Eis a parte final do
comentário feito por
Kardec no capítulo V de
O Evangelho segundo o
Espiritismo, sobre
as causas atuais das
nossas aflições:
“Daí se segue que, nas
pequenas coisas, como
nas grandes, o homem
é sempre punido por
aquilo em que pecou.
Os sofrimentos que
decorrem do pecado
são-lhe uma advertência
de que procedeu mal.
Dão-lhe experiência,
fazem-no sentir a
diferença existente
entre o bem e o mal e a
necessidade de se
melhorar para, de
futuro, evitar o que lhe
originou uma fonte de
amarguras; sem o que,
motivo não haveria para
que se emendasse.
Confiante na impunidade,
retardaria seu avanço e,
consequentemente, a sua
felicidade futura”. […]
(KARDEC, 2007c, p.
106-107.) (grifo nosso.)
Observe, caro leitor,
que Kardec é taxativo em
dizer que Deus “não
deixa impune qualquer
desvio” e que “não há
falta alguma, por mais
leve que seja, nenhuma
infração da sua lei, que
não acarrete forçosas e
inevitáveis
consequências”, o que,
julgamos, põe por terra
toda e qualquer crença
em um perdão puro e
simples, do qual nada
reste a pagar pelas
infrações a qualquer uma
das leis divinas.
Ainda em O Evangelho
segundo o Espiritismo,
no capítulo X –
Bem-aventurados os que
são misericordiosos,
transcrevemos agora o
seguinte trecho da
instrução do espírito
João, bispo de Bordeaux:
“Que é o que pedis ao
Senhor, quando implorais
para vós o seu perdão?
Será unicamente o olvido
das vossas ofensas?
Olvido que vos deixaria
no nada, porquanto,
se Deus se limitasse a
esquecer as vossas
faltas, Ele não puniria,
é exato, mas tampouco
recompensaria.
A recompensa não
pode constituir prêmio
do bem que não foi
feito, nem, ainda menos,
do mal que se haja
praticado, embora esse
mal fosse esquecido.
Pedindo-lhe que perdoe
os vossos desvios, o que
lhe pedis é o favor de
suas graças, para não
reincidirdes neles,
é a força de que
necessitais para
enveredar por outras
sendas, as da submissão
e do amor, nas quais
podereis juntar ao
arrependimento a
reparação”. (KARDEC,
2007c, p. 189-190.)
(grifo nosso.)
O perdão, como um pedido
de graça, para não mais
reincidir no erro, é o
único sentido que vemos
no caso de se insistir
na hipótese de que Deus
realmente perdoa, ou
seja, ele apenas releva
nossas faltas, na justa
medida em que as
repararmos: seja pelo
amor, seja pela dor.
Para completar o nosso
raciocínio, vejamos o
que Kardec comenta, em
O Céu e o Inferno,
sobre o código penal da
vida futura, que tem
relação direta com o
nosso assunto:
“O arrependimento,
conquanto seja o
primeiro passo para a
regeneração, não basta
por si só; são precisas
a expiação e a
reparação.
Arrependimento,
expiação e
reparação
constituem, portanto, as
três condições
necessárias para apagar
os traços de uma falta e
suas consequências. O
arrependimento suaviza
os travos da expiação,
abrindo pela esperança o
caminho da reabilitação;
só a reparação,
contudo, pode anular o
efeito destruindo-lhe a
causa. Do contrário, o
perdão seria uma graça,
não uma anulação”.
(KARDEC, 2007d, p. 101.)
(grifo nosso.)
Exatamente como já foi
dito anteriormente. Se,
de qualquer forma, nós
temos que “pagar”,
então, na prática não há
mesmo o perdão de Deus,
no sentido com que
habitualmente nele se
crê, ilustrado no
exemplo que demos acima
com a história de Raul,
o farmacêutico.
E, aproveitando que
estamos com a obra O
Céu e Inferno em
mãos, transcreveremos
mais alguns trechos,
pinçados aqui e ali, das
considerações de Kardec
sobre o código penal da
vida futura:
Não há uma única
imperfeição da alma que
não importe funestas e
inevitáveis
consequências,
como não há uma só
qualidade boa que não
seja fonte de um gozo.
(p. 98)
Sendo infinita a justiça
de Deus, o bem e o mal
são rigorosamente
considerados, não
havendo uma só ação, um
só pensamento mau que
não tenha consequências
fatais, como não há
uma única ação
meritória, um só bom
movimento da alma que se
perca, mesmo para os
mais perversos, por isso
que constituem tais
ações um começo de
progresso. (p. 99)
Não há regra absoluta
nem uniforme quanto à
natureza e duração do
castigo: – a única
lei geral é que toda
falta terá punição,
e terá recompensa todo
ato meritório,
segundo o seu valor.
(p. 100)
O único meio de evitar
ou atenuar as
consequências futuras de
uma falta está no
repará-la,
desfazendo-a no
presente. Quanto mais
nos demorarmos na
reparação de uma falta,
tanto mais penosas e
rigorosas serão, no
futuro, as suas
consequências. (p. 106)
Certo, a misericórdia de
Deus é infinita, mas não
é cega. O culpado que
ela atinge não fica
exonerado, e, enquanto
não houver satisfeito à
justiça, sofre as
consequências dos seus
erros. Por infinita
misericórdia, devemos
ter que Deus não é
inexorável, deixando
sempre viável o caminho
da redenção. (p. 107)
A cada um segundo as
suas obras, no Céu como
na Terra: – tal é a lei
da Justiça Divina.
(p. 109)
(KARDEC, 2007d, p.
97-109 passim.) (grifos
nossos.)
Fica evidente, em todos
esses trechos, que, “sem
perdão”, sofreremos as
consequências de nossos
maus atos.
Conclusão
Estamos plenamente de
acordo com o profeta
Isaías quando disse:
“[...] se se
perdoar o ímpio, ele não
aprenderá a justiça,
na terra da retidão ele
se entregará ao mal e
não verá a majestade do
Senhor”. (Isaías
26,9-10.)
Provavelmente, Paulo, o
apóstolo dos gentios,
também compreendia da
mesma forma o que
estamos colocando: “Não
se iludam, pois com Deus
não se brinca: cada
um colherá aquilo que
tiver semeado”.
(Gl 6,7.)
Continuando citando a
Bíblia, temos mais um
passo para justificar
nosso pensamento, qual
seja:
Naum 1,3: “O Senhor é
paciente, mas grande em
poder. O Senhor
jamais deixa alguém
impune. […]”.
Veja bem, caro leitor,
se “o Senhor jamais
deixa alguém impune”,
consequentemente podemos
concluir que ele também
jamais perdoa;
porém, fará de tudo para
nos corrigir e ensinar,
conforme é dito neste
passo:
Eclesiástico 18,12: “A
misericórdia do homem é
para o seu próximo,
porém a misericórdia do
Senhor é para todos os
seres vivos. Ele
repreende, corrige,
ensina e dirige, como o
pastor conduz o seu
rebanho”.
Ora, um pastor que se
preze ama a todas as
suas ovelhas, jamais as
maltrata, faz de tudo
para corrigi-las,
ensinando-as aquilo que
julga ser bom para elas.
André Luiz (espírito),
pela psicografia de
Waldo Vieira, afirmou: “Deus
é Equidade Soberana, não
castiga e nem perdoa,
mas o ser consciente
profere para si as
sentenças de absolvição
ou culpa ante as Leis
Divinas”. (XAVIER e
VIEIRA, 2006, p. 190.)
(grifo nosso.)
Em analisando o texto,
onde se encontra essa
frase, a equipe da
Redação do Momento
Espírita conclui:
“Nem castigo, nem
perdão. Deus não castiga
porque suas leis são de
amor, e não perdoa
porque jamais se
ofende”. (www.momentoespirita.com.br)
(grifo nosso.)
De uma mensagem que nos
foi passada, para
avaliação, ditada pelo
espírito Silas, por
intermédio da
psicografia do médium
Keywison F. Braga
(Divinópolis, MG),
transcrevemos o seguinte
trecho:
[…] Deus não precisa
perdoar os desacertos,
devido a que não carrega
ira e nem mágoa, eis que
não tem orgulho, não
se ofende, portanto
a necessidade do perdão
é exclusivamente dos
seres inferiores que se
deflagram com os erros
que mesmo cometem. O
perdão é o ato de
aliviar a culpa alheia
sem ter de corrigi-la;
através das dificuldades
o criador nos impõe o
recurso da corrigenda,
não pelo perdão, mas
pelo amor. […] (BRAGA,
2012) (grifo nosso.)
Corrobora-se o que foi
dito no parágrafo
imediatamente anterior.
Mahatma Gandhi
(1869-1948), segundo o
escritor Sérgio
Biagi Gregório (1946- ),
“quando questionado se
já tinha perdoado
alguém, ele simplesmente
disse que nunca tinha
perdoado ninguém, porque
nunca se sentira
ofendido. Se ele não se
sentiu ofendido, não
tinha o que perdoar”.
(GREGÓRIO, 2007). Então,
com muito mais forte
razão, nós reafirmamos
com absoluta convicção
que Deus, o amor
infinito, não perdoa,
porquanto jamais se
ofende.
Diante de tudo que
expomos, não há como
mudar de opinião; aliás,
agora, mais do que
nunca, acreditamos
estar, sim, de acordo
com os princípios
doutrinários apregoados
pelo Espiritismo; porém,
sabemos que nossa
opinião pode, ainda
assim, não ser aceita;
não haverá problema,
pois não nos julgamos
donos da verdade, mas
apenas um buscador
dela.
Referências
bibliográficas:
BRAGA, K. F. Alvorada
de Bênçãos. 2012.
KARDEC, A. Revista
Espírita 1859.
Araras, SP: IDE, 1993e.
KARDEC, A. O Céu e o
Inferno. Rio de
Janeiro: FEB, 2007d.
KARDEC, A. O
Evangelho segundo o
Espiritismo. Rio de
Janeiro: FEB, 2007c.
XAVIER, F. C. e
VIEIRA,W. O Espírito
da Verdade. Rio de
Janeiro: FEB, 2006.
REDAÇÃO MOMENTO
ESPÍRITA. Nem
castigo, nem perdão.
http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1223&stat=3&palavras=nem%20casrigo&tipo=t,
acesso em 20.06.2012, às
14h10.
GREGÓRIO, S. B.
Bem-aventurados os
misericordiosos in;
http://www.ceismael.com.br/artigo/bem-aventurados-misericordiosos.htm,
acesso em 20.06.2012, às
14h17.
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