Alcione Andries
Lopes:
“É preciso
ponderar sem
paixões e
preconceitos
para discernir
com proveito”
A palestrante
mineira fala-nos
sobre sua
experiência
e
sua atuação nas
lides espíritas
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Alcione Andries
Lopes (foto)
é mineira de
Leopoldina (MG),
hoje residente
em Juiz de Fora
(MG). Nascida em
lar espírita, é
a filha mais
velha de
Washington
Duarte Andries e
Penha Ferreira.
Casada com
Henderson
Marques Lopes, é
mãe de três
filhos e avó de
cinco netos. É
colaboradora de
diversos
periódicos
espíritas e não
espíritas com
|
|
|
artigos em
jornais e
revistas.
Farmacêutica,
formada pela
Universidade
Federal de Juiz
de Fora (MG),
com Mestrado em
Educação pela
Universidade
Federal do Rio
de Janeiro (RJ),
está aposentada
como professora
da Faculdade de
Farmácia e
Bioquímica da
Universidade
Federal de Juiz
de Fora.
|
|
Atualmente
vinculada aos
Setores de
Divulgação, de
Mediunidade, de
Família e de
Atendimento
Fraterno, do
Centro Espírita
Amor ao Próximo,
em Juiz de Fora,
ela concedeu-nos
a seguinte
entrevista:
Como foi sua
iniciação no
Movimento
Espírita?
Nossa lembrança
mais remota de
participação no
Movimento é de
meu pai
levando-me pela
mão, talvez com
uns cinco anos
de idade, à
Escolinha de
Evangelização do
C.E. Amor ao
Próximo, em
Leopoldina (MG).
Apreciava,
ainda,
acompanhá-lo nas
palestras que
ele proferia em
várias cidades
da Região, bem
como auxiliá-lo
no serviço de
assistência
social do
Centro. Eram
manhãs radiosas,
em que me sentia
extremamente
“importante” por
estar ali, junto
ao pai querido,
ajudando-o a
pesar o leite em
pó e a fechar os
saquinhos,
enquanto ele
contava
histórias,
casos, falava de
Jesus... E
quando
terminávamos
cobertos de pó
branco, quanta
alegria ao
contemplar a
pilha de
saquinhos
organizados com
tanto carinho!
Crescendo,
passamos para as
reuniões da
Mocidade.
Hoje sua atuação
é
primordialmente
na cidade de
Juiz de Fora
(MG). Foi a
partir de
quando?
Foi a partir de
1966, quando
chegamos a fim
de preparar-nos
para o
vestibular.
Fomos logo
encaminhada ao
C.E. Ivon Costa,
integrando-nos à
Mocidade João de
Deus, assumindo
encargos na
evangelização de
crianças. Também
no C.E. Ivon
Costa
apresentamos
nosso primeiro
estudo em
reunião pública,
ainda em 1966,
atendendo a
convite da
Diretoria, que
dava aos jovens
que desejassem
ser expositores,
e se
preparassem, 20
minutos para
desenvolver um
tema,
naturalmente sob
a carinhosa
supervisão dos
dirigentes da
reunião. No
segundo semestre
de 1966
começamos a
participar do
Departamento de
Mocidade da
Aliança
Municipal
Espírita de Juiz
de Fora, onde
conhecemos o
Henderson, então
diretor do
referido
Departamento,
com quem me
casaria em 1971.
Permanecemos,
desde então,
além do vínculo
com o Centro,
integrada às
atividades da
AME, nas áreas
de Evangelização
Infantil,
Divulgação,
Família,
Conselho
Regional
Espírita,
vice-Presidência
e Presidência.
Graças ao
generoso amparo
do Alto,
permanecemos,
sem interrupção,
no trabalho, até
os dias de hoje.
Em sua opinião,
o que mais
necessitamos
fazer para que o
movimento
espírita atinja
seus justos
objetivos?
Em Obras
Póstumas,
nos capítulos
‘Projeto 1868’ e
‘Constituição do
Espiritismo’
registra Kardec
que um dos
maiores
obstáculos à
propagação da
Doutrina seria a
falta de
unidade, e que,
para mantê-la,
sobretudo no
futuro, três
critérios
deveriam ser
rigorosamente
observados: (1)
determinação,
com precisão e
clareza, de
todas as partes
do corpo
doutrinário (e o
Codificador o
fez
magistralmente);
(2) não sair do
círculo das
ideias práticas
(estar atento ao
aspecto
científico do
Espiritismo) e
(3) não
olvidarmos seu
caráter
progressivo.
Cremos, então,
que aquele que
se proponha
colaborar para a
divulgação do
Espiritismo,
guardando
fidelidade aos
seus objetivos,
há que estudar
metódica e
sistematicamente
o conteúdo
doutrinário,
atualizar-se com
as conquistas do
saber humano,
incorporar o
conhecimento
adquirido à
vivência e
engajar-se no
trabalho ativo,
cultivando
convivência
realmente
fraterna e
solidária. É o
desenvolvimento
da fé operosa.
Nas várias casas
espíritas que
visita para
fazer palestras
o que mais a
deixa feliz?
Quando, através
de olhares
atentos ou
comentários
posteriores,
percebemos
interesse e
aproveitamento
das pessoas pelo
que está sendo
ou foi dito;
quando se
interessam pela
leitura de
livros citados
ou indicados;
quando nos
abraçam, ao
final da
conversa, e
dizem coisas
como “Estava
precisando ouvir
o que você
falou” ou “Puxa,
a maneira como o
assunto foi
colocado ‘abriu
minha cabeça’...
Vou pensar
melhor sobre
isto”. Fatos
como esses
significam, para
nós, que estamos
sendo
instrumento
razoável para a
Espiritualidade,
que encontra em
nosso esforço
sincero meios de
auxiliar,
esclarecendo e
amparando
companheiros de
jornada, às
vezes levados
até ali por
dedicação e
empenho dos
Amigos
Espirituais.
Há uma receita
para que a
depressão não
atinja os
espíritas?
Temos vasto e
excelente
material sobre o
tema,
desenvolvido por
escritores
sérios e
capacitados na
área de saúde
humana para
abordá-lo. De
nossa parte,
diríamos que,
conquanto o
avanço da
Ciência Médica,
em suas várias
abordagens, nos
proporcione a
cada dia mais
amplos recursos
para a prevenção
e tratamento da
depressão,
acreditamos que,
no Evangelho de
Jesus e nos
postulados
espíritas,
encontramos as
bases seguras
para serem
desdobradas no
encaminhamento
da questão, com
entendimento
profundo e
aplicação de
exortações como:
“Buscai, antes
de tudo o seu
reino, e estas
cousas vos serão
acrescentadas”;
“... o reino de
Deus está dentro
em vós”; “...
aquele que crê
em mim também
fará as obras
que eu faço...”;
“Não andeis
ansiosos pela
vossa vida...”;
“... aprendei de
mim que sou
manso e humilde
de coração...”;
“... toma o teu
leito, e anda”
“... aquele que
perseverar até
ao fim...”;
“Conhece-te a ti
mesmo”; “A
felicidade está
na razão direta
do progresso
realizado” etc.
Somando-se a
isso, conhecer,
entender,
aceitar e
aplicar ao
cotidiano a
resposta que os
Espíritos deram
a Kardec, no
item 922 de O
Livro dos
Espíritos,
sobre a
felicidade
possível na
Terra, sem
dúvida alguma,
será meio eficaz
de contribuirmos
para a melhoria
de nossa
qualidade de
vida desde já.
Quais os meios
mais eficazes
para se fazer
através do
movimento
espírita uma boa
interação com a
sociedade não
espírita?
Ainda com Jesus
e Kardec: “Não
façais aos
outros o que não
quereis que vos
façam” e
“Trabalho,
Solidariedade,
Tolerância”.
Há diferenças
relevantes entre
as casas
espíritas que
frequenta? Em
caso afirmativo,
o que deveria
permanecer?
Diferenças que
observamos se
referem,
sobretudo,
àquelas
relacionadas com
o porte, com o
tamanho da
Instituição, na
parte física e
no número de
frequentadores.
Temos a alegria
de conhecer
centenas de
Instituições
Espíritas, em
inúmeras cidades
e, de modo
geral, seus
trabalhadores se
esforçam por
delas fazerem
locais
eficientes nos
misteres da
Evangelização,
Consolação e
Esclarecimento,
que são os
objetivos do
Centro Espírita.
Inegavelmente,
as mais
acolhedoras são
aquelas em que
vige a
fraternidade
legítima e
sincera entre
trabalhadores e
destes com o
público, sem os
pruridos do
personalismo, da
vaidade, das
murmurações
maledicentes,
que são o joio
infeliz em
qualquer seara.
Já nos alertou
Emmanuel em sua
obra
Educandário de
luz que “Um
grêmio espírita
cristão deve
ter, mais que
tudo, a
característica
familiar, onde o
amor e a
simplicidade
figurem na
manifestação de
todos os
sentimentos”.
Como o espírita
deve agir para
superar seus
problemas
pessoais e
permanecer firme
nas tarefas que
assumiu?
No cap. III da
2ª Parte da obra
Paulo e
Estêvão
(Emmanuel /
F.C.Xavier), o
autor narra um
extraordinário
encontro de
Paulo, ainda
encarnado e
perdido em
profundo
desalento, com
os Espíritos
Estêvão e
Abigail. Ante
quatro perguntas
que Paulo lhe
faz sobre como
entender o que
Jesus desejava
dele, o que
fazer para
cumprir a
promessa feita
ao Mestre, como
enfrentar o
desânimo e a
indiferença dos
homens, a noiva
espiritual lhe
traça luminoso
roteiro baseado
em quatro
verbos: AMAR,
TRABALHAR,
ESPERAR e
PERDOAR. Cremos
seja este o
excelente
caminho a
trilhar para
quantos nos
candidatamos a
aprendizes do
Evangelho,
verdadeiros
espíritas,
trabalhadores da
última hora.
Já pensou em
desistir de ser
palestrante
espírita?
Não! Enquanto
nos for possível
continuar
aprendendo e
compartilhando o
que de melhor
construirmos
portas adentro
da alma, o
faremos com a
maior alegria e
gratidão a
Jesus!
Seria bom que o
movimento
espírita
melhorasse onde
e por quê?
Embora seguindo
o ritmo
possível,
através da
dedicação dos
seus
trabalhadores,
dos dois planos
da existência,
acreditamos que
seria muito bom
que aderíssemos
definitivamente
ao empenho dos
Benfeitores
Espirituais,
como Dr.
Bezerra, Vianna
de Carvalho,
Guillon Ribeiro,
Lins de
Vasconcellos, e
tantos outros,
nas tarefas da
Unificação.
Acreditamos, com
nossos Maiores,
seja urgente
maior UNIÃO de
esforços para
combater o
personalismo, a
acomodação, a
indiferença e a
superficialidade
no trato com o
sublime legado
do Cristo, a
partir de nós
mesmos,
desvestindo-nos
do “homem velho”
para que
predomine, no
raciocínio e no
sentimento, a
“terra boa”,
onde as sementes
do Evangelho
frutifiquem em
bênçãos mais
amplas, segundo
os projetos da
Comunidade dos
Espíritos Puros
que governam
nosso Sistema
Solar, da qual
Jesus é um dos
membros divinos.
O que diz das
obras de
Humberto de
Campos
(Espírito), hoje
menos citadas?
Estamos
finalizando,
para publicação
neste ano do
130º aniversário
de nascimento de
Humberto de
Campos, um
artigo sobre
esse que
consideramos um
dos mais
brilhantes e
corajosos
cronistas da
realidade
espiritual. Se
mais nada ele
nos houvesse
enviado, por
meio da
mediunidade de
Francisco C.
Xavier, os
livros
Brasil, coração
do mundo, pátria
do Evangelho,
Lázaro redivivo,
Reportagens
de Além-Túmulo,
Boa Nova,
Estante da
vida, Luz
acima já
seriam
suficientes para
colocá-lo na
galeria dos mais
dedicados
servidores de
Jesus no campo
das letras
libertadoras.
É justo esperar
que o tempo nos
ajude a corrigir
nossos erros ou
devemos buscar
soluções
continuamente?
Para
desenvolvimento
do germe da
perfeição, que
trazemos ínsito,
por divina
herança,
contamos com
vários recursos,
determinantes,
concorrentes e
reguladores: a
força para
progredir, a
vontade, o
livre-arbítrio,
as leis divinas
e o tempo.
Diz-nos o
instrutor Gúbio,
em palavras de
André Luiz, no
cap. 2 do livro
Libertação,
psicografado por
Chico Xavier,
que a “Educação
para a
eternidade não
se circunscreve
à ilustração
superficial de
que um homem
comum se
reveste,
sentando-se, por
alguns anos, num
banco de
universidade – é
obra de
paciência nos
séculos”. E
complementa o
benfeitor
Jerônimo, também
através de André
Luiz, no cap.
XVI da obra
Obreiros da Vida
Eterna:
“Esclarecimentos
e consolações
são dádivas de
Deus, Nosso Pai,
mas convicções e
realizações
constituem obra
nossa”.
Valem as
propostas do
antigo ou
deve-se sempre
buscar
renovações?
Sendo a Doutrina
de caráter
progressivo,
devemos estar
atentos aos
avanços da
Ciência do
mundo,
examinando,
comparando,
passando as
propostas novas
pelo crivo da
razão. Para tal
é imprescindível
que se tenha
sólido
conhecimento dos
fundamentos
cristãos-espíritas.
Se não os
possuímos, que
saibamos ouvir
os que detêm
maior
conhecimento,
mas também
lucidez e
humildade para
admitir que não
sabemos tudo.
Ponderar sem
paixões e
preconceitos
para discernir
com proveito.
Um momento
ímpar,
inesquecível,
vivido por você.
Por
misericórdia,
mais que por
merecimento, a
Espiritualidade
tem sido
extremamente
generosa
conosco,
sendo-nos
impossível
contabilizar as
inúmeras e
duradouras
alegrias da
existência.
Apesar de, como
todas as
criaturas,
enfrentarmos
quedas
fragorosas,
resgates,
desafios,
sofrimentos
inerentes à
nossa condição
de Espíritos
imperfeitos, em
aprendizado e
reajuste diante
da Lei,
sentimo-nos,
quase sempre, de
forma parecida
ao que Paulo de
Tarso colocou em
suas palavras
aos Coríntios
(II Cor, 4:16):
“Por isso não
desanimamos:
pelo contrário,
mesmo que o
nosso homem
exterior se
corrompa, o
nosso homem
interior se
renova de dia em
dia”.
Suas palavras
finais.
Agradecendo a
feliz
oportunidade de
falar ao coração
daqueles que nos
possam ler,
envolvemos a
todos em
afetuosas
vibrações de
esperança,
coragem e bom
ânimo! Buscarmos
a edificação com
Jesus, amparados
na Verdade
libertadora que
a Doutrina
Espírita nos
oferece,
enfrentando, com
humildade,
absoluta certeza
na vitória do
Bem e muita
paciência,
qualquer desafio
que se nos
apresente nas
veredas do
crescimento para
Deus, é viver em
paz e alegria
verdadeiras,
sabendo-nos
Cidadãos do
Universo,
criados pelo
Amor e para o
Amor, destinados
à Vida Eterna e
à Perfeição! E
conduzidos, e
estimulados e
amoravelmente
sustentados pelo
Bom Pastor, que
nos preparou tão
lindo cenário –
nossa Mãe Terra
–, a fim de nele
realizarmos
parte de nossa
evolução
infinita! Quanto
mais lutamos,
buscando a união
com Jesus, se
perseveramos,
vencendo aos
poucos as
mazelas que
ainda nos
caracterizam,
mais leves nos
tornamos, mais
joviais, mais
serenos! E
melhor
compreendemos o
sentimento que
pontua os
dizeres finais
de um poema da
querida Auta de
Souza,
psicografado
pela não menos
querida Irthes
Terezinha Lisboa
de Andrade,
intitulado
Quando temos
Jesus:
“Quando temos
Jesus, tudo é
harmonia... Não
existe o
impossível...
cai o véu... Se
sofremos, se há
gozo – há
alegria
prelibando as
venturas lá do
Céu!...”