André Trigueiro:
“O meio ambiente
começa no meio
da gente”
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André Trigueiro
(foto),
autor do livro
“Espiritismo e
Ecologia”, é
jornalista com
pós-graduação em
Gestão Ambiental
pela COPPE/UFRJ,
criador e
professor da
disciplina
“Jornalismo
Ambiental” no
curso de
Comunicação
Social da
PUC/RJ, repórter
e apresentador
do “Jornal das
Dez” da Globo
News e do
programa
“Cidades e
Soluções”, da
mesma emissora,
do qual é
editor-chefe.
Atua nas Rádios
CBN e Rio de
Janeiro, em que
aborda o meio
ambiente, sendo
também expositor
espírita com
ampla atuação
pelo Brasil.
Como você
colocaria para o
espírita,
|
para o centro
espírita e o
movimento
espírita, a
questão da
ecologia? |
Ecologia
significa estudo
da casa. E a
gente precisa
entender como
essa ciência se
resolve e
perceber como é
sinérgica, como
ela guarda uma
profunda
identificação
com uma visão do
universo que o
Espiritismo traz
há 154 anos.
Então a gente
vai perceber
sinergia do
Espiritismo com
Ecologia em
passagens da
Gênese e em
capítulos d´O
Livro dos
Espíritos que
falam da Lei de
Destruição e Lei
de Conservação.
A
Espiritualidade
tem se
manifestado a
este respeito?
Vamos citar
apenas alguns
exemplos de
autores
espirituais
consagrados no
Brasil pelas
mediunidades de
Chico Xavier e
Divaldo Franco,
como André Luiz,
Emmanuel e
Joanna de
Ângelis que, em
diferentes
livros,
denunciam o
risco que a
humanidade corre
quando não
presta atenção
na sua casa
planetária e
numa nova ética
que deve
inspirar a forma
como nos
apropriamos dos
recursos
naturais. Esta
casa não nos
pertence. Ela
nos serve de lar
e de abrigo em
diferentes
temporadas e
jornadas
evolutivas e nós
somos
responsáveis
pela sua
manutenção, pelo
seu bom
funcionamento.
Deus delega.
Deus terceiriza.
Como está
reagindo o
movimento
espírita como um
todo em relação
a este assunto?
Eu estou muito
feliz de ver que
antes de lançar
o livro já havia
algumas casas
espíritas que
levavam esta
mensagem, já
trabalhavam os
assuntos da
sustentabilidade
nas suas
rotinas.
Você citaria
algumas casas?
Para não ser
injusto, porque
são muitas, eu
vou falar apenas
de uma que me
parece a mais
longeva, que é a
Instituição
Espírita Bezerra
de Menezes, de
Porto Alegre-RS,
que realiza um
autêntico
trabalho de
educação
ambiental,
referencial para
espíritas e
não-espíritas.
Para se ter uma
ideia, tem gente
que liga para a
instituição para
saber onde é que
tem coleta
seletiva de
lixo, tamanho o
engajamento
deles nessa
área. Então a
receptividade
tem sido muito
boa.
Entendemos que o
seu livro
“Espiritismo e
Ecologia”
apresenta um
excelente
contributo para
o tema junto ao
nosso movimento.
Como ele surgiu?
A editora da
FEB, que é uma
editora
centenária, por
conta de um
projeto, acatou
a ideia de fazer
o primeiro livro
em papel
reciclado. É um
livro
certificado
ambientalmente e
não apenas um
papel reciclado.
Ele resume as
ideias básicas
que venho
apresentando em
palestras e
seminários
organizados em
casas espíritas
onde os assuntos
ecológicos
passaram a
demandar mais
atenção de uns
tempos para cá.
Tanto o
Espiritismo
quanto a
Ecologia
oferecem
ferramentas
importantes para
a compreensão da
realidade que
nos cerca.
Como está a
venda e qual a
repercussão do
seu livro hoje?
Já são quase
30.000
exemplares
vendidos.
Estamos na
terceira edição,
agora revisada e
ampliada. Vejo,
por onde passo,
que a cada dia
as pessoas estão
se interessando
mais pelo
assunto. Existem
até colégios que
já estão
programando
excursões de
alunos aos
Departamentos de
Beneficiamento
do Lixo e da
água e do
esgoto, numa
grande ação de
cidadania e
informando às
crianças algo
que necessita
ser divulgado em
grande escala.
Nos eventos
espíritas de
grande
repercussão este
assunto já está
sendo tratado?
