Sebastião Miguel de Lima:
“Devo tudo que tenho e sou
à Doutrina
Espírita”
O conhecido palestrante paulista fala sobre seu trabalho na
divulgação do
Espiritismo e
diz que
simplicidade,
inspiração e
fidelidade ao
Evangelho
caracterizam o
trabalhador do
bem
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Ele é muito
querido e
conhecido,
reside na Grande
São Paulo e tem
compromisso
quase diário,
durante todo
ano, com
palestras
espíritas,
levando o
Evangelho ao
público com
simplicidade,
firmeza e
inspiração.
Sebastião Miguel
de Lima
(foto), 75
anos, nasceu no
município de
Pirajuí, no
estado de São
Paulo. Tomou
conhecimento da
Doutrina
Espírita logo
aos dez anos de
idade, motivado
pelas histórias
de casas
“mal-assombradas”,
típicas das
cidades do
interior. Sua
curiosidade o
levou a buscar
explicações para
esses
“fenômenos” nos
livros, nos
acervos de
diversas
religiões e
junto aos amigos
e
familiares,
porém
nunca se
|
satisfez com
respostas
evasivas. Certa
feita,
entretanto, seu
pai lhe deu a
revista espírita
Reformador,
o maior tesouro
que recebeu em
sua existência,
segundo ele
mesmo. A partir
de então
Sebastião de
Lima passou a
dedicar boa
parte de sua
vida aos
trabalhos
relacionados à
Doutrina
Espírita. |
Pai de três
filhos,
aposentado por
invalidez visual
e com grau de
instrução
primário,
Sebastião é hoje
um orador
espírita que
faz aproximadamente
360 palestras
por ano em todo
o Brasil e que
desenvolve os
seus trabalhos
doutrinários
guiando-se pelas
inspirações dos
amigos
espirituais.
Recentemente
publicou
Existe algo Além,
obra publicada
pela Mythos
abordando os
prejuízos do
orgulho, as
ilusões do ciúme
e as bênçãos da
imortalidade.
Em encontro
recente,
concedeu-nos a
seguinte
entrevista:
O Consolador: Como tomou contato com o Espiritismo e quando?
Tomei os
primeiros
contatos com o
Espiritismo
através de
vários fatores,
quando tinha
entre 9 e 10
anos. Morava na
roça, não tinha
televisão e
então era
costume da
família sentar
na moradia para
conversar, e os
casos mais
falados nas
conversas eram
sobre fantasmas
e assombrações,
e eu sempre
perguntava a meu
pai por que as
pessoas morriam
e voltavam para
assustar as
pessoas. Ele me
dava várias
revistas para
ler, mas nunca
encontrei a
resposta, até
que um dia me
presenteou com a
revista
Reformador e
aí encontrei
respostas aos
meus
questionamentos
e uma delas foi
que a gente não
morre, mas sim
sobrevive à
morte. Tive
contato também
por meio de
benzedores e
curandeiros que
tiravam as
pragas e doenças
das pessoas e
plantações onde
morava; também
via pessoas que
ninguém via,
portanto desde
muito cedo tenho
contato com as
ideias
apresentadas
pelo
Espiritismo.
O Consolador: Como surgiu o dom de falar em público? Faz tempo que
o senhor faz
palestras?
Não sei dizer
como aconteceu,
só sei que os
fatos é que me
levaram a isso.
Com 17 anos, na
roça ainda, numa
festa de
casamento,
queriam alguém
para fazer um
discurso aos
noivos, e então
as pessoas me
apontaram para
discursar. Após
meu
pronunciamento
recebi muitos
abraços e
elogios. E foi
aí que tudo
começou. Sempre
quando havia
casamento,
festas,
batizados ou
enterros, me
chamavam para
discursar. Já
faz mais de 60
anos que
comecei, mas as
palestras nos
centros se
iniciaram em
1964.
O Consolador: Como sente durante a palestra a influência dos
Espíritos?
Sinto a
influência dos
Espíritos
naturalmente.
Minha única
certeza é que,
enquanto estou
descrevendo os
fatos, as
palavras surgem
espontaneamente,
como se alguém
estivesse
antecipando o
desfecho do que
estava sendo
ministrado e o
que eu devo
falar, uma vez
que tenho o
vocabulário
muito simples.
Por exemplo:
depois de 2 anos
que meu filho
Saulo havia
desencarnado, eu
estava fazendo
uma palestra e
falava sobre
desapego. Eu
sabia que em
determinado
trecho da
abordagem
haveria uma
palavra que não
saberia falar.
Quando me chegou
a palavra
usufrutuário,
tentei por
quatro vezes
falar e não
consegui e,
nesse momento,
vi meu filho com
outros jovens e
ele cutucou no
braço de um
deles dando
gargalhadas e
disse: – Meu
pai não consegue
falar
usufrutuário, e
todos riram
também. As
coisas vão
chegando ao
cérebro de uma
forma natural.
Ouço uma voz
suave lá dentro
que me fala as
palavras, pois
confio
plenamente nos
amigos
espirituais e
sempre tenho em
mente que fiz ou
tentei fazer o
melhor.
O Consolador: Como é conduzida ou como sente aquela costumeira
conclusão em que
a inspiração
direciona um
poema sobre uma
palavra
apresentada pelo
público?
Muitos dizem que
é de improviso,
mas nada é meu,
pois os
Espíritos já
sabem como fazer
as coisas. Eu as
sinto, e confio
plenamente. Às
vezes, nem sei o
que estou
falando, mas no
final eles sabem
e é por isso que
dá sempre certo.
O Consolador: Como foi a recepção pelo público que o ouve quando do
lançamento do
livro?
Não me preocupo
com isso, pois
qualquer
trabalho em nome
da Doutrina
Espírita,
qualquer coisa
boa que aconteça
é para a
Doutrina
Espírita e não
para mim.
Elogios não são
para mim e sim
para a Doutrina,
pois não seria
ninguém como
Sebastião se não
fosse pela
Doutrina, se não
fosse espírita.
Devo tudo que
tenho e sou à
Doutrina
Espírita e só
acontece o
melhor sempre
por causa da
Doutrina.
O Consolador: Como sente a vibração do público durante as
palestras?
Maravilhosamente
bem. Sinto a
vibração de uma
forma
espetacular.
Volto a dizer
que não é pra
mim, pois não
falo nada do que
tenho e sim do
Evangelho de
Jesus, pois as
pessoas estão
sedentas pela
palavra. Porque,
se você coloca
coisas suas, no
dia em que
estiver triste,
ruim das
emoções, passará
tudo isso ao
público. Quando
falar do
Evangelho você
poderá estar com
a alma chagada
de dor, como um
dia em que fiz
uma palestra
enquanto meu
filho estava
sendo velado,
mas eu não
passava nada de
mim e sim do
Evangelho. Sinto
o povo porque
nunca saio do
meio do povo,
falo a língua do
povo, sinto do
público o melhor
e passo o melhor
pra ele também.
O Consolador: Qual o aspecto do Espiritismo que mais o atrai?
O mundo sem
Espiritismo é um
mundo sem sol, o
mundo sem os
Espíritos
estaria às
escuras
completamente.
Enquanto o mundo
não assumir a
decisão de
espiritualizar-se,
vai ficar ruim.
A cada momento
que uma pessoa
assume uma
religião, seja
ela qual for, e
a trata com
verdade, ela
ilumina o mundo,
como Jesus disse
um dia: “Sois a
luz do mundo”.
“Sois sal da
terra”, e assim
passaremos a
vivenciar a
Doutrina dos
Espíritos,
porque não tem
como se ter uma
religião se não
for pelo
espírito, pois o
corpo não
precisa de
religião, quem
precisa é o
Espírito, que é
imortal. O corpo
é apenas uma
ferramenta, como
o uniforme
escolar, mas o
Espírito
continuará para
todo o sempre,
com a
necessidade de
iluminar-se. O
corpo veio do pó
e ao pó voltará.
Um dos aspectos
mais importante
do Espiritismo é
a reencarnação,
pois sem ela não
haveria justiça
divina.
O Consolador: Como o senhor vê as dificuldades atuais enfrentadas
pelos seres
humanos?
No momento vejo
que o mundo é
como a torre de
Babel. Neste
momento estão
todos querendo
ir pro céu, mas
não sabem como.
Entendo que,
como está
escrito na
bandeira do
Brasil “Ordem e
progresso”, para
o mundo
progredir tem de
haver ordem e
organização,
pois manda quem
pode, obedece
quem tem juízo,
ou seja, Jesus
manda e se
tivermos juízo
obedeceremos.
Vejo o mundo na
escala maior dos
planetas e na
escala menor os
continentes,
nações como
Brasil. E no
Brasil a
família, e na
família cada um
de nós. Não devo
esperar por leis
e decretos para
saber o que é
certo ou errado.
Para ser bom,
para ter
disciplina,
ordem, respeito,
tenho de fazer
ao próximo
aquilo que eu
aprendi. Se é
bom pra mim, é
bom para os
outros. Quando
toda a
humanidade
pensar assim, o
mundo será
maravilhoso.
O Consolador: Na sua opinião qual o maior desafio do ser humano
atual?
É o de expulsar
de dentro de si
mesmo o ódio, a
ignorância,
pois, em sendo
ignorante,
torna-se
orgulhoso,
prepotente,
ciumento,
egoísta, e essas
doenças todas
levam o ser
humano e a
humanidade ao
caos. O maior
perigo do
momento de hoje
não são as
guerras,
epidemias ou a
fome, mas sim o
cansaço dos
bons, daqueles
que não usam o
que já sabem,
porque o bem
sempre vence.
Ser honesto,
digno,
respeitador,
educado, isto é
que levará o
mundo ao bem
comum.
O Consolador: Pela sua experiência com palestras em diferentes
lugares, qual a
sensação, qual a
impressão ou que
ensinos podem
ser tirados da
variedade de
instituições e
atividades
inspiradas pelo
Espiritismo?
Concluí que, se
eu pegar o pouco
que sei e
colocar em uma
caixa e
guardá-la, só
terei aquela
quantidade. É
como se você
tiver um punhado
de semente e,
por preguiça,
não plantar e,
portanto, não
colherá. Então
na minha cabeça
é preciso levar
o pouco que eu
sei a locais
diferentes, como
alguém que
semeia para que
os outros possam
colher.
O Consolador: Há algo mais que gostaria de dizer?
Eu espero, e
isso vai
acontecer, pode
demorar muitos
séculos, que o
pouquinho que eu
estou dando de
colaboração no
meio em que vivo
me possibilite a
oportunidade de
continuar
fazendo isso,
pois como já
disse não
acredito na
morte. Estou
fazendo 66 anos
e sei que a
qualquer hora
retornarei à
pátria
verdadeira, mas
quero continuar
sempre nesse
projeto, pois me
lembro de alguém
que um dia veio
e falou grandes
maravilhas, mas
não foi
entendido e
acabou
crucificado.
Então não
desejo, nada a
mais e nada a
menos, que uma
pessoa continue
na escuridão
depois de ouvir
o Evangelho da
minha boca e de
outras pessoas
também. Meu
desejo é um só,
de um dia saber
que a humanidade
é feliz e eu
também estarei
bem feliz no
meio dela, pois
a ela pertenço e
a Doutrina
Espírita só me
ensina isso. Eu
não acredito que
Deus criou o
mundo para
sermos
infelizes, e não
acredito que Ele
tenha me
colocado no
mundo só para
reclamar dele,
pois a grande
razão de estar
vivo, estar em
um corpo, é
semear o bem.
Espero que o
mundo seja de
paz. Para mim as
conquistas
materiais
dependem muito
dos valores do
espírito, pois
você pode ter
muitos bens
materiais e não
dar valor a si
próprio, o que o
levará à
falência, com
certeza.