Rogério Coelho:
“Jesus foi o
vexilário maior
do túmulo vazio”
O confrade fala
sobre o medo e a
dor da separação
causada
pela
morte e diz que
é plenamente
possível vencer
o
receio da
morte
e assimilar as
aflições
trazidas pela
aparente perda
de nossos entes
queridos
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Rogério Coelho
(foto),
conhecido
articulista e
escritor
espírita, lançou
o livro E
depois da morte
o que acontece? Trata-se
de valiosa obra
cujo principal
perfil é
transmitir
conforto aos
corações que se
sentem
despedaçados
pelo fenômeno
natural da
morte, que, do
ponto de vista
humano, separa
criaturas que se
amam, trazendo o
sofrimento,
muitas vezes o
desespero e, em
alguns casos, a
depressão.
Utilizando-se da
clareza e da
lógica do
pensamento
espírita,
Rogério
desenvolveu o
livro, todo ele
estruturado
sobre as bases
da imortalidade
da alma. Por
ocasião do lançamento, concedeu-nos a
|
entrevista que
segue abaixo. O
livro foi
publicado pela Mythos. |
O Consolador:
Por que um livro
para abordar a
morte, essa
temida
ocorrência da
vida humana?
A finalidade
deste livro é
elidir ou pelo
menos abrandar
os temores e
desesperos que
envolvem esse
evento natural,
e para não só
desmitificar o
aspecto
desolador e o
quadro de dores
acerbas que
envolvem o
fenômeno natural
da morte, mas
também veicular
os conceitos
espiritistas
extremamente
consoladores,
colocando-a como
Portal da
Imortalidade que
dá acesso à
verdadeira vida,
buscando abrir a
visão das
criaturas para
os painéis do
Infinito, nos
quais se
desdobra –
estuante – a
vida normal e
natural, a vida
abundante da
referência
evangélica.
O Consolador:
Que inspiração o
norteou na
seleção dos
textos, na
configuração dos
capítulos e sua
sequência?
Não nos
preocupamos com
a configuração
dos capítulos e
sua sequência,
já que o tema
fluiria
normalmente
qualquer que
fosse a
disposição dos
mesmos. Contudo,
o que nos levou
a selecionar os
textos foi um
fato ocorrido no
Equador: Uma
conhecida nossa
ficou totalmente
alucinada e
desnorteada com
a “morte” de
seu filho
durante uma
operação que se
afigurava
simples. Sua
aflição era
tamanha que
durante seis
meses outra
coisa não fez
senão ficar
olhando para a
fotografia do
filho, sem
interessar-se
por mais
nada... Resolvemos
enviar-lhe
algumas páginas
que escrevemos
para a imprensa
espírita sobre o
tema: “Morte
e
Imortalidade”. O
impacto dessa
leitura em nossa
conhecida foi
extremamente
benéfico. Ela
logrou sair da
crise. Só aí me
dei conta de que
estava com um
novo livro em
minhas mãos. Se
a leitura foi
boa para ela,
poderia ser
também para
qualquer outra
pessoa que
estivesse na
mesma situação
de dor e
desespero... Não
é sem motivo que
o Espiritismo
tem por codinome
o lexema “Consolador”.
O Consolador: Na
ampla abordagem
sobre a
Imortalidade
você se
preocupou no
conforto
oferecido pela
Doutrina
Espírita para
aqueles que se
viram de um
momento para
outro sem a
presença física
material de seus
entes queridos. Como
você situa no
contexto da
atualidade esse
conforto
oferecido pelos
ensinos
espíritas?
É um consolo tão
bom para os
tempos atuais e
também futuros
como o foi no
passado desde o
surgimento do
Espiritismo... Enquanto
as religiões
d`antanho e as
variegadas
nuanças da
filosofia deixam
vazios e
incertezas de
vário matiz
acerca do post
mortem, a
Doutrina
Espírita desvela
os painéis da
Imortalidade com
fatos e
testemunhos
insofismáveis da
realidade do
Mundo Espiritual do
qual viemos e
para onde,
naturalmente,
voltaremos. Nesse
campo o
Espiritismo é
singular e
imbatível!
O Consolador:
Qual o melhor
preparo que se
pode fazer para
a inevitável
ocorrência da
morte?
A prática do bem
e a consciência
pura constituem,
segundo os
Espíritos (O
Livro dos
Espíritos, q.
165), o melhor
preparo que se
pode fazer para
encarar essa
inevitável
ocorrência,
além, é claro,
do conhecimento
do Espiritismo.
O Consolador:
Para os que
ainda duvidam da
imortalidade, o
que você diria?
Para os
incrédulos
aconselharíamos
que descessem do
pedestal do
orgulho, da
presunção e da
empáfia e
procurassem –
humildemente e
sem preconceitos
– estudar os
conceitos
espiritistas,
não esquecendo
que a classe
médica um dia
duvidou da
existência dos
micro-organismos
até que o
microscópio
provou a sua
existência. Paradoxalmente,
a “morte” é
o “microscópio” que
revela a
imortalidade da
alma. Mas não há
necessidade de
esperar por ela
para crer: Basta
conhecer o que
ensina o
Espiritismo, que
começou com
fenômenos
ostensivos
justamente para
abalar o
cepticismo dos
materialistas e
incrédulos.
Léon Denis em
seu
extraordinário
livro “O
Problema do Ser,
do Destino e da
Dor”, editado
pela FEB,
explica – logo
nas páginas
iniciais – que “à
vista de tantos
fenômenos
verificados
experimentalmente,
em presença de
testemunhos que
de toda parte se
acumulam, nenhum
Espírito
perspicaz pode
continuar a
negar a
realidade da
outra vida, a
esquivar-se às
consequências e
às
responsabilidades
que ela
acarreta. (...)
O Cristianismo
teve como ponto
de partida
fenômenos de
natureza
semelhante aos
que se verificam
em nossos dias,
no domínio das
ciências
psíquicas. É por
esses fatos que
se revelam a
influência e a
ação de um mundo
espiritual,
verdadeira
morada e pátria
eterna das
almas. Por meio
deles rasga-se
um claro azul na
vida
infinita. Vai
renascer a
esperança nos
corações
angustiados e a
Humanidade vai
reconciliar-se
com a morte”.
O Consolador: É
possível vencer
o medo da morte?
Em geral nós
temos medo do
desconhecido; e
da morte, então,
nem se fala!
Causa pavor a
muita gente! Isso
é natural, e faz
até mesmo parte
do instinto de
conservação da
espécie, com a
agravante de que
durante séculos
o nosso
discernimento
foi cozinhado no
caldo cultural
judaico-cristão. Mas,
uma vez
conhecida e
entendida a
nossa destinação
espiritual, o
medo desaparece
ou quando muito
pode ficar um
inofensivo e
compreensível
“receiozinho”. Allan
Kardec aborda
com peregrina
clareza e
objetividade a
questão do
“temor da
morte”. Basta
conferir lá no
livro “O
Céu e o
Inferno”, 1ª
parte, cap. II, e
constatar que “a
vida futura
deixa de ser uma
hipótese para
ser uma
realidade, na
qual o mundo
espiritual
aparece-nos na
plenitude de sua
realidade
prática. (...)
Não mais
permissível
sendo a dúvida
sobre o futuro,
desaparece o
temor da morte;
encara-se a sua
aproximação a
sangue-frio,
como quem
aguarda a
libertação pela
porta da vida e
não do nada”.
O Consolador:
Que palavras
podem ser
dirigidas para
os que enfrentam
a realidade da
separação de
seus entes
queridos?
Palavras de
solidariedade e
apreço, um bom,
longo e
carinhoso abraço
e, na primeira
oportunidade que
surgir, oferecer
um exemplar de O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
recomendando em
especial a
leitura dos
capítulos V e
VI, cujos
conteúdos são
bálsamos para os
corações
dilacerados pela
dor. Orar pelos
que se foram e
pelos que
ficaram também é
uma atitude de
alta
significação e
de efeitos
extremamente
positivos.
O Consolador: E
como situar
nesse contexto
todo de
reflexões o
binômio
imortalidade/reencarnação?
Poderíamos
melhorar esta
equação
transformando
esse binômio num
trinômio:
Imortalidade,
Comunicabilidade
dos Espíritos e
Reencarnação. Esses
elementos
realçam e
consolidam o
aspecto consolador do
Espiritismo,
oferecendo-nos a
certeza de que “Deus
não é Deus dos
mortos, mas dos
vivos”, uma
vez que provam
experimentalmente
que a vida
continua
estuante após a
passagem pela
lama tumular.
O Consolador:
Mas, o que
realmente
acontece depois
da morte?
Depois da morte
seremos alocados
em algum lugar
do Mundo
Espiritual
compatível com o
nosso grau
evolutivo, no
qual vamos
defrontar a
colheita de
nossa plantação,
de acordo com as
nossas obras,
conforme
assertiva de
Jesus exarada no
capítulo 16,
versículo vinte
e sete do
Evangelho de
Mateus. É
evidente que
todo esse
processo estará
envolvido no
algodão da
misericórdia
divina e não
faltarão apoio e
assistência a
quem tiver feito
por
merecê-los. Nesse
momento o que
vai falar alto
será a prática
do bem e a
consciência
pura, conforme
vimos acima.
O Consolador: De
que forma
incorporarmos em
nós mesmos a
convicção de que
somos seres
imortais?
Pelo estudo,
pelo raciocínio,
pela
lógica... Jesus
foi o vexilário
(1)
maior do túmulo
vazio e, afinal,
não foi Ele quem
disse que iria
preparar-nos
lugar? Ora,
se Ele se dispôs
a isso sabendo
que o nosso
corpo físico se
destrói, é
porque algo que
existe em nós de
imortal irá
ocupar o lugar
que Ele iria
preparar. Por
que Ele iria
preparar lugar
para nós se não
houvesse vida post
mortem? Duvidar,
quem há de?
O Consolador:
Suas palavras
finais.
Gostaria de
deixar para os
caros leitores
nossas
fraternais
saudações e um
estímulo para o
estudo sério e
perseverante do
Espiritismo,
essa Doutrina
maravilhosa que
nos enche de
alegria de
viver, dinamiza
nossa fé e
norteia nossos
passos, além de
nos explicar
como nenhuma
outra – de
maneira clara e
insofismável – a
nossa origem e
destinação, ou
seja: de onde
viemos, o que
estamos fazendo
aqui e para onde
vamos... Ensina-nos,
também, a
trabalhar –
desinteressadamente
– nas leiras da
Caridade, fora
da qual não há
salvação,
ensejando-nos,
desde já, a
definitiva
alforria
espiritual.
Tendo como
balizas o “amai-vos
e instruí-vos” sugeridos
pelo Espírito de
Verdade, não
teremos motivos
para temer a
morte, que outra
coisa não é
senão simples e
feliz transição
de um para o
outro plano da
vida imortal, no
qual
continuaremos
nossa ascese
evolutiva. Faço
votos que a
leitura de nosso
despretensioso
livrinho possa
lenir os
corações
ulcerados pela
dor e pela
saudade dos
entes queridos
que se foram,
tal como o fez
com a nossa
querida amiga
equatoriana.
(1)
Vexilário é o
mesmo que
porta-bandeira.