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Ano 8 - N° 391 - 30 de Novembro de 2014

AMERICO DOMINGOS NUNES FILHO
americonunes@terra.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 
 

Americo Domingos Nunes Filho

A ruptura dos véus
do santuário

 
Quando a mensagem do Cristo for exemplificada, os véus da ignorância e da crueldade serão rasgados de alto a baixo

No Evangelho de Mateus, capítulo 27, versículo 51, há o relato bem significativo da ruptura do véu do santuário que ocultava o tabernáculo com a arca da aliança, no Templo de Jerusalém, produzida pela ação de mãos invisíveis e revoltadas.

Como o envoltório era considerado sagrado, só era descerrado uma vez por ano e somente pelo sumo sacerdote. Ninguém mais poderia tocá-lo, nem mesmo o rei; contudo, seres espirituais lograram penetrar no tabernáculo e rasgaram a cortina, por conta de um fenômeno, perfeitamente explicado pela excelsa Doutrina Espírita, enquadrando-o como resultante da mediunidade de efeitos físicos. É imperioso ressaltar que, para os Espíritos terem condições de manifestação direta na matéria, há necessidade da presença da substância ectoplasmática, no caso em tela fartamente exteriorizada por Jesus, no momento glorioso de seu desenlace.

Simbolicamente, o véu Paroquete representa todas as compactas barreiras, edificadas no sentido de impedir o acesso ao conhecimento espiritual, ao verdadeiro saber que liberta os seres dos grilhões da ignorância, formados a bel-prazer pelo obscurantismo religioso e científico. Contudo, o Mestre ressaltou que a verdade seria conhecida (João 8:32) e, consequentemente, a escravidão do dogmatismo será passo a passo extinta, tornando livre toda a Humanidade.

O Espiritismo, como o “Consolador prometido por Jesus”, tem o escopo de propiciar a queda dos véus da ignorância, através da disseminação de seus princípios básicos bem estruturados e claramente definidos.

A pluralidade das existências corresponde a um conceito basilar doutrinário importantíssimo, porquanto a evolução, progresso contínuo e harmonioso de toda a Criação Divina, não poderia acontecer, em apenas uma vida física.  

Exemplificou Jesus a sobrevivência da criatura
após o túmulo, aparecendo completamente
materializado a Maria Madalena
 

Através da palingênese, o átomo primitivo pode chegar a arcanjo, ou seja, o princípio espiritual vai aprimorando-se dentro de milênios, passando pelo vegetal, pelo reino animal, reino hominal, onde individualizado segue o caminho das estrelas sem-fim, até chegar à condição de Espírito puro, consciente eternamente de si mesmo, vivenciando completamente a felicidade e a perfeição.

O Cristo atestou a presença potencial de Deus em nós, dizendo: “Vós sois deuses” (João 10:34) e “O Reino de Deus está dentro de vós” (Lucas, 17:21). Por meio da palingenesia ou reencarnação, o ser desenvolve e exterioriza potencialidades imanentes em si. Em verdade, desde o momento de sua formação cósmica, já traz a perfeição latente nos seus refolhos mais íntimos. 

Ao mesmo tempo, a realidade da pluralidade das existências tem como corolário a certeza da sobrevivência da individualidade após o fenômeno da morte, desde que reencarnar significa nascer novamente em um outro corpo. Quem “nasce de novo” é o Espírito, revestido de um envoltório semimaterial, energético, denominado perispírito ou corpo espiritual.

Repudiando a fé cega, que obscurece o pensamento do homem que crê sem saber e onde se acredita que a sorte do Espírito já está selada após o decesso físico, o Mestre descerra os véus da ignorância, voltando do Além e revelando-nos a morte da morte.

Exemplificou Jesus a certeza da presença dos mortos, a sobrevivência da criatura após o túmulo, aparecendo completamente materializado a Maria Madalena e aos discípulos.

Enquanto algumas das religiões dogmáticas ainda pregam a localização das almas no Céu, no Purgatório ou no Inferno, outras acreditam que os Espíritos ficam adormecidos à espera da volta do Mestre.  

Os seres pré-históricos enterravam seus mortos
junto com seus pertences, porque acreditavam
 na continuação da vida
 

Em consonância com o Evangelho, pode-se afirmar que não existe a cessação da vida após a vida. Posteriormente ao fenômeno do falecimento da vestimenta de carne, permanece a vida espiritual pululante e exponencial.

Muitos setores científicos famosos e conceituados comprovaram e continuam a atestar a realidade de que os mortos vivem, bem acordados e atuantes, e que podem igualmente reencarnar, conforme pesquisas concludentes realizadas por Charles Richet, Prêmio Nobel de Medicina, em 1913; William Crookes, descobridor do tálio e Prêmio Nobel de Química (1907), uma das maiores autoridades científicas da Inglaterra em sua época; o Dr. Joseph Banks  Rhine (1930), conhecido como “O Pai da Parapsicologia”, da Universidade de Duke (USA); Dra. Elizabeth Kluber-Ross, Dr. Raymond Moody; Prof. Ian Stevenson, da Universidade de Virgínia; Dr. Morris Netherton; Dra. Edith Fiore e muitos outros.

Goethe (1749-1832), famoso escritor alemão, afirmou: “Os que não esperam outra vida já estão mortos nessa”. Guerra Junqueiro (1850-1923), político, deputado, jornalista, escritor, poeta, lusitano, já dizia: “Só a alma é imortal: só essa pura essência. Jamais se decompõe ou jamais se aniquila. O corpo é simplesmente a lâmpada de argila. A alma, eis o clarão". O escritor, também luso, Eça de Queirós (1845-1900) assim se exprimiu: “Há corpos de agora com almas de outrora. Corpo é vestido. Alma é pessoa”. O afamado escritor e humanista francês Victor Hugo (1802-1885) asseverou que “morrer não é morrer, é apenas mudar-se”. Fernando Pessoa, poeta, filósofo e escritor português (1888-1935): “Morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada”.

Desde que o homem primitivo adquiriu o intelecto em uma das fases da sua evolução, ele sabe, intuitivamente, que a morte não interrompe a vida. Esta preexiste ao veículo somático e permanece no além-túmulo. Os seres pré-históricos enterravam seus mortos, junto com seus pertences, já que acreditavam na continuação da vida depois da vida. 

No cadinho terrestre, o ser transcendental, sofrendo o rigor de um estado vibratório mais denso, tem a oportunidade de crescer

Carl Gustav Jung, o afamado psicanalista, disse: “A plenitude da vida exige algo mais que um ser; necessita de um Espírito, isto é, um complexo independente superior, único capaz de chamar à vida todas as possibilidades psíquicas que a Consciência-Ego não poderá alcançar por si” (“Realidade del Alma” / Editora Losada, S.A., B. Aires).

A presença de um corpo físico, com trilhões de células, criado a partir da junção do óvulo com o espermatozoide, não pode ser fruto do acaso. Sabendo-se, principalmente, que ocorre uma diferenciação celular harmônica, constituindo diferentes órgãos e sistemas, num trabalho inteligente, sem participação ostensiva da gestante. Há, realmente, uma “Energia Central Reguladora” ou um “Princípio Espiritual Orientador” responsável pela formação da vestimenta somática.

A Inteligência Extrafísica, durante o processo da embriogênese, recapitula sua evolução ocorrida na série animal (filogênese): inicialmente o ovo lembrando uma ameba, depois as fases comuns aos répteis e às aves. Uma prova segura da existência do ser espiritual rememorando o caminho percorrido, atestando-se a presença da Energética Extracorpórea ou Espírito, liberando tudo o que se encontrava arquivado durante milênios de evolução.

No cadinho terrestre, o ser transcendental, sofrendo o rigor de um estado vibratório mais denso, atuando como uma verdadeira prisão celular, terá a oportunidade de crescer, de poder desenvolver potencialidades e de procurar um possível aperfeiçoamento nas diversas oportunidades que a reencarnação proporciona.

O Espiritismo, como o “Consolador prometido por Jesus”, igualmente proporciona a derrubada dos véus da crueldade, através da divulgação e exemplificação dos ensinos morais de Jesus, claramente inseridos em seu redentor Evangelho.  

Os véus da crueldade são arrancados por todos aqueles que são verdadeiramente discípulos hodiernos do Cristo

O Cristo ensinou e vivenciou o amor em todos os momentos da sua missão grandiosa, na Terra, desde o nascimento humilde até a crucificação no madeiro. Desmantelando os pilares da crueldade, deixou dois mandamentos maiores: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento e amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus, 22:37-39). Conversando com os seus discípulos, Jesus exortou-os ao amor, dizendo-lhes: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros, assim como vos amei. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos...” (João 13: 34-35).

Referindo-se ao instante solene da separação do joio do trigo, aludindo aos eleitos que permanecerão na Terra transformada em mundo de regeneração, fez do amor a bandeira da salvação, clamando: “Vinde, benditos de meu Pai. Tomai posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; preso e fostes ver-me” (Mateus 25:34-36). O Mestre cita como salvos os que o servem na pessoa do próximo. Realmente, “fora da caridade, não há salvação”.

Os véus da crueldade são arrancados por todos aqueles que são verdadeiramente discípulos hodiernos do Cristo, exemplificando o amor em todos os instantes da vida.

O Consolador, que não deixará órfã a Humanidade (João 14:18), orienta que os véus da insensibilidade sejam rasgados através do “amai-vos”. Ao mesmo tempo a erradicação dos véus do desconhecimento pelo “instruí-vos”.

O despedaçamento do véu Paroquete revela que, no momento em que o Cristo for conhecido verdadeiramente e sua mensagem de libertação for exemplificada, o tabernáculo de Deus, representado pela verdade que esclarece, não ficará mais oculto, já que os véus da ignorância e da crueldade serão rasgados de alto a baixo.

Que a luz se faça refulgente após a queda dos véus.

 


 
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