De duas fontes provêm as contradições acerca dos ensinos espíritas
1. As contradições acerca dos ensinos espíritas são, em regra, mais aparentes que reais, porque existem mais na superfície do que no fundo das coisas e, por isso, carecem de importância. De duas fontes elas provêm: dos homens e dos Espíritos.
2. Quando começaram a produzir-se os estranhos fenômenos do Espiritismo, cada pessoa os interpretou a seu modo, de conformidade com suas ideias pessoais, suas crenças ou suas prevenções, nascendo daí sistemas diversos que se puseram em posição contrária ao que constituiria mais tarde a Doutrina Espírita. Os sistemas surgiram, portanto, em consequência das contradições de origem humana.
3. Os adversários do Espiritismo podem ser classificados em três grupos distintos:
1o. Os que negam sistematicamente tudo o que é novo, ou deles não venha, e que falam sem conhecimento de causa. Para eles, o Espiritismo é uma quimera, uma utopia, uma loucura. São os incrédulos de caso pensado.
2o. Os que, sabendo muito o que pensar da realidade dos fatos, combatem-nos por motivos de interesse pessoal. Para eles, o Espiritismo é real, mas o combatem por lhe recearem as consequências.
3o. Os que acham na moral espírita uma censura severa demais aos seus atos ou às suas tendências, e assim o combatem por egoísmo.
O sistema do músculo estalante procurou explicar os sons tiptológicos
4. Os sistemas formulados pelos detratores do Espiritismo foram muitos, mas dentre eles destacaram-se os seguintes:
a) Charlatanismo – Os fatos espíritas seriam o produto de indivíduos embusteiros e enganadores e os espiritistas não passariam de pessoas ingênuas, embora se contem no seu número pessoas honradas e dotadas de saber.
b) Loucura – Alguns, por condescendência, concordam em pôr de lado a suspeita de embuste, mas pretendem que os que não iludem são iludidos e que os que creem nas manifestações não passam de loucos.
c) Alucinação – O adepto das manifestações age de boa-fé, mas julga ver o que efetivamente não vê, porque os fatos espíritas seriam miragens.
d) Músculo estalante – A causa dos sons tiptológicos, comuns nos raps e nas pancadas, residiria nas contrações voluntárias ou involuntárias do tendão do músculo curto-perôneo. Se tal explicação foi suficiente para fulminar a admissão das mesas falantes, a teoria do músculo que estala não consegue explicar as mesas que giram, que levitam e que dão pancadas valendo-se dos próprios pés.
e) Sistema do reflexo – Admite-se que haja uma ação inteligente nos fenômenos espíritas, mas ela procede do médium ou dos assistentes, e não de supostos Espíritos comunicantes. César Lombroso escreveu a respeito desse sistema: “Outras explicações se tentam para evitar a da influência dos mortos: por exemplo, a de que o médium extrai do cérebro dos presentes as respostas aos quesitos, que depois projeta no exterior”. “Não se compreende, porém, como o médium poderia realizar tal prodígio.”
f) Demoníaco ou diabólico – As manifestações não seriam produzidas por Espíritos de homens que viveram na Terra, mas pelo diabo ou pelos demônios, porque só estes podem comunicar-se. Este sistema colide com a natureza e o conteúdo das manifestações porque muitos Espíritos ensinam a fraternidade, o perdão das injúrias, a mansuetude e nos dizem que o caminho único da felicidade é o do bem. Se esses são os processos empregados por Satã para nos perverter, é curioso observar que eles se assemelham estranhamente aos que Jesus empregava para reformar os homens, do que se deduz que o anjo das trevas conduz muito mal seus negócios.
Os Espíritos realmente superiores jamais se contradizem
5. O Espiritismo tem, é verdade, muitos inimigos interessados em sua perda. De um lado, colocam-se os materialistas; de outro, os sacerdotes de todas as religiões, de sorte que seus partidários recebem golpes de todos os lados, não apenas agora, mas desde os primeiros anos da codificação da Doutrina Espírita.
6. Para se compreenderem a causa e o valor das contradições de origem espírita, é preciso estar identificado com a natureza do mundo invisível e tê-lo estudado por todas as suas faces. À primeira vista, parecerá estranho que os Espíritos não pensem todos da mesma maneira. Ocorre que supor que façam igual apreciação das coisas equivale a imaginá-los todos no mesmo nível. Pensar que todos devam ver com justeza é admitir que tenham chegado todos eles à perfeição, o que não é exato e não o pode ser, desde que se considere que os Espíritos nada mais são do que a Humanidade despida do envoltório corporal.
7. Podendo manifestar-se Espíritos de todas as categorias, suas comunicações trazem, por isso, o cunho do seu saber ou da sua ignorância, da superioridade ou da inferioridade moral que alcançaram. Eis aí a razão das contradições havidas em certos momentos na formulação dos princípios espíritas, como se deu na Inglaterra e na América do Norte, onde à época de Kardec havia divergência entre os comunicantes com respeito ao ensino da reencarnação.
8. Os Espíritos realmente superiores jamais se contradizem e a linguagem de que usam é sempre a mesma quando lidam com as mesmas pessoas. Pode, no entanto, diferir de conformidade com as pessoas e os lugares, mas mesmo aí as possíveis contradições encontram-se mais nas palavras do que nas ideias. O mesmo Espírito pode responder de formas diferentes a uma determinada pergunta, segundo o grau de adiantamento dos que o evocam, visto que nem sempre convém que recebam todos a mesma resposta, por não estarem igualmente adiantados. É exatamente como se uma criança e um sábio nos fizessem a mesma pergunta. Com certeza responderíamos a um e outra de forma diferente, embora no fundo as respostas fossem idênticas.
Respostas às questões propostas