Marcelo Henrique
Pereira:
“A dinâmica da
vida atual exige
estudo e
dedicação,
empenho e
amplitude para
compreender
melhor os
momentos pelos
quais
estamos
passando”
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Marcelo Henrique
Pereira
(foto),
gestor
administrativo
da Associação
Brasileira de
Divulgadores do
Espiritismo – ABRADE e
presidente da ADE-SC, nos
relata sua
trajetória e
analisa o
momento atual de
divulgação do
Espiritismo.
Fala-nos da
estrutura e
projetos da ABRADE, bem como
esta pode
auxiliar as
Casas Espíritas
a melhor
executarem a
comunicação
social espírita.
O Consolador:
Marcelo
Henrique, como
se tornou
espírita?
Em 1981, ao não
ter respostas
satisfatórias do
padre da igreja
de Santo
Antônio, que frequentava e
onde colaborava,
acerca de
perguntas sobre
a
|
imortalidade,
a santíssima
trindade, a
virgindade de
Maria e a
mediunidade. |
O Consolador:
Desde quando e
em quais
atividades atua
no Centro
Espírita?
Desde 1981,
quando iniciei a
frequência ao
Centro Espírita
Tereza de Jesus,
em São José
(SC), logo me
vinculando às
atividades de
estudo
doutrinário
(ESDE) e de
juventude
espírita, além
de proferir
minha primeira
palestra em
1983, aos treze
anos de idade.
O Consolador:
Quais as
características
que procura
imprimir em suas
exposições
doutrinárias?
A atuação do
expositor deve
distanciar-se,
ao máximo, da
condição de
“dono da
verdade” ou de
“único e maior
especialista da
matéria”. Não
estamos em
púlpitos ou
cátedras para
“ensinar” aos
outros o que
eles
desconhecem.
Muito pelo
contrário.
Escolho, muitas
vezes, assuntos
tidos como
polêmicos, mas
que precisam da
adequada
contextualização
conforme os
princípios e
noções
espíritas.
Costumo dizer
que toda e
qualquer matéria
tem condição de
ser analisada
sob o viés
espírita, não no
sentido de que
“o Espiritismo
tenha todas as
respostas para
as dúvidas
humanas”, mas
como indicativo
para que o
indivíduo, no
desabrochar de
suas
potencialidades,
encontre seu
caminho, pela
via do
raciocínio
lógico, da
interpretação
conforme suas
vivências e
aprendizados.
O Consolador:
Com sua longa
experiência em
diversas
entidades
espíritas, há
alguma vivência
que gostaria de
relatar-nos?
As melhores
experiências que
tive no passado
– trabalho como
educador
espírita durante
mais de duas
décadas, com
adolescentes e
jovens – foram
gratificantes no
sentido de
fornecer a eles
os fundamentos
lógico-racionais
da doutrina
espírita, sem
imposições, sem
dogmas, sem
verdades
pré-estabelecidas.
Vivenciamos um
momento
importante,
desde meados da
década de 80,
quando o mundo
vivia a
paulatina
abertura, a
democratização
das sociedades,
a quebra de
tabus e a
possibilidade de
debates
responsáveis
sobre questões
até então
encaradas como
impossíveis de
serem abordadas
com maturidade,
equilíbrio e bom
senso, como
aquelas afetas
aos
relacionamentos
humanos e à
sexualidade.
Depois, veio o
engajamento dos
espíritas nos
movimentos
sociais, já no
final da década
de 90 e por toda
a primeira
década deste
século, com a
maturação dos
ideais de
participação dos
espíritas e suas
instituições na
definição das
políticas
públicas e no
debate sério, no
campo das
ideologias,
sobre assuntos
de interesse
coletivo, nas
áreas da saúde,
educação,
assistência e
promoção social,
política e
direitos
humanos. Somos
muito felizes
por termos
participado
destes momentos
e, de certo
modo, termos
colaborado com
iniciativas que
hoje vicejam. No
presente, embora
não mais
vinculado a
atividades com
adolescentes e
jovens (educação
espírita),
acompanhamos com
certa apreensão
a redução destes
movimentos e a
(praticamente)
evasão dos
jovens que têm
procurado
movimentos mais
“liberais”, fora
do cenário
“taciturno” e
“circunspecto”
dos centros
espíritas, que,
ainda hoje, dão
pouco espaço
para os
potenciais
criativos e
dinâmicos da
juventude,
afastando estes
seres do
convívio com as
atividades
espíritas,
infelizmente. No
campo da
comunicação,
devo relatar a
riqueza de
experiências na
edição de um
periódico
espírita
impresso, a
Revista Espírita
HARMONIA, que se
iniciou em junho
de 1987 e que,
portanto, está
completando 23
anos de
existência,
sendo o
periódico mais
antigo em
circulação
permanente no
Estado de Santa
Catarina.
O Consolador:
Fale-nos da sua
motivação para
ter se envolvido
com a divulgação
espírita.
Motivação
completa, total
e diuturna.
Entendo que a
divulgação
espírita
agiganta-se
quando
convertida em
comunicação
social espírita,
permitindo a
interação, por
meio de
diferentes
mídias e
espaços, com
pessoas e
coletividades.
Na comunicação,
não há o intuito
proselitista de
angariar adeptos
ou convencer os
outros acerca de
“nossas
verdades”, mas o
espaço
importante para
a interação, o
aprendizado
recíproco, a
perspectiva do
crescimento
individual a
partir da
análise das
ideias,
argumentos e
vivências
externadas pelo
nosso
interlocutor.
O Consolador:
O que é, quais
os objetivos e a
forma de atuação
da ABRADE?
A ABRADE não é
uma entidade que
congrega
indivíduos
(pessoas
físicas) como
associados, como
é o modelo
tradicional das
instituições
espíritas.
Encampa
instituições,
isto é, pessoas
jurídicas, na
forma de
associações de
divulgadores
(municipais,
regionais ou
estaduais),
chamadas ADEs, e
entidades
congêneres, que
tenham dentro do
rol de seus
objetivos e
atividades as
prerrogativas de
divulgar e/ou
comunicar o
Espiritismo.
Contudo, na
execução de suas
ações
cotidianas,
vale-se, sim, de
pessoas,
colaboradores
que se encontram
nos mais
diferentes
Estados
brasileiros, a
grande maioria
vinculada às
entidades
filiadas à
ABRADE, mas,
também, pessoas
que não guardam
qualquer relação
com as ADEs ou
congêneres.
Referidos
companheiros se
vinculam a
projetos que a
ABRADE
desenvolve,
sempre no
sentido de dar
ampla
publicidade e
propiciar o
acesso de todos
os interessados
às iniciativas e
atividades
capitaneadas
pela nossa
Associação. A
principal
ferramenta para
referidos
projetos e ações
é a internet,
seja por meio da
página (www.abrade.com.br)
– que chamamos
de “Portal da
Comunicação
Social
Espírita”,
quanto pelas
inúmeras listas
de discussão e
disseminação da
informação que a
ABRADE mantém
nas plataformas
dos Grupos (www.grupos.com.br)
e Yahoo (www.yahoogrupos.com.br),
atualmente em
número de
quinze, conforme
a natureza,
objetivo e
alcance das
mesmas.
O Consolador:
Como surgiu a
ABRADE e como
ela está
estruturada?
A ABRADE é uma
associação
civil, espírita,
de caráter
cultural, sem
fins lucrativos.
Guarda afinidade
de propósitos
com a antiga
Associação
Brasileira de
Jornalistas e
Escritores
Espíritas (ABRAJEE),
fundada em 1976,
e que congregou
até o final da
década de 80
inúmeros
jornalistas e
escritores
espíritas,
destacando-se os
saudosos
Deolindo Amorim
e José Herculano
Pires, entre
muitos outros
expoentes. Temos
como missão
"promover e
aprimorar a
comunicação
social espírita,
fazendo
interagir as
ideias espíritas
na sociedade de
forma ética,
fraterna e
parceira,
contribuindo
para a
transformação
moral da
humanidade, a
promoção da
felicidade do
ser humano e o
equilíbrio da
natureza". Sua
estrutura é
enxuta e
moderna,
adotando, ao
invés do modelo
presidencialista
centralizador,
uma concepção de
Colegiado, com
cinco membros
efetivos, dos
quais três têm
funções
executivas
(assessoria
administrativa,
assessoria
financeira e
coordenação do
colegiado),
sendo suas
decisões tomadas
por maioria
simples, de modo
horizontal. Além
disso, existe um
órgão superior,
de caráter
orientativo e
deliberativo,
cognominado de
Conselho
Nacional de
Divulgadores do
Espiritismo (CNDE),
que congrega os
representantes
de cada uma das
filiadas e que
disciplina
diretrizes e
orientações
gerais, bem como
homologa as
atividades
desenvolvidas
pelo Colegiado.
