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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 5 - N° 217 - 10 de Julho de 2011
ANTONIO AUGUSTO NASCIMENTO
acnascimento@terra.com.br
Santo Ângelo, Rio Grande do Sul (Brasil)

 
Marlene Bertoldo da Silva:

“Por maior que seja a nossa dor, nós nunca estamos sozinhos”

 A confreira gaúcha, acometida recentemente por grave enfermidade, recomenda que, diante da dor e da
doença, devemos ter tranquilidade e fé em Deus
e nos amigos benfeitores

 

Marlene Bertoldo da Silva (foto), graduada em Serviço Social, já aposentada do serviço público, é a atual diretora do departamento de Assistência e Promoção Social Espírita da Federação Espírita do Rio Grande do Sul. Sempre ativa e responsável, mesmo durante a grave enfermidade que a acometeu, manteve-se atuante, estimulando e inspirando a muitos confrades.   

Na entrevista que gentilmente nos concedeu, ela nos fala, dentre outros assuntos, sobre a enfermidade que enfrentou com coragem e otimismo e também sobre os desafios e oportunidades que se nos deparam na assistência social espírita.  
 

Quando e como conheceu a Doutrina Espírita? 


Nasci em lar espírita. Meus pais e meus avós maternos já estudavam O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns.  

Você participa de qual Centro Espírita e em quais atividades está atuando? 

Aos 18 anos de idade iniciei minhas atividades mediúnicas na Sociedade Espírita Humberto de Campos, na cidade gaúcha de Canoas, e fiz parte do grupo que fundou a Sociedade Espírita Fraternidade, no bairro Estância Velha, da mesma cidade. Atualmente estou trabalhando na Associação Espírita Allan Kardec, também localizada em Canoas, e sou a atual diretora do Departamento de Assistência e Promoção Social Espírita na Federação Espírita do Rio Grande do Sul.  

O que significa para você sua vinculação ao Movimento Espírita?  

É a minha vida, pois costumo dizer que o Espiritismo é a nossa história. 

Quais os desafios e oportunidades da assistência social espírita em nosso país? 

Como desafios, vejo a necessidade de sensibilizar os corações das pessoas – ouso dizer, até mesmo de alguns espíritas – para as questões sociais. A oportunidade decorre do momento que estamos vivenciando no qual o centro espírita tem de atuar com mais intensidade, montando seus projetos sociais para qualificar o atendimento às pessoas que dele necessitam, tanto espiritualmente como materialmente, para cumprir efetivamente sua função social. 

O que você recomendaria aos dirigentes dos Centros Espíritas que ainda não estruturaram seu Departamento de Assistência Social? 

Que reflitam mais sobre a realidade espiritual e os conhecimentos que a doutrina nos oferece para que consigamos realmente vivenciar o Evangelho de Jesus. Hoje a Casa Espírita tem papel muito importante na sociedade, pela quantidade de pessoas em vulnerabilidade social que atende e os serviços que presta a essa população. É necessário que tenhamos a consciência desse comprometimento social. Primeiramente, porque trabalhamos com crianças e é fundamental que estejamos regularizados junto aos municípios para não corrermos nenhum risco de sofrer alguma penalidade. Segundo, porque Allan Kardec em A Gênese, cap. XVIII, item 15, afirma-nos: “Quem quer que haja meditado sobre o Espiritismo e suas consequências e não o circunscreva à produção de alguns fenômenos terá compreendido que ele abre à humanidade uma estrada nova e lhe desvenda horizontes infinitos”. É preciso, pois, preparar-nos para realizar tarefas efetivas na área social, qualificando-nos e fazendo parte da rede social da sociedade civil, conforme nos diz no item 21 do mesmo capítulo: “Assim é que vemos fundar-se uma imensidade de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o influxo e por iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração...”.

Você enfrentou uma enfermidade grave há pouco tempo. O que pode nos contar desta experiência? 

Realmente passei por um processo, posso dizer, depurativo e muito gratificante. Tive linfoma não-Hodgkin no sistema imunológico, com vários nódulos no fígado. (1) Em fevereiro de 2008 já não andava sentindo-me bem, tinha ido ao médico e solicitado exames. No grupo mediúnico que dirigia, recebi uma mensagem de um Espírito amigo que dizia que eu iria passar por um processo que poderia ser pior, mas que eu tivesse fé, que eles estariam comigo.

Em março de 2008 a Elmira Pelufo veio buscar-me pra trabalhar na Federação Espírita do Rio Grande do Sul (FERGS) e eu, em plena bateria de exames médicos, recusei-me a ir, aleguei o meu despreparo, pois nunca aceitara cargo de diretoria. Como iria trabalhar na FERGS? Mas a insistência foi tanta que acabei aceitando. Isso ocorreu alguns dias antes do meu aniversário em 19 de março. Na semana seguinte, mais precisamente no dia 22, fui à FERGS me apresentar e no início de abril veio o diagnóstico. Comecei o tratamento em maio, mas não conseguia cumprir o prazo de 21 em 21 dias por causa da medula e o tratamento prolongou-se até fevereiro de 2009, com oito sessões de quimioterapia.

Só tenho que agradecer pelo carinho e o socorro da espiritualidade por me chamar à tarefa nesse período de tratamento. Até pouco tempo, quando das sessões de irradiações de que eu participava na FERGS, bem como no mediúnico, eu sentia o tratamento espiritual que me dispensavam... 

Quando teve o diagnóstico da neoplasia, o que a fé significou para você?  

Quando peguei o envelope e o abri, tive, posso dizer, em uma fração de segundos, sensação de medo, porque o tratamento é muito agressivo, mas ao mesmo tempo pensei: - Veio pra mim! É comigo mesmo! A minha preocupação era a minha família, pois estávamos atendendo uma prima que morava ao lado da minha casa, em estado terminal de câncer no fígado. E o meu problema era, também, no fígado, no qual tive vários nódulos. Como contar?  

O que mudou a partir dessa provação? Sua rotina alterou-se? 

É claro que a rotina mudou, pela fragilidade física em que a gente fica, mas mesmo assim trabalhei durante o período do tratamento. Houve uma ocasião em que fiz quimioterapia na sexta e fui ministrar um seminário no sábado. Algumas vezes não viajei, pois a viagem coincidia com o período em que minha imunidade estava muito baixa, obedecendo assim à orientação médica. Senti-me muito protegida pela espiritualidade em todos os momentos. A presença dos amigos era tão intensa que até a enfermeira percebeu, pois quando da primeira aplicação da quimioterapia ela parou meio assustada e perguntou o que estava acontecendo. Eu lhe perguntei: - O que foi? Ela disse-me: Está cheio de branquinhos aqui! E eu respondi: Não se preocupe, são meus amigos! A partir daí o tratamento se desenvolveu com muita tranquilidade, embora minha medula não reagisse. Tive, então, de fazer análise de medula duas vezes para ver se não estava comprometida. Graças a Deus, não estava.  As pessoas me perguntam se eu mudei. Eu acho que continuo a mesma pessoa, um pouco mais tranquila. Eu já sabia que iria passar por um processo de depuração, porque no íntimo acredito que todos nós sabemos. 

Como sente cada novo dia?  

Sinto-me muito bem espiritualmente, muito confortada, procuro fazer sempre o melhor que posso, por mim e por todos. Passei pela terceira revisão e todos os exames (28 exames de sangue, uma tomografia computadorizada geral e uma cintilografia geral) deram bons resultados.  

Que gostaria de dizer a quem no momento passa por enfermidade ou tem alguém na família que por isso esteja passando? 

Que devemos ter tranquilidade e fé em Deus e nos amigos benfeitores. Tudo o que devemos passar, vamos passar, mas que não façamos dessas ocasiões momentos de tristeza ou desespero. Deus sabe o que é melhor pra nós. 

Suas palavras finais. 

Por maior que seja a nossa dor, nós nunca estamos sozinhos. Existe uma plêiade de companheiros zelando por nós.
 

(1) Linfoma não-Hodgkin (LNH) é uma neoplasia maligna que se origina nos linfonodos (gânglios), que são muito importantes no combate a infecções. Foi assim denominada de maneira a distingui-la da doença de Hodgkin, um subtipo particular de linfoma. 



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita