É à alma que
o homem deve
sua
inteligência
e
racionalidade
1. A
inteligência
é o atributo
essencial do
Espírito, em
razão do
qual toma
ele
conhecimento
de sua
própria
existência e
exerce
atividades
voluntárias
e livres.
Quando o
Espírito
atinge o
grau de
humanização,
sua
inteligência
adquire
desenvolvimento
superior,
como o
surgimento
da razão e
do senso
moral, que
lhe facultam
a capacidade
de conceber
e reconhecer
a existência
de Deus.
2.
Realizando
múltiplos
atos livres
e
voluntários,
apresentando
finalidade
nítida e
obedecendo a
juízos e
raciocínios
bem
elaborados,
o homem é um
ser que
revela dupla
natureza:
material
e
espiritual.
Não nos
esqueçamos
de que há
uma alma
unida ao
corpo do
homem e
somente a
ela deve ele
sua
inteligência
e
racionalidade,
seus
conhecimentos
e
sentimentos,
bem como sua
vontade e
liberdade.
3. Existem,
entretanto,
seres que
realizam
atos em que
se revela
também
nítida
finalidade,
mas que
parecem
obedecer
antes a
automatismos
que a
impulsos
decorrentes
da livre
vontade.
Tais atos
visam
sobretudo à
conservação
do indivíduo
e da
espécie,
objetivando
as funções
de nutrição
e de
reprodução,
provendo ao
crescimento,
ao
desenvolvimento
e à
propagação,
enfim, da
plena
realização
da vida.
4. Esses
atos são
devidos ao
instinto –
são os
chamados
atos
instintivos.
Existem
esboçados no
reino
vegetal, mas
são bem mais
evidentes no
reino
animal,
tanto quanto
na espécie
humana, e
ocorrem,
seja no
homem, seja
nos animais,
ao lado dos
atos
inteligentes.
A
inteligência
e o instinto
decorrem do
mesmo
princípio
5. Existe
diferença
entre o
instinto e a
inteligência?
Será o
instinto,
como alguns
pensam, um
atributo
inerente à
matéria e
não à alma?
Se assim
fosse,
teríamos de
admitir que
a matéria é
também
inteligente,
o que é
manifestamente
falso. Ora,
se ao ato
instintivo
falta o
caráter
principal do
ato
inteligente,
que é ser
deliberado,
revela, no
entanto, uma
causa
inteligente,
porque apta
a prever e a
evitar o
engano, o
que levou
muitos
estudiosos a
admitir que
instinto e
inteligência
procedem de
um mesmo
princípio,
que
inicialmente
teria
somente as
qualidades
do instinto
e depois se
desenvolveria,
evoluiria e
passaria por
uma
transformação
que lhe
daria as
qualidades
da
inteligência
livre.
6. Esta
última
hipótese não
resiste a
uma análise
mais
profunda,
porque
freqüentemente
o instinto e
a
inteligência
se encontram
juntos no
mesmo ser e,
às vezes, no
mesmo ato.
No caminhar,
por exemplo,
é instintivo
o simples
movimento
das pernas,
tanto no
homem como
no animal –
um pé vai
adiante do
outro
maquinalmente.
Mas no
acelerar o
passo ou
retardá-lo,
bem como no
levantar o
pé para
desviar-se
de um
obstáculo,
intervém a
vontade, a
deliberação
e o cálculo.
De igual
modo, o
animal
carnívoro é
levado pelo
instinto a
alimentar-se
de carne,
mas age com
inteligência
e mesmo
astúcia
quando toma
medidas para
garantir sua
presa.
7. Em face
disso é que
se diz que o
instinto é
uma espécie
de
inteligência,
enquanto
outros
afirmam que
é uma
inteligência
sem
raciocínio.
O fato é que
muitas vezes
se torna
difícil
estabelecer
um limite
nítido de
separação
entre o
instinto e a
inteligência,
porque
muitas vezes
eles se
confundem.
8.
Inteligência
e instinto –
e esta é a
opinião mais
comum – são
manifestações
do mesmo
princípio
espiritual,
que obedecem
a duas
determinantes
ou a dois
motores
diferentes:
um ligado à
vontade e à
liberdade do
indivíduo, e
outro que
escapa
totalmente à
vontade e à
liberdade.
Nesse
sentido,
podem
distinguir-se
perfeitamente
os atos que
dependem da
inteligência
desenvolvida
daqueles que
decorrem
estritamente
do instinto.
Os atos
inteligentes
aprimoram-se
com a
aprendizagem
9. Sendo a
inteligência,
em sua
plenitude, a
faculdade de
pensar e
agir
racional e
deliberadamente,
os atos
inteligentes
são
conscientes,
voluntários,
livres e
calculados.
São, além
disso,
suscetíveis
de
variações,
porque a
inteligência,
variável e
individual
por
excelência,
é suscetível
de
progresso.
Os atos
inteligentes
decorrem da
aprendizagem
e pela
aprendizagem
se
aprimoram,
fato que não
ocorre com
os atos
instintivos.
10. Vejamos
o exemplo do
patinho:
logo que
rompe a
casca do ovo
que o
mantinha
encerrado,
se vê
próximo um
córrego ou
um lago,
corre
alegremente
para ele e
lança-se na
água,
nadando
imediatamente
com
perfeição.
Onde
aprendeu o
pato a
nadar? São
igualmente
instintivos
o ato do
castor, que
constrói sua
casa com
terra, água
e galhos de
árvores; o
ato dos
pássaros,
que
constroem
com
perfeição
seus ninhos;
o ato da
aranha, que
tece com
precisão sua
teia.
Vêem-se já
aí alguns
dos
caracteres
do instinto:
é algo
inato,
perfeito e
específico,
ou seja,
surge
espontaneamente,
sem prévia
aprendizagem,
em todos os
indivíduos
de uma mesma
espécie e
leva a atos
completos,
acabados,
perfeitos,
desde a
primeira vez
que são
realizados.
11.
Verifica-se,
no entanto,
que esses
atos
continuam
durante toda
a vida do
ser sem
mudança
alguma. Essa
capacidade
de nadar, de
construir,
de tecer não
sofre
variação
através dos
tempos, de
modo que o
castor
constrói
hoje a sua
cabana como
o faziam
seus
ancestrais e
assim farão
os seus
descendentes,
com os
mesmos
materiais e
da mesma
maneira.
Nas
edificações
dos homens,
ao
contrário, é
evidente a
evolução na
forma e no
uso dos
materiais,
porque
decorrem de
atos
inteligentes,
sujeitos à
vontade e à
liberdade,
variáveis de
acordo com
as
circunstâncias,
o que é uma
característica
dos atos
inteligentes.
12. O homem
também deve
a sua
conservação
e manutenção
a atos
instintivos,
e não apenas
aos atos
inteligentes.
Lembremos
tão-somente
o que se dá
nos
primeiros
dias após o
nascimento
de uma
criança,
que, do
mesmo modo
como ocorre
com as crias
de outros
mamíferos,
suga o leite
materno, sem
que ninguém
lhe tenha
ensinado. A
circulação
sangüínea, o
funcionamento
do aparelho
digestivo e
tantas
outras
funções
verificáveis
no ser
humano
também se
devem à
força do
instinto.