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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo - Espanhol  Inglês
Ano 4 - N° 159 - 23 de Maio de 2010

 

Todas as cores são belas

 

Chegando à escola para buscar sua filha, após as aulas, Celeste não pôde deixar de sorrir satisfeita ao ver as crianças brincando no pátio enquanto aguardavam que alguém viesse buscá-las.  

Sete ou oito crianças, de ambos os sexos, brincavam de pular corda. Uma de cada vez pulava cantando uma cantiga, enquanto duas outras, segurando as extremidades da corda, batiam para que as demais pudessem pular. 

Nesse momento um garoto aproximou-se do grupo, querendo participar da brincadeira. Ao vê-lo entrar na fila, Lúcia, a filha de Celeste, o impediu com grosseria, dizendo-lhe: 

— Você não! Não brincará conosco. 

Celeste, surpresa com a atitude da filha, não sabia o que pensar. O garoto afastou-se de cabeça baixa, triste, sentando-se num banco longe de todos. Celeste aproximou-se dele para conversar. Seu nome era Rafael. A senhora perguntou-lhe por que não estava brincando com as outras crianças, sem que ele percebesse que ela vira o que acontecera um pouco antes. 

O garoto levantou os olhos melancólicos e respondeu com serenidade: 
 

— Não me deixaram participar da brincadeira, mas não tem importância. Já estou acostumado com isso. 

Celeste estranhou encontrar tamanha resignação e maturidade naquela criança que ainda não passara dos oito anos de idade. 

— Mas por que não o deixaram brincar junto com eles? Vocês brigaram? 

Ele sorriu tristemente e afirmou: 

— Não! É que sou negro e elas não gostam de mim. Dizem sempre que sou feio e sujo por causa da minha cor. 

Celeste segurou as mãos do garoto e, cheia de carinho, falou-lhe com doçura: 

— Você é um menino muito lindo, Rafael. Por dentro e por fora. Não acredite no que elas dizem. Elas não sabem o que estão dizendo. 
Nisso, a mãe de Rafael apontou no portão e ele despediu-se rapidamente, com leve aceno da mão. 

Celeste levou a filha para casa, sem fazer comentário algum. 

Após o almoço, convidou Lúcia para sair. A menina adorava sair com a mãe para fazer compras e, muito satisfeita, se arrumou toda. 

Entraram primeiro numa loja de confecções. A mãe deixou que Lúcia escolhesse um vestido do seu gosto e feitio. A menina estava em dúvida quanto à cor. Eram tão lindas todas elas! Havia vestidos amarelos, vermelhos, azuis, brancos, pretos, verdes, rosas... Enfim, não sabia como se decidir. 

— Ah, mamãe! São todos tão lindos! Creio que ficarei com aquele lilás. 

A vendedora embrulhou o vestido e Lúcia saiu toda feliz, levando o pacote.  

Em seguida, entraram numa loja de calçados. A mesma dificuldade para escolher a cor. Lúcia acabou optando por um lindo sapato de verniz preto. 

Depois foram a uma loja de brinquedos e a menina ficou fascinada com as bolas de cores diversas. A mãe permitiu que ela escolhesse uma linda e cintilante bola vermelha. 

Lúcia estava feliz, porém as surpresas não haviam terminado. 

Passaram por uma loja de pequenos animais, onde a menina costumava parar para admirar os bichinhos. Havia galinhas, patos, lindos coelhos de longas orelhas, cachorros de raças variadas, gatos e até um pequeno macaco. 

A garota olhava apaixonada para os cãezinhos que, dentro de uma pequena grade, se acotovelavam.  

A mãe incentivou-a:  

– Escolha um, minha filha. 

— Posso mesmo? — indagou a garota com os olhos brilhantes. 

— Claro. Você sempre desejou ter um cãozinho. Escolha um. Qual você prefere? 

Lúcia olhava os animaizinhos sem se decidir. Eram de cores diversas, brancos, pretos, marrons com manchas pretas, brancos com manchas pretas, cinzas. Acabou escolhendo um que a fitava com olhos tristes. 

Voltaram para casa sobraçando os pacotes e Lúcia, com carinho, aconchegava ao coração seu cãozinho. A menina

não parava de falar, eufórica: 

— Quantas coisas lindas nós vimos hoje, mamãe. 

— É verdade! E que cores mais variadas! 

— Todas tão lindas, mamãe, que eu não conseguia me decidir. 

— As cores da natureza são todas lindas, minha filha, é preciso apenas que saibamos escolher entre elas. Você já reparou que acontece a mesma coisa com as pessoas? 

— Como assim? — indagou a garota. 

— Veja. Existem pessoas de pele amarela, vermelha, branca, morena, preta, dependendo da sua origem, de onde veio, entende? Por exemplo, sua amiguinha Tomiko é japonesa, portanto de pele amarela. A Carolina é loira e branca como leite. A Roberta é morena de cabelos escuros e a Juliana tem os cabelos vermelhos como fogo. Já o Rafael tem a pele escura, negra. Mas todos são lindos, não são? 

Lúcia, que fitava a mãe, abaixou a cabeça envergonhada. 

— O que foi, filha? — perguntou a mãe. 

— Sabe mamãe, agora que você está me explicando as cores desse jeito, eu posso entender melhor as coisas.   

Contou o que fizera com o Rafael pela manhã e terminou dizendo: 

— Agora entendo que todas as cores são lindas e você sempre diz que todos nós somos irmãos, não é? 

— Isso mesmo, minha filha. O fato de nascermos desta ou daquela cor, ricos ou pobres, bonitos ou feios, é uma decisão de Deus, que é nosso Pai, e que nos ama a todos da mesma maneira, porque somos seus filhos. 

No dia seguinte, ao levar a filha para a escola, Celeste constatou, com muita satisfação, que a primeira criança que Lúcia procurou para brincar foi Rafael e, de longe, viu o sorriso de felicidade no rosto do menino.

                                                                        Tia Célia   


 


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