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As especulações
reencarnatórias no
Movimento Espírita:
analisando a
possibilidade de Chico
Xavier
ser
Allan Kardec
(Parte 2
e final)
Emmanuel, mentor
espiritual de Chico
Xavier, apresenta apenas
uma única mensagem em
toda a obra da
codificação – em O
Evangelho segundo o
Espiritismo. Não seria
muito pouco para o
suposto guia espiritual
de Allan Kardec,
assumindo-se que se
trata do mesmo Espírito
o que animou Chico
Xavier e o Codificador?
Chico Xavier, muito
provavelmente, foi o
maior médium da
história, tanto se
analisarmos sua
polivalência mediúnica
como se analisarmos a
obra oriunda dessa
potencialidade. Quando
nos referimos à sua
obra, não estamos
restringindo a análise
aos seus mais de 420
livros publicados, mas
igualmente ao mérito do
exemplo moral e da
divulgação doutrinária
que ele desenvolveu.
Vale lembrar Emmanuel no
livro “Roteiro”, quando
afirma peremptoriamente:
“Não há bom médium sem
homem bom”. Ora, segundo
Bezerra de Menezes,
conforme a excepcional
obra de Yvonne A.
Pereira “Recordações da
Mediunidade”, os médiuns
mais ostensivos e
preparados para as
tarefas mais relevantes
no campo da
espiritualidade
normalmente são aqueles
que manifestam desde a
primeira infância tal
aptidão, pois já foram
preparados para tal
tarefa. Tal observação
sugere que Chico Xavier
já teria “treinado” sua
mediunidade, sobretudo
sua psicografia, em
etapas anteriores. De
fato, um médium notável
como Chico Xavier não
poderia ser improvisado
pela espiritualidade.
Como Allan Kardec não
era propriamente um
médium ostensivo, será
que ele desenvolveu toda
a sua preparação para
atuar como médium
ostensivo na
erraticidade, sem um
teste efetivo na esfera
carnal onde atuaria em
tarefa importantíssima
por quase um século?!
Muitos argumentarão que
o Codificador teria
capacidade para uma
mudança de tarefa de tal
magnitude, mas, de
qualquer forma, é algo
surpreendente a
alteração drástica nos
estilos de trabalho
desenvolvidos nas duas
encarnações. Em “Obras
Póstumas”, os mentores
espirituais esclarecem
Allan Kardec, na
mensagem intitulada “Meu
Sucessor”, que o
sucessor do Codificador
– que para o professor
Herculano Pires se trata
de Léon Denis – tem
aptidões diferentes das
dele, Allan Kardec,
porque as duas missões
seriam bem distintas
quanto às exigências de
habilidades espirituais.
Em “Ação e Reação”,
Silas diz que a chamada
“inversão sexual” ocorre
por motivos de expiação
ou missão
Alguns confrades
espíritas, tais como
Arnaldo Rocha, afirmam
que Chico Xavier teria
confidenciado ter sido
ele a médium Ruth Celine
Japhet em sua última
encarnação. Sem
entrarmos em uma análise
mais profunda sobre essa
proposta, poderíamos
dizer que, a priori, tal
possibilidade seria, sob
o aspecto do tipo de
tarefa, mais plausível,
pois Ruth Celine Japhet
foi grande médium
psicógrafa, tendo sido
responsável pela revisão
final do texto da
primeira edição de “O
Livro dos Espíritos”,
cuja estrutura inicial
havia sido obtida por
meio das famosas filhas
do senhor Baudin, Julie
e Caroline Baudin. Ora,
somente um instrumento
que fosse de
elevadíssima confiança
mediúnica poderia
desenvolver a tarefa de
grande responsabilidade
de definir o texto final
da primeira edição de “O
Livro dos Espíritos”,
publicado em 18 de abril
de 1857. Chico Xavier,
evidentemente, poderia
perfeitamente ter sido
esse instrumento
mediúnico em uma
encarnação anterior. De
qualquer maneira,
discussões mais
profundas a respeito
dessa possibilidade
ficam limitadas em
função de nossa pouca
informação bibliográfica
sobre Ruth Celine
Japhet.
A discussão acima nos
induz, indiretamente, a
uma segunda análise
focada sobre o sexo do
corpo utilizado por
Chico em encarnações
anteriores. Chico teria
dito que a atual
encarnação seria sua
primeira encarnação na
morfologia masculina em
várias experiências.
Obviamente, Chico
poderia ter usado tal
artifício para despistar
os “pesquisadores” de
plantão, porém nesse
complexo quebra-cabeça
não deixa de ser algo
digno de menção. Em
“Ação e Reação”, o
Assistente Silas diz que
a chamada “inversão
sexual” ocorre por
motivos de expiação ou
de grande missão, o que
poderia claramente ser o
caso de Chico Xavier.
