Marlene Bertoldo
da Silva:
“Por maior que
seja a nossa
dor, nós nunca
estamos
sozinhos”
A
confreira
gaúcha,
acometida
recentemente por
grave
enfermidade,
recomenda que,
diante da dor e
da
doença, devemos
ter
tranquilidade e
fé em Deus
e nos amigos
benfeitores
|
Marlene Bertoldo
da Silva
(foto),
graduada em
Serviço Social,
já aposentada do
serviço público,
é a atual
diretora do
departamento de
Assistência e
Promoção Social
Espírita da
Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul.
Sempre ativa e
responsável,
mesmo durante a
grave
enfermidade que
a acometeu,
manteve-se
atuante,
estimulando e
inspirando a
muitos
confrades.
Na entrevista
que gentilmente
nos concedeu,
ela nos fala,
dentre outros
assuntos, sobre
a enfermidade
que enfrentou
com coragem e
otimismo e
também sobre os
desafios e
oportunidades
que se nos
deparam na
assistência
social
espírita.
|
Quando e como
conheceu a
Doutrina
Espírita? |
Nasci em lar
espírita. Meus
pais e meus avós
maternos já
estudavam O
Livro dos
Espíritos e
O Livro dos
Médiuns.
Você participa
de qual
Centro Espírita
e em quais
atividades está
atuando?
Aos 18 anos de
idade iniciei
minhas
atividades
mediúnicas na
Sociedade
Espírita
Humberto de
Campos, na
cidade gaúcha de
Canoas, e fiz
parte do grupo
que fundou a
Sociedade
Espírita
Fraternidade, no
bairro Estância
Velha, da mesma
cidade.
Atualmente estou
trabalhando na
Associação
Espírita Allan
Kardec, também
localizada em
Canoas, e sou a
atual diretora
do Departamento
de Assistência e
Promoção Social
Espírita na
Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul.
O que significa
para você sua
vinculação ao
Movimento
Espírita?
É a minha vida,
pois costumo
dizer que o
Espiritismo é a
nossa história.
Quais os
desafios e
oportunidades da
assistência
social espírita
em nosso país?
Como desafios,
vejo a
necessidade de
sensibilizar os
corações das
pessoas – ouso
dizer, até mesmo
de alguns
espíritas – para
as questões
sociais. A
oportunidade
decorre do
momento que
estamos
vivenciando no
qual o centro
espírita tem de
atuar com mais
intensidade,
montando seus
projetos sociais
para qualificar
o atendimento às
pessoas que dele
necessitam,
tanto
espiritualmente
como
materialmente,
para cumprir
efetivamente sua
função social.
O que você
recomendaria aos
dirigentes dos
Centros
Espíritas que
ainda não
estruturaram seu
Departamento de
Assistência
Social?
Que reflitam
mais sobre a
realidade
espiritual e os
conhecimentos
que a doutrina
nos oferece para
que consigamos
realmente
vivenciar o
Evangelho de
Jesus. Hoje a
Casa Espírita
tem papel muito
importante na
sociedade, pela
quantidade de
pessoas em
vulnerabilidade
social que
atende e os
serviços que
presta a essa
população. É
necessário que
tenhamos a
consciência
desse
comprometimento
social.
Primeiramente,
porque
trabalhamos com
crianças e é
fundamental que
estejamos
regularizados
junto aos
municípios para
não corrermos
nenhum risco de
sofrer alguma
penalidade.
Segundo, porque
Allan Kardec em
A Gênese, cap.
XVIII, item 15,
afirma-nos:
“Quem quer que
haja meditado
sobre o
Espiritismo e
suas
consequências e
não o
circunscreva à
produção de
alguns fenômenos
terá
compreendido que
ele abre à
humanidade uma
estrada nova e
lhe desvenda
horizontes
infinitos”. É
preciso, pois,
preparar-nos
para realizar
tarefas efetivas
na área social,
qualificando-nos
e fazendo parte
da rede social
da sociedade
civil, conforme
nos diz no item
21 do mesmo
capítulo:
“Assim é que
vemos fundar-se
uma imensidade
de instituições
protetoras,
civilizadoras e
emancipadoras,
sob o influxo e
por iniciativa
de homens
evidentemente
predestinados à
obra da
regeneração...”.
Você enfrentou
uma enfermidade
grave há pouco
tempo. O que
pode nos contar
desta
experiência?
Realmente passei
por um processo,
posso dizer,
depurativo e
muito
gratificante.
Tive linfoma
não-Hodgkin no
sistema
imunológico, com
vários nódulos
no fígado.
