Conceição
Cavalcante:
“A arte ajuda no
processo
de
elevação e
libertação
do
pensamento”
A coordenadora
do Departamento
de Arte e
Cultura do
Grêmio Espírita
Atualpa Barbosa
Lima, de
Brasília-DF,
fala sobre a
arte espírita e
seu papel na
sociedade
contemporânea
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Conceição
Cavalcante
(foto),
graduada em
Pedagogia/magistério
e
Letras/Português-Espanhol,
com
pós-graduação em
Marketing, é
trabalhadora do
Grêmio Espírita
Atualpa Barbosa
Lima, em
Brasília-DF,
onde atua como
palestrante
espírita,
coordenadora de
um grupo
mediúnico de
educação e
desenvolvimento
da mediunidade e também do
|
Departamento de
Arte e Cultura
Espírita do GEABL, além de
ser coordenadora
de Comunicação
Social Espírita
da Federação
Espírita do
Distrito Federal
e coidealizadora
do FACE/DF
(Fórum de Arte e
Cultura Espírita
do DF) e do
Setor de Artes
vinculado à
citada Federação
Espírita.
|
Nesta
entrevista, ela
nos fala sobre a
arte espírita e
seu papel no
mundo em que
vivemos.
Como você se
tornou espírita
e que papel a
doutrina
representa hoje
na sua vida?
O Espiritismo
faz parte de
minha vida desde
a infância
quando meus pais
começaram a
participar das
atividades do
Centro Espírita
Atualpa Barbosa
Lima, no DF. À
época tinha 4
anos. Por
orientação do
presidente e
fundador da
instituição,
Hilpert Viana,
atualmente
desencarnado,
minha mãe
começou a nos
levar para
evangelização
infantil.
Participei das
atividades de lá
desde então,
iniciando-me
como
evangelizanda e,
posteriormente,
evangelizadora,
coordenadora de
grupos de
estudo,
coordenadora do
DIJ,
coordenadora de
grupo mediúnico,
participante
ativa de peças
teatrais, coral,
mostra e de
festivais de
música e,
atualmente,
coordenadora do
Departamento de
Arte e Cultura
Espírita - DACE
desta
instituição,
atendendo ao
convite de sua
presidente.
Como é sua
relação com a
arte?
Aprecio todas as
expressões
artísticas que
remetem à beleza
imorredoura e me
estimulam a
vontade de ser
bom. Esta
apreciação vai
desde o desenho
de uma criança a
uma obra de
Renoir, do canto
de um pássaro a
uma sonata de
Bach. A arte
toca o meu
coração, fala à
minha alma,
ilumina a minha
vida, tira a
minha atenção.
Todavia, devo ao
estudo da
Doutrina
Espírita o
desenvolvimento
dessa
sensibilidade.
Recordo que em
minha
adolescência o
fundador do
Centro Espírita
que frequento
desde criança,
nosso amigo e
irmão Hilpert
Viana, estimulou
todos os
integrantes da
Mocidade da qual
participava a
memorizar e
declamar
poesias, em
forma de verso
ou prosa. Ele
também nos
estimulou a
cantar
composições
cristãs e a nos
exercitarmos na
dramaturgia e no
teatro.
Descobrimos,
assim, em todos
esses elementos,
poderosos
veículos de
educação do
Espírito, pois
era na
evangelização
infanto-juvenil
que os
praticávamos.
Posteriormente,
trabalhando com
produções
artístico-culturais
na referida
instituição,
ampliei meu
gosto pela arte
como um todo e
percebi que as
habilidades que
possuo nessa
área são frutos
do trabalho
realizado em
outras
existências,
pois na atual
encarnação nunca
me dediquei a
estudar a arte
ou tive
interesse em
fazê-lo, senão
com foco na
educação.
Em sua opinião,
existe uma arte
espírita
separada da arte
“laica”?
A arte está
sempre
comprometida com
uma ideologia
que reflete a
crença de seu
criador. Neste
sentido, ela é o
espelho da
cultura de uma
comunidade em
dado período de
tempo. Baseio
esta minha
afirmação na
pergunta que
fizeram ao
Espírito Alfred
de Musset e em
sua resposta,
que constam na
Revista Espírita
de dezembro de
1860: - A
pintura, a
escultura, a
arquitetura, a
poesia foram
alternativamente
inspiradas pelas
ideias pagãs e
cristãs; quereis
nos dizer se,
depois da arte
pagã e da arte
cristã, haverá,
um dia, a arte
espírita?
Resposta de
Musset:
"Fizestes uma
pergunta que se
responde por si
mesma; o verme é
verme, torna-se
verme de seda,
depois
borboleta. O que
há de mais
aéreo, de mais
gracioso do que
uma borboleta?
Pois bem, a arte
pagã é o verme;
a arte cristã é
o envoltório; a
arte espírita
será a
borboleta".
O Espírito
Vianna de
Carvalho, em
resposta às
perguntas 135 e
144 da obra
“Atualidade do
Pensamento
Espírita”,
esclarece:
“Cada Espírito
vê e sente a
Arte com as suas
características
e expressões
evolutivas,
porquanto, à
medida que o ser
progride,
amplia a
capacidade de
perceber a
beleza e
senti-la nas
suas várias
expressões”.
(Grifo meu)
Por outro lado,
também se
percebe no
trecho da
resposta de
Vianna de
Carvalho acima
explicitada a
forte associação
que existe entre
arte e beleza, a
qual Léon Denis,
contemporâneo de
Kardec, expõe
quando conceitua
arte: “A arte
é a busca, o
estudo, a
manifestação
dessa beleza
eterna, da qual
aqui na Terra
não percebemos
senão um
reflexo”.
Vianna de
Carvalho
ratifica esta
associação entre
arte e beleza na
resposta à
pergunta 144 da
obra já citada:
“A arte tem
como meta
materializar a
beleza
invisível de
todas as coisas,
despertando a
sensibilidade
e aprofundando o
senso de
contemplação,
promovendo o ser
humano aos
páramos da
Espiritualidade”.
(Grifo meu)
Existe,
portanto, a arte
espírita e quem
cunhou tal
expressou ou
quem afirma isto
não sou eu, mas
os próprios
Espíritos que
compuseram a
plêiade do
Espírito da
Verdade. Assim,
o que diferencia
a arte “laica”
da arte espírita
é o
comprometimento
de seu autor com
as belezas
imortais que se
refletem na
revelação e
vivência das
leis morais que
regem a vida
humana e
espiritual.
Quais as
características
que revelam
estes sinais?
Aquilo que a
mensagem provoca
naquele que a
vê: reflexão,
consolo,
esclarecimento e
esperança que
fortalecem o
Espírito e
renovam as suas
energias para as
provas e
expiações da
vida.
Arte hoje é
sinônimo de
indústria
cultural, de
consumo, de
cifras,
extravagâncias e
celebridades. O
que o
Espiritismo
ganha ou perde
adotando um
modelo de arte
industrializado,
a exemplo de
outras
denominações
religiosas?
O propósito da
espiritualidade
maior é revelar
e difundir a
mensagem do
Consolador
Prometido e a
certeza na vida
futura. Neste
sentido, ela se
utilizará de
todos os meios,
inclusive da
arte
industrializada,
que tem
facultado o
desenvolvimento
tecnológico e
massificado,
assim como o
acesso aos
recursos de
produção,
inclusive, na
área
audiovisual. Os
cuidados que os
produtores
artístico-culturais
comprometidos
com a causa
espírita devem
ter ao lançar
mão de tais
recursos é o de
se manterem
fiéis a esta
causa, evitando
ouvir a voz do
ego, que é
imediatista e
sempre estimula
a vaidade, o
orgulho e o
egoísmo,
enfraquece a
alma
principalmente
diante das
dificuldades
econômico-financeiras,
e buscar
parcerias junto
àqueles que
acreditam nesta
mensagem e se
disponham a
investir nela
por respeito e
amor à causa.
Cabe lembrar
aqui uma
orientação de
Vianna de
Carvalho em
resposta à
questão 141 da
obra já
mencionada:
“O verdadeiro
artista não
espera o aplauso
imediato. Ele
sabe que está
trabalhando para
o futuro e, por
isso, confia no
que faz,
aguardando que a
posteridade
considere o que
contempla e
valorize a sua
realização. Quem
aguarda resposta
imediata,
gratidão e
recompensa,
ainda transita
na faixa do
egoísmo,
guindado ao
orgulho vão, que
entorpece os
sentimentos”.
Neste contexto,
cito como
exemplos
pioneiros e
valiosos nesta
área o trabalho
realizado pela
ONG Estação da
Luz, cofundada
por Eduardo
Girão, produtor
da Mostra de
Teatro
Transcendental
(Fortaleza/CE),
do Festival de
Cinema
Transcendental
(Brasília/DF),
do filme
“Bezerra de
Menezes, o
Diário de um
Espírito”; do
produtor Oceano
Vieira, autor da
Spirit Video,
produtor do
filme “E A Vida
Continua”; da
Mundo Maior
Filmes,
produtora de “O
Filme dos
Espíritos”; da
TV CEI, primeira
WEB TV
brasileira, e o
da própria FEB -
Federação
Espírita
Brasileira, que
subsidiou parte
da produção da
obra
cinematográfica
“Nosso Lar”,
produzida por
Iafa Britz, com
roteiro e
direção de
Wagner de Assis.
Qual o propósito
da arte na casa
espírita:
divertir,
louvar,
consolar,
divulgar?
As dimensões da
arte na casa
espírita são as
mesmas das
utilizadas nas
cidades
espirituais
cujas
comunidades
estão dedicadas
ao estudo e
evolução do
Espírito. Neste
sentido, a
educação, o
entretenimento,
o
autoconhecimento,
a terapia
compreendem
funcionalidades
dessas
dimensões.
Recorrerei
novamente a
Vianna de
Carvalho e sua
resposta à
questão 149 da
obra acima
citada: “São
inegáveis os
benefícios que a
Arte proporciona
às pessoas,
particularmente
em forma de
lazer e de
terapia,
porquanto não
somente o
trabalho é
essencial ao
crescimento
espiritual como
também o
repouso, a
meditação, o
encontro consigo
mesmo. Nesses
momentos,
qualquer
manifestação de
Arte ajuda no
processo de
elevação e
libertação do
pensamento,
conduzindo-o aos
cenários
agradáveis da
alegria, da paz,
da plenificação”.
Cito como
exemplo destas
dimensões da
funcionalidade
da arte a forma
como esta é
aplicada para
educação e
redenção dos
Espíritos no
capítulo “Cidade
Universitária”
da obra
“Memórias de um
Suicida”, pela
médium Yvonne
Amaral Pereira,
e o capítulo
“Espairecimentos
Espirituais” da
obra “Reencontro
com a Vida”, do
Espírito Manoel
Philomeno
Miranda pelo
médium Divaldo
Pereira Franco.
Determinadas
casas espíritas
abominam e
coíbem
expressões
artísticas em
seu interior. O
que pensar
disto?
Creio ser o
resultado do
desconhecimento
do valor da arte
à luz do
Espiritismo
conjugado ao
preconceito
estimulado pelo
uso equivocado
que se faz da
arte no meio
espírita e fora
dele. Recomendo
para ambos os
casos estudar o
que o
Espiritismo nos
revela sobre o
papel da arte na
transformação do
planeta e,
paralelo a isto,
cultivar a arte
como instrumento
do belo,
iniciando-se
pela poesia
contida na
literatura
espírita, a
começar pelo
estudo de
“Parnaso de
Além-Túmulo”.
Quero respaldar
minha
recomendação nas
elucidações de
Haroldo Dutra
narradas em
palestra que fez
para os
participantes do
IX Fórum
Nacional de Arte
Espírita e 1º
Encontro
Nacional de
Arte, realizado
em Caucaia-CE.
Nessa palestra,
ele nos revelou
que “Parnaso de
Além-Túmulo”,
primeira obra
psicografada por
Chico Xavier, é
o resultado de
um recrutamento
promovido por
Emmanuel junto a
poetas
consagrados da
literatura
portuguesa e
brasileira,
então já
desencarnados,
com o fim de
revelarem as
leis morais
contidas na
parte 3ª de “O
Livro dos
Espíritos” em
forma de poesia.
Este foi o
critério adotado
por Emmanuel
para selecionar
as poesias que
comporiam o
livro. Por outro
lado, não
podemos olvidar
o trabalho
realizado por
pioneiros da
arte elevada e
nobre no
movimento
espírita, tais
como Eurípedes
Barsanulfo,
Leopoldo Machado
e Nazareno
Tourinho, que se
utilizaram da
dramaturgia, do
teatro e da
poesia como
veículos
valiosos de
educação do
Espírito,
promoção e
divulgação da
mensagem
espírita-cristã.
Portanto, posso
afirmar sem
receio de
equívocos: a
arte teve e tem
um papel
fundamental na
revelação do
Consolador
Prometido.
Cultivemo-la em
nossas Casas
Espíritas com
este foco e
tenho certeza
que colheremos
excelentes
frutos.
O que você
destacaria nas
recentes
orientações do
CFN/FEB sobre
arte espírita?
A constituição
da Comissão de
Arte Espírita
composta pela
FEB em 2010 e o
convite à
ABRARTE,
reconhecendo-a
como associação
especializada e
parceira da
referida
comissão para
compor um
documento com
vistas a
orientar e
propor
princípios e
diretrizes para
o
desenvolvimento
da arte espírita
nas instituições
espíritas do
Brasil.
Cobrar pelos
eventos
artísticos
espíritas é
legítimo?
A questão da
cobrança para
realização de
eventos
artísticos
espíritas
perpassa pela
análise e
avaliação de
outras cinco
questões: o que
cobrar, para que
cobrar, onde
cobrar, por que
cobrar e como
cobrar. Importa
analisar tais
questões sob a
óptica da
sustentabilidade
pela qual deve
primar toda e
qualquer
promoção de
evento,
inclusive os de
natureza
artístico-cultural.
Neste contexto,
todo e qualquer
evento possui
custos e os
promovidos pelo
movimento
espírita não são
diferentes.
Todavia, o
propósito
primordial das
instituições
espíritas é a
divulgação da
Doutrina
Espírita e a
educação moral e
espiritual do
ser humano,
esclarecendo-o
sobre a visão da
vida futura que
o Espiritismo
nos revela. Este
propósito é
diferente das
empresas que
buscam auferir
lucro na
execução de seus
negócios. Por
outro lado, as
instituições
espíritas
possuem despesas
na realização de
sua missão, que
podem ser
custeadas pela
doação de seus
associados, por
campanhas e
realização de
eventos
beneficentes,
tais como bazar,
almoço, lanche,
tarde de tortas,
tarde de pizzas,
e eventos
artístico-culturais
como um
seminário
lítero-musical,
uma apresentação
teatral, um show
musical. Tais
eventos podem
possuir custos,
tais como o
aluguel do
espaço,
passagem,
hospedagem,
alimentação e
translado dos
artistas. Estas
despesas podem
ser
patrocinadas,
bem como o valor
de ingresso ao
evento pode ser
a doação de
material
didático, ou de
livros
espíritas, ou a
doação de
alimento não
perecível ou
mesmo dinheiro
para cobrir as
despesas com a
realização do
evento e gerar
recursos para as
instituições que
o promovem com
vistas à
manutenção e
custeio de suas
despesas e ao
desenvolvimento
do serviço
assistencial que
realizam.
Portanto, penso
que tudo depende
da intenção de
seus promotores
e da
transparência
que darão a esta
intenção.
Concluindo nossa
entrevista,
deixe algumas
palavras aos
leitores que têm
em si a “veia
artística“
aflorada.
Aproveitarei
para lembrar as
palavras do
Espírito Alfred
de Musset em
obra citada
nesta
entrevista: “(...) o
Espiritismo abre
à arte um campo
novo, imenso, e
ainda
inexplorado, e
quando o artista
trabalhar com
convicção, como
trabalharam os
artistas
cristãos,
haurirá nessa
fonte as mais
sublimes
inspirações”.
A você, cuja
alma de artista
sente aflorada,
inspire-se
nestas palavras
de Musset e
estude a
Doutrina
Espírita, viva-a
com intensidade,
permita que ela
penetre em seu
coração e lhe
ilumine a mente,
auxiliando-o a
educar emoção e
sentimento,
promovendo a sua
renovação moral
e
autoiluminação.
Eleja,
adote, filie-se
a uma
instituição
espírita e
comprometa-se
com as suas
atividades e
disciplinas. Sua
vocação
artística pode
habilitá-lo a
atuar em
qualquer
atividade desta
instituição. O
centro espírita
é uma escola de
almas que lhe
permitirá
desenvolver o
senso de
contemplação
para que se
torne o médium
das belezas
eternas. Ore e
peça a Deus para
que ele o
conduza à
instituição mais
adequada a fim
de iniciar-se no
desenvolvimento
desse trabalho.
Por fim,
lembrando as
palavras
de Maria
Dolores em sua
bela poesia
“Alma de
Artista”:
“Nas mais altas
visões em que
caminhes,
Que os teus
sonhos se elevem
e amplamente
ressoem!
Alma de artista,
gênio, luz,
trabalho,
Deus te inspire
e abençoe!”