A
PSICOGRAFIA DO
MÉDIUM DIVALDO
FRANCO
(4)
Diferentes temas
e estilos
literários
marcam a obra
do médium
Vale a pena
começar a
analisar alguns
temas e estilos
literários,
absolutamente
diferentes,
contidos nos
livros
psicografados
pelo médium
Divaldo Franco
(foto),
ditados por
diversos Autores
Espirituais.
Neste artigo
faremos uma
abordagem mais
temática,
suficiente para
dar disso uma
boa ideia.
A literata
baiana Amélia
Augusta
Sacramento Rodrigues
(1861‑1926),
nascida em
Oliveira dos
Campinhos,
em Santo
Amaro
(BA),
foi
professora,
poetisa,
|
 |
tradutora
e
conferencista,
deixando
uma
grande
contribuição
literária
e
cultural
à
História
da
Bahia.
Ditou
oito
livros
por meio
do
médium
Divaldo,
e em
todos
adotou a
forma de
narrações
evangélicas
de muita
beleza,
atendendo
o
vocabulário
bíblico
e a
história
do
Cristianismo
primitivo.
|
Consideremos
alguns trechos,
com várias
citações
específicas, só
para dar ideia:
“Jesus amava a
Galileia e os
seus filhos.
Afirmava, em
Cafarnaum, que
aquele era ‘o
Seu povo’.
Ali exerceu o
Seu ministério
em clima de
doação total e
ternura.
A paisagem, rica
de beleza e cor,
as criaturas,
sem atavios e
sinceras,
trabalhadoras e
destituídas das
ambições
aviltadoras
tocavam-Lhe os
sentimentos
sublimes.
Por isso, ao
convocar o
Colégio, reuniu
onze discípulos
galileus e
apenas um da
Judeia, Judas,
de Kerioth,
aquele que O
trairia.
A mente, astuta
e perquiridora,
inquieta e
desconfiada,
desarmoniza o
sentimento, que
se torna
suspeitoso,
levando à
perturbação e
insegurança.
Entre os
discípulos,
Judas se
destacava, por
não lograr
entrosamento
emocional nem
comportamental
com aqueles
filhos da terra,
como às vezes,
eram
ironicamente
tratados.
A presença dEle
dava-lhes
dignidade,
erguia-os do
anonimato e da
pequenez para as
cumeadas de um
futuro
inimaginável,
irisado de
bênçãos.”
(Amélia
Rodrigues -
Trigo de Deus,
LEAL/BA, 1ª ed.,
pág. 93.)
Bem diferentes
são as mensagens
temáticas do
Espírito Irmão
X, que é
Humberto de
Campos
Veras
(1886-1934), em
relação aos
livros do
Espírito Amélia
Rodrigues. Ele
nasceu em
Miritiba (MA) e
desencarnou no
Rio de Janeiro
(RJ). Foi
jornalista,
cronista e
memorialista de
sucesso.
Adquiriu maior
prestígio como
escritor
quando
publicou
contos
humorísticos
como
|
 |
Conselheiro
XX.
Pertenceu
em vida à
Academia
Brasileira
de
Letras,
e
escreveu
várias
crônicas
por
intermédio
de
Divaldo.
|
“Simão
Pedro! Meu Deus,
é o Apóstolo
Pedro! Sim,
tratava-se do
extraordinário
trabalhador do
Evangelho.”
A seguinte
mensagem ele
ditou ao médium
quando este
estava fazendo
palestras em
Roma/Itália,
coincidindo com
o período da
sagração do Papa
João Paulo I,
Cardeal Albino
Luciani, em
setembro de
1978. A mensagem
se encontra em o
livro A
Serviço do
Espiritismo,
Ed. LEAL/BA. O
Espírito narrou
uma interessante
e profunda
crônica, que
representou um
diálogo
imaginário,
quando teria
encontrado o
Apóstolo Pedro
após a referida
cerimônia
religiosa:
“Terminada a
pomposa
celebração, que
tornava o
cardeal Albino
Luciani o Papa
João Paulo I, o
264º Chefe da
Igreja Católica
Apostólica
Romana,
‘sucessor do
príncipe dos
apóstolos,
patriarca do
Ocidente, primaz
da Itália,
arcebispo e
metropolita da
província
romana, soberano
do Estado da
Cidade do
Vaticano e servo
dos servos de
Deus’, a
grandiosa Praça
de São Pedro, na
cidade do
Vaticano, foi,
pouco a pouco,
ficando deserta.
Sopravam os
primeiros ventos
outonais. Quase
imperceptivelmente,
sob o zimbório
de poucas
estrelas, um
vulto que
pervagava,
solitário, tomou
o rumo da via da
Conciliação, que
leva ao Castelo
de Santo Ângelo,
sombriamente
erguido nas
terras úmidas do
sonolento rio
Tibre. Não
sopitando a
curiosidade,
acerquei-me do
viandante, que
parecia
mergulhado em
profundo cismar.
Ao identificar a
personagem
melancólica,
estuguei o passo
e exclamei,
reverente,
emocionado:
- Simão Pedro!
Meu Deus, é o
Apóstolo Pedro!
Sim, tratava-se
do
extraordinário
trabalhador do
Evangelho.
Nem cortejo de
anjos ou um
séquito de
santos se
encontrava com
ele. Nenhum
bem-aventurado
ou quaisquer
comitivas
celestes se
faziam
presentes. A
indumentária de
tecido humilde,
as sandálias de
peregrino e a
expressão de
infinita
angústia,
marcando-lhe a
face crestada e
sulcada pelas
antigas lides e
sacrifícios,
eram a marca dos
dias apostólicos
nele revividos.
- Para onde
ides, Senhor?
- Para fora do
Vaticano,
retornando às
vias do
sofrimento
humano para
servir a Jesus.
- Viestes à
celebração da
Missa -
animei-me a
indagar - e ao
entronizamento
daquele que será
vosso sucessor
direto como
Vigário do
Cristo, na
Terra?
O Apóstolo, que
dera a vida
entre as traves
de uma cruz
tosca e brutal,
olhou na direção
das imensas
colinas e dos
estupendos
edifícios e, com
voz pausada,
repetindo o
profeta galileu,
afirmou:
- Sim. Fui
notificado da
solenidade e
resolvi
conhecê-la.
Todavia, desde
que cheguei, não
encontrei, num
momento sequer,
a presença de
Jesus aqui. A
opulência, o
cerimonial, a
liturgia
recordaram-me os
transitórios
valores do
mundo...”
- Irmão X
(Humberto de
Campos) - (A
Serviço de
Espiritismo,
Nilson
Pereira/Divaldo,
LEAL/BA, 1ª ed.
pág. 127.)
“É lamentável
que persista a
distância entre
a terapia
psiquiátrica e a
psicoterapêutica
espiritual.”
Já o Espírito
Manoel Philomeno
Batista de
Miranda
(1876‑1942), que
nasceu em Conde
(BA), trabalhou
no comércio,
tornou‑se
espírita em
1914, tendo sido
um grande
colaborador da
União Espírita
Baiana, em
Salvador (BA).
Ditou oito
livros por meio
do médium
Divaldo. Nessas
obras explorou
temas totalmente
diferentes dos
Espíritos acima
comentados
(Amélia
Rodrigues e
Irmão X),
enfocando a
obsessão e a
relacionando-a
com os problemas
psiquiátricos,
valendo-se
também de um
vocabulário
específico, com
inúmeras
citações
históricas,
acadêmicas e
revelando
profundo
conhecimento
desta área.
Senão vejamos:
“Do ponto de
vista
psiquiátrico ela
(Julinda) fez um
quadro de
psicose
maníaco-depressiva,
que se apresenta
com gravidade
crescente. Da
euforia inicial
passou à
depressão
angustiante,
armando um
esquema de
autodestruição.
“Inicialmente
foram-lhe
aplicados os
recursos da
balneoterapia,
buscando-se
produzir uma
melhor
circulação
sanguínea
periférica,
através de
duchas rápidas,
ligeiramente
tépidas. Logo
após, foram
aplicados
opiáceos e agora
associam-se os
derivados
barbitúricos e o
eletrochoque,
sem resultados
favoráveis mais
expressivos.
“Graças aos
recursos
financeiros de
que dispõe, é
possível
mantê-la isolada
sob regular
assistência. Ao
lado destes, o
concurso moral
da mãezinha e o
devotamento do
esposo têm-lhe
sido de grandes
benefícios,
evitando-se
males maiores.
