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Ano 3 - N° 115 – 12 de Julho de 2009

 


A irresponsabilidade
e seus frutos
 


A responsabilidade pelo que falamos e fazemos é consequência direta do livre-arbítrio, essa liberdade de escolha que Deus nos concedeu e que se amplia à medida que evoluímos.

À vista disso, a irresponsabilidade não poderia grassar em nosso meio. Jornalistas, editores,  médiuns – mais que qualquer outra pessoa – deveriam ter sempre em mente tal fato, em face da repercussão que seu trabalho pode ter na sociedade.

Aí está, pois, a razão por que fazemos nossas as palavras seguintes que compõem um dos artigos publicados na edição de julho do jornal O Imortal:

“Vivemos momentos difíceis na atualidade do movimento espírita brasileiro, mas o culpado disso somos nós mesmos.

Temos confundido o significado da palavra tolerância. Tolerância, não há dúvida, é um dever nosso para com todas as pessoas, mas jamais com os erros por elas cometidos. Apontar o engano, a falha, o equívoco é um bem que fazemos àquele que erra, visto que, advertido dos seus equívocos, poderá galgar novo patamar de entendimento. Evidentemente que ao fazê-lo não nos cabe expor ninguém ao ridículo ou à zombaria, porque isso fere o princípio da caridade, que é um bem precioso que nós espíritas não podemos ignorar.

Nosso segundo erro é a irresponsabilidade que tem levado muitas pessoas, não só os médiuns, a desprezar as bases fundamentais sobre que foi codificada a Doutrina Espírita. Parece até que nos esquecemos da lição que Emmanuel deu a Chico Xavier nos primórdios do seu trabalho tão admirado pelos espíritas do Brasil. Era preciso, disse-lhe o querido mentor, comparar os escritos mediúnicos com a obra de Kardec e os ensinamentos de Jesus. Em caso de discordância, o destino dos escritos seria a cesta do lixo, ainda que o autor da comunicação fosse ele próprio.

Na principal obra dirigida aos médiuns e aos dirigentes espíritas, Kardec inseriu duas lições imprescindíveis e que se mantêm atuais, uma firmada por Erasto, outra por São Luís.

A primeira compõe o item 230 d´O Livro dos Médiuns:

‘Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. Efetivamente, sobre essa teoria poderíeis edificar um sistema completo, que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento edificado sobre areia movediça, ao passo que, se rejeitardes hoje algumas verdades, porque não vos são demonstradas clara e logicamente, mais tarde um fato brutal, ou uma demonstração irrefutável virá afirmar-vos a sua autenticidade.

‘Lembrai-vos, no entanto, ó espíritas! de que, para Deus e para os bons Espíritos, só há um impossível: a injustiça e a iniquidade. O Espiritismo já está bastante espalhado entre os homens e já moralizou suficientemente os adeptos sinceros da sua santa doutrina, para que os Espíritos já não se vejam constrangidos a usar de maus instrumentos, de médiuns imperfeitos. Se, pois, agora, um médium, qualquer que ele seja, se tornar objeto de legítima suspeição, pelo seu proceder, pelos seus costumes, pelo seu orgulho, pela sua falta de amor e de caridade, repeli, repeli suas comunicações, porquanto aí estará uma serpente oculta entre as ervas. É esta a conclusão a que chego sobre a influência moral dos médiuns. (Erasto).’

A segunda lição pode ser vista no item 266 da obra citada:

‘Em se submetendo todas as comunicações a um exame escrupuloso, em se lhes perscrutando e analisando o pensamento e as expressões, como é de uso fazer-se quando se trata de julgar uma obra literária, rejeitando-se, sem hesitação, tudo o que peque contra a lógica e o bom-senso, tudo o que desminta o caráter do Espírito que se supõe ser o que se está manifestando, leva-se o desânimo aos Espíritos mentirosos, que acabam por se retirar, uma vez fiquem bem convencidos de que não lograrão iludir. Repetimos: este meio é único, mas é infalível, porque não há comunicação má que resista a uma crítica rigorosa. Os bons Espíritos nunca se ofendem com esta, pois que eles próprios a aconselham e porque nada têm que temer do exame. Apenas os maus se formalizam e procuram evitá-lo, porque tudo têm a perder. Só com isso provam o que são. Eis aqui o conselho que a tal respeito nos deu São Luís: Qualquer que seja a confiança legítima que vos inspirem os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, uma recomendação há que nunca será demais repetir e que deveríeis ter presente sempre na vossa lembrança, quando vos entregais aos vossos estudos: é a de pesar e meditar, é a de submeter ao cadinho da razão mais severa todas as comunicações que receberdes; é a de não deixardes de pedir as explicações necessárias a formardes opinião segura, desde que um ponto vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro.’

*

Herculano Pires, que, segundo Emmanuel e Chico Xavier, era quem mais entendia da obra de Kardec, jamais deixou de apontar os erros, fosse de quem fosse, porque acima de tudo temos de preservar a Doutrina e não permitir que nos usem para denegri-la.

Divulga-se, no entanto, em nosso meio, um jornal que parece ser dirigido por não-espíritas, um jornal que usa o nome de Chico Xavier, não para endeusá-lo, como aparentemente poderíamos pensar, mas para enlameá-lo e diminuí-lo aos nossos olhos, ao atribuir a ele a defesa do aborto em casos de anencefalia e de estupro e, o que é muito mais sério e lamentável, a colocar em seus lábios a informação de que uma pessoa pode morrer e outro Espírito encarnar no cadáver, reanimá-lo e continuar vivendo.”


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita