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Ano 2 - N° 79 - 26 de Outubro de 2008

KATIA FABIANA FERNANDES
kffernandes@hotmail.com
Londres (Inglaterra)

 

Evi Alborghetti:

“A humanidade passa ainda por grandes dificuldades”

O presidente da União Espírita Italiana diz que cabe a todos e
principalmente a nós, como espiritas, construir coletivamente um
mundo de amor e equidade, que chegará a seu tempo e hora
 
 

Fomos até a cidade de Lecco, situada no Norte da Itália, para conversar com o confrade Evi Caio Alborghetti (foto), presidente da recém-fundada USI – Unione Spiritica Italiana. Nascido nessa mesma cidade, ele viveu por muitos anos no Brasil, onde casou e formou sua família.

Foi também em terras brasileiras que ele teve o primeiro contato com a Doutrina Espírita, da qual foi simpatizante num primeiro momento, a qual, com o tempo, passou a ser parte fundamental na sua caminhada evolutiva, como ele mesmo afirma: “O Espiritismo para mim é a abençoada oportunidade de conhecimento das verdades espirituais, visto que, através

de seu estudo e trabalho, podemos impulsionar a nossa evolução. A importância é fundamental porque, mercê desta abençoada oportunidade, não sem grandes esforços, procuro vencer minhas tendências e inclinações para tornar-me uma pessoa melhor”. 
 

Foi assim, com muita boa vontade, em meio aos inúmeros compromissos na presidência da USI – Unione Spiritica Italiana, que Evi nos concedeu esta entrevista, expondo seu ponto de vista sobre questões diversas, que merecem a atenção de todos nós.

O Consolador: Onde você nasceu?

Nasci na Itália, em Lecco, no dia 5/2/1948, mas com 12 anos, precisamente em 1960,       mudei-me com minha família para o Brasil, onde vivi até 1994. Foi no Brasil que cresci, me formei profissionalmente, me casei e tive meus 3 filhos.

O Consolador: Onde você mora atualmente?

Atualmente moro na Itália, na minha cidade natal.

O Consolador: Quando e por que você voltou a morar em Lecco?

Em 1995 tive uma proposta de trabalho de uma empresa da cidade onde nasci.  Consultando a família, decidimos pela transferência. No início pensávamos ficar de 2 a 3 anos, mas já faz 13 anos que estamos aqui.

O Consolador: Qual é sua formação escolar?

Formação técnica. Trabalho há 44 anos como projetista mecânico de máquinas e equipamentos. 

O Consolador: Que cargos você já exerceu no Movimento Espírita?

Nenhum. A presidência da USI – Unione Spiritica Italiana é meu primeiro cargo. 

O Consolador: Quando ocorreu seu primeiro contato com o Espiritismo?

Praticamente quando cheguei ao Brasil, mas não me tornei de imediato um estudioso da Doutrina; apenas esporadicamente participava de grupos familiares, muito comuns naquela época, mas não era uma dedicação constante. Ia quando dava certo. Depois de casado, ia mais freqüentemente, ouvia palestras e tomava passes, mas ainda não chegara o momento de me dedicar ao estudo. Só muito mais tarde, quando tinha já os filhos adolescentes participando do Departamento de Infância e Juventude e minha esposa  dedicando-se a estudos doutrinários e ao movimento espirita da nossa cidade  -- Santo André, região do ABC paulista --, é que senti a necessidade de aprimorar os conhecimentos e estudar as obras de Kardec. 

O Consolador: Houve algum fato que tenha propiciado esse contacto?

Não. O meu contato com o Espiritismo foi lento e muito racional.

O Consolador: Qual foi a reação de sua família?

Minha família ficou muito feliz e muitas foram as vezes que estudamos juntos, principalmente depois que nos transferimos para a Itália. 

O Consolador:  Dos três aspectos do Espiritismo - ciência, filosofia, religião -  qual o que mais o atrai?

Considero que a Doutrina Espírita é maravilhosa, justamente pela capacidade que tem de esclarecer esses três aspectos. Não saberia, portanto, dizer qual dos três aspectos mais me atrai. 

O Consolador: Que autores espíritas mais lhe agradam? 

Eu gosto de vários autores espiritas, além de Kardec: Chico Xavier, Herculano Pires, Yvonne A. Pereira, Divaldo Franco etc.  

O Consolador: Que livros espíritas você considera indispensáveis ao confrade iniciante?

Os livros de Kardec, sem dúvida alguma: O que è o Espiritismo, O Livro dos Espíritos, O Evangelho segundo o Espiritismo, que são as fontes cristalinas. Logicamente, temos também outros livros muito bons para indicar. Aliás, a Itália tem o privilegio de ter mais de 80 livros já traduzidos ao idioma italiano pela Casas Fraternais O Nazareno. 

O Consolador: Se fosse passar alguns anos num lugar remoto, com acesso restrito à atividade espírita, que livros pertinentes à doutrina você levaria?  

Levaria a Codificação, livros de Chico Xavier, Herculano Pires e Léon Denis, Yvonne do Amaral Pereira, Divaldo Franco...  

O Consolador: As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao chamado Espiritismo laico. Para você o Espiritismo é uma religião?   

O próprio Allan Kardec definiu isso muito bem, esclarecendo que o Espiritismo não è uma religião formal com a organização e a estrutura de religiões existentes, porém tem seu aspecto religioso, ao tratar de temas que a filosofia e a ciência não tratam. O código moral espírita è o Evangelho de Jesus, e a prática da Doutrina Espírita dá ênfase ao aspecto religioso, justamente pela necessidade de mudanças no comportamento ético-moral do homem. O discernimento moral do espírita significa que ele deve orientar seu comportamento pelos ensinamentos de Jesus: Amar a Deus sobre todas as coisas, aprender a amar seus semelhantes como a si mesmo, superar o egoísmo, suas vaidades e seu orgulho. Precisa aprender a perdoar sempre, a ser indulgente com o procedimento alheio e benevolente para com todos. Esses ensinamentos de Jesus são de difícil prática, mas o único caminho para a perfeição. 

O Consolador: Outro assunto em que a prática espírita às vezes apresenta divergências relaciona-se com os chamados passes padronizados, propostos na obra de Edgard Armond. Embora saibamos que o procedimento mais comum seja a imposição de mãos tal como recomenda José Herculano Pires, qual a sua opinião sobre o assunto?

Vemos o passe como uma prática inspirada pelas passagens do Evangelho de Jesus, quando em diversas oportunidades ele, através da imposição das mãos, doava o seu amor e curava. Pensamos que a técnica deve ser a mais simples possível, com a finalidade de se manter a simplicidade de Jesus em nossos Centros.

O Consolador: Como vê a discussão em torno do aborto? No seu modo de ver as coisas, os espíritas deveriam ser mais ousados na defesa da vida, como tem feito a Igreja?  Como este assunto é tratado na Itália?

Precisamos sim. Nós espíritas deveríamos ser mais audaciosos no combate à prática do aborto. Ainda há grande desconhecimento a respeito das implicações que envolvem o aborto, já que muitos rejeitam ou ignoram as realidades da reencarnação. Particularmente, considero que, se algo falta neste sentido, é o empenho pessoal de cada um de nós espíritas em expor suas convicções nos momentos oportunos, logicamente sempre baseadas em Kardec, sem, no entanto, querer impô-las a ninguém.  

O Consolador: A eutanásia é uma prática que não tem o apoio da doutrina espírita. Kardec e outros autores, como Joanna de Ângelis, já se posicionaram sobre esse tema. Ultimamente surgiu, no entanto, a idéia da ortotanásia, defendida até por médicos espíritas. Qual a sua opinião?

Nem eutanásia, nem ortotanásia. Ambos constituem sempre uma transgressão à Lei de Deus.  

O Consolador: Você tem contato com o movimento espírita brasileiro?

Sim, nós temos contato com o movimento espírita brasileiro, e temos que reconhecer que  o movimento alargou suas fronteiras dando apoio aos movimentos internacionais, com a criação do CEI – Conselho Espirita Internacional, o que permite colaborar com diversos paises europeus na divulgação do movimento espirita, consciente de que cada país tem suas próprias leis e que elas devem ser respeitadas.  

O Consolador: Na Itália como vai o Movimento Espirita? Você acredita que a Doutrina Espírita vem sendo aí bem difundida?

Apesar de a Itália ter sido rica em médiuns e afortunada em homens de ciência que acompanhavam e estudavam os fenômenos, tais como Ermacora, Schiaparelli, Lombroso, Ernesto Bozzano, Morselli, Chiaia e médiuns como Politi, Lucia Sordi, Linda Gazzera e a conhecida Eusebia Paladino, o Espiritismo neste país não se desenvolveu. Nos últimos anos, porém, algo está se movimentando favoravelmente e hoje a Itália conta com diversos grupos espíritas, alguns fundados há mais de 10 anos, como o CISSAK - Centro Italiano di Studi Spiritici Allan Kardec da cidade de Aosta, o Sentieri dello Spirito de Milão,  outros já na casa dos 10 anos como o GRAK – Grupo di Roma Allan Kardec e o Grupo Fraterno fundado em Pescate em 1998, em nossa residência, hoje denominado  GLAK – Gruppo di  Lecco Allan Kardec, e outros mais. Acredito que a partir do momento em que os principais grupos espíritas conhecidos na Itália fundaram a USI – Unione Spiritica Italiana, a Doutrina espirita possa ser difundida melhor. Nesse sentido a USI tem recebido de várias cidades italianas pedidos de esclarecimento, bem como de livros específicos e de apoio para a criação de pequenos grupos.    

O Consolador: Como surgiu a necessidade de formação da USI?

Com o aumento do número de grupos espíritas, preparou-se o caminho para “União”. Em 2005 durante o Primeiro Encontro Italiano de Espiritismo, organizado pelo GLAK com o apoio do CEI (Conselho Espirita Internacional) - Departamento Europa, foi formada uma Comissão para a  elaboração do estatuto do futuro órgão, a  USI - Unione Spiritica Italiana, que viu os frutos do empenho e trabalho concretizados com a  fundação, em 12 de abril de 2008,  unindo assim os grupos espíritas a luz dos ensinos de Jesus e Kardec.  

O Consolador: Como é a aceitação dos italianos com relação à Doutrina?

A Doutrina Espírita é ainda pouco conhecida na Itália, pois a palavra Espiritismo ainda está diretamente ligada à leitura das mãos, cristais, conchas, etc. Os italianos por enquanto não estão muito interessados nos conhecimentos e no estudo do Espiritismo. Eles procuram antes de mais nada as manifestações mediúnicas, nas quais esperam poder falar diretamente com os espíritos e receberem respostas para os próprios problemas. Com muito trabalho os grupos espiritas estão tentando mudar essa tendência, e os primeiros resultados começam a aparecer, mas estamos longe de atingir o objetivo.  

O Consolador: Como você vê o nível da criminalidade e da violência que parece aumentar no mundo e como nós, espíritas, podemos cooperar para que essa situação seja revertida?  

Sabendo que a criminalidade e a violência andam juntas com a cultura e o bem-estar social, e o bem-estar social é diretamente ligado ao trabalho, a falta deste gera o aumento da violência. Nós, como espíritas, podemos contribuir diretamente na formação cultural  a partir do nosso núcleo familiar e estendendo, graças aos nossos conhecimentos doutrinários, ao povo de forma geral a possibilidade de evoluir pessoalmente para tentar alcançar um nível social mais estável.  

O Consolador: A preparação do advento do mundo de regeneração em nosso planeta já deu, como sabemos,  seus primeiros passos. Daqui a quantos anos você acredita que a Terra deixará de ser um mundo de expiação e de provas, passando plenamente à condição de mundo de regeneração, em que, segundo Santo Agostinho, a palavra amor estará escrita em todas as frontes e uma equidade perfeita regulará as relações sociais?

Gostaria de poder afirmar que em bem poucos anos, mas ainda a humanidade passa por grandes dificuldades e calamidades. Sabemos que uma plêiade de Espíritos luminosos  já estão reencarnando e trabalham para que isto aconteça, porém cabe a todos e principalmente a nós, como espiritas, construir coletivamente este mundo de amor e equidade, certos de que tudo chegará a seu tempo e hora.

O Consolador: Em face dos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, qual deve ser a prioridade máxima dos que dirigem atualmente o movimento espírita no mundo?

Divulgar a Doutrina com base nos ensinamentos de Allan Kardec em todos os países do mundo. A prioridade máxima, portanto, seria traduzir para cada país, no seu próprio idioma, o maior número possível de boas obras espíritas. Em nível nacional, penso que as iniciativas existentes deveriam apoiar-se umas nas outras, para troca de experiências e divulgação recíproca.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita