Entrevista:
Mauro Pumar e
Rogério Schmitt,
do Japão
“Nossas crianças
certamente são o
futuro do
Espiritismo
neste país”
Uma visão
panorâmica do
movimento
espírita no
Japão, que passa
por um momento
auspicioso, na
visão dos dois
confrades que
dirigem ali duas
importantes
instituições
espíritas
|
Mauro Pumar,
coordenador da CIMEJ - Comissão
de Integração do
Movimento
Espírita do
Japão,
palestrante
espírita, e
Rogério Schmitt,
participante da
Comunhão
Espírita Cristã
Francisco
Cândido Xavier,
de Tóquio,
coordenador do
Projeto
Esperança, que
ajuda os
encarcerados
latinos reclusos
no Japão, falam
na presente
entrevista sobre
diversos
assuntos
pertinentes ao
movimento
espírita japonês
e, em especial,
sobre a
participação de
ambos no 6º
Congresso
Espírita
Mundial,
realizado em
outubro em
Valência,
Espanha, e na
14ª Reunião
Ordinária do
Conselho
Espírita
Internacional,
quando
representa-
|
ram
oficialmente o Movimento
Espírita do
Japão.
O Consolador:
Mauro, como é a
sensação de
estar em um
evento espírita
internacional
representando o
Japão? |
Mauro:
Primeiramente,
gostaria de
agradecer à
revista O
Consolador
por esta
oportunidade de
divulgação,
assim como
deixar um abraço
saudoso a todos
os leitores
amigos
brasileiros, tão
distantes
geograficamente
deste Oriente. O
que posso dizer
é que foi uma
experiência
incrível, já que
nunca imaginei
na minha vida
estar à frente
em um evento
deste porte,
representando o
movimento
espírita de um
país, o que
é uma
responsabilidade
muito grande e
assusta um
pouco. Assim, a
primeira
sensação foi de
muita emoção
quando me vi
cercado por
espíritas de
todo o mundo,
com um carinho
todo especial
pelo Japão,
desejosos de
saber detalhes
do Movimento
Espírita
Japonês...
É algo
indescritível.
Só mesmo
vivendo para
poder imaginar o
que seja esta
sensação.
O Consolador:
Rogério, como
é ser espírita
no Japão? É
muito diferente
de ser espírita
no Brasil?
Quando e como
você conheceu o
Espiritismo?
Rogério:
Venho de família
espírita no
Brasil, e quando
cheguei ao
Japão, assim
como muitos
brasileiros,
deixei de
frequentar um
Centro Espírita,
passando a ter
um vislumbre
pelo aspecto
material da
vida. Como
consequência,
tive muitos
problemas, e a
dor me fez
procurar a
Comunhão
Espírita
Cristã Francisco
Candido Xavier
no ano de 2002.
As diferenças
são muitas, pois
temos um tempo
muito curto para
participar, o
trabalho
profissional nos
toma de 12 a 16
horas diárias de
segunda a
sexta-feira,
existe a
barreira da
língua que
muitas vezes nos
faz sentir
impotentes, além
da distância dos
familiares e dos
amigos, o que
nos deixa
depressivos... A
busca pelas
coisas materiais
é muito grande
e tudo isso
contribui para o
nosso
afastamento de
Deus, nos
tornando presa
fácil para os
processos
obsessivos. Aqui
temos que ter
mais força de
vontade e
determinação,
pois não temos
uma Casa
Espírita em
quase todas as
cidades.
O Consolador:
Mauro, você que
já participava
do Movimento
Espírita do Rio
de Janeiro,
encontrou aqui
no Japão o que
imaginava?
Mauro:
Mais ou menos.
Os brasileiros
que vêm morar
aqui certamente
encontram um
mundo muito
diferente do que
imaginam, e o
Espiritismo aqui
não é uma
exceção a esta
regra. No meu
caso pessoal,
graças ao avanço
tecnológico da
divulgação pela
internet, li
muito e acessei
muitas
informações do
Movimento,
principalmente
através das
palestras que a
Júlia Nezu tinha
feito em sua
estada no Japão
e de alguns
sites espíritas
como o da
Comunhão
Espírita Cristã
Francisco
Cândido Xavier (www.spiritism.jp),
que tive a
felicidade de
acessar e, lá
chegando, passar
a frequentar.
