Ele
viveu a filosofia e
também a ciência, mas
não se
esqueceu de
praticar a caridade
Parte 2 e final
Havia transcorrido um
ano da desencarnação de
sua esposa e, em 1864,
Bezerra de Menezes foi
reeleito vereador e
casou-se com D. Cândida
Augusta de Lacerda
Machado, irmã de sua
primeira esposa. Com
ela, teve sete filhos e
permaneceram juntos até
o momento de seu
falecimento. Deu, então,
continuidade à sua
carreira política. Em
1867 foi aclamado e
eleito deputado geral.
Manteve diversas lutas
políticas, sendo
conhecido como homem
público que não
comprometia seus
princípios para colher
favores ou posições.
A exemplo do que ocorre
com todos os políticos
honestos, uma torrente
de injúrias cobriu o seu
nome de impropérios.
Entretanto, a prova da
pureza da sua alma
deu-se quando,
abandonando a vida
pública, foi viver para
os pobres, onde houvesse
um mal a combater,
levando ao aflito o
conforto de sua palavra
de bondade, o recurso da
ciência de médico e o
auxílio do pouco que
possuía, a benefício
desses necessitados.
Quando afastado
provisoriamente da
atividade política e
dedicando-se a
empreendimentos
empresariais, criou a
Companhia de Estrada de
Ferro Macaé a Campos, na
então província do Rio
de Janeiro. Depois,
empenhou-se na
construção da via férrea
de S. Antônio de Pádua,
etapa necessária ao seu
desejo, não
concretizado, de levá-la
até o Rio Doce. Era um
dos diretores da
Companhia Arquitetônica
que, em 1872, abriu o "Boulevard
28 de Setembro", no
então bairro de Vila
Isabel, cujo topônimo
prestava homenagem à
Princesa Isabel. Em
1875, tornou-se
presidente da Companhia
Carril de S. Cristóvão.
Depois de breve
afastamento, retornou à
atividade política e
foi, então, eleito
vereador em 1876. Em
1878 foi reeleito e
tornou-se presidente da
Câmara Municipal
(correspondente ao atual
cargo de Prefeito
Municipal) e líder do
seu partido,
permanecendo no cargo
até 1881.
Alguns confrades
espíritas, sabendo-me
adepto da premissa das
almas gêmeas, me
questionaram na intenção
de saber qual das duas
mulheres seria a alma
gêmea de Bezerra de
Menezes: a que lhe foi a
primeira esposa ou a
segunda?
Dr. Bezerra Menezes
empresário
Tenho respondido
logicamente conforme o
meu entender, pois Dr.
Bezerra nunca apresentou
algum comentário a esse
respeito. Respondendo à
pergunta, tenho dito que
provavelmente nenhuma
das duas, pois é
provável que a alma
gêmea de Bezerra já
esteja vivendo uma
evolução muito maior que
ele, pois, embora não
seja regra, as mulheres
comumente evoluem mais
rápido que os homens,
como é o caso de
Emmanuel e Lívia, ou de
Carlos Kenaglan e
Alcíone. Mas, o que não
podemos esquecer é que
não reencarnamos apenas
com nossas almas gêmeas,
pois vivemos várias
reencarnações junto a
outros Espíritos, por
necessidade de ter
outras experiências ou
atraídos mesmo pela
sensualidade do sexo
oposto, pois somente
acordamos para a
concepção de que somos
almas gêmeas quando nos
maturamos no campo do
sentimento e, mesmo
assim, quase sempre esse
acordar acontece pelo
cadinho da dor.
Pelo que podemos ver,
nosso amigo Bezerra de
Menezes, além de médico,
atuou também na área
empresarial, foi
político, enfim, viveu
uma vida dinâmica,
havendo sido mesmo
presidente da Companhia
Carril de São Cristovão.
Dr. Bezerra ocupou
cargos na política, foi
deputado, foi presidente
da Câmara, o que
equivalia naquela época
ao cargo de perfeito,
tal qual conhecemos.
Ocorre que, quando
citamos essas
informações em seu
currículo, alguns
confrades menos avisados
imaginam que Dr. Bezerra
haja se demorado envolto
em politicagem. Ora, não
podemos confundir
política com
politicagem, pois a
política é uma
necessidade social, para
se administrar um
município, estado, ou
nação. A política faz
parte intrínseca da vida
de um indivíduo. Mesmo
quando dizemos a célebre
frase “eu sou
apolítico”, estamos
defendendo um princípio
político nosso e não
aceitamos outros.
Diferente disso, a
politicagem prima em
interesses partidários,
em obter vantagens
pessoais e financeiras,
e o indivíduo se esquece
por completo dos
interesses comuns da
sociedade.
Já houve, com certeza,
muitos políticos
honestos em nosso país,
mas com certeza hoje
está muito difícil
encontrarmos alguns,
embora haja um número
infinitamente maior de
políticos no Brasil do
que havia na época em
que viveu Dr. Bezerra.
Augusto Elias da Silva e
a criação da FEB
Se nosso amigo Bezerra
era dinâmico,
realizador, operante em
vários departamentos da
vida, isso acontecia por
manifestar seu amor em
tudo o que fazia.
Havendo acordado para a
doutrina espírita, seu
amor e sua dedicação
foram infinitos, e esse
amor pelo Espiritismo
deu, como sabemos,
ótimos frutos, vindo ele
exercer papel
fundamental no Movimento
Espírita brasileiro.
Por essa época o
Espiritismo no Brasil
buscava organizar-se.
Em 1876 surgira a
primeira sociedade
espírita no Rio de
Janeiro. Em 1883,
Augusto Elias da Silva,
interessado na difusão
dos ensinos espíritas,
fundara a revista
“Reformador” e punha-se
a procurar
colaboradores.
O Espiritismo sofria, no
entanto, grandes
perseguições e era
combatido veementemente.
A imprensa era fonte
diária de críticas
ferozes; os sermões
enchiam os púlpitos de
insultos e insinuações
contra a doutrina. Elias
da Silva foi então
buscar em Bezerra de
Menezes conselhos sobre
como revidar toda a
animosidade contra os
espíritas e o movimento.
A resposta dada pelo Dr.
Bezerra foi o de não
seguir o caminho do
ataque, de não combater
o ódio com o ódio, mas
antes combater o ódio
com o amor. A tônica
desse conselho norteou
toda a vida e o trabalho
de Bezerra, dentro e
fora do Movimento
Espírita brasileiro.
Além dos ataques
externos, reinava em
1883 um ambiente
francamente dispersivo
no seio do movimento
espírita brasileiro e os
que dirigiam os núcleos
espíritas do Rio de
Janeiro sentiam a
necessidade de uma união
mais bem estruturada e
que, por isso mesmo, se
tornasse, de certo modo,
indestrutível.
A cisão era, então,
profunda entre os
chamados "místicos" e os
"científicos", ou seja,
espíritas que aceitavam
o Espiritismo em seu
aspecto religioso, e os
que o aceitavam
simplesmente pelo lado
científico e filosófico.
No dia 27 de dezembro de
1883, Augusto Elias da
Silva promoveu uma
reunião com os 12
companheiros que o
ajudavam no
“Reformador”. Nesse
encontro, eles decidiram
fundar uma nova
instituição, que não
fosse nem mística, nem
científica, mas
ideologicamente neutra.
Assim, no dia 1° de
janeiro de 1884, foi
fundada a Federação
Espírita Brasileira
(FEB), que promoveria a
doutrinação, a
disciplina e o
intercâmbio de
experiências entre os
diversos centros já
existentes.
O Dr. Bezerra Menezes
jornalista
Bezerra foi um dos
primeiros a ser
convidado para assumir a
posição de presidente da
organização, mas não
aceitou, por não se
considerar capaz de
tamanha
responsabilidade. Seu
primeiro presidente foi
o Marechal Ewerton
Quadros e a revista
“Reformador” tornou-se o
órgão oficial da FEB.
Em 1887 o Médico dos
Pobres passou a escrever
uma série chamada
“Espiritismo – Estudos
Filosóficos”, que saía
aos domingos no jornal
“O País”, com o
pseudônimo de Max. Vale
lembrar que na época
esse era o jornal mais
lido no Brasil.
Continuaria a série de
artigos até o Natal de
1894. Escreveria depois,
com o mesmo pseudônimo,
em outros dois jornais,
sempre em defesa dos
postulados do Cristo
Jesus, calcado na visão
espírita.
Em 1888, logo no início
da série de artigos, Dr.
Bezerra perdeu dois
filhos. Reagiu e
continuou trabalhando.
Durante cinco anos
escreveu sobre a
Doutrina, elucidou
muitas pessoas e
arrebanhou outras tantas
para as fileiras
espíritas.
Encontramos alguns
confrades que sentem
ojeriza quando ouvem
falar em “polêmica”;
entretanto não podemos
esquecer que Bezerra
de Menezes foi um
missionário da doutrina
espírita no Brasil, tão
relevante foi a sua
atuação no movimento
espírita, que nós os
espíritas atribuímos a
esse espírita
maravilhoso o cognome de
“Kardec brasileiro”.
Bezerra de Menezes foi
humilde durante toda a
sua vida, infinitamente
caritativo, não
polemizava por
ostentação, mas porque
desejava esclarecer a
verdade. Quem desejar
ter conhecimento dessas
polêmicas, deve adquirir
os Estudos Filosóficos,
tomo 1 e tomo 2,
publicados pela FEB,
pois não me é possível
transcrevê-las.
Conhecendo-as, verão
como eram as polêmicas
travadas com muita
propriedade por parte de
Bezerra com os
sacerdotes e bispos da
época, o que será muito
útil a todos aqueles que
acreditam que polemizar
é perlengar.
Em 1889 o Marechal
Ewerton Quadros foi
transferido para Goiás,
ficando impossibilitado
de permanecer à frente
da FEB. Para
substituí-lo, foi eleito
Dr. Bezerra de Menezes,
que, cerca de três anos
atrás, havia chocado a
sociedade carioca com a
notícia de sua conversão
ao Espiritismo. Ao
elegê-lo, a intenção dos
confrades febianos era
colocar uma pessoa de
prestígio e força moral
na presidência, a fim de
fortalecer o processo de
unificação.
Dr. Bezerra dizia que
era espírita de nascença
Bezerra de Menezes
anunciou publicamente
sua conversão ao
Espiritismo, tão grande
era a emoção que sentia
na alma – e não podemos
nos esquecer de que
naquela época o
Espiritismo sofria uma
perseguição intensa por
parte da imprensa, tanto
quanto da Igreja
Católica Apostólica
Romana.
Realmente, é preciso
reconhecer: Dr. Bezerra
não havia errado quando,
ao ler “O Livro dos
Espíritos”, disse a si
mesmo que era espírita
de nascença.
À frente da Federação
Espírita Brasileira, ele
tentou a todo custo
promover a união de
todos os espíritas,
inspirado principalmente
por mensagem ditada
mediunicamente por Allan
Kardec em janeiro
daquele ano, por
intermédio do médium
Frederico Júnior,
chamada “Instruções de
Allan Kardec aos
Espíritas do Brasil”.
Ele lutou muito no
intento de eliminar as
diferenças que
aconteciam no meio
espírita e seu propósito
era promover uma
liderança que abrigasse
todos os espíritas do
Brasil. Quanto mais
aumentavam as
dissensões, mais
aumentava seu esforço e
seu trabalho.
Por faltarem pregadores
espíritas cristãos,
assumiu ele próprio a
função. Iniciou, assim,
no dia 23 de maio de
1889, uma sessão semanal
na Federação para o
estudo de “O Livro dos
Espíritos” e os
resultados obtidos foram
os melhores possíveis,
com o grande número de
pessoas que ali
compareciam ávidas de
conhecimento e saber.
Dedicado à causa,
realizava também
conferências e reuniões
em uma casa espírita
chamada “União”. Fundara
uma casa chamada
“Centro”, para promover
o estudo do “Evangelho”
e de “O Livro dos
Espíritos”, na tentativa
de conciliar as
diferentes correntes de
pensamento espírita. E
participava, ainda, em
outra casa, dos
trabalhos de desobsessão.
A mensagem “Instruções”,
de Kardec, fornecera as
diretrizes para o
trabalho do Dr. Bezerra.
A certa altura Kardec
pergunta: “Onde está a
escola de médiuns?” e
essa pergunta ficou
gravada na mente de
Bezerra. Na realidade,
ele não encontrou uma
escola de médiuns em
parte alguma. A solução
encontrada foi fundar
ele mesmo a tal escola.
Muitos se opuseram à
ideia, mas ele terminou
por instalar a “Escola
de Médiuns” no Centro.
Como, infelizmente,
ninguém gostava de
estudar, ele se viu só,
pois nem mesmo os
próprios membros da
diretoria da instituição
frequentavam a escola.
Ele apresentou um
convite a todos, mas
ninguém comparecia.
O movimento espírita
prosperava, contudo, em
outras áreas. A
Federação Espírita
Brasileira inaugurava o
seu período áureo,
preparando-se para o
futuro glorioso que a
aguardava, iniciando uma
caminhada que estaria a
solidificá-la como a
Casa-Máter do
Espiritismo no Brasil.
Jamais ignoremos os
exemplos do Dr. Bezerra
Instituiu-se o serviço
filantrópico de
“Assistência aos
Necessitados”, que
atraiu muita gente e era
o complemento de um dos
três aspectos do
Espiritismo, o aspecto
moral, pois como poderia
realmente ser o
Consolador prometido,
indiferente à dor e à
necessidade alheia?
Dr. Bezerra continuava
esquecido no “Centro”,
mas, mesmo assim,
manteve firme seu
propósito. A situação
chegou a um ponto em que
a despesa e os gastos da
instituição tornaram-se
insustentáveis, e
Bezerra já não podia
dispor de seus próprios
recursos. Convocou por
carta cada um dos
membros da diretoria,
para buscar a solução do
problema, mas ninguém
atendeu ao chamado. Na
semana seguinte,
convocou-os novamente.
Ninguém compareceu. Foi
à casa de um por um para
convocar uma última
reunião. Nem mesmo assim
eles atenderam. Bezerra
foi então, sozinho,
procurar abrigo em outra
casa espírita, onde foi
bem recebido. A boa
acolhida, porém, não
durou muito tempo, já
que apareceriam
novamente as dissensões
entre as correntes de
pensamento espírita. O
movimento espírita
demorava-se carente de
união.
Espíritas, por mais
difícil que pareça a
situação do Espiritismo,
vamos ter como exemplo
esse Espírito
maravilhoso, que em
momento algum se deteve
diante das dificuldades
e lutou destemido
confiando na vitória da
luz sobre as trevas.
Vamos pugnar, por nossa
vez, no intento de
preservarmos a lídima e
pura doutrina espírita,
vivendo pela causa com
todo o amor, como
exemplificou Dr.
Bezerra, pois o
Espiritismo é a religião
universal do amor e da
sabedoria que palpita no
coração de cada
criatura, o encontro
marcado com as lições do
Cristo de Deus, como nos
diz Emmanuel.
Apliquemo-nos para
desmistificar aqueles
que acreditam que o
Espiritismo deva ser
apenas uma ciência, ou
uma filosofia, pois o
Espiritismo é, acima de
tudo, uma como síntese
da moral divina, da
moral ensinada pelo
Cristo, pois não
podemos esquecer que
Jesus foi o médium de
Deus na Terra, não
incorporando o Ser
Supremo do universo, mas
traduzindo para nós as
Leis Divinas, que
expressam o pensamento
do Criador a
manifestar-se na vida,
ao longo da eternidade.
Não nos esqueçamos, por
fim, de que Dr. Adolfo
Bezerra de Menezes viveu
a filosofia, e também a
ciência, mas não se
esqueceu de praticar a
caridade, pois de que
nos vale uma cabeça
cheia de sonhos quando
nos demoramos com as
mãos desocupadas? Quando
faltamos com a caridade,
demonstramos que
somos ainda imaturos no
campo do sentimento e do
amor.