Questões para debate
A. Com que finalidade Deus põe a criança sob a tutela dos pais? A paternidade é uma missão?
B. Os animais também progridem? Há neles um princípio inteligente que sobrevive à morte corporal? Como se chama e que lhe acontece após o transe da morte?
C. Em que momento de sua existência o Espírito adquire a consciência do seu futuro, a distinção do bem e do mal e a responsabilidade dos seus atos?
D. O Espírito que animou o corpo de um homem pode encarnar num animal?
E. O ensinamento de que o Espírito se elabora passando pelos diversos reinos da Natureza não é a confirmação da doutrina da metempsicose?
Texto para leitura
317. O Espírito pode falir na sua missão, por culpa sua? – Sim, se não for um Espírito superior. Nesse caso, terá de reiniciar sua tarefa; está nisso a punição; depois, sofrerá as consequências do mal de que tenha sido a causa. (L.E., 578 e 578-A)
318. Deus sabe se o Espírito será vitorioso na sua missão? – Ele o sabe, estai certos, e seus planos, quando importantes, não dependem desses que devem abandonar a obra em meio do trabalho. Toda a questão está, para vós, no conhecimento do futuro, que Deus possui, mas que não vos é dado. (L.E., 579)
319. O Espírito que se encarna para cumprir uma missão não tem as mesmas apreensões daquele que o faz como prova, porque ele tem experiência. (L.E., 580)
320. A missão dos missionários que se enganam e que, ao lado de grandes verdades, difundem grandes erros, foi falseada por eles mesmos. Estão, na verdade, abaixo da tarefa que empreenderam. É preciso, entretanto, levar em conta as circunstâncias: os homens de gênio devem falar segundo o tempo, e um ensino que parece errôneo ou pueril para uma época avançada poderia ser suficiente para o seu século. (L.E., 581)
321. O conquistador não é, na maioria das vezes, mais do que um instrumento de que Deus se serve para o cumprimento dos seus desígnios, e essas calamidades são muitas vezes um meio de fazer avançar mais rapidamente um povo. (L.E., 584)
322. Cada um é recompensado segundo as suas obras, o bem que desejou fazer e a retidão de suas intenções. (L.E., 584-A)
323. Tudo é transição na natureza, pelo fato mesmo de que nada é semelhante, e no entanto tudo se liga. As plantas não pensam, e por conseguinte não têm vontade. A ostra que se abre e todos os zoófitos não têm pensamento: nada mais possuem que um instinto natural e cego. (L.E., 589)
324. Há <nas plantas> uma espécie de instinto: isso depende da extensão que se atribua a essa palavra; mas é puramente mecânico. Quando nas reações químicas vedes dois corpos se unirem, é que eles se afinam, quer dizer, que há afinidade entre eles; mas não chamais a isso de instinto. (L.E., 590)
325. Tudo é mais perfeito <nos mundos superiores>: mas as plantas são sempre plantas, como os animais são sempre animais e os homens sempre homens. (L.E., 591)
326. O homem é um ser à parte, que desce às vezes muito baixo, ou que pode elevar-se muito alto. No físico, o homem é como os animais, e menos bem provido que muitos dentre eles; a natureza lhes deu tudo aquilo que o homem é obrigado a inventar com a sua inteligência, para prover às necessidades e à sua conservação. Seu corpo se destrói como o dos animais, isto é certo, mas o seu Espírito tem um destino que só ele pode compreender, porque só ele é completamente livre. (L.E., 592)
327. É verdade que o instinto domina na maioria dos animais, mas não vês que há os que agem por uma vontade determinada? É que têm inteligência, mas ela é limitada. (...) Há nos animais uma espécie de inteligência, mas cujo exercício é mais precisamente concentrado sobre os meios de satisfazer às suas necessidades físicas e prover à sua conservação. (L.E., 593)
328. Os animais têm linguagem? – Se pensais numa linguagem formada de palavras e de sílabas, não; mas num meio de se comunicarem entre si, sim. Eles se dizem muito mais coisas do que supondes, mas a sua linguagem é limitada, como as ideias, às suas necessidades. (L.E., 594)
329. Os animais que não possuem voz compreendem-se por outros meios. (L.E., 594-A)
330. Os animais não são simples máquinas, como supondes, mas sua liberdade de ação é limitada pelas suas necessidades, e não pode ser comparada à do homem. (...) Sua liberdade é restrita aos atos da vida material. (L.E., 595)
331. A alma dos animais conserva, após a morte, a sua individualidade, mas não a consciência de si mesma. A vida inteligente permanece em estado latente. (L.E., 598)
332. A alma dos animais não pode escolher a espécie em que prefira encarnar; ela não possui livre-arbítrio. (L.E., 599)
333. Os animais progridem pela força das coisas; e é por isto que, para eles, não existe expiação. (L.E., 602)
334. A inteligência é um ponto comum entre a alma dos animais e a do homem? – Sim, mas os animais não têm senão a inteligência da vida material; nos homens, a inteligência produz a vida moral. (L.E., 604-A)
