Movimento
Espírita nasceu
e se desenvolveu
em seu país.
*
O Consolador:
Quais são suas
atividades na
seara espírita?
Além de
representar a
Sociedade
Polonesa de
Estudos
Espiritas (Polskie
Towarzystwo
Studiów
Spirytystycznych),
sou
o tradutor das
palestras dos
espíritas
brasileiros que
vêm à Polônia
trazer a
mensagem
espírita. Já
traduzi as
palestras do
Divaldo Franco e
do Sérgio
Thiesen. Traduzi
também vários
artigos da
língua francesa
e portuguesa
para o polonês e
agora comecei a
traduzir o
primeiro livro
da série André
Luiz, “Nosso
Lar”, para a
minha língua.
O Consolador:
Como foi seu
primeiro contato
com o
Espiritismo?
Eu li pela
primeira vez
O Livro dos
Espíritos no
Brasil. A minha
esposa veio do
Rio de Janeiro e
já passei alguns
meses na cidade
dela. Foi aí, na
casa dela, que
encontrei o
livro de Kardec.
Os assuntos
filosóficos
sempre me
interessaram,
por isso li esse
livro inteiro em
apenas algumas
horas. Para
falar a verdade,
e foi até um
fato
interessante,
O Livro dos
Espíritos
não me pareceu
naquele momento
uma grande
revelação. Eu
sentia
simplesmente que
já sabia de
todas aquelas
coisas e que
esse livro só
abriu uma porta
que já existia
na minha mente e
até então tinha
ficado fechada.
Por incrível que
pareça, depois
de terminar a
leitura, não me
envolvi muito no
Espiritismo. Era
necessário que a
mente colocasse
as ideias em
ordem, o que
demorou mais de
um ano. Só
depois desse
período assumi
mais o
Espiritismo como
uma filosofia
que me completa
e que eu quero
levar aos
outros.
O Consolador:
Qual foi a
reação de sua
família?
Por volta de 90%
dos poloneses
são católicos e
mesmo os que não
se envolvem
muito na
religião têm, eu
diria, a mente
católica, porque
essa religião
faz parte da
nossa cultura e
da nossa
tradição. Uma
parte de minha
família aceitou
as informações
dos livros do
Kardec como uma
curiosidade,
porém houve
pessoas que,
mesmo não
envolvidas muito
na Igreja, não
gostaram do fato
de eu ter
resolvido seguir
um caminho
diferente.
O Consolador:
Como vê o
Espiritismo?
Só o Espiritismo
sabe explicar
bem de onde
viemos, quem
somos e para
onde vamos. É a
resposta para as
perguntas que
toda a
Humanidade tem
feito há
séculos. O
Espiritismo faz
com que nós
possamos dizer:
«Eu sei» e não
«Eu acredito». É
a única doutrina
que põe amor no
lugar do
destaque e não
põe nada acima
da caridade. É,
por isso, um
caminho que vale
a pena ser
seguido.
O Consolador:
Dos três
aspectos do
Espiritismo -
ciência,
filosofia,
religião -, qual
o que mais o
atrai?
Eu acho que os
dois aspectos do
Espiritismo que
importam mais
são o científico
e o filosófico.
Allan Kardec
definiu o
Espiritismo como
ciência dizendo
que o
Espiritismo será
uma ciência ou
não existirá.
São palavras
muito
importantes, por
isso sempre vou
apoiar todos os
trabalhos que
visem a provar
ainda melhor a
realidade dos
fenômenos
espíritas.
Entretanto o que
me atrai mais no
Espiritismo é a
filosofia. Eu
seria espírita
mesmo sem ter
lido sobre todas
as experiências
científicas. A
filosofia
espírita explica
de jeito tão
lógico a razão
do sofrimento e
o caminho que
devemos seguir.
O Consolador:
Como vê a
discussão em
torno do aborto
e nossa atitude
em face desse
assunto?
Eu acho que o
mais importante
é a educação
geral da
sociedade. A
educação sobre o
aborto faz parte
dela, mas nós
não podemos nos
concentrar sobre
um ponto só.
Temos que
lembrar que até
Allan Kardec,
ainda nos seus
trabalhos de
pedagogo,
postulou o
desenvolvimento
do trabalho
educativo,
porque só assim
se conseguem
bons resultados
para a
sociedade. Eu
suponho que, se
a pessoa recebe
uma boa educação
geral e moral,
não vai ter
dúvida sobre que
caminho
escolher. Na
Polônia, o
assunto de
aborto foi
discutido entre
vários partidos
por muitos anos.
A Igreja faz
aqui um papel
importante e tem
o apoio completo
dos espíritas
nesse ponto. Eu
acho que a
sociedade
polonesa tem
também
consciência bem
grande quanto a
esse assunto,
por isso nem
achamos tão
importante nos
concentrar nele
em nossos
trabalhos.
O Consolador:
Você tem tido
contato com o
movimento
espírita
brasileiro?
Estou em contato
constante com
espíritas de
vários cantos do
Brasil e do
mundo inteiro.
Tive a
oportunidade de
participar de
vários trabalhos
do movimento
espírita
brasileiro. Eu
admiro a obra
social graças à
qual o
Espiritismo se
desenvolveu
tanto no Brasil.
Acho, porém, que
os espíritas
brasileiros
sentem ainda
muita
dificuldade para
divulgar a
doutrina fora do
Brasil. Eu
observei que em
muitos países os
membros dos
centros
espíritas são
praticamente só
os brasileiros e
em consequência
a maioria do
trabalho é feita
em português.
Nós também
passamos pelas
mesmas
dificuldades
aqui. No início,
o movimento
polonês foi
constituído na
maioria por
brasileiros e as
reuniões eram
feitas em
português. Eu
sabia, porém,
que aqui não
podíamos dar um
passo para a
frente
continuando
assim. Para
desenvolver as
nossas
atividades,
tivemos que
chegar aos
corações dos
poloneses.
Afinal, não há
tantos
brasileiros
aqui, ainda
menos
brasileiros
espíritas. Por
isso tivemos que
mudar
completamente a
nossa atitude.
Agora todos os
trabalhos são
feitos em
polonês e o
núcleo do nosso
grupo é formado
praticamente só
de poloneses.
O Consolador:
Por que os
brasileiros não
conseguem
divulgar bem o
Espiritismo em
outros países?
Participei de um
congresso
espírita em
Boston há alguns
anos. Entre mais
ou menos 100
pessoas só havia
duas pessoas que
não eram
brasileiras, eu
e um espanhol
que veio com a
sua namorada
brasileira. Onde
houve o erro, eu
me perguntei?
Tive já quase a
mesma
experiência no
meu próprio
país, conversei
muito com os
meus amigos
brasileiros da
Polônia e
entendi que há
dois fatores que
podem ter muita
influência
nisso. O
primeiro, eu
devo assumir
isso, foi também
o meu próprio
problema, é o
orgulho que
nasce quando
sabemos muito
sobre o
Espiritismo e
estamos em um
país que precisa
tanto desse
conhecimento. Eu
pensei que eu
era um grande
apóstolo que
estava na
Polônia para
converter as
pessoas. Mas
estava muito
errado. Meu
trabalho não é
de converter
ninguém. Meu
trabalho é de
aprender,
aprender
sobretudo a
respeitar o
ponto de vista
das outras
pessoas,
respeitar suas
convicções e
falar sobre as
minhas sem ferir
ninguém. Uma vez
conversei com um
amigo meu sobre
o Espiritismo e
ele me respondeu
uma coisa que
nunca vou
esquecer: «Gosto
do que você diz,
mas eu continuo
sendo católico».
Eram palavras
muito
importantes. O
nosso trabalho é
falar sobre o
Espiritismo, mas
não de impor
nada a ninguém.
Por isso me
concentrei a
desenvolver um
trabalho na
internet. Aqui
eu apresento o
que eu acho ser
a filosofia mais
linda da
Humanidade, as
portas do nosso
site estão
sempre abertas,
mas as pessoas
que vêm nos
visitar nunca se
sentem
constrangidas,
nunca pensam que
eu quero mudar a
opinião delas. A
Doutrina
Espírita é tão
lógica que mais
tarde ou mais
cedo todos irão
aceitá-la.
Algumas pessoas
precisam de mais
tempo, às vezes
de muitas
encarnações. Se
elas se sentem
bem na sua
religião e se a
religião atual
serve ao
progresso delas,
nós não devemos
forçar nada. Às
vezes eu aprendo
muito mais com
os meus amigos
católicos que
com os meus
amigos
espíritas. Allan
Kardec disse:
«Fora da
caridade não há
salvação» e,
como disse Chico
Xavier: «Se
Allan Kardec
tivesse dito:
Fora do
Espiritismo não
há salvação, eu
escolheria outro
caminho. Graças
a Deus, ele
disse: Fora da
caridade, não há
salvação».
O Consolador:
Qual é o outro
fator que tem
dificultado a
divulgação da
Doutrina
Espírita fora do
Brasil?
O outro fator é
ligado ao fato
de que as
sociedades, os
povos são
diferentes.
Assim o modo de
se apresentar o
Espiritismo tem
de ser também
diferente. O
Espiritismo na
Índia ou na
China, onde ele
certamente vai
nascer um dia,
será diferente
do Espiritismo
que temos na
América ou na
Europa. As
pessoas de lá
têm outros
pontos de
referência, por
isso a imagem de
Krishna será
sempre mais
próxima para
eles do que a
imagem de Jesus.
Mas isso é
lindo. Se todos
fôssemos iguais,
esse mundo seria
muito chato, não
é? Ter tantas
visões, ter
tantas ideias
diferentes, só
enriquece o
nosso planeta, a
Humanidade.
Quando
divulgamos a
mensagem
espírita, temos
que sempre
pensar então na
pessoa que
escuta as nossas
palavras e não
em nós mesmos. O
importante é
sempre o
indivíduo para o
qual estendemos
a nossa mão e
não o nosso ego.
Jesus sabia bem
disso. Ele nunca
usou palavras
difíceis. Quando
falava com os
pobres
pescadores,
usava sempre
metáforas que
lhes eram
próprias. Temos
que seguir esse
exemplo. Temos
que sempre
procurar o laço
que nos une, os
pontos em comum,
que são muitos.
Se um
brasileiro, ou
seja lá quem
for, vive em
outro país e
quer desenvolver
o trabalho
espírita ali, eu
sempre aconselho
que se faça esta
pergunta : «O
que eu posso
aprender com as
pessoas com as
quais eu vivo
agora?» E esta
outra: «Como eu
tenho que
mostrar o
Espiritismo para
eles, para que
eles sintam essa
doutrina como
algo querido,
algo deles?».
Muitas vezes os
centros
espíritas
criados na
América ou na
Europa são
simples centros
para reuniões de
brasileiros que
vivem fora do
país. As pessoas
que moram lá e
que até
gostariam de
participar
ativamente dos
trabalhos não se
sentem bem,
porque não se
sentem em casa.
A primeira
dificuldade é
sempre a língua.
Imagine que uma
pessoa necessita
de ajuda e vai a
um lugar no
Brasil onde só
se fala chinês.
Mesmo se você se
identificasse
com a doutrina,
não ficaria lá
por mais tempo.
Os trabalhos
têm, pois, de
ser sempre
feitos na língua
do país. Mesmo
quando haja só
brasileiros, a
língua usada nas
reuniões, no
material e no
site na internet
tem que ser
sempre a língua
que se fala
naquele lugar. É
sempre o
primeiro passo
que infelizmente
tão poucos
grupos seguem
por comodidade,
mas que é
simplesmente
indispensável.
O Consolador:
Quando e como se
originou o
movimento
espírita na
Polônia?
A Polônia é um
país que sofreu
muitas guerras e
muitas mudanças
durante os
últimos dois
séculos, por
isso nunca foi
fácil
desenvolver aqui
atividades
espíritas.
Temos, porém,
uma história
muito rica
relacionada ao
trabalho
científico
ligado com os
fenômenos
espíritas. Antes
da 2ª Guerra
Mundial, tivemos
médiuns
conhecidos
mundialmente,
como Kluski ou
Guzik, mas nunca
houve aqui um
verdadeiro
movimento
espírita
parecido ao que
existe agora em
muitos países.
Houve grupos,
revistas,
pesquisas
científicas, mas
parece que nada
foi
suficientemente
fortalecido para
sobreviver aos
momentos
difíceis. Apesar
disso, a Polônia
foi sempre um
país importante
para Allan
Kardec, que
relata na
Revista Espírita
os trabalhos
feitos aqui,
além de ter
incluído em O
Evangelho
segundo o
Espiritismo
algumas
mensagens
ditadas em
Cracóvia. A
Polônia teve
também grande
importância para
Léon Denis que,
tendo muitos
amigos
poloneses,
escreveu um
prefácio
especial para o
leitor polonês
na tradução
polonesa do
livro «Depois da
morte». A guerra
e o advento do
regime comunista
mudaram
completamente a
situação do
Espiritismo no
país. As lutas
diárias
fortaleceram a
posição da
Igreja católica,
cujo papel
aumentou ainda
mais quando um
polonês, Karol
Wojtyła, foi
escolhido papa e
dos mais
importantes na
história da
Igreja. Em face
disso, o
trabalho
espírita que se
realizava antes
da guerra parou
completamente,
os livros de
Kardec sumiram
das livrarias e
a doutrina caiu
no esquecimento.
Tivemos que
esperar mais de
50 anos para que
a mensagem
espírita
voltasse ao
país. Nos anos
90 do século
passado na
cidade de
Bydgoszcz
apareceu um
primeiro grupo
espírita, que
infelizmente não
está mais ativo
agora. Foram
traduzidos os
primeiros livros
de Kardec. Os
poloneses
começaram a
participar dos
eventos
espíritas
internacionais.
Tudo, porém,
ainda é pouco se
comparamos o
trabalho
efetuado aqui
com o que
conhecemos no
Brasil ou mesmo
na França ou
outros países
europeus. Acho,
contudo, que a
Polônia é capaz
de exercer ainda
um grande papel
no movimento
espírita. As
pessoas aqui
sabem fazer um
laço entre o
oeste
materialista,
mas desenvolvido
do ponto de
vista
científico, e o
leste onde
domina o
misticismo e
onde as pessoas
parecem ficar
mais perto de
Deus.
O Consolador: E
hoje, como se
encontra o
Movimento
Espírita na
Polônia?
Como na Polônia
o Movimento
Espírita ainda
está renascendo,
não temos
nenhuma
organização
oficial,
excetuado o
nosso grupo
espírita,
fundado em maio
e já registrado
com o nome de
Sociedade
Polonesa de
Estudos
Espíritas. E
mantemos também
um portal
espírita na
internet, que
vem crescendo a
cada dia. Seu
endereço é:
www.spirytyzm.pl.
O Consolador: Há
livros espíritas
traduzidos para
o idioma
polonês?
Só temos dois
livros de Kardec
traduzidos para
o nosso idioma
(O Livro dos
Espíritos e O
Livro dos
Médiuns). O
terceiro – O Céu
e o Inferno –
vai ser
publicado
provavelmente
este ano. Temos
também dois ou
três livros de
Léon Denis
traduzidos ainda
antes da guerra,
que foram
reeditados nos
anos 90. Há
pouco terminamos
a tradução do
livro «Vida
Feliz»,
psicografado por
Divaldo, mas
ainda vai
demorar muito
para ele ser
disponível em
todas as
livrarias. Por
enquanto nós nos
concentramos em
coordenar o
trabalho para
salvar os livros
traduzidos antes
da guerra,
organizar
pequenos eventos
espíritas e
promover o
estudo da
doutrina. Como
as pessoas
interessadas
pelo Espiritismo
vêm da Polônia
toda, a maioria
do trabalho
neste momento se
concentra na
internet, que é
uma ferramenta
perfeita para
juntar pessoas
de vários cantos
do país.
O Consolador:
Como é na
Polônia a
aceitação das
pessoas com
relação aos
ensinamentos
espíritas?
A curiosidade
das pessoas pela
vida após a
morte é muito
grande aqui. É
um vazio que a
Igreja não
consegue
preencher. É
mesmo no momento
da morte de um
parente que as
pessoas procuram
mais informações
sobre o que
ocorre depois da
morte física.
Por outro lado
observei que a
consciência do
mundo espiritual
é muito grande
entre os jovens.
A maioria das
pessoas que
coordenam os
trabalhos são
pessoas entre 20
e 30 anos de
idade, entre
eles estudantes
de filosofia e
de história.
Acho que um
grande obstáculo
para as pessoas
é a forte
ligação da
Igreja com a
nossa tradição,
com as ideias
que conhecemos
na escola. Vejo
que as pessoas
ainda têm medo
de dizer: «Sou
espírita»,
receiam que,
declarando-se
espíritas, vão
ter que rejeitar
a tradição que
fez parte da
vida deles
durante anos. O
Espiritismo não
nos convida a
rejeitar nada e
muitas vezes o
que ensina pode
ser um lindo
desenvolvimento
do que já
conhecemos.
Pode-se dizer,
portanto, que a
situação está
cada vez melhor,
mas os espíritas
continuam
encontrando
problemas no seu
caminho, pois
conheço casos de
pessoas que
perderam seu
emprego por
causa do seu
envolvimento com
o Espiritismo ou
tiveram
problemas porque
organizaram uma
palestra
espírita.
O Consolador:
Como você vê o
nível da
criminalidade e
da violência que
parece aumentar
no Brasil e no
mundo e como
nós, espíritas,
podemos cooperar
para que essa
situação seja
revertida?
Há para isso uma
resposta só:
educação. Só
aumentando o
nível de
educação,
mostrando para
as pessoas que
estudando vão
conseguir tudo
que desejam,
vamos mudar o
mundo. O nível
de violência
aumenta nos
países onde o
nível de
educação não é
alto. O mesmo se
dá no Brasil
onde a violência
nasce
principalmente
nas favelas, ou
na Europa onde
muitas vezes são
imigrantes, que
não tiveram
oportunidade de
estudo, que
pegam em armas.
Mesmo assim,
como nos explica
Joanna de
Ângelis, a época
que vivemos é a
época quando
existe mais amor
no mundo. Tudo
porque a
Humanidade fez
um progresso
imenso em 100
anos para
aumentar o nível
de educação.
Hoje, por
exemplo, é
difícil imaginar
no meu país uma
pessoa que não
saiba ler nem
escrever. E isso
foi muito comum
no início do
século XX.
Os espíritas
deveriam então
fazer um grande
esforço para
melhorar o nível
de educação das
pessoas e
organizar cursos
para ajudar
crianças mais
pobres que não
têm condições de
entrar em
escolas de
melhor
qualidade.