No III Congresso
Brasileiro de
Espiritismo
realizado em
Brasília em
2010, vimos a
receptividade ao
tema “Ecologia”
na obra de Chico
Xavier. Este
tema também
esteve presente
no Congresso
Espírita Mundial
no mês de
outubro daquele
ano, em
Valência, na
Espanha. Então,
estamos vendo
uma
receptividade e
um interesse de
quem está
coordenando o
movimento
espírita em
emprestar
celeridade ao
processo de
transmissão de
informação que
remete a
Ecologia e
Espiritismo.
E o jovem
espírita? Como
vê seu
engajamento
nesse processo?
O jovem
espírita, a meu
ver, pode
consagrar parte
do seu
entusiasmo,
dinamismo,
vigor,
disposição de
fazer algo
diferente na
direção de um
mundo melhor e
mais justo que é
o mundo
sustentável. Há
uma profunda
identificação
dos temas
ecológicos com a
juventude. É uma
sinergia muito
evidente pra
mim. O movimento
ambientalista se
apropria muito e
ele nasce a
partir,
exatamente, de
uma indignação
juvenil, eu
diria quase
adolescente em
relação à forma
como o mundo se
apresenta.
Para vocês,
ambientalistas e
estudiosos do
assunto, como o
jovem vê o mundo
hoje?
O jovem encontra
um mundo que tem
uma
configuração. Aí
descobre que ele
é regido por um
modelo de
desenvolvimento
ecologicamente
predatório,
socialmente
perverso e
politicamente
injusto.
Descobre também
que esse mundo
não só não
enfrenta com a
devida firmeza o
combate à
miséria e à
pobreza como
também envenena
a água, polui o
ar e desertifica
o solo.
Portanto, temos
um cenário muito
“saboroso” para
o jovem chegar,
se manifestar e
ajudar a
construir algo
diferente.
E como fazer?
Eu não sou mais
jovem, tenho
quarenta e cinco
anos e já
participei de
mocidade e
naquela época!
Se hoje eu já
sou meio
espoleta,
naquela época eu
sentia os
hormônios em
ebulição. A
gente fica com a
noção de que
está vivendo o
auge da
disponibilidade
energética para
a transformação
da realidade.
Pois bem. Está
feito o convite.
O que não falta
é necessidade de
repensar o
modelo,
reconstruir a
realidade,
enxergar
diferente o que
está aí.
Muitos apregoam
que estamos
vivendo o
apocalipse.
Todas essas
manifestações
abruptas da
natureza colocam
as pessoas
preocupadas e
receosas. O que
você tem a dizer
sobre isto?
Bom, em primeiro
lugar, não sou
eu. Kardec
afirma que não
teríamos no
planeta a
necessidade de
um nível de
destruição
catastrófico
como alguns
entendem que o
apocalipse de
João sugere. Na
verdade está em
curso o processo
de transição com
todas as suas
agruras. O
planeta se
modifica, sim.
Partes dessas
mudanças ocorrem
a partir de
escolhas que nós
fazemos.
E os recentes
terremotos como
os de Haiti,
Chile e China,
de grandes
proporções, que
aconteceram ano
passado, bem
como os vulcões
que têm
complicado a
vida de muitas
pessoas. Como
ver essas
reações da
natureza?
O que eu acho é
que a gente tem
que ter sempre o
cuidado e ainda
seguindo as
recomendações de
Kardec, muito
sensatas, de
indagar da
ciência sobre o
que ela tem a
dizer no que
respeita às
experiências
recentes de
terremotos no
Haiti, no Chile
e na China ou do
vulcão
adormecido que
entrou em
erupção na
Islândia. Tudo
isso aconteceu
em apenas cinco
meses e muitos
catastrofistas
usaram esses
fenômenos
naquela época
como pretexto
para afirmar que
o mundo está
acabando e que é
o apocalipse.
Houve o recente
tsunami do
Japão...
Sim, o Japão é
um arquipélago
com três placas
tectônicas se
batendo. Há
terremotos todos
os dias, muitos
deles
imperceptíveis.
Abalos naquela
região são quase
que normais.
Aliás, a
expressão
tsunami é de
origem japonesa.
Claro que as
pessoas se
assustam com as
notícias, mas
elas circulam em
grande escala e
em muito pouco
tempo.
E o que os
sismólogos
dizem?
Se conversarmos
com eles vão
dizer que os
terremotos não
estão ocorrendo
fora da média.
Não há alteração
na frequência
dos abalos
sísmicos.
E os
vulcanólogos?
Vão dizer que
todo vulcão
adormecido um
dia desperta,
pode demorar
mais ou menos.
Se não desperta
não é vulcão
adormecido, é
vulcão extinto.
Então a
categoria vulcão
adormecido, como
foi o da
Islândia, sugere
que tenhamos
sempre a
expectativa de
que um dia ele
entra em
erupção. Se isso
colapsou, de
forma sem
precedentes, o
tráfego aéreo
internacional
naquela
oportunidade, o
planeta não tem
nada a ver com
isto. Ele existe
há 4,5 bilhões
de anos, sempre
houve terremoto,
maremoto,
tsunami e
vulcão.
O que
necessitamos
fazer para
minimizar tantas
informações e
conclusões
distorcidas?
Buscar entender
como este mundo
funciona. Em
primeiro lugar
temos que
declarar o nosso
analfabetismo
ambiental para
corrigir esse
rumo. Reconhecer
a nossa
ignorância,
instruir-nos
buscando
informações para
capacitar-nos e
não vaticinar o
fim do mundo com
tanta facilidade
como está
acontecendo.
Temos que ter
mais
responsabilidade
perante as
coisas que
dizemos.
Mudando de
assunto, em suas
palestras você
costuma dizer
que somos feitos
de poeiras
estelares. Como
é isto?
Na Doutrina
Espírita
reconhecemos a
existência do
fluido cósmico
universal, que é
a matéria-prima
do universo.
Somos feitos
desse fluido
cósmico
universal assim
como tudo que
existe. Dentro
da Doutrina
aprendemos
também que em
cada diferente
morada do Pai,
lembrando aqui a
passagem
evangélica, os
seus habitantes
são constituídos
dos elementos de
cada um desses
planetas. Sim,
nós somos feitos
dos mesmos
elementos
constitutivos da
Terra.
Na Bíblia
encontramos a
citação “Do pó
viestes para o
pó voltareis”.
Estaria aí o
significado
oculto desta
citação?
Esta citação não
é uma retórica
bíblica. É um
fato físico nos
reconhecermos
pertencentes ao
mesmo elemento
que constitui o
nosso mundo.
Isto cria um
elo, cria uma
identificação
maior com a
nossa casa
planetária. Acho
também muito
importante
termos ciência
de que não é
possível separar
o “nós” do meio
ambiente ou da
natureza. Nós
somos o meio
ambiente, nós
somos a
natureza. O meio
ambiente começa
no meio da
gente.
Dentro deste
assunto que
temas você
sugere para as
rotinas de
palestras nas
casas
espíritas?
“Espiritismo
e Ecologia” é um
bom tema dentro
das várias
possibilidades.
É um assunto que
vai tratar de
pontos de
conexão e pontos
de intercessão
entre duas
correntes de
pensamento que
guardam
identificação.
Outro tema:
“Consumo
Consciente”.
Precisamos
discutir essa
questão. Acho
que é um tema
evangélico.
Vamos descobrir
que não apenas é
possível ser
feliz com menos
como também é
absolutamente
necessário ser
feliz com menos
e isto é quase
uma condição,
para não nos
perdermos nos
labirintos do
apego à matéria.
Quem se declara
consumista se
declara alguém
muito afinado
com o estilo de
vida
predominante nos
mundos
primitivos,
porque é uma
característica
dos habitantes
dos mundos
primitivos o
apego à matéria.
Então precisamos
abrir espaços
nos centros
espíritas para
discutir sobre o
consumo.
Qual é a sua
concepção sobre
o consumismo?
Eu diria sem
hesitar, dentro
daquilo que
percebo, dentro
daquilo que
imagino e que
seja coerente
com a Doutrina,
que o consumismo
atenta contra a
nossa evolução
espiritual,
portanto,
significa uma
armadilha
existencial para
você se
deslumbrar com
compras,
shoppings,
promoções,
liquidações,
divisão em
quinze vezes sem
juros... Quer
dizer: aquilo
que parece muito
sedutor e
atraente pode
constituir –
cada caso é um
caso, não posso
generalizar –
armadilhas, onde
a pessoa se
deslumbra com a
matéria e
impunemente
mergulha num
universo
sensorial que é
capcioso. Ele
compromete o
foco principal e
a importância
que se deve dar
àquilo que
viemos fazer
aqui. O que
estamos fazendo
no mundo
material?
Mergulhamos na
carne com que
objetivo?
Precisamos então
descobrir que
consumo
consciente tem
tudo a ver com
evolução
espiritual.