O Consolador:
Como a ABRADE
pode auxiliar as
instituições
espíritas na sua
qualificação
para melhor
executarem a
comunicação
social
espírita?
No mais amplo
espectro
possível, uma
vez que nossa
entidade
congrega
companheiros que
são
especialistas em
diferentes
mídias e
atividades
voltadas à
comunicação
social espírita.
No entanto, a
ABRADE só pode
atuar quando
efetivamente
solicitada,
cabendo ao
interessado nos
contatar expondo
suas
necessidades e
objetivos e/ou
problemas e
dificuldades,
para que
possamos
colocá-lo em
contato direto
com um de nossos
colaboradores-especialistas,
para que os
resultados
positivos e
efetivos possam
ser alcançados
no menor lapso
de tempo
possível.
O Consolador:
Como avalia o
interesse
crescente pela
temática
espírita, em
especial no
cinema e na
televisão?
Como uma
decorrência
natural do
processo
evolutivo das
consciências
individuais e do
conjunto de
seres que ora
estagiam no
Plano Terrestre.
A (re)
encarnação de
criaturas mais
comprometidas
com ideais
espirituais e
com planos
específicos de
reajustamento e
construção
espiritual no
planeta
endereça-as à
busca de
informações mais
precisas sobre a
vida espiritual,
já que, estando
sob a condição
física, as
noções
espirituais das
existências
sucessivas não
se encontram no
consciente do
ser. Como o
interesse é a
mola propulsora
ou, no dizer de
Kardec, o móvel
das ações
humanas, é
natural que as
indústrias
cinematográfica
e de
entretenimento
(televisão e
outras mídias)
produzam
material que tem
mercado e
consumidores
interessados e
ávidos pelas
“novidades”.
Mas um número
significativo
das pessoas que
procuram pelas
informações
espirituais –
atraídos, em
grande parte,
pelas películas
e novelas
espiritualistas
ou com relatos
de fatos ou
temas
genuinamente
espíritas –
permanece
interessado e
acaba se
vinculando a
atividades e
instituições
espíritas,
fazendo
progredir
estudos e
aprendizados
neste diapasão.
Cabe aos
dirigentes
espíritas
aproveitar o
“momento” em que
a Doutrina
Espírita é
divulgada (ainda
que, sob o
aspecto técnico
ou formal, se
percebam, aqui e
ali, algumas,
digamos,
“impropriedades”
doutrinárias),
para explicar a
dinâmica das
Leis
Espirituais, os
fundamentos e
princípios da
Doutrina
Espírita e,
principalmente,
através de
eventos
específicos
(sugerimos,
principalmente,
a exibição por
meio de DVD dos
filmes ou
capítulos de
novelas e o
sequencial
debate com
estudiosos
pré-selecionados,
com a
recomendada
participação do
público na forma
de
questionamentos
ou observações,
para que se
possa aproveitar
o rico material
que, cada vez
mais, está ao
dispor de todos,
por meios mais
acessíveis e em
diferentes
mídias, para a
adequação do
discurso
“artístico”
(filmes/novelas)
ao pensamento
genuinamente
kardeciano.
O Consolador:
Quais os
desafios e as
oportunidades
dos novos
paradigmas da
sociedade atual
como a
facilitação das
relações
virtuais?
Muitos desafios.
A dinâmica da
vida atual exige
estudo e
dedicação,
empenho e
amplitude para
compreender
melhor os
momentos pelos
quais estamos
passando. É
certo que uma
gama de
Espíritos
interessados em
progredir mais
rapidamente tem
retornado à
Terra,
facilitando a
disseminação de
conceitos e
elementos de
espiritualidade,
embora, nesta
verdadeira
“salada de
frutas” dos dias
atuais, com toda
a gama de
diversidade de
entendimentos,
seja necessário
algum filtro.
Nós temos o
nosso, que é o
edifício
kardeciano, o
conjunto de
princípios/fundamentos
legados pelo
mestre lionês,
num trabalho
hercúleo e
praticamente
solitário (sob o
viés físico),
contando, é
claro, com
médiuns
intermediários e
inteligências
desencarnadas que
propiciaram o
descortino de
diversas
informações, até
então
inacessíveis.
Quando se
menciona a
“facilitação das
relações
virtuais”
devemos atentar
para dois
contextos: um, o
da aproximação
entre os seres,
em face da
facilidade dos
(novos) meios e
instrumentos de
comunicação,
reduzindo as
distâncias entre
as pessoas;
outro, o da artificialização
das relações,
quando as
pessoas se
ocultam por
detrás dos
e-mails ou “nicks”,
com praticamente
nenhum contato
físico ou
presencial. No
primeiro
espectro, vemos
como
importantíssima
a interação
propiciada por
meio das
ferramentas
virtuais,
possibilitando a
realização de
tarefas e/ou a
celeridade dos
resultados,
antes
impossíveis ou
inimagináveis.
No segundo,
vemos com
preocupação a
substituição dos
afetos e das
convivências por
experiências ou
contextos
virtuais, que
distanciam as
pessoas do mundo
real e, em
muitas vezes,
provocam o
aparecimento de
dificuldades ou
enfermidades,
peculiares aos
novos tempos.
O Consolador:
Como a internet
tem auxiliado na
divulgação
espírita? O que
ainda pode ser
explorado?
Os especialistas
da ABRADE nesta
área são
praticamente
unânimes em
apontar uma
relativa timidez
dos espíritas no
uso da internet.
Exceto em função
do e-mail
enquanto
ferramenta de
divulgação de
ações,
iniciativas ou
eventos
espíritas,
sobretudo no
sentido de que
as pessoas
possam saber do
que está
acontecendo e,
assim,
programar-se
para participar,
circunstância
que tem gerado
bons resultados
e diminuído os
custos de
veiculação das
atividades, as
instituições
espíritas ainda
concebem os
sites (webpages)
como se fossem
meros endereços
de consulta,
principalmente
para a
coleta/uso de
mensagens ou
textos de
caráter
doutrinário. Por
isto a ABRADE
tem procurado
disseminar o
conceito de
“Portal da
Comunicação
Social Espírita”
expresso em seu
site e nos
demais,
pertencentes a
entidades
espíritas, para
que eles sejam,
em verdade,
portas de
entrada em que o
indivíduo possa
interagir,
dinamicamente,
recebendo
respostas
rápidas e
dialogando,
constantemente,
com os
responsáveis/colaboradores
para o
atendimento de
suas
necessidades.
Também
pretendemos que
nosso endereço
seja um dinâmico
banco de dados,
com projetos e
iniciativas que
possam ser
copiados pelas
instituições,
desenvolvendo-se
ações espíritas
nos mais
diversos cantos
de nosso país,
aproveitando as
experiências
bem-sucedidas e
as orientações
que esperamos
estejam
disponíveis para
acesso público,
a partir, é
claro, da
própria
disponibilização,
por parte dos
divulgadores/comunicadores,
que cedem à
ABRADE seus
materiais e
textos para
download.
O Consolador:
Suas palavras
finais.
Agradecemos a
inigualável
oportunidade de
O Consolador
para a difusão
das ideias
comunicativas e
divulgacionais
de nossa ABRADE,
tendo em vista a
respeitabilidade
deste meio
midiático em
nosso
meio/movimento
espírita e o seu
alcance no
Brasil e no
exterior.
Esperamos,
ainda, que as
ideias expostas
nestes diálogos
possam atrair
novos
interessados na
difusão do
conhecimento
espírita, para
que possamos
formalizar
parcerias ou
desenvolvermos
atividades/projetos
conjuntos, os
quais têm como
destinatário o
ser, o Espírito
que retorna ao
vaso físico com
o objetivo de
ser feliz, de
melhorar-se e,
com isso,
aprimorar o
mundo em que
vive.