Nos últimos
anos, o número
de espíritas
cresceu a uma
taxa pouco acima
da do
crescimento da
população
brasileira,
conforme apontam
pesquisas
recentes do IBGE
[1,2]. Essa
notícia, sem
dúvida,
demonstra o bom
andamento das
atividades de
divulgação do
Espiritismo, e
estimula a
continuidade e
aprimoramento
das mesmas.
Certamente, os
avanços da
tecnologia de
armazenamento e
divulgação de
informação
contribuíram
para esse
crescimento, o
que nos mostra a
responsabilidade
que temos em nos
instruirmos
conforme
orientação do
Espírito de
Verdade (item V
do Cap. VI de
O Evangelho
segundo o
Espiritismo
[3]).
Entretanto, o
mesmo progresso
que facilita o
acesso às obras
e aos estudos
espíritas também
tem permitido o
acesso a
informações e
estudos de teor
moral e
intelectual
questionáveis e
inseguros. No
caso do
movimento
espírita, a
facilidade de
divulgar ideias
e doutrinas
espiritualistas
próprias, e a de
acessá-las, têm
levado algumas
pessoas a
questionar o
Espiritismo,
propondo ao
movimento
espírita a
adoção de
práticas
espiritualistas
diferentes e
alternativas em
nome da
modernidade. Em
alguns casos, o
próprio
conhecimento
científico tem
sido invocado
como razão
suficiente
para propor
desde inovações
na prática
mediúnica até
alterações na
própria Doutrina
Espírita, sob
alegações de que
seus conceitos
estariam
ultrapassados.
Alguns dizem que
por causa do
comentário de
Kardec
(item 55 de A
Gênese
[4])
de que “Caminhando
de par com o
progresso, o
Espiritismo
jamais será
ultrapassado,
porque, se novas
descobertas lhe
demonstrassem
estar em erro
acerca de um
ponto qualquer,
ele se
modificaria
nesse ponto. Se
uma verdade nova
se revelar, ele
a aceitará”,
tais novidades
deveriam ser
aceitas sem
questionamento
pois que afinal
são “verdades
novas que se
revelam”. Porém,
o que está de
fato acontecendo
é que muitos
companheiros
espíritas,
seduzidos por um
discurso de
atualidade de
doutrinas e
práticas
alternativas e,
principalmente,
por não terem
conhecimento
profundo de
teorias modernas
da Ciência para
avaliar essas
mesmas
doutrinas, estão
cedendo ao apelo
de se questionar
a validade do
Espiritismo na
descrição da
realidade
espiritual.
O receio que
decorre da
ignorância sobre
o que é Ciência
Como analisado
por nós
anteriormente
[5], “o
receio de a
Ciência
encontrar erros
no Espiritismo
se reflete na
preocupação
exagerada em
vê-lo confirmado
por ela ou
relacionado às
novidades
científicas
como, por
exemplo, na
ênfase dada a
teorias e
práticas
espiritualistas
baseadas na
Física Quântica”.
Esse receio, que
decorre da
ignorância sobre
o que é Ciência
e como ela se
desenvolve,
abriu uma brecha
no movimento
espírita: a
possibilidade de
se introduzir
novas práticas
usando termos e
conceitos
desconhecidos
dos espíritas.
Como
consequência,
erros graves
podem ocorrer
como no exemplo
da proposta de
atualização da
resposta dada
pelos Espíritos
à questão número
34 de O Livro
dos Espíritos
[6] que, segundo
alguns, estaria
errada do ponto
de vista da
Física e da
Química. Porém,
o erro desta
crítica estava
na falta de
conhecimento da
Física que
permite
justamente
demonstrar que a
resposta dos
Espíritos à
questão 34 do
L.E. está
completamente
correta
(ver artigo da
ref. [7]).
(*)
Se “Fé
inabalável só o
é a que pode
encarar de
frente a razão,
em todas as
épocas da
Humanidade”
(Kardec, item 7
do Cap. XIX de
O Evangelho
segundo o
Espiritismo
[3]), como
encarar críticas
ao Espiritismo e
propostas
espiritualistas
que usam
conceitos da
Ciência se
poucos têm
condições de
avaliá-los? Como
encarar a razão
dos que dizem
que o
Espiritismo está
ultrapassado?
Essas são
questões
importantes e é
oportuno
observar que
tanto no
passado, quanto
no presente, a
espiritualidade
tem demonstrado
preocupação com
alterações ou
inovações
indevidas no
Espiritismo:
“A Doutrina
Espírita possui
os seus aspectos
essenciais em
configuração
tríplice. Que
ninguém seja
cerceado em seus
anseios de
construção e
produção. Quem
se afeiçoe à
ciência que a
cultive em sua
dignidade, quem
se devote à
filosofia que
lhe engrandeça
os postulados e
quem se consagre
à religião que
lhe divinize as
aspirações,
mas que a base
kardequiana
permaneça em
tudo e todos,
para que não
venhamos a
perder o
equilíbrio sobre
os alicerces em
que se nos
levanta a
organização.”
(“Unificação”,
mensagem de
Bezerra de
Menezes recebida
por D. P. Franco
em 20-04-1963
[8]. Grifos em
negrito
nossos).
Pode o
Espiritismo ser
considerado uma
revelação?
“A
programação que
estabelecestes
para este
quinquênio é bem
significativa,
porque verteu do
Alto, onde se
encontrava
elaborada, e vós
vestistes-a com
as considerações
hábeis e
aplicáveis a
esta atualidade.
Este é o grande
momento, filhos
da alma. Não
tergiverseis,
deixando-vos
seduzir pelo
canto das
sereias da
ilusão.
Fidelidade à
doutrina é o que
se nos impõe,
celebrando os
cento e
cinquenta anos
da obra básica
da Codificação
Espírita. Não
permitais que
adições
esdrúxulas sejam
colocadas em
forma de
apêndices que
desviem os menos
esclarecidos dos
objetivos
essenciais da
doutrina.
(...) Sede
fiéis,
permanecendo
profundamente
vinculados ao
espírito do
Espiritismo
como o
recebestes dos
imortais
através do
preclaro
Codificador.”
(“O Meio-Dia da
Nova Era”,
mensagem de
Bezerra de
Menezes recebida
por D. P. Franco
em 12-04-2007
[9]. Grifos em
negrito
nossos).
“Esses tempos
atuais
chamam-nos à
fidelidade aos
projetos do
Espírito de
Verdade,
para que
estejamos
atentos a fim de
que não
abandonemos o
trabalho
genuinamente
espiritista,
passando a
ocupar valioso
tempo com
palavrórios e
disputas,
situações e
questões que,
declaradamente,
nada tenham a
ver com a nossa
Causa, por não
serem da alçada
do Espiritismo.”
(“Definição e
trabalho em
tempos
difíceis”,
mensagem de
Camilo recebida
por Raul
Teixeira em
11-11-2005 [10].
Grifos em
negrito nossos).
Conforta-nos
saber que Kardec
não se esqueceu
de analisar a
importante
questão da
validade da
Doutrina
Espírita. No
item 1 do Cap. 1
de A Gênese
[4], Kardec
lista questões
fundamentais
para o
fortalecimento
da fé espírita:
“Pode o
Espiritismo ser
considerado uma
revelação?”,
“Neste caso,
qual o seu
caráter?”, “Em
que se funda sua
autenticidade?”,
“A quem e de
que maneira foi
ela feita?”,
e outras. Essas
questões
demonstram o
cuidado de
Kardec em munir
o espírita de
razões sólidas
para assegurar a
integridade do
Espiritismo e
orientar a
condução do seu
aspecto
progressivo. Se
não soubermos
qual o caráter
do Espiritismo,
seus valores,
suas bases, e os
critérios
utilizados na
codificação,
dificilmente
saberemos nos
posicionar
perante as
novidades que se
apresentam na
atualidade.
O Espiritismo é
a única doutrina
que possui duplo
caráter
O leitor
encontrará em
A Gênese [4]
as respostas de
Kardec a essas
questões. Aqui,
desejamos apenas
destacar um
detalhe muito
importante que
nos permite
responder à
pergunta título
deste artigo: “Estaria
o Espiritismo
ultrapassado?
... Ou muito na
frente?”
Esse detalhe irá
certamente
contribuir para
a nossa
segurança em
preservar a
Doutrina
Espírita
conforme nos
pedem Bezerra e
Camilo.
Mostraremos ao
leitor que o
Espiritismo, na
verdade, como
revelação, está
à frente dos
avanços de nosso
tempo e não
ultrapassado,
como alguns
acreditam.
Este detalhe,
como já
ressaltado em
artigos
anteriores
[11,12],
consiste da
constatação de
que o
Espiritismo é a
única
doutrina ou
teoria do
conhecimento
humano que
possui
duplo caráter de
uma revelação!
O “duplo”
significa “dois
tipos”
possíveis: o
caráter
divino e o
caráter
científico
de uma
revelação. A
codificação do
Espiritismo
ocorreu através
de ambos, e o
leitor é
remetido ao item
13 de A
Gênese [4]
para verificar a
explicação de
Kardec.
O caráter divino
da revelação
espírita decorre
do fato de os
conceitos
fundamentais do
Espiritismo
serem oriundos
da revelação dos
Espíritos. O
caráter
científico
decorre do fato
de que, como
meio de
elaboração
(Kardec, item 14
de [4]), “o
Espiritismo
procede
exatamente da
mesma forma que
as ciências
positivas,
aplicando o
método
experimental”.
Como, em pleno
século 21, não
há doutrina ou
teoria sequer
que tenha o
duplo caráter de
uma revelação,
podemos concluir
que o
Espiritismo é
uma doutrina
inédita e ao
mesmo tempo
única na
história da
humanidade! As
teorias
científicas e
filosóficas
possuem apenas o
caráter
científico de
uma revelação,
enquanto que
todas as obras
de natureza
mediúnica
possuem apenas o
caráter divino
de uma
revelação.
Isso também nos
leva a concluir
com segurança
que por mais que
se reconheça o
valor moral,
literário e
científico das
obras
psicografadas
por médiuns
exemplares como
Francisco C.
Xavier, Divaldo
P. Franco, José
Raul Teixeira, e
muitos outros,
essas obras não
podem formar uma
doutrina com
o mesmo valor e
caráter de
revelação que o
Espiritismo
possui. Isso
porque são elas
apenas
revelações de
caráter divino.
Como o progresso
do Espiritismo
deverá
processar-se?
O fato de
algumas obras
possuírem
conteúdos
científicos não
é razão para
considerarmo-las
como tendo
caráter
científico de
uma revelação,
pois que esse
caráter decorre
da metodologia
de pesquisa e
descobrimento
das novas ideias
e não do tipo de
novas ideias.
Assim, o
Espiritismo,
mesmo tendo sido
codificado há
século e meio
atrás, demonstra
estar, na
verdade, ainda
na frente
de todas essas
doutrinas,
teorias e
propostas
espiritualistas,
tanto de
encarnados
quanto
desencarnados.
Mesmo as
doutrinas que se
baseiam em
conceitos
considerados
modernos não
estão à frente
do Espiritismo,
por lhes
faltarem
desenvolvimento
em um dos dois
tipos de
caráter. E, é
importante
dizer, essa
característica
única do
Espiritismo não
significa que
ele não irá
progredir.
Porém, o
progresso do
Espiritismo
deverá ocorrer
respeitando-se o
duplo caráter de
uma revelação,
isto é, deverá
ocorrer através
do estudo e da
pesquisa sérias,
aliado ao apoio
da
espiritualidade
através do
consenso
universal.
Portanto, não
será meramente
aceitando
conceitos que
não sabemos
avaliar,
mas que
parecem modernos,
que devemos
incentivar
alterações ou
inserções no
Espiritismo; não
será nem com
mensagens que
aparentam
elevação, nem
com comparações
superficiais com
conceitos da
Ciência, que
novas práticas
espiritualistas
devem ser
aceitas no
movimento
espírita. Quando
não tivermos
conhecimento
bastante para
avaliar uma
novidade, seja
ela proposta por
encarnado ou por
desencarnado,
devemos seguir a
recomendação de
Erasto (item 230
de O Livro
dos Médiuns
[13]): “É
melhor repelir
dez verdades do
que admitir uma
única falsidade,
uma só teoria
errônea.”
Percebemos,
agora, o alcance
e a sabedoria
dessas palavras
na defesa do
movimento
espírita e do
Espiritismo. Não
foi à toa que o
Espírito de
Verdade nos
orientou a
estudar com mais
profundidade o
Espiritismo.
Nota:
(*)
A questão 34 d´O
Livro dos
Espíritos diz o
seguinte:
34. As moléculas
têm forma
determinada?
“Certamente, as
moléculas têm
uma forma, porém
não sois capazes
de apreciá-la.”
a) — Essa forma
é constante ou
variável?
“Constante a das
moléculas
elementares
primitivas;
variável a das
moléculas
secundárias, que
mais não são do
que aglomerações
das primeiras.
Porque, o que
chamais molécula
longe ainda está
da molécula
elementar.”
Referências:
[1]
http://oglobo.globo.com/infograficos/censo-religiao/
acessado em 5 de
Julho de 2012.
[2]
http://estadaodados.com/html/religiao/
acessado em 5 de
Julho de 2012.
[3] A. Kardec,
O Evangelho
Segundo o
Espiritismo,
Editora FEB,
112ª Edição, Rio
de Janeiro
(1996).
[4] A. Kardec,
A Gênese,
FEB, 34ª Edição,
Rio de Janeiro,
(1991).
[5] A. F. da
Fonseca, “O
“Medo” da
Ciência e a
Atualização do
Espiritismo:
Parte I”,
Reformador
Julho, p.
18 (2011).
[6] A. Kardec,
O Livro dos
Espíritos,
Ed. FEB, 1ª
Edição, Rio de
Janeiro (2006).
[7] A. F. da
Fonseca, “A
Física Quântica
e as questões 34
e 34-a de O
Livro dos
Espíritos”,
Reformador
Dezembro,
p. 14 (2008).
[8] D. P.
Franco, pelo
Espírito Bezerra
de Menezes,
“Unificação”,
mensagem
recebida em
20-04-1963 em
Uberaba e
publicada em
Reformador
Dezembro
(1975).
[9] D. P.
Franco, pelo
Espírito Bezerra
de Menezes, “O
Meio-Dia da Nova
Era”, mensagem
recebida em
12-04-2007 em
Brasília e
publicada em
Reformador
Junho
(2007).
[10] J. R.
Teixeira, pelo
Espírito Camilo,
“Definição e
trabalho em
tempos
difíceis”,
mensagem
recebida em
11-11-2005 em
Brasília e
publicada em
Reformador
Janeiro
(2006).
[11] A. F. da
Fonseca, “A
Revelação
Espírita”,
Reformador
Abril, p.
36 (2011).
[12] A. F. da
Fonseca,
“Espiritismo:
único
conhecimento
humano que tem o
duplo caráter de
uma Revelação!”
O Consolador
209
(2011). Link
para o artigo:
http://www.oconsolador.com.br/ano5/209/alexandre_fonseca.html
acessado em 1º
de Julho de
2012.
[13] A. Kardec,
O Livro dos
Médiuns, Ed.
FEB, 1ª Edição,
Rio de Janeiro
(2008).
Alexandre Fontes
da Fonseca
é professor de
Física na
Universidade
Estadual
Paulista "Júlio
de Mesquita
Filho", em
Bauru-SP.