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Editorial Inglês Espanhol    
Ano 9 - N° 447 - 10 de Janeiro de 2016
 
 

 
 

Aflições... até quando?


Impressionante o noticiário que ocupou os programas jornalísticos no início desta semana, a primeira de 2016.

Terremoto no nordeste da Índia, perto da fronteira com Mianmar e Bangladesh, acidentes rodoviários em nosso país com várias mortes, cheias, inundações, deslizamentos de terra, família eletrocutada defronte da própria residência... E, para culminar, os atos de agressão e violência que se seguiram ao rompimento diplomático entre duas grandes nações asiáticas em que o Islamismo é a religião dominante. Referimo-nos, neste caso, a Arábia Saudita e Irã, rompimento que, por sinal, se ampliou com a adesão do Bahrein e dos Emirados Árabes, que também romperam com o Irã.

Examinando esses e outros casos que surgem a cada semana na mídia, é claro que não é difícil apurar os que são causados por ações do próprio homem e os demais, que ocorrem sem que exista uma relação direta entre o fato e o que temos feito.

“No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo.” (João, 16:33.)

As palavras acima, pronunciadas por Jesus e anotadas pelo evangelista, são expressivas e, mais ainda, proféticas.

Por que no mundo havemos de ter aflições?

Não é preciso adotar crença alguma para observar que, independentemente de nossa vontade, é isso que tem marcado a história da Terra desde os seus primórdios.

Mundo de provas e expiações, nosso orbe recebe Espíritos ainda imperfeitos, com um largo prontuário recheado de ações e omissões que é preciso sanar, reparar, corrigir...

Nossa imperfeição não permite, salvo em raríssimos casos, que nos modifiquemos pela força de uma palavra ou de um conselho. Surge, então, a dor como medida necessária e altamente eficaz, como todos certamente já observamos no nosso próprio comportamento ou na conduta de familiares e amigos visitados pelo sofrimento.

Já mencionamos aqui e não custa repetir que, segundo ensinamento recebido dos imortais, o processo de regeneração de alguém que feriu a Lei de Deus implica o concurso de três fatores: o arrependimento, a expiação e a reparação – estas duas últimas, medidas educativas, não punitivas, que a própria pessoa solicita quando prepara uma nova passagem pela experiência reencarnatória.

A título de exemplo de como se processa a justiça divina, recordemos o caso de Letil, um industrial francês que morreu em abril de 1864, de modo horroroso, quando sobre ele caiu todo o conteúdo de uma caldeira de verniz fervente. Num abrir e fechar de olhos seu corpo se cobriu de matéria candente. Quando se lhe pôde prestar os primeiros socorros, já as carnes dilaceradas caíam aos pedaços, desnudos os ossos de uma parte do corpo e da face. Ainda assim, sobreviveu doze horas a cruciantes sofrimentos, conservando, porém, toda a presença de espírito até o último momento, sem que se ouvisse de seus lábios um único gemido, um só queixume. Letil morreu orando a Deus.

Como se tratava de um homem honradíssimo, de caráter meigo e afetuoso, amado e prezado de quantos o conheciam, é claro que ninguém compreendeu por que tão triste tragédia lhe ceifou a vida. Mais tarde, contudo, evocado na Sociedade Espírita de Paris, o próprio Letil deu notícia sobre sua situação no mundo espiritual e revelou a causa que lhe havia determinado tão triste destino.

Ele contou então:
 

"Vai para dois séculos, mandei queimar uma rapariga, inocente como se pode ser na sua idade – 12 a 14 anos. Qual a acusação que lhe pesava? A cumplicidade em uma conspiração contra a política clerical. Eu era então italiano e juiz inquisidor; como os algozes não ousassem tocar o corpo da pobre criança, fui eu mesmo o juiz e o carrasco.


Oh! quanto és grande, justiça divina! A ti submetido, prometi a mim mesmo não vacilar no dia do combate, e ainda bem que tive força para manter o compromisso. Não murmurei, e vós me perdoastes, oh! Deus! Quando, porém, se me apagará da memória a lembrança da pobre vítima inocente? Essa lembrança é que me faz sofrer! É mister, portanto, que ela me perdoe.


Oh! vós, adeptos da nova doutrina, que frequentemente dizeis não poder evitar os males pela insciência do passado! Oh! irmãos meus! bendizei antes o Pai, porque se tal lembrança vos acompanhasse à Terra, não mais haveria aí repouso em vossos corações. Como poderíeis vós, constantemente assediados pela vergonha, pelo remorso, fruir um só momento de paz? O esquecimento aí é um benefício, porque a lembrança aqui é uma tortura. Mais alguns dias, e, como recompensa à resignação com que suportei as minhas dores, Deus me concederá o esquecimento da falta. Eis a promessa que acaba de fazer-me o meu bom anjo." (O Céu e o Inferno, de Allan Kardec  -  2ª Parte - capítulo VIII.)

Esperamos que as explicações acima, embora não nos tragam de volta o familiar querido que partiu, nos ajudem a compreender que na vida tudo que emana do Pai é justo e tem por fim somente o nosso bem e a nossa felicidade.


 
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita