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Ano 10 - N° 498 - 8 de Janeiro de 2017

ORSON PETER CARRARA
orsonpeter92@gmail.com
Matão, SP (Brasil)

 

 
Fabrício Alexandre Sanas: 

“A Arte nos permite emocionar, a nós e os outros” 

Integrante do Coro Frater e do grupo Pazlhaçada, o confrade
fala-nos sobre sua experiência no campo da arte espírita

Fabrício Alexandre Sanas (foto), natural de Conselheiro Lafaiete (MG), ora radicado em Matão (SP), é Analista de Sistemas e, como voluntário, colaborador da Comunidade Espírita Cairbar Schutel. Integrante de um grupo vocal, ele atua também como palhaço hospitalar, o que demonstra sua vocação artística, tema que é focalizado na

entrevista seguinte. 

De onde lhe veio o interesse pela arte?  

Meu avô materno foi um Luthier (1) em Conselheiro Lafaiete (MG) e a família fazia parte de um movimento chamado Violas de Queluz e na frente da casa dele eram ministradas aulas de piano, cavaquinho, violão, viola e acordeom. Desta forma sempre tive uma inclinação para a música, mas por motivos de falta de foco ou algo que não sei bem explicar nunca consegui me envolver. Há aproximadamente cinco anos, com o amigo Reginaldo Córdoa, aqui mesmo em Matão-SP, começamos a ideia de ser Palhaço hospitalar e dali para frente demos uma parada e começamos com coral. 

Como surgiu o Pazlhaçada

Mais adiante no tempo, a amiga Lilian – que integrava a ideia inicial – comentou que tinha uma pessoa interessada neste trabalho e imediatamente começamos a conversar e floresceu o Pazlhaçada. A parceria se estabeleceu naturalmente com outro amigo, o Caio, em quem encontrei um grande parceiro de trabalho e acima de tudo um filho querido do coração. Alguém que tem a alma do palhaço! Outro fator importante é o nome, pois esta expressão veio de uma psicografia do Palhaço Arrelia durante o 1° EAC – Encontro Anual Cairbar Schutel, ocorrido em 2011. (N.R.: – Clique em https://www.youtube.com/watch?v=2UDCAidZw64 e veja a apresentação do grupo no 6º EAC realizado em 18/9/2016.) 

Comente sobre essa experiência. 

Nosso professor de teatro, Marcos, nos diz que o palhaço não é criado, ele simplesmente sai de dentro. Nada mais educativo tirar de dentro. Ser palhaço hospitalar nos ensina muita coisa e precisaríamos de várias linhas, mas vou tentar resumir alguns pontos. O palhaço nos ensina através das cores e combinações estranhas de sua roupa que as diferenças podem conviver sem competir uma com a outra, formando uma harmonia. Ser palhaço hospitalar é muito sério! Estranho, né? Dentro de um quarto de hospital não necessariamente vamos fazer rir, por vezes ouvimos, abraçamos, emprestamos nosso ombro amigo e acima de tudo respeitamos o momento do outro, aproximando-nos apenas quando ele nos permitir. Outro ponto extremamente importante é que começamos a fazer uma reflexão de nossa própria vida, revendo nossa conduta e nossos objetivos. Ali muitas vezes é o fim de uma vida corpórea e instantes de reflexão são naturais. É como se na linha de chegada as pessoas começassem a rever o trajeto, daí muitas alegrias, tristeza, frustações, revolta e sentimentos muito particulares que não podemos nem devemos pontuar, apenas proporcionar, se possível, instantes que tragam tranquilidade. 

Fale-nos sobre o Coro Frater. 

Costumo brincar que nosso maestro Danilo Gomes tira leite de pedra! Para falar do Coro Frater devemos começar com o nome Frater – irmão, fraternidade. No coral também aprendemos que as vozes isoladamente dissonantes quando unidas se tornam harmoniosas regidas pela batuta do maestro. A possibilidade de cantar liberta sentimentos inatos e abafados que não podemos imaginar, como alegria, emoção e uma satisfação que apenas cantando podemos exprimir. A música nos proporciona algumas coisas muito interessantes como disciplina, engajamento, dedicação, respeito, superação e humildade. Cantar nos ajuda a vencer medo, depressão, ansiedade com alguns casos concretos dentro de nosso grupo que pessoas com estes sentimentos encontraram um sentido maior com esta atividade. Praticamente nenhum de nós será um profissional da música, mas seremos com toda certeza pessoas diferentes a partir do momento que começamos. 

O que é arte espírita para você? 

Parafraseando Léon Denis em O Espiritismo na Arte: “O Espiritismo vem abrir para a arte novas perspectivas, horizontes sem limites. A comunicação que ele estabelece entre os mundos visível e invisível, as indicações fornecidas sobre as condições da vida no Além, a revelação que ele nos traz das leis de harmonia e de beleza que regem o Universo vêm oferecer aos nossos pensadores, aos nossos artistas, motivos inesgotáveis de inspiração.” A Arte espírita é uma ferramenta de educação e não diversão, devemos encará-la como um excelente instrumento que de forma muito sutil consegue mudar a nossa forma de ver e agir sobre o mundo, despertando no espectador importantes reflexões. Aliás, não devemos esquecer que nós somos o primeiro espectador. A Arte elevada nos permite educar nossos sentimentos, penso eu que seja esse o maior benefício proporcionado por ela. 

Qual sua arte preferida?  

Pergunta difícil, pois não existe uma preferida, visto que todas são realizadas dedicando a elas aquilo que tenho de melhor. Através da música descobri a necessidade da disciplina na vida; sendo palhaço aprendi a olhar o outro sem rótulos ofertando um pouco de mim; aprendendo clarinete percebo que preciso de momentos de reflexão para me apresentar para a vida com o melhor de mim. 

Como sente as repercussões da arte em suas apresentações e palestras? 

A Arte tem uma linguagem livre de preconceitos e facilita apresentar o conteúdo de uma forma leve, agradável, facilitando o entendimento. Considerando isto podemos despertar nas pessoas sentimentos que elas muitas vezes esqueceram que existe. A Arte nos permite emocionar, a nós e os outros. É muito comum as pessoas ouvirem uma música e verterem lágrimas; ouvir um texto já conhecido e ter uma outra perspectiva; olhar o palhaço e lembrar-se de como é possível ser feliz através da simplicidade. Algo interessante é como as pessoas reagem diante da arte, nossos sentimentos são sufocados pelas adversidades, dificuldades da vida, frustações e pelo simples fato de não ser útil! Pois estes instantes não nos fornecem cargos e salários melhores, posição social e status; simplesmente nos proporcionam uma viagem interior e solitária, um encontro com nós mesmos. 

Algo marcante que gostaria de destacar? 

Gostaria de destacar dois pontos.

Durante uma apresentação em clínica de dependentes químicos chegamos a um local com uma atmosfera extremamente pesada, com cheiro forte de fumo e vários corações que perderam a capacidade de exprimir afeto! Quando terminamos de cantar foram proferidas palavras de conforto e na despedida fomos cumprimentados pelos pacientes e um deles me perguntou se poderia me dar um abraço; ao final disse que nunca tinha recebido um abraço tão afetuoso como este e o ambiente estava mais leve. Onde cantamos, por mais simples que sejam nossas músicas, uma luz é acesa.

Em uma visita de nosso grupo ao hospital, alguns de nossos integrantes entraram em um quarto com uma senhora que durante o dia todo estava inquieta, triste, sem proferir alguma reação ou palavra. Quando os Paz-lhaços chegaram, brincaram, ela sorriu, falou, se alegrou, enfim; durante a madrugada essa senhora desencarnou. Posteriormente a filha nos procurou dizendo, e agradecendo, que aquele havia sido o último e talvez uns dos momentos mais alegres da vida da mãe nos últimos meses, e disse que antes da desencarnação ela se acalmou e dormiu tranquilamente... Isso mostra que pequenos momentos podem fazer milagres. O seu corpo físico chegou ao fim das atividades vitais, mas seu Espírito, esse não podemos ainda imaginar como ficou! 

De sua experiência, o que mais lhe sobressai? 

Um dos grandes problemas da humanidade é a falta de capacidade de desenvolver a aceitação! Sim, aceitar o outro como ele é, com seus pontos positivos e negativos. Através da arte é possível desenvolver sem imposição esta capacidade pelo simples fato de que é preciso respeitar o outro para que possa me comunicar com ele e atingir o objetivo proposto. 

Suas palavras finais. 

Cante, dance, pule, sorria, chore, encante, declame, liberte o artista que existe dentro de cada um de nós achando seu ponto. Apresente-se para vida com seu melhor: você! 

 

(1) Luthier é o profissional que trabalha com a construção e manutenção de instrumentos musicais.

 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita