Eliseu Mota
Júnior:
“É urgente a
atualização da
casa espírita”
Temas atuais e
importantes na
visão de um
professor
universitário,
advogado e
promotor de
Justiça
aposentado
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Natural de
Franca (SP),
onde também
reside, autor de
vários livros e
espírita há 25
anos,
vice-reitor do
UNIVEM - Centro
Universitário
Eurípides de
Marília, mantido
pela Fundação de
Ensino Eurípides
Soares da Rocha,
entidade
espírita de
Marília (SP), e
articulista da
Revista
Internacional de
Espiritismo (RIE),
nosso
entrevistado,
Eliseu Mota
Júnior (foto),
é orador
requisitado em
todo o Brasil e
traz lúcidas
respostas a
temas
importantes da
atualidade.
O Consolador: Quais são seus
livros
|
publicados?
Pena de morte e
crimes hediondos
à luz do
Espiritismo,
Aborto à luz do
Espiritismo
e Que é Deus?
(os três
publicados pela
Casa Editora O
Clarim, de
Matão, SP) e
Direito autoral
na obra
psicografada
(dissertação de
Mestrado pela
UNESP de Franca,
publicado pela
Editora A Nova
Era, de Franca,
SP).
|
O Consolador:
Seu livro
Que é Deus?
obteve
excelente
aceitação
dentro e fora
do meio
espírita.
Constituindo-se
numa abordagem
repleta de
pesquisas e
estudando um
dos princípios
fundamentais
do
Espiritismo, a
obra ensejou
permanentes
viagens com a
mesma
temática. O
tema Deus
continua ainda
a despertar
interesse? Por
quê?
Esse tema
continua - e
acho que
continuará -
despertando
interesse,
dentro e fora
do movimento
espírita. Este
ano (2008),
por
exemplo, já o
abordei
em dois
grandes
eventos no
Brasil (Porto
Seguro
e Itabuna, na
Bahia) e uma
no
exterior (Porto
Rico), devendo
retornar à
Bahia
(Barreiras),
para outra
palestra sobre
o mesmo
assunto. Creio
que a razão,
como sempre, é
a dificuldade
para entender
Deus e seus
atributos, o
que procuro
fazer de
maneira
simples, a fim
de que todos
possam
entender a
mensagem.
O Consolador:
Das outras
obras,
especialmente a
que trata do
aborto, que
repercussões
marcantes podem
ser relatadas?
O ensaio sobre o
aborto, gostaria
de revelar
agora, foi uma
homenagem que
procurei prestar
às mulheres em
geral, mas
sobretudo para
aquelas
envolvidas com
uma gravidez
indesejada.
Acredito que é
uma situação
complicada,
porque a decisão
final deverá ser
exclusivamente
dela: abortar ou
dar à luz um
filho não
esperado? Por
isso, se
porventura esse
modesto livro
ajudar uma só
mulher a não
abortar, creio
que todo o
trabalho para a
sua elaboração
estará pago!
O Consolador:
Existem outras
obras inéditas
ou em andamento
para futura
publicação?
Estou tentando
concluir um
livro, há cerca
de dez anos,
sobre os
fenômenos
psicossomáticos
à luz do
Espiritismo, mas
a pesquisa ainda
deverá
prosseguir. Isto
porque o assunto
é complexo,
a
bibliografia é
extensa e o
tempo é curto.
O Consolador: A
temática de
embriões
congelados e
células-tronco
tem ocupado a
mídia nacional e
internacional. O
que podemos
dizer sobre o
tema na visão
espírita?
Eis aí um tema
que só é
polêmico por
falta de maior
atenção. De
fato, a Lei de
Biossegurança
(Lei
11.105/2005), em
seu artigo 5º,
permite a
utilização, para
fins de pesquisa
e terapia, de
células-tronco
embrionárias
obtidas de
embriões humanos
produzidos por
fertilização
in vitro e
não utilizados
no respectivo
procedimento,
desde que sejam
embriões
inviáveis, ou
congelados há 3
(três) anos ou
mais, sempre com
o consentimento
dos genitores.
Além disso, as
instituições de
pesquisa e
serviços de
saúde que
realizem
pesquisa ou
terapia com
células-tronco
embrionárias
humanas deverão
submeter seus
projetos à
apreciação e
aprovação dos
respectivos
comitês de ética
em pesquisa. O
ex-Procurador
Geral da
República,
alegando suposta
violação do
direito à vida
desses embriões,
ajuizou uma ação
direta de
inconstitucionalidade
perante o
Supremo Tribunal
Federal, que
decidiu pela
constitucionalidade
da lei. Em minha
opinião, a lei,
de fato, não é
inconstitucional
e, observadas
todas as suas
exigências, não
vejo como
proibir as
pesquisas com
esses embriões,
que, do
contrário, serão
jogados na
lixeira.
O Consolador:
Sua coluna
Ponto de Vista,
na Revista
Internacional de
Espiritismo,
também tem
despertado
grande
interesse. Quais
as motivações e
critérios para
sua elaboração?
Normalmente, sou
motivado pela
agenda que está
na ordem do dia
da opinião
pública,
procurando
sempre abordar o
assunto também
do ponto de
vista espírita.
O Consolador:
Qual sua visão
sobre os temas
polêmicos
vigentes no
movimento
espírita?
São vários,
porém alguns
deles, mais do
que polêmica,
envolvem
preconceitos e
opiniões que não
estão
atualizadas.
Isto é mais
evidente nos
assuntos
relativos
aos costumes e
às pesquisas
científicas,
como acontece,
por exemplo, com
a sexualidade e
com a já
mencionada
questão das
células-tronco
embrionárias. Acredito
que o espírita
tem de tolerar
as mudanças
morais e éticas,
bem como
acompanhar o
progresso da
ciência, como
sempre
recomendou Allan
Kardec, que
tinha como
divisa a
trilogia
trabalho,
solidariedade
e tolerância.
O Consolador: E
os temas
polêmicos em
andamento na
sociedade
brasileira?
Além daqueles
acima citados, a
sociedade
brasileira
enfrenta muitos
problemas com os
políticos,
sobretudo em
anos eleitorais,
quando muitos
deles levam às
últimas
conseqüências a
necessidade da
sua eleição ou
reeleição. Acho
que até
Maquiavel
ficaria
assustado com a
política
brasileira, e
teria de rever
alguns conceitos
que estão na sua
obra O
Príncipe.
Além disso, a
educação moral
das nossas
crianças e
jovens está
abandonada, com
pais e mães
trabalhando
fora, sem a
necessária
atenção para
com os filhos. O
resultado dessa
omissão não
poderia ser mais
desastroso:
atividade sexual
precoce,
abortos,
crianças
desamparadas,
drogas,
criminalidade
infanto-juvenil
cada vez mais
violenta e
outros
malefícios
familiares e
sociais que
seria fastidioso
enumerar.
O Consolador:
Dentre os
aspectos da
Doutrina
Espírita, qual
lhe chama mais a
atenção? Por
quê?
Dentro do
possível,
procuro estudar
a Doutrina
Espírita sob
todos os
aspectos.
Entretanto, o
aspecto
filosófico é o
que mais tem
merecido minha
atenção, talvez
por causa da
minha formação
humanista.
O Consolador: Em
suas palestras,
qual o tema mais
solicitado?
Sem a menor
sombra de
dúvida, o tema
"Deus" é o mais
solicitado, já
tendo,
inclusive,
retornado mais
de uma vez à
mesma cidade,
para nova
abordagem, quase
sempre para fins
de gravação.
Mais
recentemente,
com o avanço dos
recursos
audiovisuais,
tenho sido
convidado para
seminários sobre
as obras
básicas,
sobretudo O
Livro dos
Espíritos,
O Céu e o
Inferno e
A Gênese,
cuja publicação
da primeira
edição completou
140 anos no
início de 2008.
Não por acaso, a
polêmica está
acirrada entre
as teorias do
criacionismo
e do
evolucionismo,
de forma que
achei
interessante
estudar um pouco
mais a
fundo essa obra
da codificação
espírita. Quanto
ao movimento
espírita e
respectivas
instituições,
creio que a
maioria está
seguindo a
orientação de
Kardec:
acompanhar o
progresso
científico, procurar
o
autoconhecimento,
buscar a
transformação
moral para
melhor e
combater as más
inclinações.
O Consolador: Há
uma receita para
incentivar de
maneira
eficiente o
estudo do
Espiritismo?
Há várias. Uma
delas, por
exemplo, é a
urgente
atualização da
casa espírita,
tanto no que se
refere ao método
de abordagem dos
temas, quanto ao
emprego
da tecnologia.
De fato, é
inadmissível que
o espírita da
atualidade,
acostumado com
informática de
ponta no seu
trabalho, na
escola e mesmo
em casa, chegue
ao Centro
Espírita e seja
obrigado a ouvir
sermões
dinossáuricos! Por
causa disso,
tenho notado que
o freqüentador
da casa espírita
está
envelhecendo,
com 50 anos ou
mais, porque os
jovens foram se
afastando dali,
atraídos pelos
apelos
consumistas.
O Consolador:
Suas palavras
finais.
Estou honrado e
grato pelo
ensejo de
expressar a
minha opinião
sobre
as questões aqui
apresentadas,
por sinal muito
bem elaboradas.
Espero que os
espíritas
brasileiros não
deixem de
estudar, em
primeiro lugar e
acima de
tudo, as obras
básicas da
codificação
espírita,
relegando para
mais tarde os
romances e
os livros de
auto-ajuda. Além
disso, é preciso
resgatar a
bandeira
espírita de que
fora da
caridade não há
salvação,
com a ressalva
de que
caridade,
segundo entendia
Jesus (LE, 886),
é
benevolência
para com todos,
indulgência para
as imperfeições
alheias e perdão
das ofensas.
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