
A PSICOGRAFIA DO MÉDIUM
DIVALDO FRANCO
(7)
Poderia ele ser indicado
ao Prêmio Nobel de
Literatura?
(Parte 1)
Explicação necessária – Repetimos que não é certo esperar que livros mediúnicos repitam
exatamente, 100%, o
que um Espírito
manifestou em vida como
escritor. Já
esclarecemos que todos
os Espíritos estamos
sujeitos à Lei de
Evolução e naturalmente
adquirimos novas ideias
e nos adequamos ao tempo
e espaço em que vivemos.
Seria um contrassenso
esperar que um Espírito
permaneça exatamente
igual, passadas décadas
ou séculos, pois todos
sofremos mudanças, por
vezes até de um dia para
outro. Mas nos casos de
Espíritos literatos é
esperável que se
mantenham nuances
características do
Espírito, porque nestes
casos elas são muito
mais marcantes neles,
correspondendo muito às
próprias condições
evolutivas do Espírito.
Espírito de Rabindranath Tagore, Prêmio Nobel de Literatura
–
O Espírito que
começaremos a estudar é
o de Rabindranath Tagore.
Em vida ele estudou
literatura inglesa na
Universidade de Londres.
Quando voltou à Índia
colaborou em jornais e
revistas, destacando‑se
como um inspirado
místico, fecundo poeta,
além de ter escrito algo
também em prosa. Ele
ganhou o Prêmio Nobel de
Literatura em 1913 e,
por meio de Divaldo
Franco, Tagore ditou
três obras mediúnicas
líricas, editadas pela
Ed. Leal/BA,
intituladas: Estesia,
Filigranas de Luz e
Pássaros Livres,
além de outra em
parceria com o Espírito
Marco Prisco (Momentos
de Renovação, também
pela Ed. Leal/BA).
 |
Tagore pertenceu
ao modernismo ou
pós-modernismo
poético, onde os
poetas abandonam
as métricas ou
qualquer regra
de composição,
permitindo que a
poesia se
desenvolva com
encantamento
solto e natural.
Uma das
principais obras
do escritor
Tagore foi
Gitanjâ Li,
que quer dizer
Oferenda Lírica.
(1)
Característica
marcante dele
foi seu absoluto
lirismo, que era
como sua alma
pulsava e se
expressava. Esta
característica
se manteve nas
obras
mediúnicas,
todas poéticas.
O prefácio do
próprio Espírito
Tagore ao livro
Estesia
foi psicografado
pelo médium
Chico Xavier
(1910-2002) em
1958,
exclusivamente
para compor o
livro ditado ao
médium Divaldo
Franco. Apesar
de ser um
|
importante fator
para confirmação
da validade
psicográfica do
livro Estesia,
Divaldo só
publicou esse
livro em 1986,
pois era
importante que o
livro fosse
aceito por seu
próprio valor e
não pelo
prefácio
psicografado
pelo Chico.
Feita a
comparação,
temos dados
muito
importantes: |
1) Inicialmente,
registramos que a obra
Gitanjâ Li
apresentou 590 vocábulos
principais, dentre
verbos, adjetivos,
substantivos, advérbios
e muitas metáforas;
2) Foram encontrados na
obra mediúnica
Estesia (que quer
dizer sensibilidade), do
Espírito Tagore, 320
vocábulos destes 590
principais de Gitanjâ
Li, representando a
significativa
porcentagem de 54% das
palavras marcantes
coincidentes entre as
duas obras!! O livro
Estesia parece uma
continuação de
Gitanjâ Li, com a
diferença de que o livro
Estesia está mais
desenvolvido, pois
enquanto Gitanjâ Li
teve somente 590
vocábulos marcantes, o
livro Estesia
teve 1.335 vocábulos
mais destacados (o que
praticamente corresponde
ao dobro de Gitanjâ
Li).
Comparação numérica das coincidências da natureza dos vocábulos
existentes nos livros
Gitanjâ Li e
Estesia
– As coincidências
perfazem inúmeras
metáforas e 320
vocábulos, a saber:
28 Verbos,
234 Substantivos,
45 Adjetivos,
13 Advérbios.
Com relação às
metáforas, que são
figuras de estilo
ou linguagem, elas
consistem numa
comparação entre dois
elementos por meio de
seus significados
imagísticos.
Didaticamente, pode-se
considerá-la como uma
comparação
que não usa o conectivo
"como", mas que
apresenta de forma
literal uma
equivalência.
Exemplo: tomou o copo
todo, em vez de se
falar tomou toda a
bebida que estava no
copo.
O mais significativo não
é a estatística das
palavras e versos (o
número de verbos, de
adjetivos, de advérbios,
de metáforas etc.), mas
sim o inconfundível
lirismo do poeta, que se
repetiu com a mesma
melodia e inspiração.
Senão vejamos:
GITANJÂ LI, verso 68, escrito por Tagore quando encarnado:
Tu és o céu e és o ninho também.
Ó tu, cheio de beleza é o teu amor que aqui, neste ninho, prende a alma
com cores, sons e
perfumes
Aqui a madrugada chega com a cesta de oiro
na mão
direita, trazendo a
grinalda da
beleza para
silenciosamente coroar a
terra.
E aqui, sobre os solitários campos que os
rebanhos deixaram, a
tarde chega por ínvios
caminhos, trazendo do
oceano ocidental do
sossego gotas frescas
de paz no seu
cântaro doirado.
Mas aí onde o céu infinito se estende para que a alma levante nele
o seu voo, aí reina
o esplendor
branco e sem
manchas. Aí não há dia
nem noite, não há
forma e nem há cor, e
nunca se ouve, nunca,
uma única palavra.
Para comparar com a obra
mediúnica, tomemos o
verso LII do Estesia,
e constatemos
principalmente o mesmo
lirismo do poeta, além
das várias coincidências
de palavras:
Vencido pela funda angústia da minha mágoa, despertei quando o
jovem rosto da manhã
adornado de luz e com
engastes de ouro no mar
das nuvens viageiras, me
convidou para o banquete
do Dia.
Tudo respirava perfume leve e os braços do vento, carregando o
pólen da vida, cantavam
nos ramos do arvoredo
delicada canção.
Saí a correr para fora, tentando fugir da furna escura dos meus
padecimentos.
A presença invisível do Bem-amado fazia-me arder em febre de
ansiedade, enquanto os
pés ligeiros das horas
corriam à frente
impondo-me fadiga e
desconforto...
Embriagado pelas paixões, meu ser estava esfaimado pela paz.
Tentando conseguir todas as conquistas, não lograva liberar-me do
punhal da melancolia
cravado no coração das
lembranças da tua
ausência.
Quando a tarde se escondeu nos longes das montanhas altaneiras,
extenuado e só, outra
vez tombei em mim
mesmo...
Por que, poderoso conquistador, não me dominaste com fortes
recursos da tua soberana
misericórdia,
livrando-me de mim
mesmo?
A noite devorou o dia, e, ao escancarar a boca negra, miríades de
astros coruscantes
compuseram o diadema da
vitória total da luz...
Só então, solitário e meditativo, compreendi como a minha canção de
dor chegara aos teus
ouvidos e me respondeste
em vibrações fulgurantes
de esperanças à
distância.
Repouso e espero.
Penetra-me, Cancioneiro do silêncio, com as tuas melodias, a fim de
que repleto de sons e
paz, eu possa doar-me ao
teu infinito poder, no
socorro aos párias do
mundo, quais eu próprio
também o sou.
Uma análise gramatical e literária dos textos de Tagore
– Constata-se que Tagore
está muitíssimo nítido e
expresso na sua
inspiração e lirismo na
obra mediúnica.
Encontram-se no verso
LII de Estesia
muitas metáforas e os
vocábulos ouro, sons,
perfume, solitário,
tarde, infinito, dia,
noite, que estão
no verso 68 de
Gitanjâ Li. Estão
também sublinhadas no
verso LII outras
palavras que são
encontradas noutros
versos de Gitanjâ Li.
Mas analisemos
gramatical e
literariamente o verso
68 da obra Gitanjâ Li
de Tagore quando
encarnado, e também o
verso III do livro
Estesia do Espírito
Tagore, psicografado
pelo médium Divaldo:
Adota-se a seguinte
legenda:
(SUBST) para substantivo
(VERB) para verbo
(ADJE) para adjetivo
(ADVÉR) para advérbio
(METÁF) para metáfora
GITANJÂ LI, verso 68
Tu és o céu (SUBST) e és o ninho também.
Ó tu, cheio de beleza (SUBST) é o teu amor (SUBST) que aqui, neste ninho,
prende a alma
(SUBST) com cores
(SUBST), sons
(SUBST) e perfumes
(SUBST).
Aqui a madrugada (SUBST) chega com a cesta de oiro (ADJE) na mão
(SUBST) direita
(ADJE),
trazendo a grinalda
(SUBST) (METÁF) da
beleza para
silenciosamente coroar a
terra (SUBST).
E aqui, sobre os solitários (ADJE) campos
(SUBST) que os
rebanhos deixaram, a
tarde (SUBST)
chega por ínvios
(ADJE) caminhos
(SUBST), trazendo do
oceano (SUBST)
ocidental do sossego
gotas (SUBST)
frescas (ADJE) de
paz (SUBST) no
seu cântaro doirado.
Mas aí onde o céu (SUBST) infinito (ADJE) se estende para que a alma
(SUBST) levante nele
o seu voo (SUBST),
aí reina (VERB) o
esplendor (SUBST)
branco (ADJE) e
sem manchas. Aí não há
dia (SUBST) nem
noite (SUBST),
não há forma e nem há
cor (SUBST), e
nunca se ouve (VERB),
nunca, uma única palavra
(SUBST).
Portanto, identificam-se
pelos menos 33 vocábulos
principais neste verso
68 de Gitanjâ Li
e uma metáfora, que são:
1.
ALMA (SUBST)
2.
AMOR (SUBST)
3.
BELEZA (SUBST)
4.
BRANCO (ADJE)
5.
CAMINHOS (SUBST)
6.
CAMPOS (SUBST)
7.
CÂNTARO (QUE QUER DIZER
VASO GRANDE) (SUBST)
8.
CÉU (SUBST)
9.
COR (SUBST)
10.
CORES (SUBST)
11.
DIA (SUBST)
12.
DIREITA (ADJE)
13.
ESPLENDOR (SUBST)
14.
FRESCAS (ADJE)
15.
GOTAS (SUBST)
16.
GRINALDA (SUBST)
17.
INFINITO (ADJE)
18.
ÍNVIOS (QUE QUER DIZER
INTRANSITÁVEL) (ADJE)
19.
MADRUGADA (SUBST)
20.
MÃO (SUBST)
21.
NOITE (SUBST)
22.
OCEANO (SUBST)
23.
OIRO (ADJE)
24.
OUVE (VERB)
25.
PALAVRA (SUBST)
26.
PAZ (SUBST)
27.
PERFUMES (SUBST)
28.
REINA (VERB)
29.
SOLITÁRIOS (ADJE)
30.
SONS (SUBST)
31.
TARDE (SUBST)
32.
TERRA (SUBST)
33.
VOO (SUBST)
(METÁF) Aqui a
madrugada chega
com a cesta de oiro
na mão direita,
trazendo a grinalda da
beleza para...
Parte deste vocabulário
do Verso 68 de Gitanjâ
Li é encontrada nos
versos XLV, XLIX, L,
LII, LIII etc. do livro
Estesia.
Com relação à obra
mediúnica, repetimos, a
primeira coisa a
destacar é o
inconfundível lirismo de
Tagore, mas, além disso,
façamos uma análise
gramatical e literária:
Vencido pela funda angústia da minha mágoa, despertei quando o jovem rosto
da manhã
adornado de luz
e com engastes de
ouro
(SUBST)
no mar das
nuvens viageiras, me convidou para o banquete do dia
(SUBST) (METÁF).
Tudo respirava perfume (SUBST)
leve e os braços
do vento
(METÁF), carregando o pólen da vida, cantavam nos ramos do
arvoredo delicada canção.
Saí a correr para fora tentando fugir da furna escura
dos meus padecimentos.
(METÁF).
A presença invisível do Bem-amado fazia-me arder em febre
de ansiedade
(METÁF),
enquanto os pés
ligeiros das horas
corriam à frente
impondo-me fadiga e
desconforto...
Embriagado pelas paixões (METÁF), meu ser estava
esfaimado pela paz
(METÁF).
Tentando conseguir todas as conquistas, não lograva
liberar-me do punhal da
melancolia cravado no
coração das
lembranças da tua
ausência
(METÁF).
Quando a tarde (SUBST) se escondeu nos longes das montanhas altaneiras
(METÁF),
extenuado e só, outra
vez tombei em mim
mesmo...
Por que, poderoso conquistador, não me dominaste com fortes
recursos da tua soberana
misericórdia,
livrando-me de mim
mesmo?
A noite (SUBST) devorou o dia (SUBST) (METÁF), e, ao escancarar a boca negra
(METÁF),
miríades de astros
coruscantes compuseram o
diadema da
vitória total da luz...
Só então, solitário (ADJET)
e meditativo, compreendi
como a minha canção
de dor chegara
aos teus ouvidos
e me respondeste em
vibrações fulgurantes de
esperanças à
distância.
Repouso e espero.
Penetra-me, Cancioneiro do silêncio, com as tuas melodias,
a fim de que repleto de
sons
(SUBST) e paz, eu possa
doar-me ao teu
infinito
(ADJET) poder,
no socorro aos párias do
mundo, quais eu
próprio também o sou.
As metáforas encontradas no texto psicografado por Divaldo
–
São pelo menos catorze
as metáforas encontradas
neste verso do livro
Estesia:
- despertei quando o jovem rosto
da manhã
adornado de luz
e com engastes de
ouro
(METÁF);
- no mar das nuvens viageiras (METÁF);
- me convidou para o banquete do dia
(METÁF);
- Tudo respirava perfume
leve
(METÁF);
- os braços do vento (METÁF);
- Saí a correr para fora tentando fugir da furna escura dos meus
padecimentos
(METÁF);
- A presença invisível do Bem-amado fazia-me arder em febre
de ansiedade
(METÁF);
- enquanto os pés ligeiros das horas corriam à frente impondo-me fadiga e desconforto
(METÁF);
- Embriagado pelas
paixões (METÁF);
- meu ser estava esfaimado pela paz (METÁF);
- não lograva liberar-me do punhal da melancolia cravado no coração das
lembranças da tua
ausência (METÁF);
- Quando a tarde (SUBST) se escondeu nos longes
das montanhas altaneiras
(METÁF);
- A noite devorou o dia (METÁF);
- ao escancarar a boca negra (refere-se à noite) (METÁF).
Este estudo é muito
revelador e traz
indiscutíveis
evidências. Naturalmente
metáforas não são
figuras de linguagem que
se usam com facilidade,
e consideremos que o
número delas é muito
superior no livro
mediúnico do que na obra
do escritor.
(1)
O título da obra de
Tagore aparece também,
em algumas versões,
grafado deste modo:
GITANJALI.
(No próximo artigo
concluiremos nossa
análise das obras de
Rabindranath Tagore.)