Mas uma vez
aqui, mesmo com
todo esse
conhecimento
prévio,
é realmente
diferente. Não
sabia que as
palestras eram
em português,
assim como as
reuniões
mediúnicas, e
até as coisas
mais simples
surpreenderam-me,
desde o tirar o
sapato para
entrar no Centro
até as preces
com tradução
para o japonês.
O Movimento em
si não é muito
diferente do
esperado, pois
é ainda um
movimento
incipiente, que
só agora começa
a tomar força,
estando bem
dentro da
expectativa que
trazia, tendo,
entretanto,
encontrado aqui
bastante
conhecimento da
Doutrina
Espírita, muita
amizade entre as
pessoas, uma
acolhida e
vontade de
conhecer
notícias do
Espiritismo no
Brasil, que me
surpreenderam
positivamente.
O Consolador:
Rogério, fale um
pouco sobre as
atividades
espíritas de que
você participa.
É mais difícil
realizá-las no
Japão?
Rogério:
Participo de
varias
atividades que
são realizadas
todos os
domingos na
nossa
instituição, a
Comunhão
Espírita, como,
por exemplo, o
estudo das obras
espíritas (O
Livro dos
Espíritos e O
Evangelho
segundo o
Espiritismo).
Realizamos
palestras sobre
temas espíritas
e normalmente as
traduzimos
simultaneamente
para o idioma
japonês. Temos
um trabalho com
os “homeless”
realizado todo
último domingo
de cada mês, com
cerca de 450
assistidos, aos
quais levamos
roupas, bolinhos
de arroz (onigiri),
remédios e,
junto, uma
mensagem do
Evangelho em
japonês.
Coordenamos o
Projeto
Esperança, que
é um trabalho
realizado com os
presos de várias
nacionalidades
por
correspondência,
aos quais
enviamos as
obras básicas
para que eles
estudem, além de
roupas, óculos,
revistas,
jornais etc.
Temos também o
projeto Piá, que
envia roupas
para as crianças
do Brasil e das
Filipinas.
Acredito que a
maior
dificuldade no
Japão seja o
tempo, e a
segunda seja a
rotatividade de
pessoas que
permanecem pouco
tempo no
trabalho
espírita, pois
muitos voltam ao
Brasil e outros
mudam de cidade
para buscar
novos empregos.
O Consolador:
Mauro, o que
mais o marcou no
Congresso?
Mauro:
As palestras
foram muito
boas, desde a
abertura pelo
Divaldo Franco
sobre o tema
Somos Espíritos
Imortais,
até o
encerramento
pelo Raul
Teixeira falando
sobre Uma
Nova Era para a
Humanidade.
É muito difícil
destacar uma
dentre tantas,
mas arriscaria
duas que foram
aplaudidas de pé
pelo auditório:
a do Dr. Sérgio
Felipe de
Oliveira falando
sobre Médiuns
e Mediunidade
e a da Dra.
Maria de La
Gracia Ender
abordando o tema
Caridade na
Visão Espírita.
Mas o que mais
me marcou mesmo
foi ver 1.807
pessoas de 36
nacionalidades
diferentes,
juntas,
assistindo à
exibição do
filme Nosso
Lar. Foi
como se
estivéssemos
vivendo naquele
momento o futuro
da humanidade.
O Consolador: E
você, Rogério,
o que destacaria
da reunião do
CEI?
Rogério:
Foi para mim de
grande valia
poder participar
da reunião do
Conselho
Espírita
Internacional,
pois tive muitas
informações de
como os 33
países que aí
participaram
enfrentam suas
dificuldades
para realizar
seu trabalho.
Também fiquei
muito feliz com
o tratamento que
nos foi dado e o
interesse que as
pessoas
demonstraram
pelo Movimento
Espírita
Japonês, que vem
crescendo e se
solidificando a
cada dia. Quem
sabe com o
auxílio do CEI e
o esforço de
cada um de nós,
em breve
possamos criar
uma Federativa e
talvez, daqui a
alguns anos,
tenhamos a
chance de
realizar um
Congresso
Espírita
Mundial?!
O Consolador: Na
sua visão,
Mauro, quais as
principais
dificuldades do
Movimento
Espírita
Japonês? Fale
também um pouco
sobre a Comissão
de Integração do
Movimento
Espírita do
Japão (CIMEJ).
Mauro:
Penso que as
barreiras da
cultura e da
língua são as
mais difíceis. O
Japão é o país
das tradições e
dos rituais,
onde 99% da
população
são Xintoístas
ou Budistas.
Obviamente, a
resistência a
mudanças, que
impacta
sobremaneira a
aceitação de uma
Doutrina que
chega do
Ocidente, que
preconiza a
abolição de
todos os
rituais, que
objetiva ser o
Cristianismo
redivivo de um
Cristo que ainda
não conhecem,
terá que contar
com uma boa dose
de paciência e
perseverança.
Mas nada supera
a dificuldade do
idioma, sendo um
trabalho
imperioso e
hercúleo a
tradução das
obras para a
língua japonesa.
Só para
exemplificar, O
Evangelho
segundo o
Espiritismo foi
traduzido por
Tomoh Sumi em
seis anos de
trabalho
intenso... A
Comissão (CIMEJ)
vem exatamente
para conhecer os
diversos grupos
existentes no
Japão,
integrando-os
para que possam
lucrar mais com
a troca entre
eles. Assim,
cada um não
precisa
desbravar
sozinho este
terreno ainda
árido, passando
a contar também
com a
experiência dos
outros. A CIMEJ
foi formada em
fevereiro do
corrente ano,
reunindo
representantes
de diversos
grupos que se
ampliam a cada
visita realizada
pela Caravana
comemorativa do
centenário de
Chico Xavier –
uma palestra
volante sobre o
tema com
visitação aos
diversos grupos
espíritas,
formalizando-se
a adesão e
seguida de um
questionário
para melhor
conhecimento da
instituição.
O Consolador:
Rogério,
descreva para
nós o que vem a
ser o ECOMEJ?
Quando começou?
Você considera
que este último
realizado em 24
de outubro de
2010 foi
especial?
Rogério:
ECOMEJ é o
Encontro de
Confraternização
do Movimento
Espírita Japonês
que realizamos
uma vez por ano.
Este ano
realmente foi
especial, pois
tivemos a
participação de
um número maior
de grupos
espíritas e
também porque
pudemos
compartilhar as
informações e
experiências
adquiridas no
Congresso
Espírita
Mundial. Foi
também a
primeira vez que
realizamos a
transmissão do
evento via
internet ao
vivo. Além
disso, ao final
do Encontro,
realizamos uma
reunião entre os
representantes
dos Grupos com
vistas a
impulsionar a
Unificação do
Movimento
Espírita e
darmos
continuidade aos
trabalhos que
vêm sendo
realizados por
todos.
O Consolador:
Descreva para
nós, Mauro, como
foi a reunião
havida com os
dirigentes das
diversas Casas e
Grupos, ao final
do ECOMEJ, que o
Rogério
mencionou.
Mauro:
O bom astral da
reunião foi o
resultado deste
clima que o
Movimento
Espírita no
Japão
está vivendo
neste momento,
como citou o
Rogério. Há uma
necessidade e
vontade imediata
dos grupos de se
reunirem e serem
representados
por um organismo
independente,
que objetive
unir e criar
sinergia entre
os diversos
espíritas no
Japão. Essa
reunião gerou um
compromisso de
maior
participação das
Casas e a
elaboração de
uma pauta de
discussão para
as ações que
serão implementadas
em 2011, assim
como o
agendamento das
primeiras
reuniões que
existirão no
ano. Ficou
acertada também
a finalização do
envio e
compilação dos
questionários,
que permitirão
uma boa visão do
estado atual do
Movimento, e a
escolha de um
mecanismo de
reunião virtual
que possa
integrar melhor
os diversos
grupos.
