Eis a entrevista
que ele nos
concedeu:
Em sua visão,
como está o
movimento das
mocidades
espíritas na
atualidade?
O movimento de
mocidades
espíritas, em
nível de Brasil,
é complexo e
extremamente
multifacetado,
de modo que não
é seguro falar
por todo o
território
nacional. Das
poucas viagens
que fiz e das
informações que
colho com amigos
palestrantes e
trabalhadores,
parece-me que o
movimento de
mocidades,
embora em
expansão,
continue
representando
parcela pequena
diante do número
de casas
espíritas. Em
algumas cidades
com seis ou sete
casas espíritas,
não há mocidade;
em outra, com
quinze centros,
apenas um ou
dois grupos
jovens estão
estabelecidos.
Pelo pouco que
conheço, Rio de
Janeiro e Juiz
de Fora ocupam
posição
promissora nesse
sentido, visto
que mais da
metade das casas
nessas cidades
possui um núcleo
de estudo do
Espiritismo
voltado para a
juventude.
A inserção do
jovem nas
atividades dos
centros
espíritas está
seguindo um
critério
adequado?
Acredito que
essa inserção
varia de casa em
casa nos modos
como é feita e
na proporção.
Parece-me que,
frequentemente,
as casas
concentram suas
posturas ou no
extremo da
burocratização
do movimento,
que exige
necessariamente
tantos anos de
grupos de estudo
básico ou coisa
que o valha,
para, enfim,
possibilitar ao
jovem o
trabalho; ou no
extremo da
liberalidade
exagerada, que
inclui rapazes e
moças no
trabalho no
primeiro mês de
presença na
casa. Embora eu
me incline mais
pela postura de
captar
trabalhadores
sempre que
possível, é
importante
lembrar que, ao
delegar uma
responsabilidade
a um trabalhador
qualquer, seja
ele jovem ou
não, o não
cumprimento da
função
acarretará
prejuízo ao
serviço.
Portanto, a
postura mais
coerente
parece-me a de
incluir o jovem
paulatinamente
no serviço, de
modo que ele,
assim como
qualquer outro
trabalhador,
conquiste as
possibilidades
de servir ao
Cristo pela
moeda da
perseverança,
sem a
necessidade de
formalidades que
mais prejudicam
do que auxiliam
o movimento.
Qual a melhor
didática para
oferecer ao
jovem que chega
à instituição
espírita?
A forma de se
trabalhar os
conteúdos
espíritas com os
jovens pode
variar bastante,
chegando ao
sucesso de
formas
distintas. No
entanto,
parece-me que há
uma constante a
ser observada no
trabalho com a
juventude: a
valorização da
participação do
jovem na
construção do
conhecimento.
Lembremos que
Leopoldo
Machado, nas
décadas de 1930
e 40, era um
entusiasta do
movimento de
juventude, que
dizia ser capaz
de “arejar” os
centros, por
vezes muito
vetustos e
sisudos.
Transformar as
reuniões de
mocidades em
pequenas
palestras, com a
diferença apenas
de serem
realizadas para
jovens, é ir de
encontro à
proposta inicial
da formação de
tais grupos. É
essencial que o
jovem seja
questionado,
questione o
moderador e
questione a si
mesmo no
processo de
aquisição do
conhecimento
doutrinário.
Alicerçado nas
obras básicas e
nas
complementares,
o Espiritismo
deve ser visto
em sua relação
com a realidade
do indivíduo,
com as suas
dificuldades e
vivências, e não
como uma
doutrina
eidética,
desconectada das
preocupações da
juventude.
Em sua opinião,
como os
coordenadores
das mocidades
devem se
preparar para
tão grande
tarefa?
Raul Teixeira,
com o bom senso
que lhe é comum,
aponta para o
descaso que
muitas casas têm
com a mocidade,
deixando-a
relegada aos
trabalhadores
menos
preparados. Para
o palestrante, o
coordenador de
mocidade deve
ser o que melhor
está preparado
na casa, visto
que está lidando
com as mentes e
os corações que
serão o alicerce
do movimento no
futuro. Nesse
sentido, é
essencial que o
coordenador
busque
conhecimento
doutrinário
sólido,
alicerçado
principalmente
na codificação,
para estar
seguro na hora
de conduzir as
discussões e não
permitir que se
percam no engano
do relativismo
absoluto, na
imprecisão de
conceitos e na
confusão de
ideias. Ainda, é
necessário que o
coordenador
tenha
sensibilidade
para os assuntos
da atualidade do
jovem, de modo
que seja
possível
realizar pontes
entre o
conhecimento
doutrinário e a
vida.
Finalmente, é
importante que o
coordenador
esteja atento
para os
princípios
fundamentais da
didática e dos
métodos de
ensino, que
podem
potencializar
seu trabalho no
sentido de
encontrar as
melhores
maneiras para
compartilhar e
construir o
conhecimento com
os jovens. Esse
último ponto
sempre foi muito
pouco
enfatizado, e
acredito que uma
reflexão séria
nesse sentido é
capaz de
modificar
positivamente a
estrutura das
mocidades
espíritas.
Lembrando
novamente Raul
Teixeira, é
essencial,
ainda, que o
coordenador seja
capaz de se
tornar amigo
do jovem
espírita, de
modo a construir
uma mocidade que
seja de todos.
Qual o momento
em que devem ser
oferecidas a
eles outras
atividades que
não sejam as da
assistência
social?
O jovem, assim
como qualquer
outro
trabalhador,
precisa de tempo
para se habituar
à doutrina, à
casa e ao
contexto em que
se insere, de
modo que assumir
responsabilidades
sérias com pouco
conhecimento e
sem
comprometimento
pode causar
problemas ao
trabalho. Para
todo
trabalhador,
acredito na
necessidade de
um
acompanhamento
quase pessoal
por parte dos
dirigentes, de
modo que esses
possam saber com
segurança o
momento certo
para inserção na
tarefa. Tal
acompanhamento
evita
burocratizações
excessivas e, ao
mesmo tempo,
oferece certo
controle e
observação.
Evidentemente,
centros grandes,
com muitos
trabalhadores,
enfrentam
maiores
problemas para o
acompanhamento
de novos membros
da casa; nesse
caso, talvez o
tempo de
frequência ou a
participação em
atividades como
grupos de estudo
possam servir
como parâmetro
para a inserção
na tarefa. Minha
resposta não
pode ser, de
forma nenhuma,
totalizante; eis
um
questionamento
que envolve
reflexão e a
necessidade de
adequação à
realidade das
diversas casas,
de modo que me
limito a algumas
indicações que
acredito serem
relevantes.
As reuniões
mediúnicas devem
ser abertas
também aos
jovens? Quais
suas
experiências
neste sentido?
Assim como os
outros
trabalhos,
compreendidos na
pergunta
anterior, cada
caso deverá ser
analisado como
caso específico,
e necessitará de
acompanhamento
dos aspirantes
ao trabalho
mediúnico.
Cumpre, acima de
tudo, não pecar
pelos extremos
do excesso de
cobranças nem da
liberalidade
pródiga, ambos
prejudiciais à
formação dos
grupos e mesmo
ao ambiente da
casa espírita.
Juiz de Fora
tende a ser uma
cidade
conservadora em
termos de
juventude nas
reuniões
mediúnicas; os
exemplos que
pude acompanhar
são, de forma
geral, de jovens
comprometidos
com o estudo e
com outros
trabalhos dentro
da casa –
elementos, a meu
ver,
absolutamente
essenciais. Se
por vezes um
jovem médium se
deixa levar pelo
orgulho e pela
vaidade que a
suposta condição
lhe oferece, não
creio que sejam
essas
ocorrências mais
frequentes entre
os moços do que
entre os
adultos.
Como lidar com
um jovem que
chega à
instituição com
uma mediunidade
ostensiva?
Apenas o
tratamento ou a
tarefa mediúnica
em si?
Ao jovem que
acaba de chegar
à casa, sem
conhecimento do
Espiritismo, a
inserção nas
fileiras da
tarefa mediúnica
pode
configurar-se
como falta de
caridade. É
necessário que,
antes do
trabalho em si,
o jovem estude
minimamente as
diretrizes
seguras pelas
quais deve se
pautar, a saber,
as contidas na
codificação. O
tratamento para
a mediunidade
não é unicamente
a prática; o
trabalho no bem,
os passes
fluidificados, a
reforma íntima
sincera são
passos iniciais
a serem dados
antes do
ingresso nas
lides da
mediunidade.
Isso posto, que
o jovem engrosse
as equipes de
trabalho
juntamente com
seus irmãos mais
experientes.
O que é a
Caravana de
Mocidades que
acontece em Juiz
de Fora?
A Caravana de
Mocidades de
Juiz de Fora,
ora sob a
coordenação de
Tiago Nunes,
João Carlos e
uma dedicada
equipe, é uma
iniciativa que
partiu dos
jovens com o
objetivo de
aproximarem-se
uns dos outros
mediante a
visita a
diversos grupos
espíritas. Ao
longo do ano,
todos os meses
uma mocidade é
visitada, sendo
esse trabalho
amplamente
divulgado entre
os jovens do
movimento. O
objetivo é
favorecer a
integração e o
movimento de
unificação entre
os jovens, tendo
o trabalho
alcançado
excelentes
frutos até o
presente
momento.
E a COMEJUS?
A COMEJUS, aos
moldes da
COMEERJ (Rio de
Janeiro) e da
COJEL
(Leopoldina), de
quem é “filha”,
é a
“Confraternização
de Mocidades
Espíritas de
Juiz de Fora e
Sub-região”. É
um encontro que
acontece todos
os anos no
carnaval, ao
longo dos quatro
dias, que
oferece uma
alternativa
saudável e
maravilhosa aos
jovens nesse
período. Ao
longo do
encontro,
estudam-se temas
pré-selecionados
pelos próprios
jovens através
de grupos de
estudo,
oficinas,
palestras e
atividades
lúdicas. O
potencial de
unificação desse
trabalho é
intenso e
crescente, e o
ambiente
espiritual
vivido nesses
quatro dias é
simplesmente
incrível. Este
ano contamos com
aproximadamente
quarenta
trabalhadores,
totalizando, com
os
confraternistas,
aproximadamente
160 integrantes
no encontro.
Para o ano que
vem, espera-se
um encontro
ainda mais
especial: a
COMEJUS
completará 25
anos de
jornada.
Como o jovem
pode ajudar no
grande projeto
da unificação
das Casas
Espíritas?
É importante que
o grupo jovem
não seja um
apêndice, um
grupo à parte no
seio da
instituição
espírita;
estando
envolvido com os
demais
departamentos e
trabalhadores, a
mocidade será
capaz de,
“dentro de
casa”, iniciar
esse movimento
de unificação.
Posteriormente,
a maleabilidade
que o jovem
possui é muito
positiva: além
de encontros de
estudo para a
juventude e
eventos musicais
– ao todo,
contamos com
sete eventos
anuais em Juiz
de Fora –, a
ferramenta da
internet é
excelente para
manter contato
com os jovens de
diferentes
centros. Estou
inserido em um
grupo de
mocidades
espíritas da
cidade que conta
com mais de 500
jovens, e por
esse meio
divulgamos
eventos,
trocamos textos,
músicas e
ideias. É um
espaço
privilegiado
para favorecer a
unificação, que
se concretiza em
situações como a
caravana e os
encontros.
Em sua opinião,
é possível que o
jovem espírita
participe de
festas em outros
locais que não
sejam o centro
espírita sem se
perturbar com
isto?
Para o jovem
espírita, as
alegrias
exteriores ao
centro não são,
de forma
nenhuma,
proibidas ou
consideradas
perniciosas.
Lembremos das
palavras dos
Espíritos em “O
Homem no Mundo”
(ESE, cap. XXVII
– 10): “Vivei
com os homens de
vossa época,
como devem viver
os homens”. No
entanto, cumpre
dizer que
participar da
vida exterior ao
centro não
retira as
responsabilidades
que o jovem
adquire perante
a própria
consciência e a
misericórdia
divina ao
conhecer as
verdades do
plano
espiritual: agir
de forma
irresponsável,
em qualquer
circunstância,
levará às
consequências
próprias os atos
deliberadamente
cometidos. O
jovem, como
também o adulto,
vai à casa
espírita buscar
refrigério para
as dores,
conhecimento
para enxergar o
mundo e forças
renovadas para
viver a
realidade. Se,
no retorno para
essa mesma
realidade, o
jovem se esquece
do que foi
haurido em
ambiente
propício para
sua
aprendizagem, de
nada terá
valido. No
entanto, o jovem
de propósitos
seguros e
certezas diante
do caminho
evolutivo pode
encerrar-se em
círculos de
festa e
alegrias, sem
permitir-se
entregar a
prazeres menos
felizes e que
trariam
consequências
funestas.
Seguindo a mesma
leitura, os
Espíritos
continuam:
“Sede joviais,
sede ditosos,
mas seja a
vossa
jovialidade a
que provém de
uma consciência
limpa, seja a
vossa ventura a
de um herdeiro
do Céu que conta
os dias que
faltam para
entrar na posse
de sua herança”.
É possível ser
alegre sem ser
severo e
lúgubre. No
entanto, àqueles
que julgam-se
fracos diante de
certas tentações
e cujos valores
ainda precisam
ser
sedimentados,
talvez a melhor
profilaxia seja
a abstenção.
Há uma mudança
de atitude do
jovem espírita
quando entra
para a Faculdade
ou ele segue o
Espiritismo e a
graduação de
forma igual e
tranquila?
Muitos deixam de
frequentar os
grupos sob a
justificativa de
falta de tempo;
outros, sem
terem
conhecimento
profundo da
doutrina dos
Espíritos e sem
conhecerem a
organização
filosófica e
didática de
Kardec,
deslumbram-se
com sistemas
filosóficos mais
ou menos
coerentes e
deixam o centro
espírita em
função de uma
nova diretriz
para suas vidas;
outros, ainda,
permanecem na
casa, incólumes
às influências
perniciosas. Em
diversos centros
da cidade
constatou-se uma
tendência de
êxodo dos jovens
em idade
universitária, e
o retorno desses
jovens após a
estabilização de
sua vida
profissional e
financeira –
ocorrendo,
frequentemente,
na faixa dos 30
anos de idade.
Em sua opinião,
o que deve ser
mudado nas casas
espíritas em
relação ao
jovem?
É ainda Raul
Teixeira que
denuncia o
descaso que
muitas casas têm
com a mocidade,
relegando-a a
segundo plano e
dedicando-lhe o
espaço apenas
para o trabalho
de carregar peso
e distribuir
panfletos. Às
casas que mantêm
essa postura,
que, por sinal,
vêm diminuindo,
é necessário
rever o que se
está edificando
nos alicerces do
trabalho de
amanhã,
valorizando o
jovem não como o
futuro do
movimento, mas
como o presente.
É preciso
perceber que
entre a
evangelização –
que felizmente
recebe generosa
atenção – e os
trabalhos e
grupos mais
elaborados da
casa, existe o
grupo de jovens,
cuja direção e
serviço precisam
de cuidado. Tal
empreendimento
exige, contudo,
uma
contrapartida;
não são
incomuns,
também,
mocidades que se
fecham em si
mesmas,
afastadas das
diretrizes e
preocupações do
centro, e
funcionam como
pequenas
instituições
engastadas nas
casas, mas sem
de fato
pertencer-lhes.
É preciso que,
cada vez mais, a
juventude e os
outros
departamentos da
casa unam-se,
para que, além
das divisões de
idade e de
organização,
sejam todos
apenas um grupo
espírita.
Como as artes em
geral os ajudam
em suas
adaptações à
nova encarnação
e agora numa
entidade
espírita?
Toda arte tem um
corpo em sua
percepção. A
poesia e a prosa
possuem, pela
sua leitura, a
estesia dos
olhos que
compõem, através
das palavras,
lúcidos e belos
pensamentos; a
música, através
do embevecimento
dos ouvidos,
toca a alma
carregando as
mais fundas
mensagens; o
teatro, através
da profusão de
corporalidades
que desperta,
consegue dar ao
jovem retratos
vivos de
sentimentos
profundos ou de
elementos
doutrinários.
Muitas são as
artes que podem
ser usadas nas
entidades
espíritas, mas
todas elas têm
uma função
primordial, não
o didatismo
morno, de tom
professoral, mas
a possibilidade
de abrir o
jovem, de
predispô-lo à
vivência e ao
estudo do
Evangelho, para
despertar-lhe o
desejo de
melhora íntima e
para
fortalecer-lhe o
amor aos seus
irmãos
encarnados e
desencarnados.
Mais que um
objetivo
puramente
concreto, a arte
é capaz de
sublimar as
subjetividades e
oferecer novas
formas de pensar
e sentir.
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