|
|
|
Dr. Andrew
Powell:
“A Medicina,
incluindo a
psiquiatria, é
essencialmente
espiritual
quando praticada
como vocação”
|
Apresentamos
nesta edição uma
entrevista
especial com o
Dr. Andrew
Powell
(foto),
conceituado
psiquiatra
britânico,
fundador do
Grupo de
Interesse
Especial em
Espiritualidade
e Psiquiatria do
Royal College of
Psychiatrists de
Londres. Dr.
Andrew é
importante
colaborador da
BUSS – União das
Sociedades
Espíritas
Britânicas – em
vários eventos
sobre medicina e
espiritualidade
realizados no
Reino Unido e
árduo defensor
da importância
da reaproximação
desses dois
pontos nos
tratamentos
médicos,
principalmente
no âmbito da
psiquiatria.
O Consolador: Há
quantos anos o
senhor resolveu
dedicar-se à
psiquiatria
utilizando-se da
questão
|
espiritual para
auxiliar nos
tratamentos?
A Medicina,
incluindo a
psiquiatria, é
essencialmente
espiritual
quando praticada
como vocação. No
entanto, isto
nem sempre é
reconhecido,
dada a visão
mecanicista
sobre as doenças
que caracteriza
a medicina
ocidental.
Quando comecei a
entender que a
medicina
consiste tanto
em tratar quanto
em curar –
tratando o ser
como um todo até
a morte –,
percebi que a
espiritualidade
pode, e deve,
ser um aspecto
importante para
um bom
tratamento
médico.
O Consolador:
Como isso
aconteceu? Houve
algum fato
interessante que
tenha marcado
essa fase de sua
carreira?
Depois de me
formar, me
especializei em
clínica geral.
Esse foi um
trabalho
emocionante para
um jovem médico,
pois lutávamos
contra a doença
e fazíamos tudo
no nosso alcance
para frustrar a
morte. Mas as
pessoas morriam
apesar dos
nossos melhores
esforços, e isso
me fez
questionar sobre
a vida e a
morte. Mais
tarde, quando
escolhi a
psiquiatria, a
morte ainda
continuou a ser
uma questão,
embora de
maneira
diferente, na
medida em que
pacientes com
depressão
freqüentemente
pensam na morte
e quase sempre
atentam contra a
própria vida, às
vezes com
sucesso.
Para algumas
pessoas, o
problema da
depressão é
motivado pela
bioquímica, e
quando a
medicação
correta é
aplicada a
preocupação com
a morte
desaparece. Mas,
no meu entender,
isto se deve
mais à dor
emocional, que é
aumentada devido
ao afastamento
do paciente de
sua própria
alma.
Após meu
treinamento em
psiquiatria
geral, me
especializei em
psicoterapia
analítica,
individual e de
grupo. Para
problemas de
natureza
essencialmente
psicológica,
essas terapias
são apropriadas.
Mas, apesar da
psicanálise nos
ensinar muito
sobre nós
mesmos, ela não
substitui o
“conhecer” a nós
mesmos, o que
significa
tornar-nos
conscientes da
natureza
original de
nossa alma.
Quando comecei
meu treinamento
em psicodrama,
e, mais tarde,
em dar passes,
percebi o poder
em acessar a
sabedoria
inerente do “ser
superior”, ou
alma. Depois
disso, me
interessei
realmente pelas
terapias
transpessoais,
que têm a alma
como centro,
incluindo
terapias de
vidas passadas e
liberação
espiritual.
O Consolador:
Sei que é
difícil contar,
mas quantos
casos o senhor
já atendeu até
hoje?
Não posso
responder a esta
pergunta dessa
maneira, porque
espiritualidade
em tratamento
mental pode se
apresentar de
muitas maneiras
e em níveis
diferentes, às
vezes sutilmente
– pedindo ajuda
silenciosa – até
uma aproximação
direta com
pacientes
interessados.
(Devo frisar que
sempre tentei
trabalhar dentro
dos valores e da
crença
espiritual que
os pacientes
trazem. Não é
nosso propósito
converter
pessoas.)
O Consolador:
Qual é a reação
dos pacientes
com relação a
esse tipo
diferente de
tratamento?
Novamente, tenho
que refazer a
pergunta, pois
não existe um
tipo de
tratamento. Mas
falamos da
maneira de ver
toda uma vida e
sua meta dentro
de um plano
maior. Para
alguns, isto
começa e termina
em compaixão,
perdão e desejo
altruístico de
ajudar outras
pessoas – seja a
família, a nação
ou toda a raça
humana. Para
outros,
significa viver
a vida em
relação à
jornada da alma,
com sua agenda,
porque as
dificuldades
acontecem, e
como a pessoa
gostaria de
sentir a
respeito da sua
vida quando ela
estiver
completa, e dai
por diante.
Primeiramente,
os problemas do
ego necessitam
ser tratados e
só depois o
caminho estará
aberto para que
o plano maior
apareça, o que
dará à vida um
significado
maior e mais
rico até a sua
conclusão.
O Consolador:
Alguns de seus
pacientes já
pararam o
tratamento com o
senhor devido à
sua visão da
espiritualidade?
Todo psiquiatra
e psicoterapeuta
teve pacientes
que pararam o
tratamento por
várias razões.
Particularmente
em psicoterapia
quando a pessoa
percebe o
trabalho que é
pedido dela (com
a ajuda do
terapeuta) e não
que o terapeuta
tenha todas as
respostas (a
cura imaginada).
Mas não consigo
lembrar quando
minhas
explorações
espirituais
fizeram o
paciente se
sentir
incomodado. E
não deveria,
pois é uma
procura
respeitável, sem
respostas certas
ou erradas, em
que se está
ajudando o
paciente a achar
a sua verdade.
Freqüentemente
isso leva a
perguntas
maiores, como
“Por que nasci?
Por que preciso
sofrer? qual a
finalidade de
tudo isso?” Na
minha
experiência, uma
exploração com
cuidado desses
assuntos é
bem-vinda. Como
disse antes,
progredimos para
um método
centrado na alma
apenas quando
isso parece
mutuamente
apropriado.
Como parte da
historia
espiritual,
sempre pergunto
se a pessoa
acredita que a
vida começa no
nascimento e
acaba com a
morte. Essa é
uma informação
importante. Às
vezes a resposta
é mais ou menos
assim: “O senhor
talvez pense que
é bobagem, mas
me pergunto se
existe alguma
coisa depois”.
Então lhe e
digo: “Suponha
que exista. Como
você imagina o
que possa ser?”
Muitas vezes
isso é
suficiente para
que a pessoa
comece a
explorar a
dimensão
espiritual.
Pacientes se
sentem inseguros
em falar sobre
esses assuntos
com psiquiatras
porque eles
sentem que
muitos
psiquiatras são
céticos sobre
esses assuntos.
O Consolador:
Qual a reação de
seus colegas
psiquiatras em
relação ao
assunto?
Imagino que
alguns pensem
que isso seja
uma bobagem. Mas
respeito o
trabalho de
todos meus
colegas, quando
é feito com
cuidado e
interesse. Gosto
de construir
pontes por onde
passo. Durante
os anos tenho
perdido amigos,
mas tenho feito
muitos outros,
mas isso se
aplica a
qualquer
trabalho que
fazemos na vida.
A coisa
principal é não
se preocupar com
o que certas
pessoas irão
falar, mas agir
com sã
consciência.
O Consolador:
Existem muitos
médicos que se
interessam em
reaproximar a
medicina da
espiritualidade?
Na sua opinião,
por que isso
ainda continua
sendo
desacreditado de
certa forma por
muitos
profissionais?
Até hoje os
médicos são
treinados no
modelo
mecanicista da
ciência, apesar
das descobertas
do século 20
sobre a
relatividade, a
mecânica
quântica e
recentemente a
teoria das
cordas.
Intuitivamente,
muitos médicos e
outros
profissionais da
área da saúde
sentem que isso
não alcança o
objetivo, e me
sinto otimista
que o clima
começou a mudar,
e pode melhorar
muito. Mas isso
só acontecerá,
imagino, como
parte de uma
evolução maior
na consciência
humana. Sinto
que neste ponto,
o século 21 vai
ser extremamente
importante para
a história da
nossa espécie.
Eu comecei o
Grupo de
Interesse
Especial da
Espiritualidade
e Psiquiatria no
Royal College of
Psychiatrists em
1999,
inicialmente com
o requisito de
no mínimo 120
assinaturas.
Hoje somos um
grupo de 2.000
psiquiatras no
Reino Unido (www.rcpsych.ac.uk/spirit),
a maioria com um
simples
interesse em
espiritualidade
– o que não
significa que
eles têm
treinamento de
abordagem
psico-espiritual
– todavia, eles
representam um
em 7 psiquiatras
no Reino Unido,
o que já é um
bom começo. O
Royal College
tem apoiado
nosso trabalho e
existe um
folheto sobre
saúde mental e
espiritualidade
num dos tópicos
do menu da sua
“homepage” (www.rcpsych.ac.uk).
Temos recebido
muitas respostas
positivas de
pessoas que usam
os serviços de
saúde mental e
que ficaram
encorajados de
ver que a
psiquiatria pode
reconhecer e dar
valor à
espiritualidade.
Temos também um
livro sobre
Espiritualidade
e Psiquiatria
que foi
comissionado
pelo “College” e
deve ser
publicado no fim
deste ano.
O Consolador:
Quando o senhor
teve o primeiro
contacto com o
Movimento
Espírita?
Faz mais ou
menos 15 anos.
O Consolador:
Quais livros
espiritas o
senhor já leu?
O Livro dos
Espíritos, O
Livro dos
Médiuns, O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
Divaldo’s book
“Obsession” e
Nosso Lar, de
Chico Xavier.
O Consolador:
Esses livros o
auxiliaram ou o
auxiliam de
alguma maneira?
Sempre me sinto
elevado e
fortalecido
lendo e
aprendendo mais
sobre
espiritualidade;
portanto esses
livros formam
parte valiosa da
minha leitura
extensiva
durante muitos
anos. Sinto que
por causa da
natureza
limitada do
intelecto humano
– apesar do
cérebro ser
maravilhoso –
tudo que podemos
saber sobre o
Espírito
enquanto
encarnados é
como passado por
um filtro. Eu
gosto da visão
quântica de que
a vida na Terra
é apenas uma das
multiplicidades
de “realidades
virtuais”. Para
mim, o ponto
essencial disso
é que, quando o
Espírito se
manifesta como
forma, somos
compelidos a ter
um
relacionamento –
portanto
emocional e de
desenvolvimento
– com os
desafios, e isto
serve para o
desenvolvimento
da alma.
O Consolador: O
senhor acredita
que exista uma
relação entre o
trabalho
desenvolvido
pelo senhor e o
que a Doutrina
Espírita ensina?
Tenho interesse
em todas as
tradições de fé
que existem.
Cristianismo,
Budismo e
Taoísmo e todas
as outras me
influenciaram
muito. O que
mais me
impressiona na
Doutrina
Espírita é a sua
profunda ética
espiritual e a
humildade
essencial. Mas,
gostaria de
dizer que todos
os caminhos
espirituais
levam para o
mesmo lugar,
assim como todos
os rios correm
para o mar.
O Consolador: Se
o senhor
acredita que
sim, em que
pontos eles
convergem?
Estamos no mesmo
estuário.
O Consolador: No
Seminário
organizado pela
BUSS (União
Britânica das
Sociedades
Espíritas) em
junho deste ano,
Divaldo Franco
brincou
que o senhor é
espírita. Como o
senhor viu isso?
Dividir o dia
com Divaldo foi
um grande
privilégio para
mim. Senti que
foi um encontro
de almas.
Possivelmente
todas as pessoas
que encontram o
Divaldo se
sintam da mesma
maneira, mas
fiquei muito
comovido.
O Consolador: No
Congresso sobre
Medicina e
Espiritualidade
organizado pela
BUSS no ano
passado o senhor
foi um dos
palestrantes.
Qual é a sua
apreciação sobre
aquele evento?
Eu gostei muito
de ter tomado
parte e a
atmosfera estava
muito boa. As
apresentações
clinicas e de
pesquisas foram
muito
interessantes.
Senti mesmo que
os temas
abrangentes da
conferência
criaram uma
sensação de
complementação,
e isso é muito
importante para
a BUSS, se sua
meta é criar um
perfil de base
que se estenda a
várias áreas do
Reino Unido.
O Consolador: Em
outubro próximo
o senhor será o
chairman
do seminário
“Working with
Soul in Illness
and in Health”
que se realizará
em Londres.
Quais são suas
expectativas
para esse
evento?
(1)
Nunca fui bom em
prever o futuro.
Esse é um evento
muito importante
porque está
sendo organizado
pela
British Union of
Spiritist
Societies (BUSS)
e pela Spirit
Release
Foundation,
organização na
qual estou
envolvido há
muitos anos.
Espero que as
duas
organizações se
beneficiem em
trabalhar juntas
e tenho fé que
os Espíritos nos
guiaram para
darmos o melhor
de nós e fazer
do evento um
sucesso.
(1)
O
seminário
referido nesta
pergunta
ocorrerá nos
dias 8 e 9 de
outubro em
Londres, no
auditório da
Sociedade das
Indústrias
Químicas,
situado neste
endereço: 14/15
Belgrave Square.
Do evento
participarão
diversos
confrades do
Brasil, dentre
os quais a
presidente da
Associação
Médico-Espírita
Internacional e
do Brasil,
Marlene Nobre;
Alexander
Moreira Almeida,
Décio Iandoli
Jr. e Sérgio
Felipe de
Oliveira. Outras
informações nos
sites
www.buss.org.uk
e
www.spiritrelease.com.
Colaborou
nesta
entrevista e
na tradução
do seu texto
para o
idioma
português a
confreira
Silvia
Gibbons, de
Londres.
|
|
|
|
|
|
Voltar
à página anterior |
|
|
|
|