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Ano 4 - N° 180 - 17 de Outubro de 2010

AMÉRICO DOMINGOS NUNES FILHO
amecgs@terra.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 

É o Espírito Santo o Consolador prometido
por Jesus?
 

O Consolador prometido veio para que o entendimento das coisas espirituais não ficasse estagnado no tempo e no espaço, aprisionado nas teias retocadas das letras bíblicas
 

Segundo a entidade espiritual Emmanuel, o Espírito Santo é “a centelha do espírito divino, que se encontra no âmago de todas as criaturas” (“O Consolador”, questão 303). Herculano Pires diz que “O Espírito a que a Bíblia se refere em numerosos tópicos e que nos Evangelhos toma o nome de Espírito Santo é o Espírito de Deus em sua manifestação universal” (Livro “Agonia das Religiões”, cap. VII). Portanto, cada criatura alberga a Luz de Deus, “O Reino de Deus”, dentro de si mesmo

(Divindade Imanente). Em verdade, o Espírito Santo é a presença de Deus em cada um de nós e em tudo.

O catolicismo trouxe a público, no século VII, que o Espírito Santo seria a terceira pessoa da denominada “Santíssima Trindade” e, para isso, adicionou textos às escrituras com o propósito de tornar escriturística a asserção dogmática, conforme foi denunciado primeiramente por Orígenes, depois pelo pastor Leblois, na sua obra “As Bíblias e os Iniciadores Religiosos da Humanidade”, em que relatou ter visto em algumas bibliotecas manuscritos em que o dogma da Trindade está apenas acrescentado à margem. Mais tarde, os acréscimos foram intercalados no texto, onde se encontram ainda.

A descoberta de Leblois foi divulgada pelo filósofo Léon Denis, no livro de sua autoria “Cristianismo e Espiritismo”, na nota complementar nº 3. Além dessa informação, Denis menciona como exemplo dessas modificações os versículos 7 e 8 do capítulo 5 da 1ª Epístola de João: “Porque há três que testemunham (no céu: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo, e esses três são um só; e há três que testemunham na Terra): o espírito, a água e o sangue, e esses três são um só”. O texto

entre parênteses parece ter sido introduzido posteriormente (glosa marginal), conforme consta na nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém, uma publicação católica. Assim sendo, o discípulo amado nada afirmou a respeito da Trindade.

   

É importante mencionar que o professor de Grego e Latim Carlos Torres Pastorino, na obra “Sabedoria do Evangelho”, ensina que, no grego, a expressão “tò pneuma tò hágion” quer dizer “o Espírito, o Santo”, enquanto que “pneuma hágion”, sem o artigo definido “to”, se refere a “um espírito santo”. O artigo indefinido não existe na língua grega.

Quando não há artigo definido, deve-se ler em português com artigo indefinido. Consequentemente, nesse caso, o certo é dizer “um Espírito Santo” e não “o Espírito Santo”. Em verdade, “um santo espírito” está se referindo a um espírito superior, um bom espírito, tanto encarnado como desencarnado. Quando as letras bíblicas trazem, no grego, a expressão “tò pneuma tò hágion” está havendo referência à presença de Deus em cada um de nós e em tudo, a centelha ou emanação divina que nos possibilita a vida imortal.

A identidade entre o Espírito Santo e o Espírito da
Verdade é, segundo Pastorino, uma farsa

Paulo ensina que em nós ele habita: somos templos do Espírito Santo. Salomão, no Antigo Testamento, no livro “A Sabedoria”, relata que o espírito de Deus está em tudo: “o teu espírito incorruptível está em todas as coisas” (12:1), tratando-se, claramente, do arquétipo da perfeição imanente em toda a criação. Se essa centelha divina em nós já está mais aprimorada, em caso de erros cometidos com conhecimento de causa, vivenciaremos uma necessidade premente de expiar o grave erro cometido, que simbolicamente é denominado “blasfêmia contra o santo espírito”. Segundo a tradução do grego feita por Pastorino, o infrator é réu do erro do ciclo e sua pena não será relevada, isto é, terá de ser retificada. Em Efésios, Paulo recomenda não entristecer o espírito santo, com que Deus nos marcou para o dia da libertação (4:30). Em verdade, em Jesus, a centelha divina, o Espírito santo, está plenamente frutificado, sendo um espírito puro por excelência.

Quanto a ser o “Espírito Santo” o próprio “Espírito da Verdade” ou o “Consolador”, deve-se ressaltar que o erudito professor Pastorino nega terminantemente essa possibilidade, alicerçada no Evangelho de João 14:26, relatando que a expressão grega “tò pneuma tò hágion” (“o Espírito Santo”) aparece apenas uma vez no Evangelho de João e, segundo ele, “assim mesmo, em apenas alguns códices tardios, havendo forte suspeição de haver sido acrescentada posteriormente” (“Sabedoria do Evangelho”, 5º vol., Pregar sem Medo).

O texto supracitado é o seguinte: “(...) aquele Consolador, o Espírito Santo, que o pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”.

A identidade entre o Espírito Santo e o Espírito da Verdade ou o Consolador é, portanto, segundo Pastorino, uma farsa, relatando que no texto de João não há a expressão “Espírito Santo” nem, menos ainda, as palavras “um espírito santo”.

A presença do “Consolador” não se verificou no dia de Pentecostes, porquanto a expressão grega “tò pneuma tò hágion” (“o Espírito Santo”) não é achada nos textos gregos de “Atos dos Apóstolos”, enquanto que “pneuma hágion”, sem artigo definido, correspondendo a “um santo espírito”, é encontrado. Logo, os apóstolos não ficaram, conforme está escrito: “cheios do Espírito Santo”, porquanto o certo é “cheios de um santo espírito”, caracterizando, deste modo, um fenômeno mediúnico de grande porte, assinalando a presença marcante de Jesus em espírito. 

O que se verificou, em Pentecostes, foi a pujante mediunidade dos discípulos do Cristo 

Importante frisar que o “Consolador” viria para ensinar todas as coisas e para lembrar-nos tudo quanto o Mestre tinha dito. O que se verificou, em Pentecostes, foi a pujante mediunidade dos discípulos do Cristo, não se encontrando nenhum ensinamento distinto ou vestígio de doutrina especial. Aliás, a confusão reinante no cristianismo dos homens, fazendo dos ensinamentos de Jesus uma verdadeira colcha de retalhos, é uma prova segura de que a presença do “Consolador” ainda é desconhecida para os dogmáticos religiosos.

Ignorando completamente que, na maioria dos textos, o termo certo é “um santo espírito” (em grego: “pneuma hágion”, sem artigo definido), os irmãos de crença protestante teimam em afirmar que o Espiritismo não é o “Consolador prometido” e citam alguns textos bíblicos, a seguir explanados:

Atos dos Apóstolos, 5:32: “E nós somos testemunhas dessas coisas, nós e um espírito santo (uma entidade espiritual superior), que Deus concedeu àqueles que lhe obedecem”. Atos dos Apóstolos, 8:15: “Ao chegarem, Pedro e João rezaram pelos samaritanos, a fim de que eles recebessem um santo espírito”.

Atos dos Apóstolos, 8:18: “Simão viu que um santo espírito (uma entidade espiritual superior) era comunicado através da imposição das mãos...”.

Atos dos Apóstolos, 10:44-48: “Pedro ainda estava falando, quando um santo espírito (uma entidade espiritual superior) desceu sobre todos os que ouviam a palavra. Os fieis de origem judaica, que tinham ido com Pedro, ficaram admirados de que o dom de um santo espírito (uma entidade espiritual superior) também fosse derramado sobre os pagãos. De fato, eles os ouviam falar em línguas estranhas e louvar a grandeza de Deus. Então, Pedro falou ‘Será que podemos negar a água do batismo a estas pessoas que receberam o santo espírito (entidades espirituais superiores), da mesma forma que nós recebemos?’ Então Pedro mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo”.

Atos dos Apóstolos, 19:2: “Quando vocês abraçaram a fé receberam um santo espírito (uma entidade espiritual superior)”?

Evangelho segundo Marcos, 1:8: Disse João Batista: “Eu batizei vocês com água, mas ele batizará vocês com um santo espírito”, isto é, fazendo-os sintonizar com os espíritos elevados”.

Evangelho segundo Lucas, 12:12: “Pois nessa hora um santo espírito (uma entidade superior) ensinará o que vocês devem dizer”.  

O Espiritismo tornar-se-á o grande libertador do ser humano, um farol de luz 

Fica bem claro que um dos princípios básicos do Espiritismo, a mediunidade, aqui é destacada. Em Éfeso, Paulo desenvolveu o intercâmbio mediúnico dos discípulos que já tinham sido batizados por João Batista: “Impondo-lhes as mãos, veio sobre eles um santo espírito” (espíritos superiores). O texto é assaz esclarecedor: “e tanto falavam em línguas (fenômeno conhecido como xenoglossia) como profetizavam” (Atos 19:1-7). Houve a incorporação de entidades espirituais que, em transe mediúnico, discorriam em determinado idioma estrangeiro, em língua estranha ao conhecimento daqueles homens. Assim igualmente aconteceu no dia de Pentecostes, com todos os discípulos do Cristo.

O Consolador Prometido veio, portanto, para que o entendimento das coisas espirituais não ficasse estagnado no tempo e no espaço, aprisionado nas teias retocadas das letras bíblicas (“a letra mata”). Em Ezequiel 37:1, por exemplo, é descrito um vale cheio de ossos. Em realidade, é uma referência simbólica ao povo de Israel dominado, destruído e exilado. Depois, Ezequiel é convocado a conscientizar o povo de sua dignidade, conseguindo enfim sua organização e soerguimento, constituindo um grande exército e construindo uma nova história (“colocarei o meu espírito sobre vocês”).

Afinal, muitas coisas haveria de falar ainda Jesus acerca do Pai (João 16:12) e no momento certo, não mais utilizando parábolas (o espírito testifica), mas abertamente (João 16:25). “A Doutrina do Cristo não é mais prisioneira das Escrituras, mas ressonância das vozes do céu” (“O Evangelho segundo o Espiritismo”, introdução, item I). O próprio Mestre disse que voltaria na glória de seu Pai, acompanhado de seus anjos (espíritos superiores) para restabelecer todas as coisas. Ora, diz Kardec que “só se restabelece o que foi desfeito”. De início, o testemunho de Jesus que tinha muitas coisas a ensinar, mas a humanidade de então era muito atrasada espiritualmente (“não podeis suportar agora”). Contudo, deixou uma esperança: Os homens não ficariam mais órfãos, abrindo o horizonte da libertação humana, através do conhecimento da verdade que liberta, retirando as apertadas algemas da ignorância espiritual. O filósofo espírita Léon Denis exclamou: “(...) depois de séculos de silêncio, o mundo invisível se descerra; ilumina-se e agita-se até as às suas maiores profundezas. As legiões do Cristo e o próprio Cristo estão em atividade. Soou a hora da nova dispensação” (“Cristianismo e Espiritismo”, conclusão).

Em um meio cultural adverso ao misticismo e propício às ideias reformadoras, surge a Doutrina Espírita, síntese profunda de ciência, filosofia e religião, com o escopo precípuo de fecundar todas as crenças, unindo-as sob a égide do grande e verdadeiro pastor, Jesus, sepultando, em definitivo, o obscurantismo científico e religioso, contrários à razão e ao progresso.

Já vivemos o tempo no qual “Deus porá sua lei no interior dos homens, a escreverá em seus corações e todos o conhecerão, desde o menor até o maior” (Jeremias 31:33).

O Espiritismo tornar-se-á o grande libertador do ser humano; um farol de luz, afastando as trevas da desilusão e da descrença, constituindo o amanhecer de uma nova era.


 


 

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