Pedro César
Lopes da Silva:
“Para
evangelizar de
fato, temos de
nos evangelizar
em primeiro
lugar”
Espírita desde
2003 e vinculado
desde então à
Associação
Espírita
Terceirense, o
confrade fala
sobre vários
temas da
atualidade
e acerca do
movimento
espírita em
terras lusitanas
“O Espiritismo
representa os
meus novos olhos
através dos
quais passei a
ver a realidade
que nos rodeia
de modo muito
mais nítido e
claro. Digamos
que comecei a
usar esta
preciosa bússola
para, sempre que
minha vontade
assim o queira,
segui-la até
alcançar bom
porto de
escala.” É assim
que o confrade
Pedro César
Lopes da Silva
(foto)
define o
Espiritismo em
sua vida. Ele,
que se encontrou
com a Doutrina
em uma fase de
muitas dúvidas
com relação a
Deus, nos conta
que hoje em dia
é tudo muito
diferente em sua
vida.
Morador da Ilha
Terceira, a
terceira
ilha a
|
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ser descoberta
no Arquipélago
de Açores, que
faz parte de
Portugal, Pedro
Silva é
trabalhador
assíduo da
Associação
Espírita Terceirense,
Grupo Divaldo
Pereira Franco,
e foi com muita
prontidão e boa
vontade que nos
concedeu esta
entrevista.
|
O Consolador:
Pedro, onde você
nasceu?
Em Angra do
Heroísmo a 9 de
Abril de 1968.
O Consolador:
Quando e por que
você se mudou
para o atual
domicílio?
Vivo atualmente
numa freguesia
chamada
Biscoitos (que
se chama assim
não por causa
dos doces mas
sim porque na
sua gênese está
a rocha
vulcânica porosa
que lhe deu o
nome: biscoito),
que se situa na
parte norte da
ilha Terceira, à
beira-mar e é
muito sossegada,
tendo como
despertador o
chilrear dos
pássaros. Vivi
mais de duas
décadas na
cidade de Angra
do Heroísmo e,
cansado do
ambiente mais
movimentado da
zona urbana,
optei pela paz
da zona rural.
O Consolador:
Qual a sua
formação
escolar?
Possuo o 12º ano
de escolaridade
e agora com 40
anos decidi
tirar uma
licenciatura em
Ciências
Sociais, que
faço na
modalidade “à
distância”, pela
Universidade
Aberta de
Portugal.
O Consolador:
Que cargos ou
funções você já
exerceu no
Movimento
Espirita?
Exerço funções
no atendimento
fraterno, como
passista,
palestrante;
pertenço ao
grupo de
trabalhadores
das reuniões
mediúnicas
(privativas) e,
também, dando
aulas que
integram o Curso
Básico de
Espiritismo a
todos aqueles
que se iniciam
nos
conhecimentos da
doutrina. Além
disso e
juntamente com
meu irmão Júlio,
temos a
responsabilidade
do
desenvolvimento
e manutenção do
site da
Associação –
www.geocities.com/acandeiaqueilumina
–, cuja
presidente é
nossa irmã e
amiga Ana
Sales.
O Consolador:
Quando você teve
seu primeiro
contato com o
Espiritismo?
Tudo começou com
um anúncio no
jornal “Diário
Insular”, que se
publica na
cidade de Angra
do Heroísmo,
sobre uma
palestra do
Divaldo aqui na
ilha. Decorria o
ano de 2003. O
evento foi
organizado pela
Associação
Espírita
Terceirense.
Fiquei curioso e
decidi assistir
e, até hoje,
permaneço com
cada vez mais
alegria em
pertencer a este
pequeno grupo de
trabalhadores,
que são, sem
dúvida, como
todos por todo o
planeta, a face
visível desta
enorme equipe
que trabalha na
Seara do Pai.
O Consolador:
Houve algum fato
ou circunstância
especial que
haja propiciado
esse contato?
Sim. Numa fase
de caminhada no
“deserto” entre
o catolicismo,
do qual fiz
parte (mais por
uma questão de
tradição
familiar do que
propriamente na
crença de um
Deus que me
parecia um pouco
vingativo e
parcial) e algo
que me desse
respostas
racionais e
lógicas a muitas
das minhas
questões, surgiu
então o que
referi na
questão
anterior.
