Carlos Eduardo
Noronha Luz:
“A
Transcomunicação
Instrumental, em sua
quase totalidade,
não dispensa a
presença do médium"
Mineiro de Itajubá e
radicado em Bauru
(SP) desde 1971,
ex-professor de
Telefonia na
Faculdade de
Engenharia e
Tecnologia da UNESP
no Campus de Bauru e
funcionário
aposentado da CESP,
nosso entrevistado
desta semana é
Carlos Eduardo
Noronha Luz
(foto), confrade
que há anos vem se
dedicando às
pesquisas na área da
ciência espírita.
Consultor Técnico do
Instituto Brasileiro
de Pesquisas
Psicobiofísicas (IBPP)
e pesquisador de
transcomunicação
instrumental,
trabalhou e conviveu
por
|
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muitos anos
com o
confrade
Hernani
Guimarães
Andrade.
Carlos Luz
gentilmente
compartilha
sua
convivência
com o
saudoso
professor
Hernani e
também suas
pesquisas
ligadas à
área da
ciência
espírita na
entrevista a
seguir
publicada: |
O Consolador –
Mineiro de Itajubá,
quando você veio
para Bauru?
Morei antes em São
Paulo e Jundiaí, e
no ano de 1971 vim
para Bauru, onde
estou até os dias de
hoje.
O Consolador – Como
se tornou espírita?
Como sabemos,
existem duas
maneiras para
chegarmos ao Centro
Espírita. Uma delas
é, como dizemos,
pelo amor,
onde a busca do
conhecimento
espírita nos move em
direção à luz da
Doutrina. A outra é,
também como sabemos,
pelo desconforto
da dor. Como a
maioria das pessoas,
a minha foi também a
segunda opção.
Encontrei na Casa à
Beira do Caminho,
que é o Centro
Espírita Amor e
Caridade (CEAC), em
Bauru, o acolhimento
que fortaleceu e
fundamentou a minha
crença de que somos
Espíritos imortais
em romagem na carne.
O Consolador –
Você teve amizade
com o professor
Hernani Guimarães
Andrade, grande
pesquisador da
reencarnação.
Conte-nos como foi
essa convivência.
Algum fato pitoresco
envolveu vocês?
Conhecia o Dr.
Hernani Guimarães
Andrade antes de ele
se mudar com o
Instituto Brasileiro
de Pesquisas
Psicobiofísicas (IBPP)
para Bauru, bem como
a professora Suzuko
que, segundo ele
próprio, foi seu
braço direito e
esquerdo, em seu
vasto trabalho em
favor da Ciência
Espírita. Acredito
que podemos chamar
de Mestre os seres
que incorporam em
sua atividade
pedagógica, além da
difusão do
conhecimento
teórico, a sua
prática mostrada por
suas atitudes ante
os fatos
corriqueiros da
vida. Assim foi o
professor HGA, como
o chamávamos quando,
empregando a
linguagem escrita,
nos referíamos a
esse nosso querido
mestre. Respondendo
à sua pergunta sobre
um fato pitoresco
envolvendo HGA,
digo-lhe que houve
muitos. Na mais pura
tradição oriental da
relação
Mestre-aprendiz,
recebi de HGA uma
importante lição.
Digo isto porque não
sou como os demais
seres evoluídos da
criação que dominam
a arte da
convivência
harmônica com os
objetos inanimados,
como por exemplo
abrir com graça,
engenho e arte um
prosaico caixote de
madeira. Isto
aconteceu no IBPP,
que teve dois
cômodos tomados por
instalações que
tinham na porta um
cartaz sinalizando
que era ali o Psilab,
ou seja, um espaço
voltado à
experimentação com o
campo biomagnético,
que incluía cultura
de bactérias "Salmonella
Typhimurium". Nesse
espaço chegou um dia
uma enorme
autoclave, que foi
entregue pela
transportadora, que
a fez passar
milagrosamente pela
porta, cujo batente
media 80 cm, mesma
medida da embalagem.
Empurra daqui e
dali, as dobradiças
se flexibilizaram em
fenômeno que poderia
ser chamado de
paranormal e, assim,
o parto ao contrário
se fez. Com a
referida dita cuja
autoclave embalada e
já sob o teto do
Psilab, eis que
cheguei para ajudar
o mestre HGA no seu
trabalho de extrair
o referido
equipamento, que ele
tinha comprado com
recursos próprios,
do seu sarcófago de
madeira. Foi uma
luta de David contra
Golias, na qual o
meu personagem
deveria ser o de
David lutando contra
o guerreiro gigante
de tábuas que era o
caixote, para fazer
sair de suas
entranhas a cobiçada
peça de laboratório.
Mas o que acontecia
era que, forçando
daqui e dali, já
estava pensando em
ir buscar em minha
casa uma respeitável
mini-marrete de
quinhentos gramas.
Naquele intervalo de
tempo de minha luta,
HGA observou que eu
estava mais para
Golias do que para
David e, pegando em
suas mãos
octogenárias uma
pequena chave de
fenda, fez da mesma
a funda de David e,
ante o meu espanto,
com toda a graça,
paciência, engenho e
arte que me
faltaram, fez
aparecer com alguns
movimentos de
alavanca a
importante e
reluzente autoclave.
A Transcomunicação
Instrumental é a
comunicação com os
Espíritos por meio
de instrumentos
eletrônicos, mas não
dispensa a presença
de um médium
O Consolador –
Como ficou o
Instituto com o
falecimento do
professor Hernani? O
trabalho continua?
O instituto, agora
no bairro de Santo
Amaro, na cidade de
São Paulo, continua
suas atividades
principalmente pelas
mãos da professora
Suzuko Hashizume.
Ela foi para o
querido Mestre
Hernani, em suas
próprias palavras,
nesta sua última
jornada terrena, o
seu braço direito e
esquerdo. A
professora Suzuko
atende aos pedidos
vindos
principalmente do
exterior sobre as
pesquisas feitas
pelo professor
Hernani, bem como
cuida de dar
prosseguimento aos
projetos editoriais
do Mestre. Este seu
trabalho inclui a
formatação em forma
de livro dos textos
dele, dos quais
muitos foram
publicados em forma
de artigos.
O Consolador –
Existe algum livro
ou algum trabalho do
professor Hernani
inédito?
Em parceria com o
instituto a Editora
Didier, de
Votuporanga (SP),
tem reeditado também
as obras originais
há muito esgotadas
em suas versões
originais, tendo já
saído a lume “A
Teoria Corpuscular
do Espírito”, que
fundamenta, como o
nome diz, a parte
teórica do trabalho
dele. O próximo
lançamento do IBPP,
ainda em parceria
com a Didier, é a
segunda obra editada
que dá as diretivas
para a comprovação
ou refutação da
teoria pela
evidência dos fatos
experimentais. Esse
livro tem por título
“Novos Rumos da
Experimentação
Espirítica” e deverá
ter também anexos de
atualização e,
dentre eles, o
detalhamento das
experiências feitas
com bactérias quando
do IBPP em Bauru.
O Consolador – Você
também é um
pesquisador na área
da Transcomunicação
Instrumental. Como
estão as pesquisas?
Tenho escrito
artigos para
revistas sobre o
tema. A
Transcomunicação
Instrumental é a
comunicação com os
Espíritos com o
emprego de
instrumentos
eletrônicos. Porém
em sua quase
totalidade não
dispensa a presença
de um médium,
especialmente de
efeitos físicos,
para que ela
aconteça.
O Consolador – O que
a Transcomunicação
Instrumental tem a
oferecer ao
Espiritismo?
A pergunta 934 d´O
Livro dos Espíritos,
feita por Kardec aos
mentores espirituais
sobre perdas dos
entes queridos, nos
responde esta
questão:
934. A perda dos
entes que nos são
caros não constitui
para nós legítima
causa de dor, tanto
mais legítima quanto
é irreparável e
independente da
nossa vontade?
“Essa causa de
dor atinge assim o
rico, como o pobre:
representa uma
prova, ou expiação,
e comum é a lei.
Tendes, porém, uma
consolação em
poderdes
comunicar-vos com os
vossos amigos pelos
meios que vos estão
ao alcance,
enquanto não
dispondes de outros
mais diretos e mais
acessíveis aos
vossos sentidos.”
Esta parte final da
resposta pode ser
entendida como uma
previsão, feita
pelos Espíritos que
participaram da
Codificação,
antevendo a evolução
da mediunidade para
que ela seja feita
por meios “mais
diretos”, ou seja, a
TCI. O destaque em
itálico consta do
texto original em
francês.
O Consolador – Você,
que ministra cursos
na área da Ciência
Espírita, tem notado
um maior interesse
das pessoas nas
questões que
envolvem a parte
científica do
Espiritismo?
Sim, porque é este o
diferencial do
Espiritismo em
relação a outras
“operadoras de
intercâmbio com o
transcendente” que
denominamos
religião. Enquanto
que muitas destas
referidas “outras
religiões” se
posicionam no campo
da fé cega e até
elogiam os
profitentes que
abdicam da
racionalidade e
abraçam dogmas
incompatíveis até
com os rudimentos da
racionalidade, o
Espiritismo
glorifica as mais
importantes
aquisições da
criatura terrena que
é o pensamento
racional e o
progresso na
moralidade ensinada
pelo Mestre de
Nazaré.
O Cristianismo e a
moral cristã foram
enfraquecidos no
ambiente social,
sobretudo
por conterem
informações
estranhas
O Consolador – Para
os que querem se
aprofundar mais na
área da Ciência
Espírita, que livros
você indica?
A literatura de
André Luiz que
contextualiza a
Codificação para o
nosso tempo, seguida
da literatura de
Hernani Guimarães
Andrade, que se
fundamenta na
Codificação
Kardequiana e no
citado autor
espiritual,
aprofundando mais
ainda os conceitos.
O Consolador – Quais
seus livros
prediletos? E com
quais autores
espíritas você mais
se identifica?
Meus livros
prediletos, além das
obras da
Codificação, são os
que compõem a série
André Luiz, os
livros dos autores
espirituais Emmanuel
e Joanna de Ângelis,
as obras de Hernani
Guimarães Andrade,
Richard Simonetti,
Yvonne Pereira e
Alkindar de
Oliveira.
O Consolador –
Kardec, em Obras
Póstumas, fala
da importância da
popularização do
Espiritismo. Em sua
opinião, como nós
espíritas podemos
auxiliar na
divulgação
doutrinária, levando
o Espiritismo para
além dos horizontes
do Centro Espírita?
A trajetória
histórica do
Cristianismo, até
por ser uma
instituição de
cultura multimilenar,
incorporou ruídos à
informação
proveniente dos
“Gerentes
Espirituais”,
fixando paradigmas
estranhos e muitas
vezes contrários ao
corpo doutrinário do
Mestre de Nazaré.
Por isto, as
instituições
seculares mais leves
da massa inercial
dos milênios muitas
vezes se qualificam
como espaço social
mais permeável ao
ideal de
fraternidade que
esta referida
instituição. Muitas
empresas, pela via
da busca material do
lucro, descobriram
que um ambiente de
fraternidade é
também um ambiente
lucrativo,
considerando que as
pessoas, vivendo um
relacionamento
social de apoio e
cooperação, aprendem
que a força do grupo
para resolver
problemas, pela
sinergia, supera em
muito o esforço
individual. Daí se
internalizar o
entendimento de que
somos Espíritos
imortais e de que o
corpo ou qualquer
outro artefato
material é um meio
de se agregar
valores a esta
contraparte perene.
Está feita assim a
sementeira de uma
nova economia
centrada nos valores
permanentes do
Espírito, na qual o
lucro naturalmente
virá como
conseqüência.
O Consolador – Por
vezes somos pegos de
surpresa por
notícias
lamentáveis, como a
morte bárbara da
garota Isabella.
Como o Espiritismo
pode contribuir para
que nossa sociedade
viva dentro da
cultura da paz e do
respeito?
Percebemos que o
Cristianismo e, por
conseguinte, a moral
cristã foram
enfraquecidos no
ambiente social,
principalmente por
conterem informações
estranhas e até
contrárias ao seu
próprio corpo
doutrinário
original. No
Espiritismo
aprendemos que antes
das pessoas serem
Espíritas elas devem
se tornar
espiritualistas. Ser
espiritualista traz
por conseqüência,
como dissemos, o
conhecimento de que
a nossa contraparte
espiritual, que é
perene, tem por isto
mais valor que a
parte física, que é
o corpo carnal.
Desta maneira, o
Espiritismo jogando
luz sobre o
Cristianismo resgata
os seus valores
originais,
fundamentando ainda
estes valores com
argumentos
racionais. Assim,
parafraseando o
Nazareno, podemos
dizer que pelo
conhecimento
progressivo da
verdade, que
liberta,
transformaremos o
tecido social
permeando-o com os
valores do amor e,
por conseguinte, da
paz.
O Consolador – Suas
considerações
finais.
Agradeço esta
oportunidade de
responder a questões
que, como foram
feitas, permitem
reflexões sobre o
Espiritismo e o
Cristianismo,
lembrando que a
humanidade, como os
pescadores do Mar da
Galiléia, lança a
sua rede em busca do
alimento. Pescam
muitas vezes
sardinhas nos
valores da economia
competitiva de
mercado esquecendo
que sob os seus pés
está o peixe gigante
do Cristianismo, que
tendo por lei a
cooperação entre os
povos, pessoas e
empresas, é só por
si o alimento farto
para o corpo e para
o Espírito. Consegue
se servir desse
alimento pleno de
vida quem direciona
a sua vontade e
clarifica o seu
entendimento,
escapando ao
condicionamento
evolutivo da
competição. |