335. O homem não tem duas almas, mas o corpo tem os seus instintos, que resultam da sensação dos órgãos. Não há no homem senão uma dupla natureza: a natureza animal e a espiritual. Pelo seu corpo, ele participa da natureza dos animais e dos seus instintos; pela sua alma, participa da natureza dos Espíritos. (L.E., 605)
336. A alma do animal e a do homem são distintas entre si, de tal maneira que a de um não pode animar o corpo criado para o outro. (L.E., 605-A)
337. Os animais tiram o princípio inteligente que constitui sua alma do elemento inteligente universal. Assim, a inteligência do homem e a dos animais emanam de um princípio único; mas no homem ela passou por uma elaboração que a eleva sobre a dos brutos. (L.E., 606 e 606-A)
338. A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanidade começa, em geral, nos mundos ainda mais inferiores. Essa, entretanto, não é uma regra absoluta, e poderia acontecer que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Esse caso não é frequente, e seria antes uma exceção. (L.E., 607-B)
339. Uma vez no período da humanidade, o Espírito conserva traços do que ele era no período ante-humano, apenas nas primeiras encarnações humanas. Esses vestígios, porém, se apagam com o desenvolvimento do livre-arbítrio. Nada se opera na Natureza por brusca transição. Há sempre anéis que ligam as extremidades das cadeias dos seres. Os primeiros progressos só muito lentamente se efetuam, porque não têm a secundá-los a vontade. São mais rápidos, à medida que o Espírito adquire mais perfeita consciência de si mesmo. (L.E., 609)
340. O homem pode ser considerado um ser à parte na Criação apenas no sentido de que é a espécie humana a única que Deus escolheu para a encarnação dos seres que podem conhecê-lo. (L.E., 610)
341. Desde que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período da humanização, não guarda relação com o seu estado primitivo e já não é a alma dos animais, como a árvore não é a semente. O fato de terem os seres vivos uma origem comum não é, pois, a consagração da metempsicose. De animal só há no homem o corpo e as paixões que nascem da influência do corpo e do instinto de conservação, inerente à matéria. A metempsicose, como a entendem, não é, portanto, verdadeira. (L.E., 611)
Respostas às questões propostas
A. Com que finalidade Deus põe a criança sob a tutela dos pais? A paternidade é uma missão?
A paternidade é, sem contestação possível, uma verdadeira missão e, ao mesmo tempo, grandíssimo dever e que envolve, mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem, e lhes facilitou a tarefa dando àquele uma organização débil e delicada, que o torna propício a todas as impressões. (O Livro dos Espíritos, questões 582 e 583.)
B. Os animais também progridem? Há neles um princípio inteligente que sobrevive à morte corporal? Como se chama e que lhe acontece após o transe da morte?
Sim, os animais também progridem. Há neles um princípio independente da matéria que sobrevive ao corpo, ao qual podemos chamar de alma, embora exista entre a alma dos animais e a do homem uma imensa distância. Após a morte, as almas dos animais conservam sua individualidade e vivem uma espécie de erraticidade até que, depois de classificadas, volvem a uma nova existência corpórea. (Obra citada, questões 597, 598, 600 a 606.)
C. Em que momento de sua existência o Espírito adquire a consciência do seu futuro, a distinção do bem e do mal e a responsabilidade dos seus atos?
Numa série de existências que precedem o período a que chamais Humanidade é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, num trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra ele então no período da humanização, no qual começa a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos. (Obra citada, questões 607, 607-A, 607-B e 608.)
D. O Espírito que animou o corpo de um homem pode encarnar num animal?
Não, pois isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. (Obra citada, questões 612 e 613.)
E. O ensinamento de que o Espírito se elabora passando pelos diversos reinos da Natureza não é a confirmação da doutrina da metempsicose?
Não. Duas coisas podem ter a mesma origem e absolutamente não se assemelharem mais tarde. Quem reconheceria a árvore, com suas folhas, flores e frutos, no gérmen informe que se contém na semente donde ela surge? Desde que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período da humanização, já não guarda relação com o seu estado primitivo e já não é a alma dos animais, como a árvore já não é a semente. De animal só há no homem o corpo e as paixões que nascem da influência do corpo e do instinto de conservação inerente à matéria. Não se pode, pois, dizer que tal homem é a encarnação do Espírito de tal animal. Conseguintemente, a metempsicose, como a entendem, não é verdadeira. (Obra citada, questões 611 a 613.)