Encontrando as
respostas na
abençoada
Doutrina
Espírita, tive,
de imediato uma
sensação
maravilhosa de
profunda
liberdade,
porque Deus
surge, agora,
verdadeiramente
compreensível
para mim e tudo,
aos poucos, se
abre em
horizontes que
passam a fazer
real sentido
lógico.
O Consolador:
Qual foi a
reação de sua
família diante
de sua adesão ao
Espiritismo?
De início não
foi muito fácil,
em especial por
parte dos
familiares mais
íntimos. Fato
compreensível,
dado ainda o
profundo
preconceito e
desconhecimento
do Espiritismo.
Mas, com o
tempo, tudo se
vai
harmonizando,
talvez por se
irem apercebendo
que não estou
metido em
irracionalidades
pertencentes,
ainda, ao
universo da
ignorância sobre
as verdades
universais.
O Consolador:
Dos três
aspectos do
Espiritismo –
ciência,
filosofia,
religião – qual
o que mais o
atrai?
A tríplice
vertente da
Doutrina é toda
ela de superior
importância,
sabendo que pela
parte filosófica
questionamos de
onde viemos, o
que somos e para
onde vamos; pela
científica
explicamos
racionalmente as
questões
existenciais,
ficando com o
conhecimento de
que, pelo nosso
livre-arbítrio,
estamos todos
sujeitos à lei
de causa e
efeito, o que
nos leva à
questão das
conseqüências
morais dos
nossos próprios
atos. No caso
concreto da
Associação
Espírita
Terceirense –
Grupo Divaldo
Pereira Franco e
na formação aos
trabalhadores
desta casa,
focamos mais a
vertente
científica
porque, baseados
sempre na
codificação de
Kardec, tentamos
explicar, de
forma racional e
lógica, o porquê
dos sofrimentos
de todos os que
a freqüentam e o
modo como
devemos
prosseguir para
o futuro, de
modo a
suavizarmos os
“débitos”
contraídos às
leis divinas,
amealhando
“créditos” pela
prática da
caridade.
O Consolador:
Que autores
espíritas mais
lhe agradam?
Allan Kardec,
Herculano Pires
e André Luiz.
O Consolador:
Que livros
espíritas você
considera
indispensáveis
ao confrade
iniciante?
Sem dúvida, os
livros da
codificação
espírita,
começando pelo
Livro dos
Espíritos.
Depois de se ler
e reler a base
da Doutrina,
iniciar a
leitura dos
livros que
compõem a
coleção de André
Luiz, cujo
primeiro é
“Nosso Lar”.
O Consolador:
Como vê a
discussão em
torno do aborto?
No seu modo de
ver as coisas,
os espíritas
deveriam ser
mais ousados na
defesa da vida,
como tem feito a
igreja? Existe
em Portugal
algum movimento
específico
contra o aborto?
Em relação a
esta questão,
começarei pelo
fim afirmando
que existem
vários
movimentos
pró-vida em
Portugal, o que
é de louvar
porque não só
cedem informação
útil como também
fornecem ajuda à
grávida
necessitada de
todo o tipo de
apoio. Agora ao
caso concreto do
aborto, e neste
plano evolutivo
em que se
encontra o nosso
planeta, não
podemos nem
devemos violar
consciências nem
interferir no
livre-arbítrio
de ninguém, mas
podemos e
devemos
aprofundar nosso
discurso
focando, cada
vez mais, os
aspectos
fulcrais do
processo
reencarnatório,
focando a suma
importância da
bênção de poder
ajudar um filho
de Deus no nosso
seio familiar e,
a par deste
assunto, focar
também a
importância do
perispírito que
acumula e grava
toda a nossa
ação que, a
tempo certo,
debitará nas
nossas
consciências o
mal que
praticamos e
todo o bem que
deixamos por
fazer. Ou seja,
devemos apelar
às consciências
ainda tão
materializadas
afirmando não só
que o corpo não
nos pertence e,
enfim,
esclarecer de
forma racional e
objetiva o
porquê do não se
dever nunca
abortar.
O Consolador:
Você tem contato
com o movimento
espírita
brasileiro? Como
você o vê?