Por fim, aparentemente,
as personalidades de
Chico Xavier e de Allan
Kardec seriam
significativamente
distintas, o que pode
ser devido à influência
do meio e das
especificidades das
respectivas tarefas,
mas, talvez, as
diferentes
peculiaridades de cada
um sejam demasiadamente
representativas para
considerá-los um mesmo
Espírito.
A defesa da proposta
feita à exaustão, ora
pelos Espíritos, ora
pelos médiuns dessas
comunicações,
deixa-nos
perplexos
Admitindo, uma vez mais,
que Chico Xavier e Allan
Kardec sejam encarnações
do mesmo Espírito, por
que subitamente essa
informação tornou-se um
ponto de honra por parte
dos defensores desta
tese? Por que somente
após a morte de Chico
Xavier, quando o próprio
não poderia mais
desmentir ou confirmar a
hipótese, os defensores
dessa tese passaram a se
manifestar publicamente
de forma tão ardorosa
para defender tal ideia?
Por que lutar tão
apaixonadamente por essa
proposição?
A defesa da proposta
feita à exaustão, ora
pelos Espíritos autores
da revelação, ora pelos
médiuns dessas
comunicações, deixa-nos
perplexos! Por que isso
é tão importante? Em
vários livros de
diferentes autores
espirituais esse tema
volta à baila! Ora, tal
hipótese poderia ser
aventada em uma ou duas
obras e submetida, como
tudo o que vem do mundo
espiritual, à análise
dos espíritas para que,
com o passar do tempo,
um exame criterioso
fosse seriamente
efetuado, conforme nos
ensina Allan Kardec.
Além da eventual
fascinação, não devemos
desprezar a
possibilidade de
significativa
manifestação anímica,
bem como um processo de
caráter auto-obsessivo.
Com efeito, não sabemos
a diferença de opinião
do médium e dos
Espíritos, em função de
defenderem exasperada e
semelhantemente a mesma
ideia por todos os meios
de divulgação
disponíveis.
Em uma palestra
denominada “Encontro com
Dirigentes”, Divaldo
Franco diz que certa vez
Joanna de Ângelis
recomendou que ele não
tentasse defender os
autores espirituais que
se manifestassem por
intermédio dele,
Divaldo, incluindo ela
própria, Joanna de
Ângelis.
Realmente, tamanho
envolvimento emocional,
chegando a níveis
passionais, pode
influenciar a “filtração
mediúnica” do
psicógrafo, facilitando
a manifestação anímica.
Qual proposta é
originada da mente do
médium e qual ideia
surgiu da mente do
Espírito?
É interessante notar
que, apesar de viverem e
trabalharem em bela
sintonia com seus
protetores espirituais,
Chico, Yvonne e Divaldo
sempre permitiram que
identificássemos
minimamente a diferença
entre suas
personalidades e a dos
Espíritos que se
manifestaram ou
manifestam por suas
respectivas faculdades.
Em "O Gênio Céltico e o
Mundo Invisível" 13
mensagens atribuídas a
Kardec foram publicadas
quando
Chico já havia
nascido
No presente estudo, vale
citar obras recentemente
publicadas atribuídas ao
próprio Chico
Xavier/Espírito em que o
autor espiritual sugere
ser Allan Kardec. Ora,
Chico Xavier sempre
manteve profunda
discrição quanto à
verdadeira identidade de
André Luiz, tanto que
até hoje tem sido
debatido sobre quem
realmente seria esse
Espírito. Por que motivo
fomentaria uma
discussão, depois de
desencarnado, baseada na
ideia dele próprio Chico
Xavier ser Allan Kardec?
Se fosse para registrar
isso, não seria mais
conveniente comunicar
tal informação enquanto
encarnado, pois,
concordando ou não,
saberíamos com certeza
ser ele o portador do
comunicado?
Na obra "O Gênio Céltico
e o Mundo Invisível", de
Léon Denis (1926),
último livro publicado
pelo Apóstolo do
Espiritismo, 13
mensagens atribuídas a
Allan Kardec são
publicadas na porção
final do livro. Não
seria interessante
interrogar Chico
Xavier/Espírito sobre o
mecanismo pelo qual tais
mensagens foram obtidas,
uma vez admitindo-se a
premissa que Chico e
Kardec sejam o mesmo
Espírito?! O motivo da
questão é que Chico
Xavier nasceu em 1910 e
na época do recebimento
dessas mensagens seria
um adolescente. Ele
teria desdobrado e
tomado a personalidade
de Kardec? Isto teria
sido um fenômeno
consciente ou
inconsciente? Desde essa
época ele já sabia ser
Kardec? Ou ele teria
deixado, antes de
reencarnar, as mensagens
para que outro Espírito
as “trouxesse” à Crosta
terrestre no momento
adequado. Obviamente,
isso não seria
impossível, mas seria
algo no mínimo
inusitado. Considerando
tal possibilidade, seria
uma questão bastante
interessante para
submetermos a Chico
Xavier/Espírito
(admitindo que ele
estivesse se comunicando
mediunicamente) visando
ao nosso aprofundamento
doutrinário em matéria
de mediunidade e de ação
espiritual.
Nesta mesma linha de
raciocínio, devemos
considerar a mensagem de
Allan Kardec
psicografada na reunião
do Conselho Federativo
Nacional, por ocasião da
mudança da sede da FEB
para Brasília. O médium
foi Júlio César Grandi
Ribeiro.
Na obra intitulada
“Chico Xavier Responde”,
por exemplo, Chico
Xavier/Espírito admite a
possibilidade de
abortarem-se embriões
que sejam portadores de
problemas graves como a
chamada “anencefalia”.
Tal atitude é
terminantemente uma
postura contrária à
Doutrina Espírita.
Somente a título de
ilustração, vale lembrar
que no livro "Ação e
Reação", psicografado
por Chico Xavier, o
Assistente Silas é
radicalmente contra o
aborto, classificando
tal ato simplesmente
como "crime".
Chico Xavier estaria
entrando em contradição
com sua obra mediúnica?!
Tal comentário poderia
ser oriundo de uma
figura tão amorosa como
Chico, que sempre
combateu o aborto?!
As respostas atribuídas
a Chico Xavier em “Chico
Xavier Responde” não
correspondem à acuidade
intelectual de Chico
Xavier
Analisando outras
questões da obra, é
evidente que as
respostas atribuídas a
Chico Xavier realmente
não correspondem aos
níveis de acuidade e
profundidade
intelectuais de Chico
Xavier e de Allan
Kardec. Vale frisar, de
nenhum dos dois,
independentemente da
"possibilidade” de tais
personalidades serem o
mesmo Espírito. Se forem
o mesmo Espírito,
provavelmente não se
trata do Espírito que
responde às perguntas da
referida obra. A
capacidade de trabalho e
a intensidade hercúlea
de aproveitamento das
horas em tarefas úteis
constituem algumas das
mais impressionantes
peculiaridades de Chico
Xavier. No entanto, é
perfeitamente admissível
que ele pudesse visitar
com objetivos meramente
afetivos um amigo
médium, mantendo com ele
um diálogo simples, pois
este tipo de atitude
está inserido dentro do
contexto da caridade,
que sempre foi praticada
exaustivamente por Chico
Xavier. Por outro lado,
é difícil conceber Chico
Xavier mantendo um
diálogo de certa forma
superficial e extenso
com o objetivo de
enfeixar o respectivo
conteúdo em um livro.
Vale lembrar que Chico,
Divaldo e Raul queimaram
malas de mensagens
psicográficas assim como
a própria Yvonne Pereira
não publicou tudo o que
psicografou. Admitindo
que o contato mediúnico
seja legítimo e que o
Espírito em questão seja
realmente Chico Xavier,
esse texto deveria ser
publicado? Finalmente, o
texto de “Chico Xavier
Responde” sugere que
todos ou pelo menos a
grande maioria dos
fenômenos ditos
mediúnicos têm
predominância anímica,
minando a credibilidade
das obras mediúnicas do
Espiritismo. O próprio
Divaldo Franco afirma
que médiuns bem
desenvolvidos em tarefa
de elaboração de
conteúdo didático para o
movimento apresentam uma
participação diminuta em
sua contribuição anímica
em relação ao fenômeno
psicográfico. A
predominância do
animismo pode ser comum
para a maioria dos
médiuns em geral, mas
não para médiuns que
tenham tarefas de
ampliação de nossas
fontes verdadeiramente
doutrinárias como é o
caso de Chico Xavier,
Divaldo Franco, Yvonne
Pereira, entre outros.
“É preferível rejeitar
dez verdades a aceitar
uma única mentira”, nos
ensina Erasto em “O
Livro dos Médiuns”, pois
a verdade mais cedo ou
mais tarde se estabelece
definitivamente e uma
mentira pode gerar
correlações e conclusões
equivocadas sobre outros
assuntos relevantes.
Reflitamos e busquemos
sincera e humildemente a
Verdade.