Sandrelena
da Silva
Monteiro:
“Os jovens
desejam
construir um
presente e um
futuro melhor do
que o que estão
vivendo”
Com larga
experiência na
condução de
mocidades
espíritas,
a
confreira
mineira fala
sobre as dúvidas
e as
expectativas da
juventude do
nosso tempo
 |
Sandrelena da
Silva Monteiro
(foto)
nasceu em
Cipotânea (MG),
mas atualmente
reside em Juiz
de Fora (MG).
Conheceu o
Espiritismo em
1991 e a partir
daí tornou-se
orientadora de
Mocidades
espíritas,
função que
exerce desde
aquela época.
Hoje trabalha no
Instituto de
Difusão Espírita
de Juiz de Fora
(IDE), onde foi
coordenadora,
até o |
ano passado, da
área de
Mocidade.
Colabora
atualmente em um
grupo de apoio a
médiuns e deve
coordenar a
próxima turma do
COEM – Curso de
Orientação e
Educação
Mediúnica, além
de participar de
um grupo
mediúnico. |
Pedagoga, Mestre
em Educação e
professora no
curso de
Pedagogia do
Instituto
Superior de
Educação de Três
Rios (RJ),
Sandrelena
conversou
conosco sobre
suas
experiências com
os jovens
espíritas,
dando-nos
importantes
informações
sobre o assunto.
Em sua visão,
quais as
expectativas dos
jovens na
atualidade?
Sinceramente,
creio que eles
desejam
construir um
presente e um
futuro melhor do
que o que estão
vendo e vivendo,
mas muitos se
encontram
perdidos, não
sabem que
caminho seguir,
pois os modelos
apresentados
pela sociedade,
particularmente
pela mídia, não
têm sido um
referencial a
ser seguido.
Eles negam o que
se lhes
apresenta, mas
ainda não sabem
fazer diferente,
o que os acaba
levando a
cometer erros
semelhantes.
A proposta
acadêmica é uma
busca consciente
do jovem ou
apenas um meio
necessário à sua
sobrevivência
enquanto futuro
agente no
mercado?
Infelizmente,
vejo que grande
parte dos jovens
busca uma
formação
acadêmica mais
por imposição e
exigências
sociais que por
ideal de vida.
Sabem que a
formação
acadêmica não é
garantia de se
constituir uma
pessoa melhor no
mundo. Penso que
o jovem hoje
está mais
preocupado com
sua constituição
como pessoa que
necessariamente
profissional.
Por outro lado,
a sociedade tem
obrigado
adolescentes de
17 anos a
escolherem uma
formação
profissional
para o resto da
vida.
Atualmente,
quais os
segmentos mais
procurados pelos
jovens em se
tratando de
adquirir
conhecimentos?
Depende muito do
conhecimento.
Mas, no meio em
que vivo, vejo
que os jovens
têm lançado mão
principalmente
das redes de
comunicação
(internet). Ali
eles têm
possibilidades
de leituras
superficiais até
a participação
em grupos de
discussão
aprofundados
sobre
determinado
assunto. No
entanto, percebo
também que,
quando o jovem
encontra um
professor ou
professora (no
espaço escolar)
que lhe
corresponde às
expectativas de
atenção e
possibilidade de
diálogo, este se
torna uma
referência.
Como a proposta
espírita chega
para os jovens
que não tiveram
berço espírita?
Em nosso grupo,
a maior parte
dos jovens
não-espíritas
chega atendendo
a convite de
amigos
espíritas.
Alguns por
curiosidade,
outros por
quererem
conhecer um
pouco mais sobre
os Espíritos.
Normalmente,
quando a
curiosidade dos
primeiros é
atendida, vão
embora e não
voltam mais. Já
os segundos
permanecem.
Sabe-se que as
sociedades
atuais não
cobram muito os
valores éticos e
morais que devem
reger uma vida
saudável. Há
entre os jovens
da atualidade
movimentos pró e
contra esta
liberalidade?
Não concordo com
a ideia de que a
sociedade atual
não cobre
valores éticos e
morais que devem
reger uma vida
saudável. Penso
que o que ocorre
é que estamos
vivendo um
momento em que
os valores estão
sendo
questionados,
reavaliados, e
que permanecerão
aqueles que
forem
necessários às
novas gerações.
Vejo entre os
jovens uma busca
por uma vida
melhor, no
entanto, a forma
como têm buscado
isto tem sido
tumultuada.
Penso que este
“estado de crise
de valores” não
será
permanente.
Em suas
experiências
como líder de
mocidades
espíritas, o que
mais a preocupa
com relação a
essa atividade
nas casas
espíritas?
O despreparo de
muitos
dirigentes
espíritas, que
insistem em não
entender a atual
geração de
jovens
espíritas, o que
acaba
configurando um
desrespeito ao
seu modo de se
constituir no
mundo atual e
negligenciando
sua forma de
trabalho no
bem.
Nossos jovens
possuem material
adequado aos
seus
desenvolvimentos
cognitivos e
morais dentro da
didática
espírita hoje
utilizada?
Vejo que o que
você está
denominando
“didática
espírita” não é
uniforme em
todos os grupos
espíritas. E
penso que não
deve ser mesmo.
Penso que, não
se ferindo os
princípios
doutrinários e
evangélicos, a
didática de
trabalho deve
ser adequada a
cada grupo.
Quanto ao
“material
adequado”, a
base do
Espiritismo é
sua vasta
literatura.
Nesse sentido,
precisamos
oportunizar aos
jovens um
aprendizado
crítico. A base
deve ser sempre
as obras
kardequianas, as
quais, bem
estudadas, darão
aos jovens
recursos para um
olhar crítico
frente às
demais.
Há uma diferença
entre os
adolescentes com
relação ao
assimilar
espírita, tais
como classes
sociais, etnias,
sexo e
escolaridade?
Não. O
aprendizado da
doutrina
espírita está
mais para as
condições do
Espírito do que
para as
condições atuais
da sua
encarnação.
Como as Casas
Espíritas devem
agir para melhor
adequar nossos
meninos e
meninas a um
aprendizado de
ponta como é o
Espiritismo?
Não penso que as
Casas Espíritas
devam se
preocupar em
“adequar” as
pessoas. Devem,
sim, estar
abertas a todos,
buscando
oferecer as
melhores
condições ao seu
alcance para que
todos tenham
acesso ao
conhecimento
adequado à sua
faixa etária e
condições de
aprendizado.
Cada um fará uso
do conhecimento
(independente de
qual seja) de
acordo com suas
condições
espirituais. O
muito saber
teórico não é
garantia de
vivência
espírita-cristã.
O que fazer para
alicerçá-los
convenientemente
para que, quando
forem
acadêmicos, não
percam a
essência do
aprendizado
obtido nas Casas
Espíritas nas
fases da
infância e
adolescência?
Se as crianças e
adolescentes
foram
evangelizados
tendo como
referência o
esforço familiar
de viver os
princípios
evangélicos, se
forem educados
dentro dos
princípios
espíritas em uma
situação de
criticidade e
liberdade de
escolha, e não
simples
condicionamento
de fórmulas, não
temo que o
conhecimento
científico-acadêmico
possa fazer com
que “percam a
essência dos
ensinamentos
espíritas-cristãos”.
Há muitas
diferenças entre
as mocidades
espíritas dos
anos 90 e as
atuais? Pode
discorrer sobre
elas, caso
existam?
Nos anos 90,
além de
coordenadora de
mocidade, ainda
era bem mais
jovem, logo,
também
participante do
movimento de
mocidades
espíritas.
Parece que
éramos mais
atuantes em
questões
práticas. Não
tínhamos a
internet, então
nossos encontros
eram sempre
presenciais (e
não virtuais
como acontece
muito hoje –
MSN, facebook e
outros), nossas
fotos eram
reveladas e nos
encontrávamos
para vê-las,
hoje
disponibilizamo-las
na rede, cada um
as vê em sua
casa.
Encontrávamo-nos
aos domingos
para “campanha
do quilo” e as
pessoas abriam
as portas, hoje
isto é mais
raro, preferimos
fazer a campanha
apenas no
prédio, com os
familiares ou na
própria casa
espírita. Penso
que as relações
se estabelecem
de forma
diferente, mas
não
necessariamente
melhores ou
piores.
Quais propostas
deveriam, em sua
opinião, fazer
parte dos
currículos das
mocidades?
Prefiro dizer
sobre o que não
pode faltar: os
princípios da
doutrina
espírita (com
base no
pentateuco
kardequiano),
princípios
evangélicos e
abertura para a
relação entre
estes e o viver
a vida na
atualidade.
O jovem espírita
pode frequentar
barzinhos ou
lugares de lazer
comumente
utilizados pelos
demais jovens na
sociedade?
Sim. Penso que
nosso papel de
educadores
espíritas é
orientá-los a
como se
comportar nesses
lugares e não
isolá-los do
“mundo lá
fora”.
Estamos vindo de
períodos
infelizes onde a
castração
religiosa nos
impediu de
desenvolvermos
conhecimentos
mais adequados
sobre a religião
e Deus. Quais os
riscos que os
Centros
Espíritas correm
neste sentido?
Não sei
responder ao
certo esta
questão. No
Grupo Espírita
onde participo,
não somos
proibidos de
nenhuma pergunta
e as perguntas
não ficam sem
respostas. Às
vezes precisamos
estudar bastante
para
encontrá-las ou
construí-las,
mas não ficamos
sem acesso ao
conhecimento.
Uma resposta
possível aqui
talvez fosse a
de que os
Dirigentes de
Centros
espíritas
precisam seguir
a máxima já
apontada pelo
Espírito da
Verdade em O
Evangelho
segundo o
Espiritismo:
“Espíritas,
amai-vos, eis o
primeiro
ensinamento.
Instruí-vos, eis
o segundo”.
Assim, não terão
medo ou
insegurança
diante dos novos
conhecimentos.
Como devem agir
os líderes de
mocidades
espíritas
perante os
jovens, visando
a um melhor
aproveitamento
do fator
educativo
espírita?
Com segurança,
respeito e
comportamento
positivo e
participativo na
casa espírita.
Devem ser
exemplo, não de
perfeição (pois
ainda não o
somos), mas de
esforço contínuo
no bem.
Um menino ou
menina que
estejam
perturbando a
aula devem ser
retirados das
salas e enviados
para a diretoria
do Centro?
Nunca. Se não
forem aceitos,
jamais poderão
ser educados.
Talvez o que
precise ser
revisto é a
forma como a
“aula” está
sendo oferecida.
Creio que vale a
pena parar tudo
e conversar
sobre o
comportamento.
Persistir. Não
expulsamos um
Espírito
sofredor da
reunião
mediúnica apenas
porque não
superou sua dor
em uma primeira
conversa.
Deveria existir
nos Centros
Espíritas um
atendimento
fraterno
direcionado
unicamente para
os jovens
frequentadores
ou não das aulas
espíritas?
O atendimento
fraterno deve
ser para todos.
Exclusivo,
talvez não seja
necessário. No
entanto, uma das
características
que o
coordenador das
mocidades
espíritas deve
desenvolver é a
capacidade de
observar os
participantes,
conhecer cada um
a ponto de poder
perceber
mudanças em seu
comportamento.
Estar presente
sempre, aberto e
carinhoso, para
que possa se
fazer acessível
a todos os
participantes e
estes, quando
necessário,
buscarem nele
uma orientação
segura para suas
dúvidas e
conflitos. Por
outro lado, os
trabalhadores do
atendimento
fraterno
precisam se
disponibilizar a
atender estes
participantes
como a quaisquer
outros sempre
que precisarem
de atenção
especial
individualizada.
Como lidar com
jovens
frequentadores
de mocidades
espíritas, mas
que adotam o uso
de drogas, tais
como álcool,
fumo e
alucinógenos?
São jovens como
outros
quaisquer. Não
devemos
excluí-los, mas
acolhê-los.
Conversas
seguras
individuais e
com o grupo
podem ser
auxílios para
que ele reveja
seu
comportamento. O
coordenador deve
cuidar para que
ele não seja
alvo de exclusão
ou maus-tratos e
nem que exerça
estas condutas
com os outros
participantes. A
atitude positiva
do coordenador
será sempre a
melhor a ser
adotada. Quando
necessário,
deverá buscar o
auxílio dos
dirigentes da
casa e ou de
outras pessoas
mais
experientes, que
possam
auxiliá-lo a
lidar com a
situação.
A arte espírita
deveria ser mais
utilizada entre
os jovens e
aprimorada
constantemente,
deixando de lado
as ultrapassadas
apresentações de
pouco valor
artístico, tendo
em vista que
desde criança o
jovem convive
com produções de
alto nível?
Penso que sim. A
arte pode ser
uma forma de
comunicação,
expressão e
educação de mais
alto valor
espiritual. No
entanto, há que
se ter uma boa
condução, de
maneira que não
se dê mais valor
à forma que ao
conteúdo.
Os Centros
Espíritas
deveriam criar
locais e
circunstâncias
nos quais os
jovens possam
sociabilizar-se
entre si,
capacitando para
uma convivência
feliz e sadia na
sociedade ou
cada qual deve
buscar seus
próprios
caminhos e
opções?
Em nossa Casa
Espírita
temos
espaços-tempos
de socialização,
confraternização
e trabalho.
Fazemos festas,
promovemos
encontros,
piqueniques,
eventos
esportivos e
outros, mas
sempre primando
pela conduta
espírita-cristã.
Procuramos
oportunizar que
os adolescentes
tenham
espaços-tempos
de diversão sem
a presença de
álcool ou outras
drogas, sem a
exaltação da
sensualidade, em
clima de
respeito no qual
até mesmo o
namoro é
permitido.
Acreditamos que
o jovem espírita
é, antes de
tudo, um
Espírito imortal
que na condição
existencial
atual é
adolescente, que
deve viver
enquanto tal e,
principalmente,
aprender a viver
enquanto um
adolescente
espírita-cristão.
Sem se isolar do
“mundo lá fora”,
mas aprender a
saber viver no
mundo.
Suas palavras
finais.
Agradeço a
oportunidade que
me foi oferecida
de reflexão
sobre a Mocidade
Espírita e sobre
o jovem
espírita.
Costumamos dizer
em nosso grupo
que saímos da
Mocidade, mas
que a Mocidade
jamais sai de
nós.