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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo - Espanhol  Inglês
Ano 2 - N° 74 - 21 de Setembro de 2008

 

O servo infeliz

 

Existiu certa vez num país muito distante, um homem que vivia sempre muito infeliz e desgostoso da vida que levava. 

Todo serviço era pesado e desagradável. Não havia tarefa que desejasse realizar e qualquer pequeno serviço que se lhe ordenasse era feito de má vontade.  

Vivia resmungando pelos cantos e acabou por tornar-se uma companhia indesejável até junto dos outros servos da casa.  

Se o patrão o mandava lavar e tratar dos cavalos, reclamava que o cheiro dos animais lhe  causava mal-estar. Se a tarefa solicitada era ir até a cidade comprar mantimentos, alegava que o sol lhe dava tonturas e que era sempre ele a fazer o serviço pesado. Se ele era mandado recolher o rebanho no pasto ao anoitecer, alegava que o sereno era ruim para sua saúde delicada.

Enfim, qualquer tarefa que lhe fosse conferida era executada de mal-humor e muita má vontade, embora tivesse corpo sadio e braços fortes. 

Certo dia, ele e outro servo foram mandados à cidade para fazer um serviço, e, como não poderia deixar de ser, ele ia reclamando da vida para o companheiro que o escutava com paciência infinita. 

— Pois é como lhe digo. Todo serviço mais desagradável fica para mim. Faço sempre as obrigações mais pesadas e, se não bastasse isso, vivo com problemas de saúde e dores no corpo todo. Já não agüento mais! 

O outro, com delicadeza retrucava, convicto: 

— Não é bem assim, meu amigo. Todos nós trabalhamos bastante, é verdade. Mas somos recompensados, pois o patrão é bom e generoso. Não podemos nos queixar da sorte. Além do mais, todo serviço é bênção de Deus. 

— Qual nada! Somos tratados como animais e trabalhamos qual burro de carga para ganhar uma miséria. Ah! Como eu gostaria de ter uma vida diferente, de não precisar trabalhar! 

E avistando na estrada, logo adiante, um homem sentado sob uma árvore, à frente de  pequeno portão que dava acesso a uma casa simples mas que exalava limpeza, apontou-o enquanto falava: 

— Olha aquele homem ali calmamente sentado à beira do caminho. Sua fisionomia serena mostra que não deve ter problemas. E, para estar sentado a essa hora do dia, é sinal de que não trabalha. Isso é que é vida! 

Aproximaram-se. O homem fitava-os com tranqüilidade. Como ainda estivesse um pouco frio, trazia uma manta bastante surrada, mas limpa, que o cobria até a cintura.  

Entabularam conversação, e o servo infeliz o inquiriu curioso: 

— Diga-me, bom homem, o que faz da vida? Com certeza não deve trabalhar! Ah, como o invejo! 

O estranho fitou-o serenamente e respondeu: 

— É verdade. Não trabalho mais como antigamente porque não posso. Toda a minha vida fui um homem trabalhador. Chegava todas as noites em casa exausto, mas feliz, porque cumprira bem minhas obrigações. Um dia, porém, conduzia uma carroça rumo ao povoado quando sofri um acidente. Os cavalos assustaram-se  e  a  carroça  desgovernou-se.

Tentando deter os animais, que saíram num galope desenfreado, pulei sobre os cavalos e fiquei entre eles, segurando-os com meus fortes punhos. O varal, porém, partiu-se, e eu perdi o equilíbrio, caindo entre as patas dos animais. Fiquei muito ferido, porém com a bênção de Deus, estou ainda vivo. 

E, fazendo uma pausa, retirou a manta de sobre as pernas, concluindo: 

— Fiquei sem minhas pernas, mas não lamento. Ainda posso fazer muita coisa, garanto-lhes. Tenho ainda os braços fortes, os dedos ágeis e a cabeça lúcida. Disse-lhes que não executava mais o serviço antigo... 

E, apontando com a mão, mostrou um garoto sorridente que se aproximava trazendo um fardo de palha. 

— Agora faço cestas para vender. Meu filho me ajuda e temos conseguido sobreviver com essa atividade. 

E elevando a fronte para o alto, falou com os olhos rasos de lágrimas: 


— Deus é muito bom! Tenho uma família amorosa, não me falta serviço e estou vivo com a graça de Deus. Como podem ver, tenho tudo o que preciso para ser feliz. 

O servo descontente abaixou a cabeça, envergonhado pela lição que recebera. Comovido, saiu dali meditando em todas as dádivas que Deus lhe dera e que nunca soubera aproveitar e agradecer.  

Desse dia em diante tornou-se um outro homem. Com bom ânimo e alegria realizava todas as tarefas, lembrando sempre de agradecer a Deus as oportunidades que lhe concedera na vida.  

                                                        Tia Célia   
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita