Você tem se
utilizado
bastante das
artes em suas
atividades de
divulgação
espírita. De
onde vem esse
gosto e por quê?
Na minha
adolescência
participei de um
grupo de teatro
amador, atuando
como atriz em
espetáculos
infantis e
adultos; cheguei
até a realizar
teatros de
fantoches em
festas infantis.
Sempre admirei o
trabalho dos
meus amigos
artistas
plásticos
fazendo cursos
com eles. E
durante a
faculdade
participei do
coral
universitário.
Nas experiências
com jovens, o
que mais lhe
chama atenção no
uso da arte?
A capacidade que
a arte possui de
sensibilizá-los
e de
proporcionar uma
maior vivência
dos princípios
espirituais.
Das experiências
vividas
recentemente,
inclusive com
organização de
eventos
artísticos
doutrinários,
quais as que
você destacaria?
Primeiramente, a
beleza que a
arte
proporciona,
pois ela
encanta, alegra,
torna sublime as
relações. E
depois, como
diria São
Francisco de
Assis aos seus,
“prepare este
local que você
receberá o
viajante, como
se fosse ao
próprio Jesus”.
A arte de servir
ultrapassa a
organização em
si, pois aquele
que é acolhido,
recebido com
carinho,
sente-se amado!
A arte toma o
seu papel de
sensibilizar,
apurar os
sentimentos,
elevar o
pensamento,
sublimar as
energias.
Como você vê
atualmente a
integração
arte/conhecimento
espírita e sua
utilização nas
instituições
inspiradas pelo
Espiritismo?
Nossas
inteligências
são múltiplas,
por este motivo
devemos utilizar
as diferentes
linguagens,
ampliando desta
forma nosso
repertório de
atuação. A arte
é a melhor
maneira de
ampliar a
cultura de um
cidadão, fazendo
com que ele
repense seu modo
de pensar e agir
perante o
conhecimento de
si, do outro, de
seus valores e
questões, medos
e desejos...
Nossas aulas
acontecem de
modo que os
princípios da
doutrina sejam
passados através
de dinâmicas,
vivências,
músicas,
dramatizações,
leituras,
exposições
dialogadas,
visitas,
intervenções,
teatro, entre
outros.
Gostaria de dar
um exemplo de
nossa última
experiência com
nossos jovens:
estávamos no
capítulo VI do
ESE, capítulo
que tem como
tema “O Cristo
Consolador”.
Iniciamos nossos
estudos
assistindo a uma
palestra de
Haroldo Dutra
Dias falando de
Jesus; lemos em
outra aula
trechos do
Evangelho; lemos
juntos capítulos
da trajetória de
Jesus abordado
por Humberto de
Campos no livro
“Boa Nova”... Os
educandos
assistiram a um
vídeo da
crucificação de
Jesus; tudo isso
causou
curiosidade nos
educandos sobre
a vida de Pedro,
Maria de Magdala...
Fizemos leituras
e conversas em
torno de outras
obras como as de
Alírio Cerqueira
e Cairbar, ambos
de Parábolas, e
finalizamos a
conversa sobre
Jesus e Maria de
Magdala
assistindo a um
grupo teatral de
Ribeirão Preto.
Penso que
utilizamos
diferentes
linguagens para
falar do mesmo
assunto, o que
faz com que o
educador aumente
o número de
educandos que
entendeu os
princípios
desejados.
Que fato
marcante nos
eventos
recentemente
realizados
deixou
expressiva
experiência às
suas bagagens?
No ano passado,
o Encontro Anual
Cairbar Schutel
(EAC) abordou
como tema
central o papel
da arte no
Espiritismo. A
arte estava em
todos os cantos,
nas salas, no
palco, na
instalação, nos
livros, nos
olhos, nas
oficinas, na
dança, na
música, na fala,
na alimentação.
A personalidade
destaque do
evento foi
Wallace Leal, um
Espírito que
esteve entre nós
e se utilizou da
poesia, da moda,
do teatro, do
amor, da
educação para
divulgar os
princípios da
doutrina
espírita. Na
montagem e
estudos sobre
sua vida eu me
emocionava a
cada momento que
eu ouvia alguém
falar de sua
personalidade e
de suas obras.
Penso que o que
fazemos deixa
marcas muito
mais profundas e
enraizadas no
ser que o
simples discurso
vazio de
expressividade.
A partir daí, eu
tive a certeza
de que meu
trabalho de
divulgação da
doutrina
espírita deve
acontecer
através das
artes.
Por que ainda há
resistência ao
uso da arte na
divulgação
espírita?
Por falta de
conhecimento, e
isso gera
atitudes
estereotipadas e
preconceituosas.
O próprio
codificador da
doutrina, Allan
Kardec, é o
maior divulgador
das artes na
Revista
Espírita. Depois
dele vem Léon
Denis. Ambos
tinham uma
cultura geral,
uma sabedoria de
viver, uma
educação
refinada e isso
nos leva a crer
que, sabendo
fazer bom uso, a
arte é o único
caminho que leva
à elevação
espiritual. Nas
obras de André
Luiz, pela
psicografia de
Chico Xavier,
podemos
vislumbrar em
muitas passagens
belíssimos
cenários de
música, som,
harmonia,
corais,
quadros...
Natureza!
No caso
específico da
música e das
artes cênicas,
como essas artes
têm alcançado o
coração do jovem
que se aproxima
do Espiritismo?
Em nossa
sociedade as
ONGs realizam
hoje um
excelente
trabalho de
resgate de
inúmeras
crianças e
jovens que se
encontram em
situação de
vulnerabilidade
social,
protegendo-as
das drogas, da
violência
doméstica, do
abuso sexual,
através da
dança, da
capoeira, do
teatro, da
música. O grande
desafio dessas
instituições é
garantir que, ao
se tornarem
adultos, terão
condições de
dizer “não” ao
tráfico e às
drogas. A
competição com o
mundo é desleal,
mas eu acredito
que a educação
espírita através
das artes se
torna hoje o
melhor caminho
de aprendizagem.
A forma mais
eficaz pelo
conhecimento,
verdade e
lógica, pois
toda criança e
todo jovem pedem
por segurança e
coerência.
Qual a maior
dificuldade
ainda existente
para uma boa
interação
arte/Espiritismo?
O que falta
mesmo é estudo,
conhecimento.
Muitos dos
formadores de
opinião nas
casas e centros
espíritas não
conhecem
pedagogia,
psicologia,
antropologia,
artes, e sua
cultura fica
restrita a
superficiais
leituras e
interpretações.
O conhecimento
levaria nossos
líderes a se
apropriarem em
seus grupos de
estudo ou nas
palestras
públicas de uma
diversidade de
opiniões sem
ficarem com
tanto receio,
que os leva a
cometer
intervenções, às
vezes, pouco
caridosas ou
justas.
Algo mais que
gostaria de
acrescentar?
Hoje, no dia em
que respondo a
estas questões,
desencarnou o
ator Robin
Williams. Em um
dos filmes em
que ele atuou,
um dos filmes
mais marcantes
em minha vida,
este que mudou
minha escolha
profissional,
“Sociedade dos
poetas mortos”,
eu tinha somente
17 anos quando o
vi. Uma das mais
belas frases
nele contida:
“não lemos e
escrevemos
poesia porque é
bonitinho. Lemos
e escrevemos
poesia porque
somos membros da
raça humana e a
raça humana está
repleta de
paixão.
Medicina,
advocacia,
administração e
engenharia são
objetivos nobres
e necessários
para manter-se
vivo, mas
poesia, beleza,
romance, amor...
é pra isso que
vivemos”. Eu
acredito que
hoje os exemplos
de sofrimentos e
sacrifícios já
se tornaram
obsoletos em
nossa
exemplificação
diária. Nossas
crianças e
jovens querem e
desejam exemplos
de amor, de
sabedoria, e pra
isso temos o
Espiritismo,
que, pela sua
lógica, amplia a
consciência,
liberta a alma.
Basta
utilizarmos uma
boa pedagogia, a
pedagogia
espírita.
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