Para melhor
responder a esta
questão,
necessitaria de
ter um
conhecimento
mais aprofundado
do movimento
espírita
brasileiro. O
pouco que vou
sabendo é à
custa de
leituras de
artigos, quer em
suporte de
papel, quer em
suporte digital,
na internet. O
que me preocupa,
e isto a nível
planetário, é o
fato de algumas
instituições
ainda
permanecerem num
“igrejismo”
comodista; o
pactuarem ainda
com a adoração
ao chamado
bezerro de ouro;
o idolatrar este
ou aquele
médium, enfim,
tudo raízes que
trazemos do
passado e que
não permitem que
o progresso, tão
desejado, se
faça de forma
mais célere.
O Consolador:
Como e quando
nasceu o
Movimento
Espírita na
ilha?
A 20 de Abril de
1998, Divaldo
veio pela
primeira vez à
Terceira para
proferir uma
palestra, a
convite de um
grupo de amigos
já despertos
para esta nova
realidade
codificada por
Kardec. De modo
não oficial,
acabamos de
celebrar 10 anos
de existência a
20 de Abril
passado, mas,
oficialmente, a
Associação foi
constituída a 8
de Outubro de
2003. Apesar de
sermos tão
novinhos, já
temos um projeto
de arquitetura,
quase aprovado,
para a
construção
daquela que será
a nova
Associação
Espírita
Terceirense, que
ficará no mesmo
local da
existente.
O Consolador:
Quais são os
trabalhos que a
casa espírita
desenvolve?
A nossa pequena
casa segue a
seguinte agenda:
À terça-feira,
às 18:30 tem
atendimento
fraterno até às
19:30. Às 20:00
– Evangelho e
Palestra. À
quarta-feira,
16:30 abre sua
porta para que
às 16:45 inicie
o Evangelho e
Livro dos
Espíritos. A
partir das 17:15
e até às 17:45
atendimento
fraterno.
Quinta-feira,
das 19:00 às
19:30 passe
individual. Às
20:00 reunião
mediúnica
(privada),
terminando às
21:15. E, ao
sábado, curso
básico de
Espiritismo das
16:00 às 17:00 e
das 17:00 às
18:00, curso
sobre Fluidos e
Perispírito.
O Consolador:
Por que a casa
espírita se
chama Divaldo
Pereira Franco?
Existe alguma
razão especial
para isso?
Somos Associação
Espírita
Terceirense,
Grupo Divaldo
Pereira Franco,
por ter sido ele
o primeiro
orador espírita
que esteve cá na
ilha, o que
impulsionou todo
o movimento,
que, apesar de
pequeno, se vai
divulgando
devagarinho pela
população que,
como sabemos,
irá nascer no
tempo certo para
os conhecimentos
da doutrina,
assim que suas
consciências
começarem a
despertar para
esclarecimentos
mais elevados.
O Consolador:
Como é feita a
divulgação da
Doutrina onde
você reside?
A divulgação é,
ainda,
majoritariamente
feita
intramuros. Aos
poucos, e
através de
distribuição de
diversos
panfletos,
jornais
espíritas, do
nosso site na
internet (www.geocities.com/acandeiaqueilumina),
e de boca em
boca, nos lares
e nos locais de
trabalho, a
divulgação vai
saindo da concha
da casa
espírita. Num
meio
predominantemente
católico, mais
pela via
tradicional do
que racional,
torna-se um
desafio mais
complexo. O que
se faz
necessário é o
semear a palavra
e esperar que
ela desperte
consciências,
faça gerar
discussões e
abane com o
comodismo
vigente. Da
colheita se
encarregará a
natureza do
processo
evolutivo.
O Consolador: Em
termos de
Portugal como um
todo, como se
desenvolve o
Movimento
Espirita? Você
acredita que a
Doutrina vem
sendo bem
difundida no
país?
O movimento
espírita em
Portugal vai
caminhando, aos
poucos, para a
sua unificação,
pois assim o
exige o processo
evolutivo. Mas
ainda neste
tempo, andamos
um pouco
separados.
Achamos que, por
vezes, ainda se
descuida um
pouco da base da
codificação e do
seu sério estudo
para que se
possa divulgar a
doutrina na sua
forma mais pura.
Teremos todos de
fazer um grande
esforço para a
união em volta
do mesmo
objetivo que é o
de não tentarmos
contornar, a
nosso bel
prazer, o que
foi codificado
por Kardec. No
caso concreto da
nossa associação
espírita, há uma
distância física
que nos separa
do continente
português porque
existe um duplo
sentido de
insularidade, ou
seja, na ilha
estamos rodeados
do catolicismo
vigente e, a
nível de ilha
Terceira,
rodeados pelo
imenso oceano
Atlântico, fato
este que não
impede que nos
comuniquemos uns
com os outros.
Em termos de
divulgação e
difusão, vamos
fazendo o
possível e o que
está ao nosso
alcance, havendo
já uma TV
espírita, que é,
sem dúvida, um
instrumento
importantíssimo
para que a
doutrina se
distribua por
toda a parte
fazendo que se
incendeiem todas
as consciências
e as façam
despertar para
as verdades do
Cristo.
O Consolador:
Como você vê o
nível da
criminalidade e
da violência que
parece aumentar
em todo o mundo
e como nós,
espíritas,
podemos cooperar
para que essa
situação seja
revertida?
A criminalidade
a aumentar é
fruto de uma
lógica do
“remediar”, onde
a educação no
lar é
desprezada,
originando,
deste modo, o
jovem
delinqüente que
busca no
exterior o que
não encontra em
si mesmo, ou
seja, uma
orientação, uma
luz que o guie
para caminhos
menos tortuosos.
É com a
educação, desde
a infância, que
vamos, enfim,
criar a lógica
do “prevenir”, o
que evitará
males maiores,
dada a abertura
de consciência
que o processo
educativo
fornece aos
indivíduos
reencarnados
neste orbe de
provas e
expiações.
O Consolador: A
preparação do
advento do mundo
de regeneração
em nosso planeta
já deu, como
sabemos, seus
primeiros
passos. Daqui a
quantos anos
você acredita
que a Terra
deixará de ser
um mundo de
expiação e de
provas, passando
plenamente à
condição de
mundo de
regeneração, em
que, segundo
Santo Agostinho,
a palavra amor
estará escrita
em todas as
frontes e uma
equidade
perfeita
regulará as
relações
sociais?
Em relação a
esta questão,
reduzo-me à
minha
insignificância
intelectual
passando a
resposta para a
Inteligência
Suprema, Causa
Primária de
todas as coisas.
A única certeza
é que as dores
de parto já
estão a ser
sentidas, tendo
como sintomas os
desencarnes em
massa, os
atentados
terroristas e
guerras que
proliferam por
algumas áreas do
globo. Agora, o
prazo que levará
até à origem de
uma nova vida,
remeto, como
disse, ao
Criador.
O Consolador: Em
face dos
problemas que a
sociedade
terrena está
enfrentando,
qual deve ser a
prioridade
máxima dos que
dirigem
atualmente o
movimento
espírita no
mundo?
Para evangelizar
de fato, temos
de nos
evangelizar em
primeiro lugar.
Muita reforma
íntima e estudo
constante.
Estando bem
preparados e com
conhecimentos
mais
aprofundados na
doutrina,
unirmo-nos para,
não só
debatermos
idéias, como
também
aceitarmos as
nossas
diferenças,
criando assim um
clima de maior
humildade e
unidade entre
todos, porque,
como se costuma
dizer, a união
faz a força e
unidos jamais
seremos
vencidos!
O Consolador: Há
alguma pergunta
que não fizemos
e que você
gostaria de ter
respondido?
Sim. E a questão
seria: Se eu
respondo em nome
pessoal ou em
nome da
Associação
Espírita
Terceirense? E a
resposta seria:
Em nome da
Associação
Espírita
Terceirense
porque, unidos
pelo aspecto da
sintonia, o
pouco que já
alcançamos foi
sempre fruto do
trabalho de
equipe.
Gostaria, por
fim, que
evitássemos, em
toda a parte
onde a doutrina
prolifera, tomar
qualquer tipo de
protagonismo que
não abona em
nada a favor da
divulgação,
difusão e
implementação da
abençoada
Doutrina
Espírita.
|