Quantos
municípios e
quantas
instituições
espíritas há no
estado?
O Movimento
Espírita
Potiguar é um
movimento
vibrante,
contando com
experiências
significativas e
trabalhadores
valorosos de
ontem e de hoje.
O Espiritismo
chegou aqui
ainda no século
da Codificação e
em 1875 tínhamos
um jornal que
circulava com o
nome O
ESPÍRITA.
Perseguições e
preconceitos
abortaram as
primeiras
instituições e
hoje a casa mais
antiga é a
Federação
Espírita do
Estado (FERN),
que completará
83 anos em abril
próximo.
Contamos
atualmente com
cerca de 130
núcleos
(incluindo pelo
menos 32 grupos
familiares)
distribuídos em
35 municípios
dos 167 do
estado. Temos,
assim, um longo
trabalho pela
frente e estamos
tentando fazer a
nossa parte. No
RN temos 14
programas
radiofônicos e 3
televisivos,
conferência
estadual,
congresso,
seminários,
jornadas,
simpósios,
semanas
espíritas,
abrigos de
idosos, creches
e escolas,
atividades
assistenciais
junto a
famílias,
trabalho com
presidiários,
dentre outras
atividades que
vitalizam o
movimento no
estado.
O Consolador:
Qual a
experiência mais
marcante em sua
presidência na
FERN?
Em primeiro
lugar diria que
tem sido uma
honra estar à
frente da
Federação
Espírita do RN,
desde abril de
2003. A visão do
movimento
potiguar
multifacetado em
sua
dinamicidade, as
especificidades
locais, a
dedicação dos
trabalhadores
que enfrentam –
sobretudo no
interior do
estado – o velho
e cruel
preconceito
religioso, a
criatividade de
confrades, a
capacidade de
lidar com poucos
recursos humanos
e financeiros, o
trabalho em
equipe, são
apenas algumas
das lições
positivas que
buscamos
compreender e
interiorizar. Ao
lado dessas
lições, o
esforço
permanente para
aprender a lidar
com os antigos e
persistentes
problemas dos
relacionamentos
humanos, o que
também
representa
momentos de
aprendizagem na
conquista da
autoiluminação
que devemos ter
como meta. A
experiência mais
marcante, porém,
é a criação de
uma rede de
afetos tanto no
interior da FERN
como no RN e em
outras
fronteiras, além
da alegria de
exercitar a
lição de servir
e passar.
O Consolador:
Sua atuação com
jovens e
crianças, ao
longo do tempo,
levou-a a que
conclusão nestes
tempos de
dificuldades
sociais com
essas faixas
etárias e também
levando-se em
conta a
realidade do
movimento
espírita
nacional?
Não creio que o
trabalho da
evangelização
infanto-juvenil,
ao longo do
tempo, tenha
sido fácil ou
sem problemas,
em qualquer
época. Do grupo
de jovens da
Federação
Espírita
Pernambucana do
qual participei
(nos anos 70),
até onde sei, só
eu permaneço
atuante no
Movimento
Espírita. O que
devemos,
acredito, é ter
clareza dos
problemas da
nossa
contemporaneidade:
imediatismo,
individualismo,
ética midiática,
instituições
resistentes a
qualquer
mudança,
famílias
ausentes e
despreocupadas
com a educação
moral dos
filhos, muito
mais opções de
lazer, dentre
outros. Agora,
se a tudo isso
ajuntarmos, por
exemplo, uma
prática
pedagógica
evangelizadora
desinteressante,
apática, tipo
“ditando
normas”, sem
vida, sem
problematização,
sem abertura ao
diálogo, sem
conteúdo
doutrinário
norteador –
teremos um
problema sem
tamanho. Creio
que o caminho
está num esforço
coletivo – pais,
educadores,
dirigentes
espíritas – de
identificação de
nossas
responsabilidades
(quais os nossos
equívocos?) e na
assunção de um
compromisso com
a causa da
educação moral
nossa e das
novas gerações.
O Consolador: Em
sua opinião
temos preparado
devidamente
nossos jovens e
crianças para o
trabalho
espírita do
futuro?
De modo geral,
pela experiência
pessoal que
vivo, creio que
hoje o jovem tem
mais espaço do
que no passado,
no movimento
espírita. No
entanto, tem ele
também muitas
outras
solicitações e,
convenhamos,
adquirir
estabilidade
social hoje é
mais difícil,
sobretudo em
face das
exigências da
vida
profissional. Um
curso de
graduação não
tem mais o mesmo
peso de algumas
poucas décadas
atrás. Isso
significa que o
jovem, no meu
entender, tem
menos tempo do
que nós tivemos
para se dedicar
à Doutrina e ao
movimento, de
modo geral. Essa
é uma das razões
pelas quais
temos que
investir no
jovem desde os
primeiros
momentos,
especialmente
quanto aos
aspectos
doutrinários e
aqueles voltados
para as relações
interpessoais.
Não podemos nos
descuidar,
ainda, da
formação
específica para
as tarefas que
deverá assumir
(de acordo com o
perfil exigido
pela tarefa),
sem esquecermos
a postura
educacional: nem
afastamento do
jovem pelo rigor
e desconfiança,
nem paternalismo
e o equívoco de
que o jovem tudo
pode. Agradeço
até hoje aos que
me disseram
“não” e me
admoestaram com
carinho e
respeito.
O Consolador: O
avanço da
tecnologia e
consequentemente
a expressiva
vinculação de
nossos jovens e
crianças com
jogos virtuais e
internet
dificultam o
processo
educativo dos
valores morais e
mesmo da
educação
espírita, em
face da ainda
inadequação de
nossas
instituições?
A evangelização
espírita
infanto-juvenil
possui uma força
extraordinária
que é a mensagem
lúcida e
esclarecedora da
Doutrina, com
repercussões na
formação da
personalidade
integral e,
sobretudo, na
aquisição de
valores.
Acredito que
hoje todos os
processos
educacionais –
principalmente
na escola e na
família –
enfrentam
problemas que
ainda não
conseguimos
compreender por
se constituírem
de múltiplas
variáveis, e
isto permanece
desafiando
estudiosos e
pesquisadores do
mundo todo. Na
evangelização
não poderia ser
diferente.
Existem, porém,
caminhos que a
experiência já
mostrou serem
válidos:
conteúdos
significativos,
abordagem
metodológica
centrada na
atividade da
criança e do
jovem a partir
da
problematização
das temáticas,
ambiente de
amorosidade,
articulação e
diálogo com a
família,
integração nas
atividades da
Casa. Esses
caminhos exigem
esforço
coletivo,
formação
pedagógica
contínua do
evangelizador,
planejamento
participativo,
criatividade,
autocrítica para
superar
resistências,
respeito para
com tudo o que
já foi feito,
atitude de
mudança,
compromisso com
a tarefa, etc.
O Consolador:
Seu gosto pelo
aspecto
filosófico,
ético e
pedagógico da
Doutrina
Espírita
encontra eco na
realidade do
movimento
espírita e na
atuação de
nossas casas
espíritas?
Sem dúvida, o
aspecto ético
está sempre
presente na
atuação dos
espíritas e
qualquer um que
dele se afaste,
qualquer que
seja a atividade
que realize
(dentro ou fora
do Movimento),
está fadado ao
desequilíbrio e,
consequentemente,
ao
comprometimento
moral e
espiritual. A
nossa tradição
cultural
brasileira está
muito impregnada
de uma visão de
filosofia mais
como “orientação
de vida” do que
no sentido
acadêmico,
restrito. No
Movimento não é
diferente.
Temáticas mais
evangélicas são
as mais
presentes e
percebe-se certa
resistência aos
assuntos com
enfoques mais
filosóficos ou
científicos.
Sempre que
podemos, porém,
sugerimos a
inclusão de
temas
filosóficos e
pedagógicos ou
abordagens que
possam aglutinar
essas áreas,
buscando o que a
própria Doutrina
nos proporciona:
um conhecimento
de totalidade,
integral, a ser
abordado numa
linguagem clara,
com ilustrações,
sem erudição
pedante.
O Consolador:
Como
sensibilizar
dirigentes,
trabalhadores e
mesmo pais e
educadores
espíritas para a
importância e
valorização
desses aspectos
tão expressivos
do Espiritismo?
Acreditamos que
aqueles que se
dedicam ao
estudo do
Espiritismo em
sua totalidade,
que se sentem
afinados com
essas temáticas,
podem colaborar
através dos
meios de
divulgação
doutrinária.
Fizemos no dia
12 de janeiro
último um
programa
radiofônico da
FERN (Estação da
Luz) dedicado ao
grande mestre
Pestalozzi (seu
aniversário de
nascimento) e
agradou muito.
Também tivemos
oportunidade de
gravar um
programa
televisivo aqui
em Natal
(Caminhos de
Luz) sobre
Educação e
Espiritismo, com
boa repercussão
inclusive fora
das lides
espiritistas.
Temos realizado
em muitas
cidades
brasileiras
seminários sobre
a temática
pedagógica à luz
do Espiritismo.
Percebo que há
um interesse que
reclama mais
investimento em
eventos,
processos
formadores,
mídia, etc.
Cabe-nos,
portanto,
abordar esses
aspectos,
escrever e
publicar textos
que possam
contribuir para
a divulgação
desses aspectos,
estimulando
confrades, em
especial jovens,
a pesquisar,
estudar,
discutir. Já
temos
contribuições
significativas
nesse sentido.
Citaria as
edições
temáticas da
revista
REENCARNAÇÃO, da
Federação
Espírita do Rio
Grande do Sul e
a REVISTA
PEDAGÓGICA, do
IDE (SP).
O Consolador: E
a experiência de
palestrante,
pelo país, no
contato com os
espíritas e
instituições,
traz-lhe que
deduções sobre o
entendimento da
Doutrina
Espírita e sua
propagação junto
ao grande
público sedento
de informações
que procura o
Espiritismo?
Tenho tido
oportunidade de
realizar
palestras para
diferentes
públicos,
diferentes
faixas etárias e
níveis
culturais, em
eventos de
grande
abrangência ou
em casas
espíritas de
poucos
frequentadores,
na maioria dos
estados
brasileiros. No
entanto, o traço
mais comum que
identifico é a
expectativa de
uma mensagem
diferente capaz
de atingir
mentes e
corações,
insuflando
esperança e
encorajamento;
de um discurso
claro, aberto e,
ao mesmo tempo,
elucidativo das
velhas questões
humanas.
Considero, no
entanto, que há
algumas
exigências
importantes para
o bom trabalho
da divulgação: o
embasamento
doutrinário
(esclarecer de
fato à luz da
Doutrina
Espírita) aliado
a uma linguagem
clara, “leve”,
encorajadora,
ilustrada de
exemplos reais,
respeitosa para
com o pensamento
divergente e,
principalmente,
para com o
pensamento
espírita.
Esclarecer e
consolar, com o
respeito e os
argumentos
sólidos que a
Doutrina
Espírita nos
oferece.
O Consolador:
Como foi sua
aproximação com
a Doutrina
Espírita?
Tive a
felicidade de
frequentar dois
núcleos de
evangelização:
na infância
frequentei o
Instituto
Espírita Gabriel
Delanne, em
Recife, e na
adolescência, a
Federação
Espírita
Pernambucana.
Integrei-me às
tarefas de
evangelização
aos 15 anos como
auxiliar e aos
17 comecei na
exposição
doutrinária,
continuando a
ser
evangelizadora.
O contato desde
cedo com a
Doutrina
Espírita, além
do aspecto
ético-religioso,
me estimulou à
leitura e à
busca de
informações
complementares e
facilitadoras da
ampliação dos
conhecimentos
gerais e
doutrinários que
buscava.
O Consolador:
Como encarar a
extensa lista de
temas polêmicos
da sociedade e
mesmo dentro das
paredes
espíritas, em
face das
consequências
que tais
desajustes têm
trazido aos
grupamentos
humanos?
Acreditamos que
o objetivo da
Doutrina
Espírita é
esclarecer e
consolar,
inclusive sobre
temas polêmicos.
Para tanto, é
imperioso
“encarar” o
estudo para que
possamos
apresentar o
pensamento
espírita e isso
implica, muitas
vezes, por parte
da sociedade e
até de muitos de
nossos
confrades, a
necessidade de
assumir
responsabilidades
e posturas
educativas que
nem sempre
interessam aos
espíritos
acostumados ao
imediatismo e à
permanência no
egoísmo, no
orgulho, no
ódio, nos seus
pontos de vistas
pessoais. Buscar
as causas
profundas das
problemáticas
individuais e
sociais,
dialogar e
conhecer
experiências
exitosas de
superação e/ou
minimização
dessas
problemáticas,
propor caminhos
e exemplificar
esforços são
possibilidades
de contribuição
do Movimento
Espírita para a
sociedade em
geral e para os
espíritas em
particular.
O Consolador: E
o progresso das
ideias espíritas
na atualidade,
como é visto
pela sua
experiência
profissional na
universidade?
Por aqui ainda
há muito
preconceito no
meio acadêmico
em relação ao
Espiritismo. Em
outras
localidades,
pelo que sei,
muitas
conquistas já
existem. Algumas
vitórias podem
ser
contabilizadas
na área da
pós-graduação,
com trabalhos
relevantes,
verdadeiros
“detonadores”
dos preconceitos
e tabus. Também
na graduação, no
curso de
Ciências da
Religião, da
Universidade
Estadual do RN,
por exemplo, já
encontramos
algumas
monografias
tendo o
Espiritismo como
temática. As
ideias
espíritas,
porém, aí estão
e, em face da
postura de
respeito e
serenidade dos
espíritas,
muitos de nós
somos chamados a
participar de
eventos no
interior das
instituições
superiores de
ensino. Há, no
entanto, muito
ainda o que
fazer, e a
correta
divulgação bem
como a ocupação
de alguns
espaços nos
trarão frutos
importantes no
amanhã.
O Consolador: Há
uma maneira de
sensibilizar
mais a família
espírita para o
estudo e
comprometimento
com a proposta
espírita?
A instituição
espírita deve se
tornar uma
comunidade
educativa, pela
própria natureza
pedagógica da
Doutrina.
Obviamente que
não lidamos com
processos
invasivos na
intimidade dos
frequentadores
das casas
espíritas, mas
podemos
sensibilizar as
famílias e os
trabalhadores
através das
diversas
atividades já
desenvolvidas no
interior das
instituições,
sem que nos
sintamos
inibidos de
buscar novas
práticas,
respeitando o
bom senso que
deve
caracterizar
nossos processos
comunicativos e
interativos.
Existe algo,
porém, que
precisa
urgentemente ser
repensado entre
nós: a casa
espírita não é
apenas o ponto
de encontro de
trabalhadores
mas a escola de
almas de irmãos
que necessitamos
estreitar nossos
laços de
amizade,
inclusive fora
do espaço
institucional.
O Consolador:
Algo mais que
gostaria de
acrescentar?
Gostaria apenas
de agradecer a
oportunidade que
esta entrevista
me proporcionou
de refletir
sobre minhas
próprias
experiências e o
quanto ainda
temos que
realizar na
grande Seara
Espírita. Devo
ao Espiritismo o
melhor que me
aconteceu na
presente
existência e,
tenho certeza,
por mais que
fizer, não
retribuirei o
tanto de
valores, ideais,
conhecimentos e
vivências
propiciadores de
uma ampla
compreensão da
vida que a
Doutrina me
proporcionou.
Tomara que
algumas dessas
ideias possam ir
positivamente ao
encontro de
outras mentes e
corações, pelo
mundo da
internet que tem
proporcionado
encontros de
almas que vibram
na mesma emoção.
Grata.