Entrevista: Lucy
Dias Ramos
Um depoimento de
mãe sobre a
desencarnação
de sua filha
Em seu mais novo
livro intitulado
"Maior que a
Vida", a autora
narra sua
vivência ao lado
de sua filha
mais velha, que
lutou durante
cinco anos
contra o câncer
e, após
desencarnar,
enviou-lhe
confortadoras
mensagens
psicografadas
por
Suely Caldas
Schubert
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Lucy Dias Ramos
(foto),
graduada em
Ciências Sociais
e Administração
Hospitalar,
natural de Rio
Novo-MG e
radicada em Juiz
de Fora-MG há
várias décadas,
é de família
espírita e
vincula-se à
Casa Espírita
daquela cidade
mineira.
Participante da
equipe da AME
Juiz de Fora, na
qual integra o
Conselho Fiscal,
e coordenadora
de vários grupos
de estudos, Lucy
viveu
experiência
peculiar com a
desencarnação da
filha Sandra,
que depois lhe
enviou mensagens
psicografadas
por Suely Caldas
Schubert,
relatadas em seu
mais recente
livro. Conheça
um pouco mais da
conhecida e
lúcida autora.
|
Seu mais recente
livro aborda uma
vivência
pessoal. Qual
foi essa
vivência e qual
o título da obra
e editora? |
Meu mais novo
livro,
intitulado
"Maior que a
Vida", publicado
pela Federação
Espírita
Brasileira, é
uma narrativa de
minha vivência
ao lado de minha
filha mais
velha, que era
médica e lutou
durante cinco
anos contra o
câncer. Sendo
também espírita,
vivemos nós duas
uma experiência
dolorosa, mas
com resignação e
serenidade
íntima, usando
de todos os
recursos que a
Doutrina
Espírita nos
concede. Líamos
juntas, orávamos
e enfrentávamos
este transe
doloroso com
coragem e
confiança em
Deus. Todos
os dias eu
retornava ao meu
lar e escrevia o
que havíamos
vivido durante
aquele dia, como
um diário,
anotações que se
transformaram no
livro.
Nos capítulos da
obra, essa
experiência
conjugada de
conhecimento do
Espiritismo e a
situação vivida
estão
desdobradas de
que forma?
Procurei
destacar o valor
do conhecimento
espírita e da
vivência
evangélica que
sempre
procuramos ter
em nossa vida de
relação,
alimentando a
esperança nos
corações dos que
venham a passar
por situações
semelhantes. A
primeira parte
do livro contém
a narrativa dos
fatos que
vivemos e a
segunda parte
mensagens
escritas sobre a
morte. Algumas
delas eram
palestras que
fiz após a morte
de minha filha,
quando integrava
o Grupo dos
Entes Queridos,
na Casa Espírita
que presta apoio
e assistência
espiritual aos
que sofrem a dor
da separação
física dos
familiares que
partiram para o
mundo
espiritual.
Qual a razão
principal de ter
transformado uma
experiência
pessoal em
livro?
Durante as
anotações antes
do falecimento
de Sandra, não
pensava num
futuro livro,
escrevia como
uma catarse que
fazia bem para
mim mesma. Uma
amiga psicóloga
com a qual fiz
terapia naquela
fase, sabendo
que escrevo,
aconselhou-me a
transformar
minhas anotações
em um livro que
viesse a
beneficiar
muitas pessoas.
Concluí o livro
logo após um ano
de sua
desencarnação.
Foi difícil.
Alguns capítulos
escrevi
chorando, e o
que narra seus
últimos dias eu
não consegui
reler ainda.
Ressalto que o
objetivo
principal é
reafirmar que
com a fé e o
amor no mundo
íntimo
encontramos
força para
prosseguir
vivendo e
trabalhando no
bem, superando o
sofrimento.
Toda a sua
família é de
formação
espírita? Como
foi a reação dos
demais
familiares na
ocorrência e sua
descrição em
livro?
Minha família é
de formação
espírita, mas
alguns
familiares (como
genros e noras),
alguns outros
que não são
espíritas,
receberam muito
bem o livro,
principalmente
os que compõem a
família de minha
filha, como seu
marido e filhos.
Mesmo aqueles
amigos que são
de outras
religiões estão
lendo o livro e
fazendo
comentários
favoráveis.
Quais outros são
os livros de sua
autoria?
Relacione título
e editora, por
favor.
Recados de Amor
(2008) e
Luzes do
Entardecer
(2009), ambos
editados pela
FEB. Já em fase
final na
gráfica, também
a ser editado
pela FEB, com
lançamento
previsto para
2011, o livro
Gotas de
Otimismo e Paz,
com prefácio de
nosso estimado
confrade Rogério
Coelho. Será um
livro diferente,
com mensagens
enfocando nossa
vivência e
nossas lutas
diárias,
procurando
mostrar como a
Doutrina
Espírita nos
motiva a sermos
felizes e viver
tranquilos,
mesmo em
processos de
reajuste e dor.
De que forma
você sentiu em
si mesma a
importância do
conhecimento
espírita diante
do fato
doloroso?
Foi de grande
importância,
principalmente
por sentir o
conforto e o
apoio espiritual
durante os
momentos mais
difíceis. A
presença
constante dos
amigos
espirituais e
benfeitores que
nos amparavam
amenizou o
sofrimento, e o
conhecimento
espírita nos deu
a certeza do
reencontro além
de nos
demonstrar a
transitoriedade
da vida física.
Fomos nos
preparando e nos
alimentando com
esse
conhecimento e,
nas horas de
desdobramento
espiritual pelo
sono físico,
aconteciam
encontros com
familiares e
amigos
desencarnados,
quando sentíamos
quanto estávamos
sendo ajudados a
superar esse
transe difícil.
Com a
experiência
vivida, o que
você teria a
dizer a pessoas
que vivem
situações
semelhantes?
Que não se
desesperem.
Confiem em Deus,
porque tudo
passará um dia,
a dor será menos
intensa e
precisamos
prosseguir
vivendo com
serenidade
íntima. Quanto
mais calmos e
confiantes,
mesmo sofrendo,
nossos entes que
já partiram
receberão os
reflexos de
nossos
pensamentos, de
nossas atitudes
e não merecem
receber
emanações de
nossa
intemperança e
de nossa dor com
desequilíbrio.
Precisam se
refazer e seguir
sua destinação
espiritual, como
nós também um
dia faremos.
Eles também
sentem nossa
falta, sentem
saudades, mas
não podemos
impedir sua
caminhada nessa
outra dimensão
de vida e tentar
retê-los a nosso
lado. Se você os
ama, ore e
confie em Jesus.
O intercâmbio
espiritual dará
a você o alívio
e a serenidade
necessários. Mas
é preciso que
você esteja bem
harmonizado
intimamente para
poder estar em
contato com seu
ente querido sem
perturbá-lo com
suas lágrimas e
inquietações...
Ao se preparar
para dormir, ore
a Jesus, peça
por você e por
ele...
Certamente você
o encontrará
durante o sono
físico.
Essa temática de
separação
temporária de
entes queridos é
sempre oportuna
para abordagem?
E qual a melhor
forma de
abordagem para o
público e nos
diálogos
individuais?
Considero
oportuna porque
todos já
passamos por
isso, ou
estaremos em
situações
idênticas. É
importante
ressaltar o
valor da crença
na imortalidade
da alma e a
possibilidade do
reencontro, que
poderá ser de
várias maneiras
até que possamos
ir, também, para
o mundo
espiritual.
Devemos
destacar,
também, a
transitoriedade
da vida física,
procurar
despertar em
cada pessoa que
nos ouça, ou nos
procure para um
diálogo
esclarecedor, a
necessidade do
despojamento, de
nos irmos
libertando da
vida material em
todos os
sentidos
(pessoas,
coisas, bens
materiais,
títulos etc.).
E, sobretudo,
incentivar o
trabalho no bem.
Quando minha
filha
desencarnou,
procurei
intensificar
ainda mais meu
trabalho na Casa
Espírita, indo
todos os dias,
fazer outras
tarefas como
atendimento
fraterno,
palestras no
Grupo dos Entes
Queridos,
escrevia mais
intensamente
etc. Isto ajudou
bastante até que
voltasse a
realizar apenas
as tarefas que
já fazia e que
considero uma
bênção poder
estar ainda
realizando.
Cite o que mais
lhe chamou
atenção na
psicografia da
mensagem de sua
filha por
intermédio da
Suely Caldas
Schubert
A semelhança dos
conceitos, do
que falávamos e
tudo o que
passei para ela
desde sua
infância em
nosso Culto do
Evangelho no
Lar. Há um
trecho que
desejo repetir:
"Não há morte,
só vida! É uma
adaptação lenta,
aqui não se
corre como
acontece aí, não
temos
necessidade de
contar os
minutos, porque
o expediente do
dia terminou e
devemos voltar a
casa, ao lar
– aqui é o Lar.
Estamos nele o
tempo
todo. Gradualmente
nossa
consciência se
expande e nova
percepção da
vida nos
impregna. (...)
Uma coisa é
certa: predomina
o amor!" Em
muitas cartas
que ela me
escrevia, quando
morava em outra
cidade, ou mesmo
no Natal ou Dia
das Mães, o
estilo é o mesmo
e sempre falava
do amor que
nutríamos
mutuamente, que
iria transcender
a vida física...
A mensagem de
Sandra está
publicada no
livro?
A mensagem a que
você se refere
está no livro,
mas existe outra
que recebi uns 6
meses após a
desencarnação,
também
psicografada
pela Suely
Caldas Schubert,
que é menos
extensa e fala
de maneira bem
equilibrada
sobre a chegada
ao mundo
espiritual. Está
também inserida
no livro. A
reação dos
amigos e
familiares foi
positiva,
coerente com o
grau de
conhecimento da
possibilidade
deste
intercâmbio
espiritual. Mas
não ouvi nada
que pudesse
mostrar
descrença ou
dúvida com
relação ao que
foi escrito.
Muito
confortadora
para todos nós
que a conhecemos
e pudemos
conviver com
ela.