- É lamentável
que persista a
distância entre
a terapia
psiquiátrica e a
psicoterapêutica
espiritual. No
caso em tela,
têm redundado
infrutíferos,
senão
perniciosos, os
tratamentos à
base dos
derivados de
barbitúricos,
quanto do
eletrochoque.
“Do ponto de
vista
psiquiátrico
discute-se que a
PMD quanto a
esquizofrenia
são uma “psicose
endógena”, cuja
causa se
encontra nos
genes,
transmitida
hereditariamente
de uma para
outra geração,
sendo, em
consequência,
uma fatalidade
inditosa e
irremissível
para os
descendentes de
portadores da
mesma
enfermidade,
especialmente
nas vítimas da
chamada
“convergência
hereditária”.
“Afirma-se,
dentro desta
colocação, que o
desvio
patológico
exagerado da
forma de ser cicloide, somado
a uma formação
física pícnica,
no qual estão
presentes as
forças
predominantes
das glândulas
viscerais
encarregadas da
determinação do
humor, faz-se
responsável pelo
quadro da
psicose
maníaco-depressiva.
É exatamente,
dizem, esta constituição cicloide,
que
oferece os
|
meios
próprios para a
irrupção da
psicose
maníaco-depressiva,
tornando-se,
dessa forma, o
indutor
hereditário.
“Asseveram
outros
estudiosos, que
a PMD resulta de
alterações
endócrinas,
particularmente
nos quadros das
manias e
melancolias.
“Ainda diversos
psiquiatras
acreditam como
fatores
predominantes as
variações do
quimismo
orgânico... - Manoel
Philomeno de
Miranda (Nas
Fronteiras da
Loucura,
LEAL/BA, 1ª ed.,
pág. 29.)
|
 |
Francisco do
Monte Alverne
escreveu por
meio de Divaldo
uma obra de
reflexões
teológicas
Admirável é a
abordagem bem
como o
vocabulário do
Espírito Manoel
Philomeno de
Miranda,
totalmente
diversos dos
Espíritos vistos
acima. Neste
mesmo sentido um
comentário
precisa ser
feito do
Espírito
Francisco do
Monte Alverne
(1784-1858),
orador sacro,
franciscano,
nascido e
desencarnado no
Rio de Janeiro.
Foi professor de
Filosofia,
Eloquência e
Teologia no
Colégio de
|
 |
São
Paulo e
considerado o
maior pregador
sacro de sua
época. Divaldo psicografou o
livro
Florilégios
Espirituais,
Ed.
IDE/Araras/SP,
publicado em
1981. O Espírito
Francisco do
Monte Alverne
escreveu por
meio de Divaldo
uma obra de
reflexões
teológicas. Ele
refletiu sobre a
cruz, o céu, o
inferno, os
chamados e os
escolhidos, o
amor, a caridade
etc., a partir
de referências
dos textos
bíblicos, tudo
obviamente sob
as luzes da
Doutrina
Espírita.
Curioso que nas
Obras
Oratórias
deste orador
sacro, que é uma
coletânea de
seus discursos,
enfeixados em
dois grossos
volumes, Ed.
|
Guarnier,
extraímos uma
peculiaridade
significativa.
Há o importante
detalhe que mais
da metade dos
capítulos das
Obras Oratórias
representaram um
panegírico (que
é um discurso
laudatório em
louvor de alguém
ou de alguma
coisa). Este
vocábulo
panegírico,
destaque-se, é
muito pouco
conhecido e
utilizado pelas
pessoas comuns
nos séculos XX e
início do século
XXI. Para
exemplificar, em
vida ele
escreveu o
Panegírico de S.
Sebastião,
Panegírico de S.
Francisco de
Paula,
Panegírico de S.
Lourenço,
Panegírico de S.
Joaquim etc.
Na obra
mediúnica
Florilégios
Espirituais,
psicografada por
Divaldo, da
mesma forma
quase a metade
do livro foi
também
constituído de
Panegíricos,
como o
Panegírico do
Fogo do Amor,
Panegírico da
Vida, Panegírico
da Fé,
Panegírico da
Dedicação,
Panegírico do
Conhecimento,
Panegírico da
Caridade
etc. Enfim, é
mais um detalhe
que precisa ser
registrado. |
Voltando ao
comentário das
mensagens
pessoais dos
Espíritos aos
seus entes
queridos, dentre
as milhares que
Divaldo
psicografou,
vejamos uma
mensagem ditada
pelo Espírito
Cristiane
Rodrigues Moraes
(1964-1980), que
nasceu em
Piracicaba (SP)
e desencarnou em
Itambé (BA). Em
28/01/1983, o
Espírito
Cristiane
transmitiu
mensagem pelo
médium Divaldo,
que não a
conheceu e nem a
ninguém da
família.
Destaca-se que
não havia, na
reunião em que
Divaldo
psicografou a
mensagem,
ninguém que
conhecesse
Cristiane (para
afastar qualquer
teoria do
inconsciente,
telepatia etc.).
Neste texto há
mais de trinta
particularidades
(nomes, datas,
parentesco,
lugares,
circunstâncias
etc.) e detalhes
familiares.
A mensagem de
Cristiane foi
recebida por
Divaldo em
Uberaba, no
Grupo Espírita
da Prece, ao
lado de Chico
Xavier
Analisemos:
“Querida
mãezinha Vilma*,
abençoe sua
filha*.
Misturamos
lágrimas e
sorrisos nesta
noite abençoada,
agradecendo a
Deus a
felicidade do
nosso amor
indescritível.
Há dezesseis
janeiros*, neste
dia vinte e
oito*, em
Piracicaba*, eu
volvia aos seus
braços amados,
renascendo para
a breve
experiência da
qual o acidente*
com a arma de
fogo* me
convidaria a
mais acuradas
meditações
naquela
sexta-feira*,
vinte de junho*,
há dois anos,
sete meses e
oito dias*... A
contagem do
tempo da nossa
separação física
tem a finalidade
de evocar as
alegrias que
temos fruído
juntas após as
saudades que nos
dilaceram nas
primeiras horas.
Acompanhei-a,
vindo para cá e
meditando em
nossa festa
natalícia* que
você desejou
comemorar neste
santuário de
amor*, onde a
nossa
correspondência
contínua nos tem
falado de
esperanças e de
gratidão.
Não nos
separamos. Sua
Cris* continua
crescendo para
Deus e tentando
acompanhar a
marcha do
progresso com os
olhos postos em
nosso futuro
luminoso, no
qual incluímos o
sempre querido
pai Luiz* e a
nossa amada
família.
Participamos dos
júbilos do nosso
Ageu* e das
realizações do
nosso Luiz
Lourenço* e do
nosso João*, sem
que me esqueça
da nossa querida
Taciana*, que
você e o pai,
num momento
muito feliz
colocaram em
nosso lar* para
que ela se
transformasse
numa estrela,
irradiando
claridade,
quando ainda se
demoravam
algumas sombras
teimosas de
saudades. É que
o coração de mãe
pode ser
comparado a um
oceano de amor,
onde cabem todos
os anseios do
mundo e nada
consegue
esvaziar...
Nesse sentido, à
medida que o
tempo vem
passando, você
logra aumentar a
nossa família
graças ao afeto
da nossa muito
querida Iaia*,
que recolheu, na
sua prole feliz
o nosso delicado
Daniel*,
enriquecendo o
grupo da letra D
com mais uma,
anjo
corporificado.
Refiro-me aos
nossos Dener*,
Dione*, Débora*,
Danilo* e Dênio*
que se tornaram
o grupo jovial e
alegre em nossa
família
aumentada. É por
isso que não
cesso de rogar à
nossa devotada
Albanize* que
lhe ofereça esse
carinho de que
ela é dotada,
cooperando com
você na
escalada, monte
acima, da
redenção.
Mãezinha, você
trouxe para a
festa desta
noite as
presenças
queridas do
tetravô*
Lourenço,* da
amada avó
Olímpia*, que
envolvem em
carinho as avós
Dulcina* e
Maria* sempre
queridas que,
comovidos e
agradecidos a
Deus, participam
do bolo do amor
que nos alimenta
nesta festa de
evocações e não
mais de
saudades, antes,
de júbilos e
emoções
superiores com
que a vida nos
brinda.” –
Cristiane (Vidas
em Triunfo,
Diversos
Espíritos,
LEAL/BA, pág.
112.)
(*) Os vários
nomes, datas e
informações
assinaladas em
asterisco foram
ratificadas em
pesquisa junto
aos familiares
da missivista,
todos
desconhecidos do
médium. A
mensagem foi
recebida por
Divaldo em
Uberaba (MG), em
28/01/1983, no
Grupo Espírita
da Prece, numa
reunião pública,
ao lado de Chico
Xavier.