Dermeval
Carinhana Jr.:
“Qualquer centro
espírita com um
mínimo de
estrutura pode
manter uma rádio
via internet”
O confrade
paulista fala
sobre sua
experiência com
a Web Rádio
Espírita
Campinas e conta
como surgiu e
foi elaborado o
romance
Como Nasce um
Centro Espírita
|
Dermeval
Carinhana Jr.
(foto),
nosso
entrevistado da
semana, nasceu
em Lins (SP) e
reside
atualmente em
Campinas.
Espírita há mais
de dez anos,
integra o
Instituto de
Estudos
Espíritas Wilson
Ferreira de
Melo, de
Campinas (SP).
Pesquisador e
professor da
área
aeroespacial,
com doutorado em
Química, Dermeval relata
nesta entrevista
sua experiência
de comentar
doutrinariamente
o romance
Como Nasce um
Centro Espírita,
ditado pelo
Espírito
Silvestre ao
médium Carlos
Alberto Garcia.
E nos fala
igualmente sobre
sua participação
junto à ADE –
Associação dos
Divulgadores de
Espiritismo de
Campinas e a
experiência com
rádio e TV
espírita pela
Web. Acom- |
panhe
suas lúcidas
respostas.
|
O Consolador:
Como surgiu a
experiência de
comentar os
capítulos de um
romance
psicografado e
embasá-los
doutrinariamente?
Há anos
discutíamos, eu
e os demais
companheiros do
Instituto de
Estudos
Espíritas Wilson
Ferreira de
Melo, sobre a
importância e as
características
do livro
espírita. Logo
no início, com
pouco
conhecimento e
ainda sem a
devida
experiência na
área da
comunicação
social espírita,
imaginávamos que
os romances
espíritas tinham
pouca
importância no
desenvolvimento
das ideias
espíritas,
limitando-se
apenas a
confortar
algumas pessoas.
O tempo mostrou,
contudo, que
isso era um erro
conceitual dos
mais graves. Um
romance espírita
nada mais é do
que uma
história, em
particular,
envolvendo
pessoas e
Espíritos. Ora,
o Espiritismo se
ocupa justamente
de esclarecer a
humanidade sobre
a natureza
dessas relações.
É natural,
portanto, que
sejam utilizados
exemplos
particulares de
grupos de
Espíritos a fim
de se apresentar
as leis gerais
do Criador.
Contudo, lendo
uma única
história, nem
sempre fica tão
evidente o
caráter geral de
determinadas
situações pelas
quais passamos.
Daí a
importância do
comunicador/escritor
espírita
oferecer
explicações, na
forma de
comentários, por
exemplo,
mostrando o
traço de união
entre a
narrativa e o
conhecimento
espírita já
acumulado.
Kardec, como
muitos outros,
fazia isso muito
bem. “O Livro
dos Espíritos”
está repleto de
notas de
Kardec.
O Consolador:
Houve
dificuldades
nesse trabalho e
necessidade de
alteração do
texto original
apresentado pelo
autor
espiritual?
Para muitos
espíritas, o
texto ditado ou
escrito por um
médium
representa
palavra por
palavra o
pensamento do
Espírito
comunicante.
Logo no início
dos trabalhos de
psicografia
também
carregávamos
essa impressão.
Contudo, por
iniciativa dos
próprios
Espíritos, essa
visão se
modificou ao
longo dos
trabalhos. O
estudo sério
mas, sobretudo,
simples de “O
Livro dos
Médiuns”, aliado
às observações
colhidas nos
próprios
trabalhos
mediúnicos,
mostrou-nos que
o médium não
funciona como
uma impressora
humana. A
mediunidade é
baseada em um
processo de
interpretação de
ideias. Em
outras palavras,
médium reveste,
por assim dizer,
o pensamento dos
Espíritos com as
palavras e
conceitos que
possui. Assim,
de acordo com a
necessidade,
pode-se
perfeitamente
alterar a forma
de uma
comunicação sem
alterar sua
essência, a fim
de se facilitar
a compreensão do
texto final. O
assunto é muito
mais amplo e de
extrema
importância para
o Espiritismo, e
pode ser
resumido no
comentário final
de Allan Kardec
no texto “Minha
Primeira
Iniciação ao
Espiritismo”,
publicado em
“Obras
Póstumas”: “Da
comparação e da
fusão de todas
as respostas,
coordenadas,
classificadas e
muitas vezes
retocadas no
silêncio da
meditação, foi
que elaborei a
primeira edição
de O Livro
dos Espíritos,
entregue à
publicidade em
18 de abril de
1857”.
O Consolador:
Em quanto tempo
a obra foi
recebida e como
surgiu sua
motivação no que
se refere à
psicografia e ao
tema?
As psicografias
propriamente
ditas
iniciaram-se em
fevereiro de
2004, e se
estenderam até
maio de 2005. O
curioso é que
até então o
Carlos, o médium
responsável pela
narrativa, a
despeito de sua
experiência de
mais de vinte
anos como
médium, nunca
tinha se
dedicado à
psicografia.
Assim,
inicialmente
foram
transmitidas
várias
comunicações
preliminares,
como que
exercícios a fim
de ajustar o
médium ao
processo. Esse é
apenas um dos
muitos aspectos
em torno de um
trabalho como
esse, e que
muitas vezes
ficam nas
entrelinhas da
obra final. Em
nosso caso,
podemos afirmar
que, muito mais
do que publicar
um livro, os
Espíritos
estavam,
sobretudo,
interessados em
nos instruir. Ao
longo de todo o
trabalho, fomos
sempre
convidados e
motivados a
discutir e
analisar os
conteúdos
trazidos. De
maneira
complementar, em
outras reuniões
de nosso grupo,
tivemos a
oportunidade de
contar com
comunicações de
outros Espíritos
ligados à
narrativa, além,
claro, do
próprio autor.
Alguns se
destacaram pela
sua conduta e
ensinamentos
superiores,
enquanto outros,
pelas grandes
necessidades
psicológicas que
ainda
carregavam.
Porém, todos
foram
importantes,
contribuindo,
cada qual à sua
maneira, para
nossa instrução.
O Consolador:
Relate sua
experiência
junto à ADE
Campinas.
A ADE Campinas
tem como
objetivo
principal
contribuir com a
propagação das
ideias
espíritas. Para
tanto, ela se
ocupa do estudo
e do
desenvolvimento
de tudo aquilo
que diga
respeito à
comunicação
social espírita,
isto é, do
diálogo, da
troca de ideias
entre as pessoas
dentro do
ambiente
espírita, e
deste para a
sociedade em
geral. Portanto,
desde uma
palestra em um
centro espírita,
até um programa
de TV em cadeia
nacional, esse é
o campo de
trabalho da ADE.
Nesse sentido,
como certa vez
ouvi em um
discurso, não
faltam palavras,
mas sim espaço,
para falar sobre
quanto que nós,
pois estou certo
de que falo em
nome de todos os
companheiros da
ADE Campinas,
temos aprendido
com os
comunicadores e
divulgadores do
Espiritismo,
sejam eles
conhecidos ou
anônimos. Seria
impensável o
presente livro
sem a
contribuição
dessa área do
Espiritismo. Em
particular,
gostaríamos de
registrar o
apoio que sempre
recebemos de
nossa coirmã ADE
São Paulo.
O Consolador:
Comente sobre
sua experiência
com a Web Rádio
Espírita
Campinas.
A ideia de se
criar uma Web
rádio surgiu no
início de 2007.
Naquela época,
estávamos
terminando o
contrato com uma
emissora de TV a
cabo de
Campinas. Por
cerca de dois
anos a ADE
Campinas foi
responsável pela
veiculação de um
programa semanal
de TV. Porém, os
custos
envolvidos
estavam se
avolumando, o
que tornou
inviável a
continuidade do
trabalho. Nessa
fase de
transição, o
rádio surgiu
como uma opção
natural, uma vez
que desde o
início de 2006 a
ADE Campinas,
por meio de seus
comunicadores,
tem participado
do “Ação 2000”,
programa
produzido pela
ADE São Paulo
desde 1997, e
veiculado pela
Rádio Boa Nova
de Guarulhos.
Como não
dispúnhamos de
uma rádio
convencional em
Campinas,
voltamos nossas
atenções para a
internet, que na
época já era o
canal de várias
rádios, entre as
quais a própria
Boa Nova.
Elaboramos,
então, um
projeto contendo
os aspectos
técnicos e
financeiros, e,
principalmente,
os relativos aos
formatos e
conteúdos dos
programas. Foi
assim que no dia
1o de
maio de 2007 a
Rádio Espírita
Campinas estreou
o programa
“Opinião
Espírita”.
Atualmente,
temos dois
outros
programas: o
“Observatório
Espírita”,
também da ADE
Campinas, e “Nos
Caminhos do
Saber”,
produzido pela
Área Cultural do
Instituto
Brasileiro de
Psicoterapia
Autógena, da
cidade de São
Paulo. Mais
recentemente,
iniciamos os
trabalhos de uma
TV via internet,
que pode ser
acessada no site
www.tvespirita.org.br.
O Consolador:
Indique os
contatos, sites
e dicas para os
leitores
interessados em
uma possível
instalação de
emissora nos
mesmos moldes.
Em nosso site (www.radioespirita.org)
existe um
pequeno roteiro
para a
estruturação e
implantação de
uma Web rádio/TV
espírita. Temos
notícias de Web
rádios que foram
estruturadas a
partir de nosso
modelo, algumas
até com
infraestrutura e
alcance muito
superiores ao
nosso. Se de um
lado esse fato
nos enche de
satisfação e
honra, ele não
chega a
surpreender.
Qualquer centro
espírita com um
mínimo de
estrutura pode
manter uma rádio
via internet.
Aos companheiros
que desejarem
iniciar um
trabalho
semelhante,
estamos à
disposição para
auxiliar naquilo
que for
possível. Nesse
sentido, temos,
por solicitação
de alguns
grupos,
organizado
oficinas e
seminários sobre
o assunto.
O Consolador:
Quanto às
transmissões ao
vivo das
palestras pela
internet, quais
têm sido as
repercussões e
principais
experiências?
Esse é um
trabalho que
iniciamos, em
caráter
experimental, em
meados de 2009,
no interior de
São Paulo.
Graças à
mobilidade que a
tecnologia
permite, em
alguns centros
que visitamos,
transmitimos as
exposições em
tempo real por
meio da rádio.
Uma vez que
esses testes
envolvem o uso
de uma
verdadeira
parafernália
eletrônica, no
início achamos
prudente
consultar os
dirigentes dos
centros por onde
iríamos passar.
Contrariando
nossas
expectativas
iniciais, de que
tal ideia
pudesse causar
algum tipo de
constrangimento,
a proposta foi
recebida com
vivo interesse
por todos. Em
todos os
lugares, sem uma
única exceção,
diversos
companheiros
prontamente se
dispuseram a
abrir os centros
com mais de uma
hora de
antecedência, a
fim de que tudo
pudesse ser
testado e
acomodado. Esse
fato indica que
o uso da
tecnologia na
comunicação e
divulgação das
ideias espíritas
não está, como
nunca foi,
restrita aos
grandes centros
urbanos, tal
como a história
registra no
exemplo de
Cairbar
Schutel.
O Consolador:
Quando foi
fundada a
instituição a
que você se
vincula e qual a
programação
principal a que
ela se dedica?
O Instituto de
Estudos
Espíritas
“Wilson Ferreira
de Mello” foi
fundado em
setembro de
2002. Trata-se
de um
agrupamento
espírita de
tamanho pequeno,
com cerca de 20
a 25
integrantes. De
modo geral,
podemos dizer
que suas
atividades são
equivalentes aos
outros milhares
de centros
espíritas
espalhados pelo
Brasil,
possuindo grupos
de estudos
teóricos e
práticos das
obras de Allan
Kardec. Parte do
resultado desses
estudos pode ser
encontrada na
“Revista de
Estudos
Espíritas”, uma
publicação
disponível no
site
www.ree.org.br,
e que atualmente
está prestes a
ganhar uma
versão
impressa.
O Consolador:
Algo mais a
acrescentar?
Certo domingo,
no início de
2009, durante
uma das edições
do “Opinião
Espírita”,
recebemos o
seguinte e-mail:
“Meus queridos
irmãos e irmãs
Espíritas, estou
ouvindo vocês de
Paris, na
Passage Sant’
Anna 59, local
onde nosso
querido mestre
Allan Kardec
viveu de 1859
até 1869, quando
desencarnou”.
Qual a nossa
surpresa em
verificar que se
tratava do
companheiro
Oceano Vieira,
diretor da
Versátil Vídeo,
responsável por
importantes e
recentes
contribuições ao
meio espírita,
entre as quais o
resgate
histórico do
programa
Pinga-Fogo, que
teve como
entrevistado
Chico Xavier,
ainda nos anos
1970.
Imediatamente,
noticiamos essa
participação por
nossos
microfones,
expressando a
emoção que
tomava conta de
todos à mesa.
Por sua vez, o
Oceano ficou
mais emocionado
ainda, pois ele
não imaginava
que se tratava
de transmissão
“ao vivo”. Isso
dá uma ideia da
importância e
alcance de uma
ferramenta de
comunicação como
a internet.
O Consolador:
Suas palavras
finais.
Com respeito à
obra Como
Nasce um Centro
Espírita, é
importante
destacar que, se
de um lado em
sua capa constam
os nomes de três
pessoas, Carlos
Garcia (médium),
Silvestre
(espírito) e eu,
Dermeval, como
responsável
pelos
comentários, de
outro tais
inscrições são
apenas
referências.
Esse, como
muitos outros
trabalhos
semelhantes, tem
como principal
característica a
coletividade.
Seria estar bem
longe da
realidade
imaginar que
tantas
informações
pudessem brotar
unicamente da
cabeça de três
pessoas. Assim,
ainda que a
história
possivelmente
não registre o
trabalho dos
muitos
companheiros,
tanto
encarnados, como
desencarnados,
que participaram
desse trabalho,
em nome dos
demais amigos
responsáveis
pela obra,
Carlos e
Silvestre, nosso
agradecimento e
reconhecimento
pela
contribuição a
esses queridos e
importantes
amigos-irmãos de
jornada.
Nota do
entrevistador:
O livro Como
Nasce um Centro
Espírita foi
publicado pela
Mythos Books e
já se encontra
disponível.