Como foi sua iniciação no Movimento Espírita?
Sou espírita
desde muito
novo, embora não
tenha me
adaptado ao
movimento com
facilidade.
Sempre fui
considerado
aquela criança
“difícil” de se
evangelizar
porque aceitava
com muitas
reservas as
naturalizações
que algumas
professoras
faziam em
relação aos
aspectos da
doutrina, como
se fossem dogmas
da religião de
ontem. Por um
tempo, cheguei
mesmo a
abandonar o
Espiritismo, mas
aos 14 anos
vivenciei minha
primeira
experiência
mediúnica. A
partir da
mediunidade em
educação, criei
raízes e
permaneço até
hoje na tarefa.
Quais atividades realiza dentro do Movimento Espírita e em quais
Centros
Espíritas atua?
Atuo atualmente
em duas
instituições
espíritas de
modo direto. Em
Bicas sou
fundador e
diretor
presidente da
Morada do
Caminho, uma
instituição
espírita de
amparo à
infância. Na
casa oferecemos,
além das
atividades
religiosas,
oficinas de arte
e cultura, aulas
de idioma e
reforço escolar
para crianças e
jovens da
comunidade.
Diferente do que
costuma
acontecer, essa
casa foi
elaborada não a
partir da cisão
entre outras,
mas da união de
trabalhadores de
várias origens
na busca por um
modelo de
promoção social
coerente com os
modelos
crísticos e
espíritas. Em
Juiz de Fora,
fui adotado e
adotei com o
mesmo carinho o
Centro Espírita
Fé e Caridade,
onde trabalho
como diretor
mediúnico e
coordeno também
um grupo de
estudos acerca
do Novo
Testamento.
Em sua opinião,
como o jovem
espírita se
sente dentro do
movimento? É bem
recebido? Ele se
sente à vontade
e é bem
orientado?
O cenário está
mudando, mas até
bem pouco tempo
o jovem era um
frequentador
estranho dentro
das casas
espíritas.
Explico-me:
sempre foi ele
tratado como o
“futuro” do
movimento, mas
não possuía
capacidade para
fazer outra
coisa na
instituição que
não fossem
trabalhos
braçais.
Estudos, de vez
em quando.
Passes, se fosse
exemplar.
Mediunidade,
nunca. Nesse
contexto o jovem
permanecia nas
casas espíritas
por algum tempo
e depois recebia
outros convites
mais abertos à
sua vontade de
trabalhar.
Conheci mesmo
vários
companheiros que
se desligaram do
movimento
espírita e se
ligaram a grupos
protestantes ou
carismáticos
exatamente pela
acolhida e
oportunidade de
serviços mais
amplos. Como
disse, e com
muita alegria, o
cenário está
mudando.
Atualmente
várias casas têm
compreendido o
papel do jovem
no movimento de
hoje, não do
amanhã distante.
As propostas de
trabalho se
reformulam e os
jovens podem se
adaptar mais
facilmente ao
serviço
espírita.
Como construir o
“Ser Ético”
nestes tempos de
transição, a
partir do status
de jovem?
Ser jovem é
transitório; ser
intolerante é
estado de
espírito. Não
creio que o
status de
juventude seja
diferencial para
a conduta do ser
ao longo da
vida. Sobre os
tempos de
transição,
acredito, com
nossos
orientadores
espirituais, que
o movimento se
iniciou pela
vinda do Cristo
e hoje, como há
200 anos, o
mundo passa por
grandes
transformações.
Para ser ético
neste processo
que transcende a
compreensão
geral cabe ao
espírito ser
entregue à
essência do que
o Mestre nos
propõe, e cada
vez mais
desligado das
formas estéreis.
Em um joguete
filosófico
podemos dizer
que a ética é o
Cristo em nós,
enquanto a moral
é obra das
tantas
religiões.
Em sua opinião
de jovem, o que
deveria ser
mudado dentro
das práticas
exercidas nos
Centros
Espíritas?
Não sou um
revolucionário e
entendo os
limites do tempo
no serviço do
Pai, mas
acredito que em
nossas casas
espíritas muita
coisa precisaria
ser modificada.
Vivemos uma
burocratização
crescente do
trabalho
espírita com
avalanches de
cursos
formadores que
no fim não são
capazes de
formar muita
coisa. O sistema
se torna ainda
mais obsoleto
quando se é
trabalhador de
uma instituição
qualquer e, por
motivos
particulares,
deve-se
transferir de
cidade ou núcleo
de trabalho.
Nesse momento
todo o sistema
em vigor entra
em conflito e já
não basta haver
estudado, é
preciso
recomeçar do
zero iniciando
novo movimento
burocrático e
moroso de
ligação ao
serviço. Além
disso, vive-se a
supervalorização
de mensagens
mediúnicas
estranhas ou,
quando não, a
esterilidade da
mediunidade como
algo
ultrapassado e
perigoso.
Sinceramente, há
muito que se
compreender
acerca do
Espiritismo para
lidar com estas
situações.
Conforme disse,
no entanto,
entendo os
limites do tempo
no processo de
amadurecimento
das almas e
creio que as
mudanças que
aponto vêm
acontecendo
normalmente.
Alguns “donos”
de casas
espíritas estão
retornando para
a pátria
espiritual e aos
poucos vêm
surgindo novas
cabeças voltadas
mais para o que
é de importância
ao Espírito em
detrimento de
quaisquer outras
coisas.
Dentre os
fundamentos
básicos da
Doutrina
Espírita qual
deveria ser o
mais enfocado na
formação do
jovem espírita?
O método
kardequiano de
análise crítica.
Ao jovem deste
milênio não é
justo oferecer
cartilhas
quaisquer, o
processo de
amadurecimento
será tão mais
produtivo quanto
mais luz o
iniciante
possuir para, de
suas próprias
reflexões,
iluminar o
caminho por onde
pretende andar.
Como foi seu
engajamento nas
propostas de
dirigente
espírita? Quais
são seus
objetivos?
Não sei
responder esta
pergunta. Não
quis ser
dirigente, não
me programei
para isso ou
mesmo me apego à
função. As
coisas foram
acontecendo
naturalmente e
hoje ocupo o
papel de
liderança a que
se refere à
pergunta.
Intimamente fico
muito
desconfortável
com os
comentários que
escuto por onde
viajo acerca do
“Vinícius Lara”.
Sei que o tal
Vinícius é muito
maior do que eu,
e bastante
diferente, mas
também sei que
por onde o Pai
me permitiu
passar, esta
personagem foi
capaz de abrir
caminho a outros
jovens
tarefeiros.
Talvez este seja
o objetivo de eu
estar ligado à
gestão do
movimento, ou
mesmo
respondendo esta
pergunta agora.
O jovem
não-espírita o
procura para
conhecer a
Doutrina?
Várias vezes e,
por grata
alegria, muitos
deles se tornam
simpatizantes da
doutrina ou
mesmo
trabalhadores em
instituições
espíritas por
aí.
Acaso lhe fosse
solicitado uma
formatação de
estudos das
obras de André
Luiz para
jovens, quais
seriam suas
sugestões?
Ótima pergunta,
embora o espaço
de uma resposta
não seja
suficiente para
abarcar todo um
programa.
Existem vários
itens na obra de
André Luiz de
muita
importância para
o esclarecimento
acerca dos
postulados
espíritas. Em
alguns aspectos
o autor mesmo
dilata o
conjunto de
reflexões
apresentadas por
Allan Kardec
ampliando o
cenário de
abrangência
espírita para
muito além da
simples
cogitação. Em
minhas
meditações,
tenho cada vez
mais acreditado
na mudança na
fórmula de
transmissão do
ensino. Já não
vivemos no tempo
dos grandes
ícones ou da
exposição
sumária de
assuntos
quaisquer. Como
ponto básico na
formatação de
estudos acerca
da obra de André
Luiz a jovens,
creio que o
ponto
fundamental
seria o foco nas
perguntas e não
nas respostas.
Gerar dúvidas e
a seguir
explicar o que o
Espiritismo pode
somar às
reflexões seria
o ideal. Conheço
inclusive um
grupo de jovens
que leva a sério
este modelo
crítico de
estudos. Em Juiz
de Fora há um
movimento
interessante em
torno da
juventude
organizado pelo
amigo e irmão
Waldyr Imbroisi,
que considero o
modelo mais
interessante de
quantos conheço
por onde pude
viajar. As
reuniões como
citadas
acontecem neste
grupo tanto
dentro dos
ciclos de
mocidade da Casa
Espírita, como
também nas ações
do DEJ-AME da
cidade. Valeria
a pena o
contato.
Acredita que
vivemos hoje uma
derrocada ou um
avanço das
sociedades?
Vivemos hoje
parte do ciclo
de
amadurecimento
de nossas almas.
Aos que creem na
evolução como
processo linear,
estamos em
derrocada.
Prefiro
substituir
evolução por
amadurecimento e
o modelo linear
pelo espiral
cíclico. Estamos
de retorno à
casa do Pai,
conforme o filho
pródigo da
parábola
evangélica.
Como apresentar
Jesus dos
espíritas para a
sociedade atual?
Falando menos e
sendo mais.
Em sua opinião,
qual deve ser
hoje a essência
do debate:
Tradições x
Espiritismo?
O cerne deste
debate deveria
se concentrar no
fato de que o
Espiritismo
enquanto
filosofia
espiritualista
não possui
qualquer pacto
com tradições
humanas. Se há
tradicionalismo
em alguma casa
espírita é
importante rever
os fundamentos
de nossa crença
e compreender
sua proposta
inicial. Aos
demais
companheiros do
planeta, que se
realizam na
presença de
tradições e
rigores,
desejemos a
bênção de Deus e
os votos de
muita paz em sua
caminhada para o
alto. No
entanto, ao
Espiritismo,
transparência e
lucidez.
Como deve ser
estudado o tema
sexualidade
entre jovens
espíritas?
Como por
quaisquer
jovens, com
respeito,
carinho e
esclarecimento.
É importante
romper com
ideias
pré-concebidas e
de funda marca
preconceituosa e
cruel. O sexo é
faculdade da
alma e o corpo
que o
exterioriza é
templo de Deus.
As inferências
que se projetam
dessa realidade
são de caráter
muito pessoal; o
fato é que o
Espiritismo não
pode reproduzir
todo o
preconceito
judaico-cristão
acerca da
sexualidade,
deve
compreendê-la e
respeitá-la como
manifestação da
alma.
Acredita na
eficiência dos
atuais modelos
de encontros de
jovens espíritas
ou eles deveriam
ter outro
formato?
Acredito muito,
são trabalhos
formidáveis! Há
apenas algumas
reflexões que me
surgem à mente
sobre esse
aspecto. O
movimento
espírita de modo
geral se
constituiu de
maneira bastante
elitista, e isto
fica mais claro
quando pensamos
nos trabalhos
assistenciais –
que hoje se
modificam já em
tempo –
dividindo
pessoas entre
assistidos e
assistentes.
Neste cenário os
encontros de
juventude
espírita e todo
o restante das
atividades
religiosas do
movimento
terminavam por
se voltar a
indivíduos de
classe média
alta, enquanto
boa parte da
juventude de
menor renda
permanecia
afastada do
processo como um
todo. Este
estigma, filho
de uma postura
incompleta
acerca da função
das casas dentro
da assistência
social, tende a
terminar e
apenas ele me
preocupa quando
observo os
encontros de
jovens de que me
pergunta.
Uma palavra para
os jovens de
hoje.
Perseverança e
amadurecimento.
O mundo inteiro
é oficina de
Deus e por isso
saibam servir ao
Criador onde
forem chamados,
independentemente
das formas
religiosas ou
sociais do
serviço. Não
vale a pena
perder o encanto
pelo outro e há
sempre um pouco
mais a se fazer.
No momento em
que se
encontrarem
sejam luz e todo
o resto será
apenas detalhe.
Agradecemos e
pedimos suas
palavras finais.
Agradeço aos
amigos pelo
carinho e a
confiança nas
perguntas
realizadas com
tanto afeto.
Espero nos
encontremos por
outros caminhos
ao longo das
tarefas que a
providência nos
confia e
sinceramente
transmito aos
leitores amigos
um abraço
carinhoso e um
beijo no
coração. |