O Consolador:
Rogério, vocês
dois, tanto na
reunião do CEI
quanto no
ECOMEJ, disseram
que a
Evangelização
Infantil era
fundamental para
o Movimento
Espírita no
Japão. Por quê?
Rogério:
Nossas crianças
certamente são o
futuro do
Espiritismo
neste país, pois
muitos irão
permanecer no
Japão e estão
estudando em
escolas
japonesas,
dominando a
língua e
adaptando-se aos
costumes. Com
isso, o
intercâmbio
entre nossas
crianças no
futuro – quando
serão adultos –
e os japoneses
vai se fazer
naturalmente, se
nós dermos a
elas
oportunidade de
entrar em
contato com os
ensinamentos da
Doutrina
Espírita. É um
trabalho árduo,
pois a maioria
das crianças não
entende o idioma
português, e os
Evangelizadores
somos nós
brasileiros que
não dominamos o
idioma japonês,
mas aos poucos
vamos incutindo
os ensinamentos
e certamente
teremos auxilio
nas traduções do
material
infantil para
podermos melhor
ensinar.
O Consolador:
Finalizando,
Mauro, quais
seriam os
próximos passos
para o Movimento
Espírita Japonês
e para
você pessoalmente?
Mauro:
Para o
Movimento, penso
que a
organização
é urgente e
inevitável.
Há necessidade
de troca entre
as Casas, de
união de
esforços para as
traduções e de
oficialização do
funcionamento
das
instituições,
até sob o ponto
de vista legal.
Conversamos
muito sobre a
estratégia de
serem realizados
Eventos de
integração,
contando com a
colaboração de
diversos
palestrantes
conhecidos
internacionalmente,
como é o caso
dos que citei
como destaques
do Congresso, os
quais, sem
exceção, se
mostraram
disponíveis e
ansiosos por
virem ao Japão.
Precisamos
implementar um
site deste novo
organismo a ser
criado, que dará
consecução a
este trabalho
iniciado pela
CIMEJ,
permitindo esta
melhor
representatividade
e conduzindo
aqueles que
buscam o
Espiritismo no
Japão para as
instituições
mais próximas de
sua localidade.
Estou realmente
muito otimista
quanto ao futuro
do Espiritismo
no Japão.
Pessoalmente, em
que pese a
vontade de
ficar, estarei
voltando para o
Brasil ou para
outro país no
final deste ano
por questões
profissionais, e
creio que terei
outros desafios
pela frente. Se
Deus assim o
permitir e se os
amigos japoneses
quiserem,
estarei sempre
desejoso de
colaborar, ainda
que remotamente,
pois graças a
Jesus esta causa
não nos pertence
e, apesar de
sermos
colaboradores
tão imperfeitos,
contando com a
misericórdia
divina, sempre
haverá espaço
para esta troca
de experiência e
amor onde quer
que estejamos.
Aproveito para
agradecer a
todos pela
amizade,
oportunidade que
me deram de
participar e
pelo muito que
fizeram por mim
nestes dois anos
em que vivi em
solo japonês.
O Consolador:
Rogério, suas
considerações
finais.
Rogério:
Gostaria de
agradecer à
revista O
Consolador
pela
oportunidade, e
também deixar
aqui o meu muito
obrigado aos
membros do CEI e
a todos os 33
países que
participaram da
14ª Reunião,
pelo carinho e
pela atenção
dispensada a nós
aqui do Japão.
Que Deus nosso
Pai nos ilumine
e que Jesus,
nosso Mestre,
esteja sempre
presente nas
nossas
atividades para
podermos juntos
construir um
futuro melhor
para a
humanidade.
Muito obrigado e
um grande
abraço.