No horizonte cultural
mais recuado da
Humanidade, os povos
primitivos identificavam
a manifestação de Deus
nos fenômenos das
intempéries, na força
das tempestades, na
erupção dos vulcões, nas
árvores gigantescas e
nos granitos colossais.
Nas noites estreladas
Ele era imaginado e
adorado na dimensão dos
pontos luminosos no
espaço sideral, os
quais, durante o dia,
aglomeram-se numa
estrela de imensa
grandeza, iluminando a
Terra e o espaço e,
durante noites
especiais, se expressam
na forma lunar, com a
sua luz argêntea.
Avançando no tempo, os
homens rudimentares
ergueram totens e
templos; ofereceram
sacrifícios e homenagens
Àquele que ninguém vê,
mas que é chamado Tupã,
ou Marte, ou Apolo, ou
Alá, ou Jeová, Elohim e
Adonai, caracterizando-O
com as diversas
expressões do politeísmo
primitivo ou do
monoteísmo.
O escritor Eliseu F. da
Mota Júnior, no livro de
sua autoria Que é
Deus?, declara que
“Se lançarmos um olhar
pela histórica
antropológica veremos a
ideia de Deus presente
no pensamento humano
desde remotas tribos da
antiguidade, onde tem
início através de
estranhas e rudimentares
formas de exteriorização
de culto, como o temor
ao trovão, ao Sol e à
Lua, passa pela adoração
dos ídolos de pedra (litolatria),
de vegetais (fitolatria),
de animais (zoolatria) e
do homem
(antropomorfismo), para
chegar à modernidade
proliferando-se nas mais
diversas religiões,
seitas e crenças”.[2]
No Egito Antigo,
estátuas colossais foram
construídas pelos
escravos para
representá-Lo no
contexto da teologia
egípcia, sentindo-se, o
próprio faraó, como um
deus na Terra.
Deus é amor, afirmou
João Evangelista
Nessa fase cultural,
surge Moisés e define-O
na substância do
Monoteísmo,
apresentando-O, contudo,
como um Deus que se
ofende e que pune.
Os séculos avançam e,
após o Império Romano
expressá-Lo nos deuses
da guerra e nos deuses
domésticos, Jesus surge
nesse cenário e
apresenta-O como
Deus-Pai, declarando-se
uno com Ele e em Seu
nome inicia a abertura
das veredas que levariam
toda a Humanidade a
reencontrá-Lo e
religar-se a Ele.
Os deuses pagãos, mesmo
assim, proliferaram,
sobretudo na Grécia,
quando o apóstolo Paulo,
desperto para as
realidades espirituais
após o seu comovedor
encontro com Jesus nas
areias do deserto, em
Damasco, fala no
Areópago aos atenienses
sobre o
Deus-desconhecido.[3]
Mais tarde, João
Evangelista irá
defini-Lo, em Éfeso, no
final do primeiro
século: DEUS É AMOR!
(1 João 4:8).[4]
Na Idade Média, os
equívocos do poder
religioso dominante
sufocam a Sua procura
por parte dos homens,
passando então a ser
adorado somente por
aqueles que se
anunciavam como
iniciados ou
escolhidos.
Ultrapassado esse
período histórico, e com
o surgimento da Ciência,
filósofos e mentes de
visão reducionista do
homem, propalaram, mais
uma vez, a Sua morte, a
exemplo do pensador
alemão Friedrich
Nietzsche (1844-1900),
com a alegoria do
“Super-Homem”,
declarando em Paris
Deus morreu!,
induzindo,
equivocadamente, a Sua
desnecessidade na vida
humana.[5]
Para crer em Deus, basta
olhar as obras da
Criação
Nas academias
científicas, é eleita a
deusa-razão como a
soberana da vida,
oferecendo os seus
axiomas e postulados
para explicar e orientar
o destino humano. Nos
dias modernos,
defendendo esse polo
ateu da Ciência,
encontra-se o físico
Victor Stenger, da
Universidade do Havaí,
que apresenta exemplos
“de como o Universo
simplesmente não precisa
de Deus”, enfatizando
que a Ciência pode
provar que Deus não
existe.[6]
Jesus, séculos antes,
prevendo essas atitudes
materialistas e de
expressões negativistas
quanto à existência do
Criador, promete a vinda
do Consolador, que
apresentaria a Divindade
com os Seus verdadeiros
atributos e a Sua ação
diretora no pensamento
humano, através da
providência e da
misericórdia divinas.
Assim, em 18 de abril de
1857, Allan Kardec, o
Codificador da Doutrina
Espírita, oferece à
Humanidade a obra
fundamental da filosofia
espírita, O Livro dos
Espíritos, iniciando
seus comentários com a
pergunta Que é Deus?
e recebendo como
resposta que Ele “É
a inteligência suprema,
causa primária de todas
as coisas”. Onde se
pode encontrar a prova
da existência de Deus? –
questiona o Codificador.
“Num axioma que
aplicais à vossas
ciências. Não há efeito
sem causa. Procurai a
causa de tudo o que não
é obra do homem e a
vossa razão responderá”,
ditam-lhe os Espíritos,
naqueles dias
primordiais do advento
do Consolador.
E conclui, em nota
pessoal, o dedicado
instrumento dos
Espíritos Codificadores:
“Para crer-se em
Deus, basta se lance o
olhar sobre as obras da
Criação. O Universo
existe, logo, tem uma
causa. Duvidar da
existência de Deus é
negar que todo efeito
tem uma causa e avançar
que o nada pode fazer
alguma coisa”.[7]
Deus, eis a origem de
tudo
Qual a origem do homem?
Qual a origem da Terra e
do Universo?
Essas indagações têm
sido feitas em todos os
tempos, não apenas por
filósofos da
antiguidade, a exemplo
do pré-socrático
Demócrito (460-370
a.C.); por religiosos
como o jesuíta francês
Teilhard de Chardin
(1880-1955) e por
cientistas modernos,
destacando-se o alemão
Albert Einstein
(1879-1955), o inglês
Stephen Hawking (1942-),
dentre outros.
Antes, observamos o
esforço de homens
iluminados pelo
interesse científico
apontando os seus
instrumentos, embora
rudimentares, para o
Céu, a exemplo de
Johannes Kepler
(1571-1630), astrônomo
alemão, e Cláudio
Ptolomeu (90-168),
astrônomo e matemático
grego do século II d.C.,
autor da teoria do
Geocentrismo, tentando
encontrar, nos mistérios
do Infinito, uma
resposta para a origem
das coisas.
Sir Isaac Newton
(1842-1727), físico e
matemático inglês,
considerado o pai da
Física clássica, certa
vez mandou construir uma
réplica em miniatura do
Sistema Solar, e com ela
praticamente convenceu
um colega ateu da
impropriedade da
hipótese do acaso
criador.[8]
De onde veio o homem?
Charles Darwin
(1809-1882), naturalista
e biólogo inglês,
durante cinco anos de
sua vida, viajando a
bordo do navio HMS
Beagle, dedicou-os a
procurar, no passado dos
seres vivos que
habitaram a Terra, a
solução para a
existência, mutação e
permanência das
espécies, divulgando o
resultado de suas
famosas pesquisas no ano
de 1859, cujo conjunto
de textos denominou
Sobre a Origem das
Espécies por Meio da
Seleção Natural.[9]
Os atributos da
Divindade segundo Kardec
Porém, antes, em 1857,
um pedagogo francês,
Hippolyte Léon Denizard
Rivail (1804-1869), após
contato com os
habitantes do Mundo dos
Espíritos – numa
singular viagem
mental a outras
dimensões -, e com
eles entabulando
conversações através do
mecanismo da
mediunidade, obteve
instruções e ensinos
acerca da origem,
natureza e destino do
ser humano na Terra e no
Espaço Universal.
Técnico na formulação e
na estruturação do
pensamento, de forma
didática enfeixou os
ensinos recebidos na
obra básica do
Espiritismo O Livro
dos Espíritos, onde
evidencia que tudo o que
existe é obra de uma
“inteligência suprema,
causa primária de todas
as coisas”.
Obtendo a confirmação
dos Espíritos acerca do
grau supremo das
perfeições de Deus,
Allan Kardec define os
atributos da Divindade,
enfatizando que Deus é
eterno, infinito,
imutável, imaterial,
único, onipotente e
soberanamente justo e
bom, relembrando em seus
estudos, portanto, as
inesquecíveis lições de
Jesus acerca do Pai
de todas as coisas,
pronunciadas dezoito
séculos antes.
[10]
Aprofundando os
ensinamentos, os
Imortais que ditaram a
Codificação destacam a
importância da Lei da
Reencarnação, como lei
dos mundos habitados, e
que os Espíritos são
obra de Deus,
fazendo-os, na origem,
simples e ignorantes,
isto é, sem saber,
sujeitando-os à Lei do
Progresso,[11]
onde encontramos os
fundamentos da origem do
gênero humano e de sua
longa trajetória na
Terra, vivenciando duas
evoluções: a biológica e
a espiritual.
Onde está Deus?
Enquanto a Ciência e as
religiões ainda procuram
respostas para os
enigmas da Humanidade,
envolvendo o momento
alfa do homem e os
mistérios do destino e
da morte, o Espiritismo
oferece seus postulados,
de forma exuberante e
pedagógica, esclarecendo
que todo o princípio
está em Deus, em Sua
sabedoria e em Seus
desígnios.
Um poeta, contudo, “dirá
com a segurança de quem
afirma porque tem
certeza: eu vejo Deus no
riso da criança, no Céu,
no mar, na luz da
Natureza”. É o que
afirma o vate espírita,
nascido em Sergipe, José
Soares Cardoso
(1927-1991) em sua obra
Onde está Deus?,
concluindo:
“Eu vejo Deus, enfim,
por toda parte,
Que tudo fala dos
poderes seus,
Descubro Deus na
expressão da Arte,
No amor dos homens
também sinto Deus!
Mas onde sinto Deus com
mais beleza,
Na sua mais sublime
vibração,
Não é no coração da
Natureza,
É dentro do meu próprio
coração.”[12]
[1]
. KARDEC, Allan.
Obras
Póstumas, 1
ed. FEB,
tradução de
Evandro Noleto
Bezerra, p.49.
[2]
. JÚNIOR, Eliseu
F. da Mota.
Que é Deus?,
1.ed. OCLARIM,
p.139.
[3]
. Atos dos
Apóstolos 17:15
a 23.
[4]
. BÍBLIA de
Referência
Thompson, nona
impressão, 1999,
Editora Vida,
pp. 1115 e 1423.
[5]
. NIETZSCHE,
Friedrich.
Assim Falava
Zaratustra,
3ª. ed. Editora
Escala, p.22.
[6]
. Revista
Superinteressante,
edição 316,
março de 2013,
p.46.
[7]
. KARDEC, Allan.
O Livro dos
Espíritos,
FEB, edição
histórica,
tradução de
Guillon Ribeiro,
questões 1 e 4.
[8]
. JÚNIOR, Eliseu
F. da Mota, opus
cit, p.148.
[9]
. Vide SOUZA,
Hebe Laghi de.
Darwin e
Kardec Um
Diálogo
Possível,
2.ed.Editora
Allan Kardec.
[10]
. IDEM, ibidem.
Questão 13.
[11]
. IDEM, ibidem.
Questões 76,77 e
115.