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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 2 - N° 100 – 29 de Março de 2009

ORSON PETER CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo (Brasil)

 

Maurício Mancini:

“Aprendamos com os jovens”

Professor universitário relata sua valiosa experiência
com jovens, dentro e fora do movimento espírita


 

Nosso entrevistado da semana, Maurício Cordeiro Mancini (foto), é professor na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, espírita desde 1976, vinculado ao Centro Espírita Paulo de Tarso, em Seropédica (RJ), que atualmente preside, além de coordenar o Departamento doutrinário e de orientação mediúnica, onde também atua como médium desde 1986.  

Palestrante muito requisitado em sua região, acumula grande vivência com jovens espíritas e também com seus alunos  na  Universidade. Da experiência  

 

com jovens surgiram duas obras de mensagens diárias, agora reeditadas em nova diagramação, cuja história podemos conhecer na presente entrevista, além de outras valiosas informações sobre o aprendizado e interação com os jovens.

O Consolador: Seu livro Mensagens de Boa Noite, recém-lançado, é fruto de sua experiência com seus alunos na Universidade. Conte-nos essa experiência. 

Na verdade, os dois livros até agora lançados são frutos do intenso intercâmbio e aprendizagem que realizo com jovens do movimento espírita dos Estados do Rio de Janeiro e, principalmente, Minas Gerais. Somado a este convívio doutrinário com a juventude, vem a diária relação com meus jovens alunos e orientados de Iniciação Científica e Mestrado. Ao longo do tempo, dei-me conta que, quer venham das mais variadas partes do Brasil em busca da sua conquista acadêmica, quer se desenvolvam nas atividades da casa espírita, nossos jovens estão ávidos por afeto, atenção, alguém que os ouça e compreenda, não exatamente de um cúmplice ou um companheiro de festas e diversões, mas, de figuras paternais e maternais que possam suprir o imenso vazio afetivo que a maioria experimenta no lar, nas tumultuadas ou inexistentes relações familiares. Foi nas conversas com eles, ouvindo seus desabafos e compartilhando suas alegrias, que encontrei a fonte primeira dos textos que compõem os livros que escrevo. 

O Consolador: Como conseguiu a excelente interação que vive com seus alunos? 

Permitindo que o tempo e os sentimentos me transformassem do clássico professor de engenharia química no amigo e pai que ensina ao mesmo tempo em que aprende. É desafiador deixar de lado as posturas clássicas às quais nos acostumamos, a distância sempre defensiva, que a maioria dos professores mantém com os alunos, como se os primeiros fossem os grandes “sabe-tudo” e os alunos os néscios que precisam receber a caridade de aprender o que os mestres têm a ensinar. As relações que mantenho com meus alunos são relações com pessoas, seres completos, e não relações entre máquinas de aprender com uma máquina de ensinar. Talvez seja por isso que, embora bem longe de ser uma unanimidade entre eles, nem afrouxando nas avaliações, permaneço disponível para que conversem comigo, desabafem, exponham-se como pessoas diante de uma pessoa igual, talvez apenas um pouco mais velho, com algumas lições a mais já aprendidas, mas sempre um eterno aluno da vida. É isso que sou, um eterno aluno da vida. 

O Consolador: E qual considera a causa da boa aceitação de seus textos? Não há resistência dos jovens para essa temática? 

As pessoas, em qualquer meio em que estejam, do mais simples e familiar até os de excelência acadêmica, são sempre pessoas, seus sentimentos, suas ansiedades controlam suas vidas muito mais do que sua razão. Os textos são bem aceitos porque falam de questões do dia-a-dia, dos problemas comuns a todos nós, sem trazer soluções fechadas, mas mostrando, conforme aprendemos com Jesus, que nós é que somos os artífices das nossas desgraças ou da nossa plena felicidade. Os textos falam aos sentimentos, mostram que as tormentas da vida, pelas quais os jovens passam, não são exclusividade deles e que eles mesmos são capazes de construir um caminho melhor para o seu viver. Não resistem à temática espiritualista, pois, na grande maioria, estão se sentindo vazios, por mais que gozem as facilidades e loucuras que a vida moderna oferece. Eles anseiam por algo mais, por algo que os faça se sentir pessoas plenas e não máquinas ou engrenagens anônimas de um sistema competitivo, sem sentimentos, sem amor. 

O Consolador: Em suas palestras, a interação com o público também é intensa? Que dinâmicas usa para tornar as palestras interessantes às pessoas? 

Usualmente não recorro a outros recursos senão os da oratória e o tempo me ajudou  aprender a “pintar imagens” na mente das pessoas. Recorro a histórias pitorescas para ilustrar algumas ideias e procuro sempre dar fecho que conduza ao enaltecimento dos bons sentimentos de todos nós, da capacidade que todos temos para o bem, reforçando que, se queremos ser felizes, o trabalho é nosso e deve começar urgentemente. Nos seminários, tarefas bem mais longas, nas quais preciso aprofundar determinados assuntos, utilizo recursos áudios-visuais sim. Mas, essencialmente, o que atrai o público deve ser a empatia, o brilho do olhar, o sorriso sempre presente, a alegria de viver e a imensa gratidão a Deus por eu estar ali, tendo a oportunidade de agora construir, em vez de destruir, como tantos de nós fizemos em encarnações passadas. 

O Consolador: E continua enviando essas mensagens? Qual a fonte de inspiração? 

Sim, continuo enviando, não mais diariamente, como fiz por cerca de 18 meses, o que gerou o Mensagens de Boa Noite, o Parábolas de Boa Noite e mais 3 livros ainda não publicados. De vez em quando surgem mensagens inéditas e, semanalmente, tenho reenviado mensagens contidas no Parábolas de Boa Noite, cuja primeira edição ocorreu em 2007. Quanto à inspiração, eu poderia dizer que existe sempre um gatilho, que dispara a construção das mensagens, normalmente este gatilho é uma conversa com meus alunos, com os jovens do movimento espírita ou algum conflito pessoal. Da ideia inicial busco a inspiração dos Amigos do Plano Maior, que, embora não assinem as mensagens, digitam comigo, pois, por vezes, só tomo ciência do que foi escrito depois de pronto. Aqui cabe destacar a constante assistência dos Espíritos Irmão Assis e Irmã Rosália, amigos espirituais que me acompanham e dirigem já há mais de 25 anos. 

O Consolador: E o livro Parábolas de Boa Noite que também deve ser publicado em 2009? 

O Parábolas de Boa Noite será reeditado em 2009, agora pela Editora Mythos, e com duas parábolas inéditas, em relação à sua primeira edição. Este é um livro com um estilo ligeiramente diverso do Mensagens de Boa Noite, que traz mensagens diretas e bem objetivas. No Parábolas de Boa Noite foram reunidas várias historietas curtas, parábolas e apólogos, usando personagens e diálogos para ilustrar as lições. Serão 70 parábolas curtas, escritas sob o mesmo tipo de influência do Mensagens de Boa Noite, isto é, meus alunos, os jovens espíritas e os Espíritos Irmão Assis e Irmã Rosália. Os temas também são aqueles que mais atraem os jovens de todas as idades: relacionamentos afetivos fracassados, capacidade de superação de fracassos, amizades desfeitas, a difícil escolha entre o TER e o SER e outras mais. Em muitas dessas parábolas deixei extravasar o sentimento paternal, pois tenho pelos meus alunos e os jovens do movimento espírita o mesmo amor que dedico aos meus filhos biológicos. 

O Consolador: Que experiência pode ser obtida de sua convivência com os jovens? 

Os que se isolam ou negligenciam a convivência com os jovens condenam-se a um envelhecimento precoce e tristonho, quase uma morte em vida. A vida é constante aprendizado e passamos os primeiros anos da jornada terrena aproveitando a exuberância das energias para explorar o mundo que nos cerca e aprender à custa das nossas próprias experiências. Quando, porém, chega a maturidade, as energias para as aventuras de aprendizagem vão diminuindo e seremos sábios se continuarmos a aprender com os jovens. Mas, se eu pudesse aqui tirar uma lição pessoal da convivência com os jovens seria o fato de que as novas gerações sempre me parecem melhores, mais dispostas a aprender e crescer do que a minha e as gerações anteriores foram. Se tenho plena certeza de que teremos um mundo melhor e mais feliz no futuro, eu a aprendi observando estes mesmos jovens que apenas parecem aprender alguma coisa comigo, mas que me ensinam muito mais. É com eles que aprendi a possibilidade concreta de ter ALEGRIA DE VIVER. 

