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Ano 2 - N° 73 - 14 de Setembro de 2008

WELLINGTON BALBO
wellington_plasvipel@terra.com.br
Bauru, São Paulo (Brasil)
 

Américo Canhoto: 

“A saúde em nosso país reflete exatamente nossa educação em todos os sentidos – nem boa nem má; apenas o que fazemos por merecer”
 

Américo Marques Canhoto (foto) nasceu em Portugal mas construiu sua vida no Brasil. Médico de família, clinica desde o ano de 1978 e, atualmente, presta relevante trabalho na área da saúde nas cidades de São José do Rio Preto e São Bernardo do Campo. Orador espírita, percorre diversas localidades levando a todos a luz da mensagem espírita com clareza e objetividade. Na área da divulgação espírita colabora de forma ativa com diversos periódicos de norte a sul de nosso país e é autor de sete livros publicados, mais um no prelo e outros no aguardo  para  publicação, assunto que ele

comenta na entrevista que publicamos a seguir. 

O Consolador: O senhor tem visitado Portugal? 

Estive em Portugal no mês de setembro de 2007 por ocasião do Fórum Espírita da cidade de Leiria, a convite da Sra. Isabel Saraiva, uma incansável divulgadora da Doutrina Espírita em Portugal. 

O Consolador: Como está o movimento espírita por lá? 

A influência do catolicismo é marcante; as pessoas por lá ainda encapam os livros espíritas. Mas, pessoas como Dona Isabel têm mudado muito o panorama tanto em Portugal quanto na Europa, onde o movimento espírita praticamente não existe. A Doutrina a cada dia fica mais atuante no país. A influência e a participação ativa da FEB, em termos de intercâmbio; foi decisiva para manter o movimento dentro dos paradigmas doutrinários. Mesmo não tendo a mesma penetração social que vemos no Brasil, o movimento espírita português exporta; é muito atuante na formação das comunidades espíritas na Europa e na África. 

O Consolador: Como o senhor se tornou espírita? 

Mesmo sem que soubesse, espírita sempre o fui. Comecei a me interessar definitivamente pela Doutrina quando, após sofrer um enfarte aos 33 anos de idade (esse assunto vale um bom bate papo), ganhei de uma paciente um livro de André Luiz psicografado pelo Chico Xavier, intitulado “Ação e Reação”. Eu o li e reli algumas vezes; depois procurei estudar a obra começando por “Nosso Lar”. Recebi o convite de um amigo para conhecer o Centro Espírita do qual fazia parte. Aceitei, conheci e fiquei, e logo me tornei tarefeiro nessa Casa por 18 anos. A Doutrina foi um dos muitos micos que paguei em se tratando de criticar o que desconhecemos. O outro foi a Homeopatia, crítico contumaz, por necessidade li a respeito, estudei e continuo nela até hoje. Imediatista, achava os espíritas pessoas que falavam muito e pouco praticavam do que pregavam em seu discurso; grave erro espiritual, o mesmo que me afastou da Igreja Católica, meu forte berço religioso. Depois de ler todas as obras de André Luiz e Emmanuel, comecei a me interessar em estudar as obras básicas; daí, apaixonei-me! 

O Consolador: Já ocupou ou ocupa algum cargo de dirigente espírita? 

Não tenho o perfil para gerenciar nem dirigir; e o programa de vida tem colaborado desde a infância para criar e logo passar adiante. Nesse caso, logo que me engajei na Doutrina fui obrigado a morar no interior (6 horas de viagem – de segundas a quartas em São Bernardo do Campo e de quintas a domingo em São José do Rio Preto). Claro que não poderia assumir nenhum cargo de dirigente. Como coordenador de tarefa para manter as pessoas em atividade, sinto-me em casa. No momento presente minha condição de dirigente, se é que a podemos chamar assim, desenvolve-se no grupo “Mãos estendidas”. 

O Consolador: Qual a instituição de que tem participado e o que a experiência agregou para o senhor? 

No Grupo de Estudos Espíritas Dr. Eduardo Monteiro de São Bernardo do Campo durante quinze anos participei de diversas atividades: aluno, passista, expositor, entrevistador, coordenador do terceiro ano de desenvolvimento mediúnico, trabalho complementar da tarefa da equipe médica espiritual como médico homeopata, bem como assistência às crianças atendidas na Creche Irmã Maria Dolores. Em São José do Rio Preto participei da formação do C.E. Irmão Gerônimo: ajudante de cozinha, expositor, passista, evangelizador, atendimento médico. No C.E. Francisco de Assis como expositor. Na creche OBA, da Basílica Nossa Senhora Aparecida, de São José do Rio Preto, atendendo às crianças como médico homeopata. Atualmente, no grupo “Mãos Estendidas” em São Bernardo do Campo vivo a experiência de dirigente de tarefa voltada para o atendimento a pessoas com problemas de ansiedade, estresse, depressão e pânico.

A diversidade das tarefas e das várias Casas Espíritas proporcionou uma visão mais abrangente dos problemas e das possíveis soluções tanto das pessoas assistidas quanto da problemática que envolve os tarefeiros e dirigentes dos CE. Tentamos colocar as observações em artigos, palestras e livros. 

O Consolador: O senhor desenvolve largo trabalho na literatura espírita. Quantos livros tem publicado?
 

Nosso primeiro livro: “Saúde ou doença: questão de escolha” surgiu da necessidade de oferecer material aos pacientes que buscavam se inteirar da visão a respeito de saúde, doença e cura que lhe oferecíamos no consultório. Foi um trabalho manuscrito com duração de 4 anos que o jornalista e idealista (praticamente nada lucrou com ele) Davi Garret, editor da Oficina Editorial, transformou num livro que editei. Seus conselhos foram muito importantes. Desde essa época transformei a escrita em lazer e houve momentos de trabalhar em cinco livros ao mesmo tempo. Desse surto psicótico de escritor descortinou-se um projeto: “Educar para um mundo novo” transformado em livro patrocinado pela INTEL, publicado pela Editora Ativa de SJRP, e que seria o plano piloto para o projeto, que por vários motivos não se concretizou. Continuo sempre escrevendo; surgiu um convite da EBM de Santo André e foi escolhido o tema “A Reforma íntima começa no berço”. Procurado pela editora Petit refizemos o “Saúde ou doença: questão de escolha” que foi lançado como “Saúde ou doença: a escolha é sua”, em seguida o livro “Chegando à Casa Espírita”, baseado nos quinze anos de trabalho nas entrevistas mais a experiência de consultório. O seguinte foi “Quem ama cuida”, cujo foco principal é o uso do ato de nos alimentarmos como recurso pedagógico. “Pequenos descuidos: grandes problemas” – explora as bases da educação tradicional: medo, mentira, suborno, chantagem e seus devastadores efeitos na evolução espiritual e na formação dos problemas sociais.

São sete livros publicados, um no prelo e vários outros escritos, dos quais usamos pequenas partes para artigos, e que no devido tempo poderão ser editados. Claro que os editores com quem trabalhamos e que se tornaram nossos amigos dependem dos leitores para lançar no mercado novos títulos e assuntos. Se gostou, divulgue.  

O Consolador: Fale-nos um pouco sobre seu livro “Quem ama, cuida”.

Estamos destinados á felicidade e á perfeição relativas a cada momento da nossa evolução. Em todos e em cada instante, a vida nos oferece as lições necessárias. Dentre elas está o foco principal do livro: o ato de nos alimentarmos. Desde o nascimento até o desencarne comemos todos os dias e várias vezes – isso transforma a dieta num dos mais interessantes recursos pedagógicos para a evolução de nosso espírito e também para o progresso coletivo. Á primeira vista pode parecer um livro destinado a quem tem filhos pequenos; mas na realidade serve para a educação espiritual permanente de todas as pessoas de qualquer idade. Como educar as crianças sem educar os adultos? Educação e instrução são complementares, porém distintas como dissemos no livro: Educar para um mundo novo.

Na próxima existência seremos novamente crianças – nossa bagagem espiritual não se perde. Se mais conscientes hoje, será mais fácil nos “defender” melhor dos vícios dos adultos na próxima reencarnação. No livro selecionamos alguns aspectos a respeito do uso da dieta para conhecimento de nós mesmos – respeito ao corpo físico - reforma íntima – cidadania – evolução espiritual...

Se alguém nos diz: seus hábitos alimentares influenciaram de forma poderosa suas dificuldades atuais na vida afetiva e profissional – diremos que essa pessoa é maluca – no entanto no livro mostramos que há correlação sim. Tudo que nos parece isolado está integrado. Recomendamos a leitura a todos que desejam melhorar o conhecimento de si mesmos para executar uma reforma íntima de forma simples e eficiente – além disso, para quem tem filhos é a oportunidade de rever conceitos e reciclar paradigmas. Para os profissionais da educação que além de oferecerem conteúdos gostam de participar da educação efetiva das crianças o livro pode oferecer idéias para adaptar conteúdos em várias matérias do currículo. Boa leitura. 

O Consolador: Qual a influência do conhecimento espírita no desempenho de sua atividade profissional como médico de família?

 

Impossível separar o conteúdo da Doutrina das ocorrências da vida real. Meu trabalho tem sido o de educar para a saúde. Creio que doença é pura falta de educação no seu verdadeiro significado e que a cura definitiva virá de um longo trabalho de autoconhecimento e de transformação ativa. Dia destes fui presenteado com uma frase da Dra. Shellyana, uma de nossas mentoras espirituais: “Saúde ou doença depende do grau de consciência”.
 

Procuro participar da vida de meus pacientes como observador externo capaz de aliviar sofrimentos e apontar caminhos. Mas confesso que tenho errado muito, mesmo com boas intenções (tal e qual fazem os pais com os filhos): falei demais, apontei caminhos que as pessoas não estavam preparadas para seguir nem desejavam. Conforme coloquei em artigo no Blog: não fui o ECO das necessidades.
 

Pode parecer incrível – mas, para provar a mim mesmo (sou racional em demasia – quase chato) que os princípios da Doutrina, não os rótulos nem os paradigmas, são a realidade, a maior parte dos meus mais fiéis pacientes e os que mais indicam novos clientes são evangélicos das mais diferentes correntes. Alguns se tornaram valiosos tarefeiros no Centro Espírita.

 

Vale a pena abrir um parêntese. Logo que me converti à Homeopatia, montei um esquema de anamnese (folha onde se anota a evolução do paciente – ficha) em que consta a pergunta: religião que professa. À primeira vista não entendi muito bem, mas sei lá por que não retirei a pergunta. Hoje, conhecer o sistema de crença religiosa do paciente é um poderoso recurso para que se possa definir a estratégia de abordagem e a orientação necessária, além de recurso de cura, pois a obsessão é a causa de doença mais atuante do que todos os outros agentes juntos.

 

O Consolador: Já sentiu a influência da espiritualidade ao transmitir o diagnóstico a um paciente? Tem algum caso curioso que possa compartilhar com os leitores de nossa revista?

 

Sempre. Quando não vigio e oro o suficiente, não me preparo nem valorizo a intuição os resultados não são os mesmos. Que responsabilidade assume quem se coloca na condição de profissional da saúde...

 

Os casos são muitos. Vou compartilhar com os leitores um bem recente. Fui procurado por uma senhora que sofre há dois anos de fortes vertigens e náuseas ao acordar (o que a deixa muito irritada). Já percorreu mais de vinte colegas entre clínicos, gastros e otorrinos (citou o nome de vários famosos) à procura de solução. Depois de todos os tipos possíveis de exames com resultados negativos ou não conclusivos, foi encaminhada para um psiquiatra que receitou um medicamento que a livra dos sintomas em vinte minutos. Logo que recebi sua ficha já senti algo estranho; quando ela entrou na sala o “efeito espelho – projeção” fez aflorar minha impaciência e intolerância com sua simples presença. À medida que contava sua história essas sensações foram sendo ampliadas e logo o diagnóstico foi se tornando mais claro em minha mente: a doença era impaciência e intolerância. Depois, na seqüência do processo, segui os procedimentos médicos, prescrevi o tratamento médico e senti uma forte necessidade de dar o diagnóstico preciso, referendado pelo filho que a acompanhava: - Quando a senhora tentar ser mais tolerante e paciente seus sintomas vão desaparecer. Confesso que deveria ter reservado esse medicamento: reforma íntima, para uma segunda, terceira ou quarta oportunidade. Errei de novo? Ainda não sei.

 

O que é preciso dizer aos leitores: nem sempre e cada vez menos, teremos alguém do outro lado da vida nos falando ou mostrando o que fazer; nossa infância espiritual está agonizando: quem tiver olhos de ver que veja – quem tiver ouvidos de ouvir que ouça. Cada médico tem os pacientes que precisa – cada doente tem o médico que merece...

 

O Consolador: O senhor recebia pacientes indicados pelo espírito Eduardo Monteiro. Conte-nos como isso ocorreu?

Dr. Eduardo Monteiro é um espírito hoje desencarnado, tarefeiro da equipe do venerável Dr. Bezerra de Menezes – amigo de muitas Eras que me ajudou a encontrar o caminho que devo trilhar nesta existência através da mediunidade de amigos encarnados enviando através deles pacientes. 

O Consolador: Como médico e espírita, de que maneira o senhor enxerga a questão pertinente à saúde em nosso país? 

A saúde em nosso país reflete exatamente nossa educação em todos os sentidos – nem boa nem má; apenas o que fazemos por merecer. Quem quiser algo melhor: melhore-se... 

O Consolador: E a polêmica questão envolvendo a legalização do aborto, como situá-la diante da realidade da saúde no Brasil? 

A prática do aborto é um crime contra a evolução. Como todo crime, tem seus quesitos de agravantes e atenuantes, porém nunca deixará de ser um crime perante o progresso inexorável do espírito. Nossas desculpas e justificativas para praticá-lo, nunca, jamais mudarão a Lei. Gravidez fora de hora é como doença: falta de educação que não será corrigida com prisão perpétua nem pena de morte. Pessoal, a morte é uma ilusão! 

O Consolador: Suas palavras finais. 

Aos amigos leitores: na dúvida sobre o que fazer amem-se uns aos outros. O mais eficaz remédio que encontrei para minhas doenças: tarefas e novas tarefas. Desperdiçar tempo e oportunidades é crime que nos custará muita angústia, depressão, pânico e estresse.  


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita