Fabrício
Alexandre
Sanas:
“A Arte nos
permite
emocionar, a nós
e os outros”
Integrante do
Coro Frater e do
grupo Pazlhaçada,
o confrade
fala-nos sobre
sua experiência
no campo da arte
espírita
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Fabrício
Alexandre Sanas (foto),
natural de
Conselheiro
Lafaiete (MG),
ora radicado em
Matão (SP), é
Analista de
Sistemas e, como
voluntário,
colaborador da
Comunidade
Espírita Cairbar
Schutel.
Integrante de um
grupo vocal, ele
atua também como
palhaço
hospitalar, o
que demonstra
sua vocação
artística, tema
que é focalizado
na
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De onde lhe veio
o interesse pela
arte?
Meu avô materno
foi um Luthier (1) em
Conselheiro
Lafaiete (MG) e
a família fazia
parte de um
movimento
chamado Violas
de Queluz e
na frente da
casa dele eram
ministradas
aulas de piano,
cavaquinho,
violão, viola e
acordeom. Desta
forma sempre
tive uma
inclinação para
a música, mas
por motivos de
falta de foco ou
algo que não sei
bem explicar
nunca consegui
me envolver. Há
aproximadamente
cinco anos, com
o amigo
Reginaldo Córdoa,
aqui mesmo em
Matão-SP,
começamos a
ideia de ser
Palhaço
hospitalar e
dali para frente
demos uma parada
e começamos com
coral.
Como surgiu o Pazlhaçada?
Mais adiante no
tempo, a amiga
Lilian – que
integrava a
ideia inicial –
comentou que
tinha uma pessoa
interessada
neste trabalho e
imediatamente
começamos a
conversar e
floresceu o Pazlhaçada.
A parceria se
estabeleceu
naturalmente com
outro amigo, o
Caio, em quem
encontrei um
grande parceiro
de trabalho e
acima de tudo um
filho querido do
coração. Alguém
que tem a alma
do palhaço!
Outro fator
importante é o
nome, pois esta
expressão veio
de uma
psicografia do
Palhaço Arrelia
durante o 1° EAC
– Encontro Anual
Cairbar Schutel,
ocorrido em
2011. (N.R.:
– Clique em https://www.youtube.com/watch?v=2UDCAidZw64 e
veja a
apresentação do
grupo no 6º EAC
realizado em
18/9/2016.)
Comente sobre
essa
experiência.
Nosso professor
de teatro,
Marcos, nos diz
que o palhaço
não é criado,
ele simplesmente
sai de dentro.
Nada mais
educativo tirar
de dentro. Ser
palhaço
hospitalar nos
ensina muita
coisa e
precisaríamos de
várias linhas,
mas vou tentar
resumir alguns
pontos. O
palhaço nos
ensina através
das cores e
combinações
estranhas de sua
roupa que as
diferenças podem
conviver sem
competir uma com
a outra,
formando uma
harmonia. Ser
palhaço
hospitalar é
muito sério!
Estranho, né?
Dentro de um
quarto de
hospital não
necessariamente
vamos fazer rir,
por vezes
ouvimos,
abraçamos,
emprestamos
nosso ombro
amigo e acima de
tudo respeitamos
o momento do
outro,
aproximando-nos
apenas quando
ele nos
permitir. Outro
ponto
extremamente
importante é que
começamos a
fazer uma
reflexão de
nossa própria
vida, revendo
nossa conduta e
nossos
objetivos. Ali
muitas vezes é o
fim de uma vida
corpórea e
instantes de
reflexão são
naturais. É como
se na linha de
chegada as
pessoas
começassem a
rever o trajeto,
daí muitas
alegrias,
tristeza,
frustações,
revolta e
sentimentos
muito
particulares que
não podemos nem
devemos pontuar,
apenas
proporcionar, se
possível,
instantes que
tragam
tranquilidade.
Fale-nos sobre o
Coro Frater.
Costumo brincar
que nosso
maestro Danilo
Gomes tira leite
de pedra! Para
falar do Coro
Frater devemos
começar com o
nome Frater –
irmão,
fraternidade. No
coral também
aprendemos que
as vozes
isoladamente
dissonantes
quando unidas se
tornam
harmoniosas
regidas pela
batuta do
maestro. A
possibilidade de
cantar liberta
sentimentos
inatos e
abafados que não
podemos
imaginar, como
alegria, emoção
e uma satisfação
que apenas
cantando podemos
exprimir. A
música nos
proporciona
algumas coisas
muito
interessantes
como disciplina,
engajamento,
dedicação,
respeito,
superação e
humildade.
Cantar nos ajuda
a vencer medo,
depressão,
ansiedade com
alguns casos
concretos dentro
de nosso grupo
que pessoas com
estes
sentimentos
encontraram um
sentido maior
com esta
atividade.
Praticamente
nenhum de nós
será um
profissional da
música, mas
seremos com toda
certeza pessoas
diferentes a
partir do
momento que
começamos.
O que é arte
espírita para
você?
Parafraseando
Léon Denis em O
Espiritismo na
Arte: “O
Espiritismo vem
abrir para a
arte novas
perspectivas,
horizontes sem
limites. A
comunicação que
ele estabelece
entre os mundos
visível e
invisível, as
indicações
fornecidas sobre
as condições da
vida no Além, a
revelação que
ele nos traz das
leis de harmonia
e de beleza que
regem o Universo
vêm oferecer aos
nossos
pensadores, aos
nossos artistas,
motivos
inesgotáveis de
inspiração.” A
Arte espírita é
uma ferramenta
de educação e
não diversão,
devemos
encará-la como
um excelente
instrumento que
de forma muito
sutil consegue
mudar a nossa
forma de ver e
agir sobre o
mundo,
despertando no
espectador
importantes
reflexões.
Aliás, não
devemos esquecer
que nós somos o
primeiro
espectador. A
Arte elevada nos
permite educar
nossos
sentimentos,
penso eu que
seja esse o
maior benefício
proporcionado
por ela.
Qual sua arte
preferida?
Pergunta
difícil, pois
não existe uma
preferida, visto
que todas são
realizadas
dedicando a elas
aquilo que tenho
de melhor.
Através da
música descobri
a necessidade da
disciplina na
vida; sendo
palhaço aprendi
a olhar o outro
sem rótulos
ofertando um
pouco de mim;
aprendendo
clarinete
percebo que
preciso de
momentos de
reflexão para me
apresentar para
a vida com o
melhor de mim.
Como sente as
repercussões da
arte em suas
apresentações e
palestras?
A Arte tem uma
linguagem livre
de preconceitos
e facilita
apresentar o
conteúdo de uma
forma leve,
agradável,
facilitando o
entendimento.
Considerando
isto podemos
despertar nas
pessoas
sentimentos que
elas muitas
vezes esqueceram
que existe. A
Arte nos permite
emocionar, a nós
e os outros. É
muito comum as
pessoas ouvirem
uma música e
verterem
lágrimas; ouvir
um texto já
conhecido e ter
uma outra
perspectiva;
olhar o palhaço
e lembrar-se de
como é possível
ser feliz
através da
simplicidade.
Algo
interessante é
como as pessoas
reagem diante da
arte, nossos
sentimentos são
sufocados pelas
adversidades,
dificuldades da
vida, frustações
e pelo simples
fato de não ser
útil! Pois estes
instantes não
nos fornecem
cargos e
salários
melhores,
posição social e
status;
simplesmente nos
proporcionam uma
viagem interior
e solitária, um
encontro com nós
mesmos.
Algo marcante
que gostaria de
destacar?
Gostaria de
destacar dois
pontos.
Durante uma
apresentação em
clínica de
dependentes
químicos
chegamos a um
local com uma
atmosfera
extremamente
pesada, com
cheiro forte de
fumo e vários
corações que
perderam a
capacidade de
exprimir afeto!
Quando
terminamos de
cantar foram
proferidas
palavras de
conforto e na
despedida fomos
cumprimentados
pelos pacientes
e um deles me
perguntou se
poderia me dar
um abraço; ao
final disse que
nunca tinha
recebido um
abraço tão
afetuoso como
este e o
ambiente estava
mais leve. Onde
cantamos,
por mais simples
que sejam nossas
músicas, uma luz
é acesa.
Em uma visita de
nosso grupo ao
hospital, alguns
de nossos
integrantes
entraram em um
quarto com uma senhora
que durante o
dia todo estava
inquieta,
triste, sem
proferir alguma
reação ou
palavra. Quando
os Paz-lhaços
chegaram,
brincaram, ela
sorriu, falou,
se alegrou,
enfim; durante a
madrugada essa
senhora
desencarnou.
Posteriormente a
filha nos
procurou
dizendo, e
agradecendo, que
aquele havia
sido o último e
talvez uns dos
momentos mais
alegres da vida
da mãe nos
últimos meses, e
disse que antes
da desencarnação
ela se acalmou e
dormiu
tranquilamente...
Isso mostra que
pequenos
momentos podem
fazer milagres.
O seu corpo
físico chegou ao
fim das
atividades
vitais, mas seu
Espírito, esse
não podemos
ainda imaginar
como ficou!
De sua
experiência, o
que mais lhe
sobressai?
Um dos grandes
problemas da
humanidade é a
falta de
capacidade de
desenvolver a
aceitação! Sim,
aceitar o outro
como ele é, com
seus pontos
positivos e
negativos.
Através da arte
é possível
desenvolver sem
imposição esta
capacidade pelo
simples fato de
que é preciso
respeitar o
outro para que
possa me
comunicar com
ele e atingir o
objetivo
proposto.
Suas palavras
finais.
Cante, dance,
pule, sorria,
chore, encante,
declame, liberte
o artista que
existe dentro de
cada um de nós
achando seu
ponto.
Apresente-se
para vida com
seu melhor:
você!
(1) Luthier
é o profissional
que trabalha com
a construção e
manutenção de
instrumentos
musicais.