A presente
entrevista é
motivo de muito
júbilo e
gratidão, porque
todos nós que o
conhecemos e com
ele convivemos
aprendemos muito
com sua
perseverança,
sua coerência,
sua coragem e
seu alto senso
de decisão e
discernimento.
O Consolador:
Como surgiu a
equipe do
Divulgador do
Livro Espírita?
E quais eram os
objetivos?
Em setembro de
1982, durante a
5a. Feira do
Livro Espírita,
na Sociedade
Espírita
Obreiros do Bem,
em São Carlos,
com outros
participantes.
Com o passar dos
anos foi
aumentando a
equipe. O
objetivo sempre
foi valorizar o
livro, levá-lo à
praça pública,
no caso da Feira
do Livro
Espírita, ou de
casa em casa, no
caso do Clube do
Livro Espírita.
O Consolador:
Que memórias
marcantes
gostaria de
relatar aos
leitores sobre
essa
experiência?
Impossível
destacar um
entre centenas
de fatos.
Todavia, o
desprendimento,
a dedicação, a
coragem e o
não-estrelismo
marcaram sempre
a atuação do
grupo. No início
éramos cinco:
Ailton Baleeiro
(de
Sertãozinho),
José Carlos
Ângelo Cintra
(São Carlos),
eu, Aldo
(Ribeirão Preto)
e Gilbertinho (Frutal).
Mas é preciso
lembrar o papel
do Arceu
(Araras), o
principal
incentivador da
Feira do Livro.
Algumas pessoas
iam até Araras,
na sede do IDE,
buscar livros
para fazer a
feira. O Arceu
dizia para pegar
os livros que
quisessem. Não
exigia nenhuma
assinatura em
papel nenhum. O
sujeito levava o
livro em
absoluta
confiança.
Araras foi a
principal sede
da reunião do
Divulgador do
Livro. Depois da
reunião íamos
almoçar na “sala
dos loucos”, o
refeitório do
Hospital Antônio
Luiz Sayão. O
Arceu conta que
uma vez foi
divulgar livros
num sanatório de
outra cidade. O
cara que tomava
conta do
elevador não
queria deixá-los
sair de lá...
O Consolador:
Vendo hoje esses
esforços do
passado, que
resultados podem
ser enumerados?
A primeira
pesquisa
realizada
apontou um total
de 40 Feiras do
Livro Espírita,
dali a seis
meses já
atingíamos 500
feiras! Hoje é
uma realidade
nacional, numa
expansão
extraordinária
do trabalho. A
Feira tornou-se
um ponto de
encontro dos
espíritas
locais, num
trabalho alegre
e
desinteressado.
O Consolador:
Vocês tinham
idéia de que
isso podia ter
um alcance
nacional?
Não. Começamos
na base do vamos
em frente, sem
termos concebido
nada. Na
primeira reunião
de fechamento do
boletim
Divulgador do
Livro Espírita,
não tínhamos
preparado nada.
Foi na casa do
Aldo, em
Ribeirão Preto.
Enquanto o
pessoal ficou
reunido lá, eu e
o Gilberto
preparamos o
primeiro boletim
da Feira do
Livro, que
ensinava a fazer
uma Feira.
O Consolador: No
começo vocês
ainda estavam
construindo o
formato ideal,
não?
Sim. A melhoria
do tamanho e do
visual das
barracas foi
feita por
Sertãozinho.
Copiamos. Nós
criávamos uma
coisa, o Ailton
outra. O Cintra
começou a chamar
um orador para
fazer a
abertura. E
assim por
diante.
O Consolador: Em
que lugares foi
feita a
divulgação?
No interior de
São Paulo, em
muitas cidades,
desde as desta
região até
Presidente
Prudente e
Regente Feijó,
no oeste do
estado. E mais
Poços de Caldas,
Ipatinga (MG),
Cambé, Paranavaí
(PR). Fiz uma
reunião em Porto
Velho, o Amélio
fez em Macapá,
fiz outra em
Itabuna (BA).
Era só para
fazer uma
palestra, mas
acabei fazendo
outra num centro
e outra em
Vitória da
Conquista. O Zé,
de Jequié, tinha
vindo numa
reunião. Ele
estava usando
uma camiseta que
dizia:
“Suicídio, um
erro
irreparável”.
Disse a ele:
“Zé, não há
nenhum erro
irreparável”.
Estou sempre
atento aos
detalhes.
O Consolador:
Qual o fato mais
curioso
observado numa
Feira do Livro?
Recebi uma
mulher que
queria um livro
para emagrecer.
Eu disse: “Não
tem. Mas tem
para tirar coisa
pior – a raiva,
o ódio”. Ela
pegou e levou o
Evangelho. Teve
uma Feira onde
aceitei uma
evangélica para
vender livros. E
ela vendeu. Era
inteligente, bem
relacionada. Por
que ela foi
vender? Ué,
porque quis. Por
que ela quis,
não sei.