(1)
Em fevereiro de
2008 já não
andava
sentindo-me bem,
tinha ido ao
médico e
solicitado
exames. No grupo
mediúnico que
dirigia, recebi
uma mensagem de
um Espírito
amigo que dizia
que eu iria
passar por um
processo que
poderia ser
pior, mas que eu
tivesse fé, que
eles estariam
comigo.
Em março de 2008
a Elmira Pelufo
veio buscar-me
pra trabalhar na
Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul (FERGS)
e eu, em plena
bateria de
exames médicos,
recusei-me a ir,
aleguei o meu
despreparo, pois
nunca aceitara
cargo de
diretoria. Como
iria trabalhar
na FERGS? Mas a
insistência foi
tanta que acabei
aceitando. Isso
ocorreu alguns
dias antes do
meu aniversário
em 19 de março.
Na semana
seguinte, mais
precisamente no
dia 22, fui à
FERGS me
apresentar e no
início de abril
veio o
diagnóstico.
Comecei o
tratamento em
maio, mas não
conseguia
cumprir o prazo
de 21 em 21 dias
por causa da
medula e o
tratamento
prolongou-se até
fevereiro de
2009, com oito
sessões de
quimioterapia.
Só tenho que
agradecer pelo
carinho e o
socorro da
espiritualidade
por me chamar à
tarefa nesse
período de
tratamento. Até
pouco tempo,
quando das
sessões de
irradiações de
que eu
participava na
FERGS, bem como
no mediúnico, eu
sentia o
tratamento
espiritual que
me
dispensavam...
Quando teve o
diagnóstico da
neoplasia, o que
a fé significou
para você?
Quando peguei o
envelope e o
abri, tive,
posso dizer, em
uma fração de
segundos,
sensação de
medo, porque o
tratamento é
muito agressivo,
mas ao mesmo
tempo pensei: -
Veio pra mim! É
comigo mesmo! A
minha
preocupação era
a minha família,
pois estávamos
atendendo uma
prima que morava
ao lado da minha
casa, em estado
terminal de
câncer no
fígado. E o meu
problema era,
também, no
fígado, no qual
tive vários
nódulos. Como
contar?
O que mudou a
partir dessa
provação? Sua
rotina
alterou-se?
É claro que a
rotina mudou,
pela fragilidade
física em que a
gente fica, mas
mesmo assim
trabalhei
durante o
período do
tratamento.
Houve uma
ocasião em que
fiz
quimioterapia na
sexta e fui
ministrar um
seminário no
sábado. Algumas
vezes não
viajei, pois a
viagem coincidia
com o período em
que minha
imunidade estava
muito baixa,
obedecendo assim
à orientação
médica. Senti-me
muito protegida
pela
espiritualidade
em todos os
momentos. A
presença dos
amigos era tão
intensa que até
a enfermeira
percebeu, pois
quando da
primeira
aplicação da
quimioterapia
ela parou meio
assustada e
perguntou o que
estava
acontecendo. Eu
lhe perguntei: -
O que foi? Ela
disse-me: Está
cheio de
branquinhos
aqui! E eu
respondi: Não se
preocupe, são
meus amigos! A
partir daí o
tratamento se
desenvolveu com
muita
tranquilidade,
embora minha
medula não
reagisse. Tive,
então, de fazer
análise de
medula duas
vezes para ver
se não estava
comprometida.
Graças a Deus,
não estava. As
pessoas me
perguntam se eu
mudei. Eu acho
que continuo a
mesma pessoa, um
pouco mais
tranquila. Eu já
sabia que iria
passar por um
processo de
depuração,
porque no íntimo
acredito que
todos nós
sabemos.
Como sente cada
novo dia?
Sinto-me muito
bem
espiritualmente,
muito
confortada,
procuro fazer
sempre o melhor
que posso, por
mim e por todos.
Passei pela
terceira revisão
e todos os
exames (28
exames de
sangue, uma
tomografia
computadorizada
geral e uma
cintilografia
geral) deram
bons resultados.
Que
gostaria de
dizer a quem no
momento passa
por enfermidade
ou tem alguém na
família que por
isso esteja
passando?
Que devemos ter
tranquilidade e
fé em Deus e nos
amigos
benfeitores.
Tudo o que
devemos passar,
vamos passar,
mas que não
façamos dessas
ocasiões
momentos de
tristeza ou
desespero. Deus
sabe o que é
melhor pra nós.
Suas palavras
finais.
Por maior que
seja a nossa
dor, nós nunca
estamos
sozinhos. Existe
uma plêiade de
companheiros
zelando por nós.
(1)
Linfoma
não-Hodgkin (LNH)
é uma neoplasia
maligna que se
origina nos
linfonodos
(gânglios), que
são muito
importantes no
combate a
infecções. Foi
assim denominada
de maneira a
distingui-la da
doença de
Hodgkin, um
subtipo
particular de
linfoma.