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Ano 9 - N° 435 -11 de Outubro de 2015

AMERICO DOMINGOS NUNES FILHO
amecgs@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 
 

Americo Domingos Nunes Filho

Era forasteiro e me hospedastes...
 
O Cristo nos ensina que a salvação se processa através do amor em ação

 
O Cristo exemplificou a caridade e fez do amor em ação ao semelhante um impositivo maior para que a felicidade se estabeleça. Em uma conhecida parábola, o Mestre Jesus alude aos eleitos, os salvos, como aqueles que o seguem na pessoa do próximo, não fazendo referência a nenhuma crença religiosa, nem mesmo ao seu sacrifício na cruz:
 

“... Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes me ver.

Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?

E, respondendo, o Rei lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mateus 25:34-40.) 

É imperioso que o cristão verdadeiro, sincero e atuante, qualquer que seja a crença religiosa que professe, procure se esforçar para dominar suas inclinações inferiores, deixe de se preocupar excessivamente consigo mesmo e passe a observar o próximo que está a seu lado e considerá-lo como um irmão, cientificando-se de que o Pai o ama incessantemente, assim como a todos os seus filhos. 

De uma maneira geral, o ser, vivendo em uma sociedade capitalista de consumo predominante, a todo o momento está excessivamente engolfado em um egoísmo avassalador.  

Muitos infantes se encontram completamente desamparados 

Como é confortante e salutar o indivíduo se desapegar paulatinamente da atração intensa que a matéria lhe proporciona e começar a observar o irmão que caminha junto de si, na presente reencarnação, e que se apresenta passando pela fase difícil da prova ou expiação, em uma ou mais condições das apontadas pelo amoroso Cristo no “Sermão Profético”.

Especificando o ensinamento crístico de ser abrigado em um lar e no coração o forasteiro, pode ser lembrada a magnânima ação de adoção de menores. Como é importante que sejam abertos os braços e o coração para recolher as crianças sem perspectivas dignas e humanas, para os dias futuros, sem educação decente e destituídas dos cuidados de higiene e de saúde.

Grande número de infantes se encontra largado nas ruas completamente desamparado, longe do seio familiar, entregue aos vícios e à delinquência.

Um dos mais tristes dias vividos por mim foi a observação, passando de carro, de muitas crianças, na periferia de uma comunidade carioca, amontoadas nas calçadas, sob o jugo do crack, um tipo de base livre da cocaína, consumido através de um cachimbo de vidro, o qual contém, em seu interior, a droga em pedra. Com o aquecimento do instrumento por baixo, é produzido um vapor ou fumaça, aspirado pelo infeliz usuário, para dentro dos pulmões e absorvido, penetrando rapidamente na corrente sanguínea. Chegando ao cérebro, atua sobre a dopamina, um neurotransmissor envolvido nas respostas do corpo ao prazer. Efeitos danosos ao organismo acontecem, principalmente ao coração, com grande possibilidade de êxito letal por enfarte do miocárdio. Pode, igualmente, o viciado apresentar problemas respiratórios graves e desencarnar por parada respiratória, como também ser acometido de derrames, devido ao aumento súbito da pressão arterial, além de problemas mentais e gastrintestinais sérios. 

Os menores abandonados necessitam de amparo  

Muito desanimador também a observação, nas ruas, de menores infratores, constituindo bando de ladrões, assaltando, fazendo uso de intensa violência, chegando até o ponto de ferir e assassinar suas vítimas. Tudo isso como consequência do desestímulo ao estado de justiça social, principalmente impedindo o acesso à cultura, à saúde e à vida digna, sendo dada prioridade à adoção de leis penais severas, tentando tratar o efeito, mas desprezando fundamentalmente as causas da violência. É mais cômodo e fácil encarcerar do que agir profilaticamente. Ao invés de preparar previamente o indivíduo no caminho do bem pela educação, é mais fácil depois prendê-lo, afastando-o da sociedade e, consequentemente, dando-lhe a chance de se tornar pior, cursando a escola do crime junto com os outros presos.

O saudoso sociólogo Betinho, com muita lucidez, enunciou o seguinte pensamento: “Se não vejo na criança uma criança, é porque alguém a violentou antes; e o que vejo é o que sobrou de tudo o que lhe foi tirado”. Portanto, governantes íntegros são os que se preocupam com o bem-estar da população, envidando esforços para que os mais carentes tenham acesso ao mínimo básico à sua sobrevivência, principalmente à moradia, à educação e à saúde de qualidade.

Os menores abandonados necessitam urgentemente de ser reintegrados a seus lares ou assentados em famílias substitutas, provisoriamente ou em definitivo, dando cumprimento à exortação crística que nos pede abrigar o forasteiro, na intimidade do lar e do coração, através do processo de adoção de menores.

A adoção de uma criança carente é um ato grandioso 

O ato grandioso de dar uma família a um ser infantil desprovido de lar constitui exemplificação das mais sublimes de amor incomensurável ao próximo, um ato essencialmente evangélico, de elevado cunho moral e espiritual. Como seria importante que os profitentes espíritas, como artífices da presença do Consolador prometido por Jesus, estimulassem e praticassem o ato da adoção, principalmente sabendo como é importante e essencial o processo abençoado do “nascer de novo”, quando o ser reencarnante adquire oportunidades valiosas de crescimento espiritual, podendo alcançar avanço e progresso.

Os Benfeitores da Dimensão Extrafísica, lembrando a utilidade do período da infância no desenvolvimento espiritual do ser, informam que “os Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem, para melhorarem. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar o caráter e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas”. “Assim, portanto, a infância é não só útil, necessária, indispensável, mas também consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo.” (Questão 385 de “O Livro dos Espíritos”.)

Importante frisar que os Espíritos ainda não esclarecidos têm o ensejo da reeducação espiritual, ao reencarnarem em mundos de provas e expiações, como a Terra, recebendo, na fase de meninice, ao lado de muito carinho, atenção e amor, os bons exemplos daqueles incumbidos de ensiná-los. Sua primeira década de vida corporal é importantíssima para que consigam granjear algum progresso espiritual, principalmente a reforma do caráter, de permeio à repressão das más tendências, da má índole. 

É importante dar à criança uma assistência eficaz 

Quando passam pela infância os seres imperfeitos, sem a oferta da instrução provida de amor, refratários a qualquer mudança do seu comportamento áspero e intratável, revelam suas imperfeições, associando-se aos tóxicos e à criminalidade. Infelizmente, por não haverem recebido a necessária assistência, amorosa e fraterna, exigem então a ação de um sistema socioeducativo eficaz. Como isso não acontece, acabam sendo encarcerados; mas o sistema penitenciário não cumpre seu importante papel de reinserção e reeducação dos menores infratores, impossibilitando, desse modo, a reintegração desses jovens na sociedade.

A Doutrina Espírita ensina que os seres ainda não esclarecidos reencarnam albergando más tendências, podendo até mesmo tornar-se artífices da violência. É imperativo, pois, que recebam, na infância, assistência educativa eficaz no lar, como igualmente os direitos fundamentais de vida digna, os quais, quando negados, facilitam a eclosão da crueldade e o envolvimento com o crime.

A Doutrina Espírita é essencialmente pedagógica e visa principalmente à evolução do homem, educando-o, para que, nesta abençoada escola que é a Terra, possa ele exteriorizar, paulatinamente, as potencialidades imanentes, granjeadas do Pai Amado, no momento de sua formação cósmica.

Essencial é, portanto, que o espírita tenha sempre em mente a vontade férrea de ajudar e amparar os infantes, trabalhando com vigor para que as crianças abandonadas nas ruas, órfãs de pais vivos ou desencarnados, recebam a oportunidade da obtenção de um lar fraterno, onde recolham os benefícios da conquista das qualidades boas, da firmeza e coerência de atitudes, sendo preparadas para os embates da vida, seguras de si.  

A salvação, diz Jesus, se processa através do amor em ação 

Como seria importante que todos os seres infantis recebessem os ensinamentos do Evangelho e fossem canalizados para a prática da fraternidade, procurando esmagar o egoísmo destruidor, causador de todos os males e injustiças sociais!

Que o Mestre Jesus ampare e ilumine sempre a todos que se dedicam à educação dos infantes, nas escolas ou em seus próprios lares, ensejando a melhoria espiritual de irmãos ainda situados em faixas evolutivas inferiores.

O Cristo nos afirmou que a salvação se processa através do amor em ação, dizendo aos chamados eleitos: “... era forasteiro e me hospedastes...” (Mateus 25:35).

Que as crianças que não têm lar sejam abrigadas, na intimidade do coração, sendo educadas dignamente, porquanto, assim procedendo, o amor estará, em verdade, sendo fecundado, proporcionando a esses irmãos, viajores da eternidade, em transitória fase de obscuridade, a ocasião propícia de poderem, o mais rápido possível, em total liberdade, vislumbrar as estrelas do Universo sem-fim, exalçando o voo da imortalidade, em felicidade, diante do Infinito.  


Americo Domingos Nunes Filho é médico na cidade do Rio de Janeiro.
 


 


 
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