O Consolador: Da
experiência
vivida, que
sugestão pode
ser dada para
aprimoramento do
trabalho de
divulgação
espírita?
Atenção
constante, nunca
desprezando as
idéias de quem
quer que seja.
O Consolador:
Podemos
considerar o
Clube do Livro
Espírita uma
iniciativa
vitoriosa para a
expansão do
pensamento
espírita? Por
quê?
Sim. A Feira é
uma festa na
praça. Une as
pessoas com
alegria e deixa
o livro à
vontade. São
Carlos vende 5
mil livros, no
entanto a
atenção é
dividida entre
mil livros. Não
há uma
centralização de
vendas. O CLE de
São Carlos
coloca 1.900
livros de um
único título.
Esgota edições
pequenas. É
imbatível nesse
aspecto.
O Consolador: E
a Feira do Livro
Espírita, o
perfil pode ser
melhorado? Como?
Qualquer coisa
nesse mundo pode
ser melhorada. É
preciso
criatividade e
coragem para que
não fique
estacionada.
O Consolador:
Conhece algum
bom caso de
mudança de
comportamento
causada por um
livro espírita?
A equipe do
Divulgador do
Livro tinha um
participante
venezuelano, o
Alípio Gonzales.
Ele contou que
em Caracas
(Venezuela)
alguém jogou um
Evangelho no
lixo. E quem
achou estava
para se
suicidar.
O Consolador: De
suas memórias na
vivência com a
literatura
espírita, o que
mais lhe marca o
coração? Que
autores, obras e
memórias lhe
saltam à memória
neste momento
diante da
pergunta?
Léon Denis,
Ernesto Bozzano,
Yvonne Pereira,
além,
naturalmente, de
Kardec. Prefiro
a literatura de
encarnados. A
mediúnica exige
fé. Considero
nefasto o
igrejismo.
O Consolador:
Comente sobre os
clássicos do
Espiritismo.
Em nossa
primeira Feira
não tínhamos um
bom critério
para selecionar
livros por
assuntos.
Incumbi-me da
tarefa de ir
melhorando essa
questão. Os
clássicos eram
separados por
autores. Aí os
agrupei como
devia, em
“clássicos”.
Modéstia à
parte, melhorei
muita coisa na
FLE, junto com o
Ailton Baleeiro,
de Sertãozinho,
e o Cintra, de
São Carlos.
Difícil destacar
autores. Lá vai.
Denis com sua
filosofia suave,
sua beleza, sua
educação.
Destaco “O
Problema do Ser,
do Destino e da
Dor”. Bozzano e
sua incrível
capacidade de
pesquisa.
“Animismo ou
Espiritismo?” é
o resumo de
todos os outros.
Nossa Yvonne
Pereira com suas
obras-primas
“Devassando o
Invisível” e
“Recordações da
Mediunidade”.
“No País das
Sombras”, de
Elizabeth
D'Esperance. Meu
Deus! É a nata!
O Consolador:
Quais autores
considera
importantíssimos
e pouco lidos?
Todos os
clássicos.
Denis, Bozzano,
Aksakof, William
Crookes. Há um
livro editado
pelo Clarim
chamado “Os
Mortos Vivem”. É
a história de um
alemão que foi a
uma ilha
desmascarar uma
médium. Gostou
tanto dela que
acabou se
casando. Este
livro, por
exemplo, não foi
mais reeditado.
O Consolador: Em
sua opinião,
qual o melhor
método para
popularizar
ainda mais a
obra da
Codificação
Espírita, ou
seja, torná-la
mais conhecida?
Desconheço os
modernismos, mas
sei que a Feira
e o Clube estão
na frente.
O Consolador:
Que recomendação
faz ao leitor
espírita?
Que não apenas
leia. Que fixe
toda a atenção
no texto que
está lendo. Ler
é pouco. Tem de
prestar atenção
e fixar o que
está lendo.
Qualquer livro,
não só o
espírita.
O Consolador:
Qual outra
questão gostaria
de acrescentar a
essa ordem de
idéias?
O Atendimento
Fraterno. Se uma
pessoa chega ao
Centro Espírita
e alguém lhe
propõe aplicar
um passe ou
ouvi-lo durante
uma hora, o que
você acha?
Obtive minhas
melhores
conquistas
ouvindo muito e
falando pouco.
Não acredito no
passe para
principiantes.
Eles não sabem
nada do
assunto.
O Consolador:
Suas palavras
finais.
Uma coisa é
pouco falada: o
trabalho.
Insuperável! A
palestra
criativa e bem
humorada faz
prodígios. Não
troco Kardec por
nenhum outro, no
que se refere à
coragem e ao
discernimento.