivar a
oração e a
vigilância para
a melhoria de
nossas almas,
porque nos
tornarmos bons,
na concepção
evangélica, é
tarefa
multimilenar de
que estamos
muito
distanciados.
Segundo Jesus,
só Deus é bom
Mateus no
capítulo XIX,
Lucas no
capítulo XVIII e
Marcos no
capítulo X nos
falam:
“Então,
aproximou-se
dele um mancebo
e disse: Bom
Mestre, que bem
devo fazer para
adquirir a vida
eterna? -
Respondeu Jesus:
Por que me
chamas de bom?
Bom só Deus o é.
Se queres entrar
na vida, guarda
os mandamentos.
- Que
mandamentos? -
retrucou o
mancebo. Disse
Jesus: Não
matarás, não
cometerás
adultério; não
furtarás; não
dirás falso
testemunho;
honrarás a teu
pai e a tua mãe
e amarás ao teu
próximo como a
ti mesmo. O moço
lhe replicou:
Tenho guardado
todos esses
mandamentos
desde que
cheguei à
mocidade. Que é
o que ainda me
falta? Disse
Jesus: Se queres
ser perfeito,
vai, vende tudo
o que tens, dá-o
aos pobres e
terás um tesouro
no céu. Depois
vem e
segue-me.”
Se o próprio
Jesus asseverou
que apenas Deus
é bom, temos, de
nossa parte, que
trabalhar nossa
personalidade,
com denodo e fé
até alcançarmos
algum
burilamento
espiritual,
respeitando e
guardando os
mandamentos da
Lei de Deus:
“Não matarás” -
não apenas no
sentido de tirar
a vida do nosso
semelhante,
todavia no
conceito mais
abrangente de
não
sacrificarmos o
tempo com
futilidades,
laborando na
semeadura do
bem, do amor, da
paz, da
concórdia entre
os homens;
“Não cometerás
adultério” - não
somente no
entendimento de
um cônjuge trair
o outro, porém
na compreensão
mais ampla de
jamais
deturparmos a
verdade em
benefício
próprio ou de
grupos e castas;
“Não furtarás” -
não
exclusivamente o
bem material,
mas sobretudo a
oportunidade de
crescimento
intelectual,
moral e
espiritual dos
nossos irmãos da
retaguarda;
“Não darás falso
testemunho” -
não só no ponto
de vista de
delatar
criminosamente
uma pessoa
inocente,
entretanto,
pautando sua
vida dentro dos
ditames cristãos
num eloquente
testemunho da
adoção de Jesus
como nosso
Mestre e
condutor;
“Honrarás a teu
pai e a tua mãe”
- não só com o
socorro de suas
necessidades
materiais, mas
com o afeto e
carinho que
devemos a quem
nos deu a
oportunidade de
reencarnar na
grande busca do
aperfeiçoamento,
reparando erros
do passado
delituoso;
“Amarás a teu
próximo como a
ti mesmo” -
mandamento
semelhante ao
“Amar a Deus”,
como nos ensinou
Jesus, o qual
fortalece as
nossas almas e
abre
perspectivas
consoladoras
para os
Espíritos ávidos
de
progresso.
Elias e João
Batista, duas
missões para o
mesmo Espírito
Falamos de
reencarnação. É
fato
incontestável a
teoria da
multiplicidade
de vidas? Uma
vez mais
recorremos ao
Evangelho:
(após a
transfiguração)
“Seus
discípulos,
então, o
interrogaram
desta forma: Por
que dizem os
escribas ser
preciso que
antes volte
Elias? Jesus
lhes respondeu:
É verdade que
Elias há de vir
e restabelecer
todas as coisas;
mas eu vos
declaro que
Elias já veio e
eles não o
conheceram e o
trataram como
lhes aprouve. É
assim que farão
sofrer o Filho
do Homem. Então,
seus discípulos
compreenderam
que fora de João
Batista que ele
falara”.
(Mateus,
capítulo XVII;
Marcos, capítulo
IX.)
Está claro e
evidente que
Jesus se referiu
a Elias
reencarnado como
João Batista.
No capítulo III
de João,
encontramos:
“Ora, entre os
fariseus, havia
um homem chamado
Nicodemos,
senador dos
judeus, que
veio, à noite,
ter com Jesus e
lhe disse:
Mestre, sabemos
que vieste da
parte de Deus
para instruir
como um doutor,
porquanto
ninguém poderia
fazer os
milagres que
fazes se Deus
não estivesse
com ele. Jesus
lhe respondeu:
Em verdade, em
verdade,
digo-te: Ninguém
pode ver o reino
de Deus se não
nascer de novo.
Disse-lhe
Nicodemos: Como
pode nascer um
homem já velho?
Pode tornar a
entrar no ventre
de sua mãe para
nascer segunda
vez?.
Retorquiu-lhe
Jesus: Em
verdade, em
verdade,
digo-te: Se um
homem não
renasce da água
e do Espírito,
não pode entrar
no reino de
Deus. O que é
nascido da carne
é carne e o que
é nascido do
Espírito é
Espírito. Não te
admires de que
eu te haja dito
ser preciso que
nasça de novo. O
Espírito sopra
onde quer e
ouves a sua voz,
mas não sabes
donde vem ele,
nem para onde
vai; o mesmo se
dá com todo
homem que é
nascido do
Espírito.”
Outras doutrinas
interpretam as
palavras de João
como ensinamento
de regeneração
do homem pela
água do batismo.
É que, segundo
estudiosos,
alguns
tradutores dos
Livros Sagrados
substituíram a
frase “se o
homem não
renascer da água
e do Espírito”
pela forma “se o
homem não
renascer da água
e do Espírito
Santo”, num
atentado à
pureza do texto
primitivo, um
desrespeito ao
mandamento “Não
cometerás
adultério”, que
nos induz a não
desfigurarmos a
verdade para
atender a
interesses
pessoais, de
grupos, de
castas, ou mesmo
para adequá-la
às convicções
doutrinárias.
O Evangelho de
Jesus é um poema
de amor
Sabe-se que os
antigos, pouco
informados sobre
ciências
físicas,
acreditavam que
a Terra havia
saído das águas,
considerando a
água como
elemento gerador
de todas as
coisas
materiais,
inclusive o
nosso corpo. Era
a água o símbolo
da natureza
material. Assim,
a expressão “se
o homem não
renasce da água
e do Espírito”
quer dizer
renascer num
novo corpo
material animado
por um Espírito
preexistente ao
corpo físico.
Temos ainda: “o
que é nascido da
carne é carne e
o que é nascido
do Espírito é
Espírito”. Fica
aí estabelecida
a distinção
entre corpo e
Espírito e
confirmado o
princípio de que
o corpo vem do
corpo e o
Espírito, cuja
existência é
anterior à
concepção do
corpo, independe
dele.
Adiante
encontramos: ”o
Espírito sopra
onde quer;
ouves-lhe a voz,
mas não sabes
nem donde ele
vem, nem para
onde vai”. Se a
alma fosse por
Deus criada ao
mesmo tempo que
o corpo,
saber-se-ia
donde ela veio,
pois que
conhecido era o
seu começo.
Com esta
exposição,
entendemos que
fica ratificada
e consolidada
por nosso Mestre
Jesus a doutrina
reencarnacionista,
aceita e
professada por
antigas
civilizações
anteriores ao
Cristo.
Jesus é o modelo
de vida, seu
Evangelho é um
poema de amor,
um código de
ética, um
roteiro seguro
que nos aponta o
caminho do bem.
O cego é o
símbolo do homem
redimido que um
dia poderemos
ser quando
formos tocados
pelo sincero
arrependimento e
permutarmos
nossos vícios e
maldades pela
boa conduta
assentada nos
princípios da
caridade, como
bem discorreu o
Espírito de
Scheilla em sua
mensagem
“Esmolas
Esquecidas”,
psicografada por
Chico Xavier,
com o que agora
nos permitimos
encerrar a
narrativa da
estória “O Cego
e Jesus”:
“Dá o que
possas, como
possas e quanto
possas, em
benefício dos
outros, mas
recorda sempre
as esmolas
esquecidas:
O timbre de voz
fraterna com
quem ainda não
simpatizas...
O sorriso
acolhedor para a
visita
inesperada...
O minuto de boa
vontade no
esclarecimento
amigo...
A simples
conversação
reconfortante
com a pessoa
cuja presença te
desagrada...
O silêncio
generoso ante a
provocação
daqueles que
ainda não te
compreendem...
A insignificante
gentileza na via
pública...
A referência
construtiva em
favor dos
ausentes...
O serviço
singelo aos
desconhecidos...
A oração pelos
adversários...
A consideração
para com os mais
velhos...
O amparo à
criança...
A ligeira visita
aos doentes...
O bilhete
afetuoso ao
irmão
necessitado de
bom ânimo...
O carinho em
casa...
O socorro aos
desalentados...
A palavra
otimista para
quem te ouve...
A leitura
edificante...
O respeito às
situações que
não conheces...
O auxílio à
natureza...
A cooperação
desinteressada
no bem...
Não te afastes
do abençoado
serviço a todos.
Os pequenos
gestos
espontâneos da
verdadeira
fraternidade são
alicerces
seguros na
construção do
Reino do Amor”.
Que possamos, no
nosso dia a dia,
distribuir em
abundância,
entre os
companheiros de
jornada, a paz,
o amor, a
compreensão, a
concórdia e
todas aquelas
Esmolas
Esquecidas de
que nos falou a
Irmã Scheilla.
Em oração
invocamos o
Mestre dizendo:
Jesus, Cristo
Bendito de Deus,
Socorre-nos em
nossas
necessidades,
Cura a nossa
cegueira
espiritual,
Orienta os
nossos passos
vacilantes,
Mostra-nos,
Senhor, que és
o CAMINHO a
ser seguido,
a VERDADE a
ser buscada,
a VIDA a ser
imitada.
Assim seja.