O Consolador: As ideias espíritas são bem aceitas pelos jovens que não são espíritas? 

As ideias espíritas são muito bem aceitas pelos jovens. Elas são sempre atuais, trazem respostas racionais e consoladoras para os seus questionamentos mais imediatos. Apenas quando a cultura familiar, o preconceito e as heranças materialistas já os comprometeram muito é que os jovens se mostram avessos às ideias espíritas. Se observarmos deserções e esvaziamento das juventudes espíritas, das casas espíritas, o problema não está na juventude em si, menos ainda nas ideias da Doutrina Espírita, mas sim na forma pouco motivadora e desinteressante usada para apresentar estas ideias aos jovens. Eles gostam de desafios, gostam de ser levados a pensar e jamais se permitirão “engolir” informações que não lhes tragam uma sensação de íntima satisfação da razão e dos sentimentos. 

O Consolador: E a comunicação virtual tem facilitado a expansão das ideias espíritas? 

Todos os recursos de comunicação serão produtivos se forem bem utilizados. A internet e todos os outros meios digitais e virtuais de comunicação precisam ser bem aplicados. Fazer as devidas adaptações para que a mensagem se torne acessível a um público cada vez maior sim, mas ter todo o cuidado com o conteúdo das mensagens transmitidas e evitar algumas concessões, que nada têm a ver com a forma, são mesmo permissivas, estratégias, sem consistência, para atrair público. Eu diria que os meios digitais e virtuais de comunicação deveriam ser nossas ferramentas auxiliares para atrair o grande público para o estudo sério e metódico da Doutrina Espírita. Mas, se nem mesmo nas nossas casas espíritas estamos conseguindo isso, não vamos exigir demais da comunicação virtual, fiquemos sim, vigilantes para que ela não represente um desserviço na divulgação da doutrina. 

O Consolador: Qual a experiência mais marcante de sua vida profissional e de sua atuação espírita? 

Em 2001 lecionei uma disciplina de primeiro período para os alunos de engenharia química e engenharia de alimentos da UFRRJ. No primeiro dia de aula eu distribuí um questionário para que eles falassem um pouco sobre si e deixei no final uma tirinha com uma mensagem de estímulo, dizendo da confiança neles e que eles já eram capazes de realizar as conquistas que almejavam. Pedi que guardassem a tirinha e, se achassem importante, me devolvessem na formatura. Cinco anos depois, em meio à solenidade de formatura de um grupo de alunos, subi ao palco para receber uma placa de homenagem. Após as formalidades daquele momento solene, eles pararam tudo, pediram que eu permanecesse no palco, leram a tirinha de papel para o auditório lotado e me entregaram. UFA! Ali eu tive certeza que não sou cardíaco. Na atuação espírita cada vez que um jovem se aproxima aflito, carente, e nossas longas horas de conversa o ajudam a se sentir melhor e mais capaz, sinto-me vivendo uma das tais experiências culminantes das quais fala Abraham Maslow; sinto-me um pouco pai de cada um deles e isso é profundamente estimulante e marcante para mim todos os dias. 

O Consolador: Suas palavras finais. 

Sei que meus livros podem alcançar um público amplo, pois as mensagens trazem consolações para sofrimentos que dizem respeito aos desafios da vida moderna, mas, originalmente eles foram concebidos pensando nos mais jovens. Não por acaso, pois é nessa confiança na juventude que vejo a grande força para construirmos um mundo melhor. Jovem não é para ser combatido, não é para ser tolhido, não tentemos transformá-los em cópias de nós. Ao contrário, aprendamos com eles, envolvamos os jovens em nosso amor, com profundo respeito por suas individualidades, pois eles são os Espíritos que transformarão este mundo em um mundo melhor. Encerro citando Khalil Gibran, quando nos fala dos filhos: “Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós. Porque a vida não anda para trás e não se demora nos dias passados. Vós sois arcos, dos quais vossos filhos são lançados como flechas vivas. (...) Que o vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja a vossa alegria, pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável.” (O Profeta Gibran Khalil Gibran)


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita